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segunda-feira, 19 de julho de 2010

EUA impedem Cuba de comprar remédios contra o câncer

EUA impedem Cuba de comprar remédios contra o câncer
em 13/07/2010 (38 leituras)
Várias personalidades importantes da Revolução Cubana participaram da XVIII Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, entre elas Juan Carlos Machado, diretor do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap) e um dos responsáveis pelas brigadas de trabalho voluntário em Cuba. Em entrevista a A Verdade, ele fala sobre os 50 anos que o Icap completa este ano, das brigadas de trabalho voluntário e do movimento de solidariedade a Cuba no Brasil e no mundo.



A Verdade – Qual o trabalho do Icap?
Juan Carlos Machado – O Icap é continuação do processo revolucionário cubano; Foi uma das primeiras medidas adotadas pela revolução para criar um elo, entre povo e povo, que pudesse significar solidariedade e amizade com Cuba, que ficou muito tempo separada do mundo. Isso aconteceu porque Cuba era um país que fizera uma revolução na América Latina e no Caribe – e o imperialismo e o capitalismo romperam todo tipo de relação conosco, exceto o México, o único que conosco manteve relações diplomáticas. Então, para poder mostrar os resultados do que viria a ser a revolução, o governo revolucionário criou o Instituto Cubano de Amizade com os Povos, a fim de que os amigos de Cuba que quisessem conhecer a realidade do nosso país, pudessem ir lá vê-la e difundi-la em seus países. Hoje estamos cercados, do mesmo modo que estávamos no primeiro dia. Assim, se não tivéssemos criado o Icap em dezembro de 1960, hoje teríamos de criá-lo. O bloqueio, a desinformação, a calúnia contra Cuba, os cinco presos provam isso.

A Verdade – Como se estrutura o Icap?
Juan - O Icap tem uma direção em Cuba, uma presidência do Instituto, e, além disso, tem diferentes funcionários que atendem à Europa, América Latina, África, Ásia, Oriente Médio e América do Norte (incluindo Porto Rico, Canadá e Estados Unidos). Cuidamos, entre outras coisas, da migração cubana ao exterior e do acampamento internacional para as Brigadas de Solidariedade. Também foram se criando, pouco a pouco, em Cuba, delegações ou representações do Icap que são “casas de amizade”. Essas casas atendem aos amigos, ao trabalho de solidariedade, aos estudantes que realizam atividades políticas, aos embaixadores, às personalidades que vão visitar Cuba em cada lugar. E, dessa forma, o Icap funciona integralmente com os amigos, no exterior e dentro do país.

A Verdade – Quais as principais atividades do Icap nesses 50 anos?
Juan - Diria que a primeira foi – e é – promover a solidariedade que temos com os povos da África, América Latina e Caribe. O Icap tem sido o condutor dessa linha de solidariedade com todos os países da Africa subsaariana (países geralmente em piores condições que os demais). E Cuba tem tido uma atenção direta com estes países subsaarianos, fortalecendo relações e trazendo muitas crianças que ficaram órfãs por lá, vítimas das guerras que mataram seus pais. Muitas dessas crianças têm chegado a Cuba com dois ou quatro anos de vida. E Cuba as tem atendido, preparado, proporcionado educação, carreira acadêmica – até há alguns já com três títulos. Elas têm aprendido diferentes profissões. Algumas têm podido retornar. Outras ainda permanecem em Cuba e nosso país tem dado uma atenção especial a isso. Na América Latina, a partir dos golpes militares, também houve muita emigração de dirigentes políticos. Então o Icap sentiu-se na responsabilidade também de atender a todos esses exilados, que desde o primeiro momento têm sido alimentados e e cuidados. Essa era outra tarefa muito importante para a América Latina e o Caribe. Outro objetivo é manter sempre informado o mundo, por meio dos amigos de Cuba, sobre o bloqueio dos EUA ao país. Sobre todos os danos que esse bloqueio causa a Cuba. Isso é uma tarefa permanente do Icap e de todas as associações de amizade que se criam. E o primeiro objetivo das associações, além de divulgar o bloqueio, é divulgar que os EUA não permitem que compremos medicamentos de lá para crianças de três ou quatro anos com câncer, obrigando-nos a percorrer o mundo todo para obtê-lo. Impedem a medicina para as crianças! É um bloqueio criminoso e genocida. E o Icap tem como princípio estar sempre informando tanta gente sobre o bloqueio. Até cidadãos americanos não podem fazer turismo em Cuba. Por que, se a Constituição de seu país diz que cada cidadão é livre de visitar qualquer país? Menos Cuba? Também durante a guerra do Vietnã, em 1967, fizemos uma campanha muito forte por aquele país, até mesmo oferecendo nossa própria vida. E demos nosso sangue aos vietnamitas. E o Icap também promoveu toda essa ajuda humanitária e informação para o Vietnã. O mesmo fizemos por Angola e pela África, mantendo toda a informação oferecida aos povos desses países. Não com os governos, mas de povo a povo, independentemente de se o governo é de esquerda.
Também tivemos o caso de Elián González, depois o dos cinco prisioneiros cubanos nos EUA – e estamos com essa missão histórica de lutar até que os cinco retornem, informando a todo o mundo que não são terroristas. Cuba triunfou, demonstrou que, mesmo estando tão perto dos EUA, podemos ser livres. Eles não vão entender nunca como Cuba, uma ilha bloqueada há 50 anos, pode se manter, por tantos anos, na história.

A Verdade – Qual a importância das Convenções de Solidariedade a Cuba?
Juan - As Convenções são encontros anuais que avaliam o que se fez no movimento de solidariedade a Cuba e dizem o que precisamos continuar fazendo. O bloqueio prossegue, o caso dos cinco também, mas as tarefas não são iguais. Por isso as Convenções são tão importantes. Primeiro porque esclarecem as coisas. Segundo, cada um conhece a situação da sua região. Também trazemos as inquietações e preocupações. Aqui trazemos, por exemplo, o representante da Escola Latino-Americana de Medicina (Elam) que mostra a dificuldade para os médicos revalidarem os diplomas [obtidos em Cuba] no Brasil. Já essa convenção foi muito importante porque fizeram coisas antes desta Convenção Nacional. Houve 13 convenções estaduais de solidariedade a Cuba. O maior número da história! Isso ajudou muito ao acúmulo de informações para esta convenção nacional. Também como resultado tivemos a participação certa do Brasil nos acampamentos de trabalho voluntário. Nos primeiros anos (de 95, 96 e 97) tivemos pouca participação do Brasil. Mas à medida que se foram criando as associações de solidariedade e foi lhes dada uma estrutura, não é só certa a participação como querem cada vez mais vagas para as Brigadas de Solidariedade. Sabemos o sacrifício que fazem os brasileiros para participar – pegam o dinheiro do fim de ano, pegam dinheiro emprestado... mas digo: nos primeiros anos das brigadas, a situação financeira era igual.

A Verdade – Qual o papel das brigadas?
Juan - As brigadas cumprem três objetivos fundamentais. Primeiro, conhecer Cuba, por meio de conferências sobre a sociedade e economia e suas diferenças com os Estados Unidos. Também se conhece sobre cultura e saúde pública. Isso é a teoria dada por funcionários. O segundo objetivo são as visitas aos centros de trabalho e estudo, às comunidades, encontro com a Associação de Combatentes Revolucionários Cubanos, encontro com os Comitês de Defesa da Revolução, encontro com a Federação das Mulheres, etc., para que possam conversar e os brigadistas perguntarem, e eles responderem, e assim conhecerem a realidade, de forma prática. Não só em Havana, mas em visita a outras províncias do país, para que possam ver como as decisões e o trabalho do governo da revolução têm chegado em todo o resto do país. Terceiro, temos que manter o trabalho voluntário, como defendeu o Che. Mantê-lo vivo para que cada um dê parte do seu sangue no trabalho, sem ter que receber a parte. Isso tudo ajuda a criar uma consciência humana. Assim, depois que você trabalhou no acampamento, que carregou caixas de tomate do campo, quando vai comer um tomate ou um vegetal dá graças aos operários e camponeses que produziram aquilo porque sabe o trabalho que se fez até se ter o tomate. Antes, a pessoa comia dois ou três tomates picados, alguns jogava fora, mas agora não: se comprar dois tomates, irá comer os dois tomates. É outro tipo de consciência. Então, por ano, se realizam de 12 a 15 brigadas por acampamento, delas participando cerca de 1.800 pessoas. E agora estas pessoas estão mudadas.

A Verdade – Quais as próximas metas do Icap?
Juan - Continuar criando solidariedade com os países aos quais nos falta chegar, como as pequenas ilhas do Oceano Pacífico. Temos que chegar a mais lugares. Temos já uma associação de amizade com Israel! Seu governo é mau, mas seu povo é bom. Com solidariedade, também podemos combater governos maus. Também temos que fortalecer a amizade com os povos com que já temos laços. Não só chegar aos países com laços, mas chegar ao povo norte-americano. Quando o povo norte-americano tiver consciência do fato dos Cinco Heróis, logo obrigarão Barack Obama a promover a libertação dos cinco, como fizeram com Elián. Naquele caso, quando o povo norte-americano tomou consciência da injustiça do caso de Elián, Elián regressou a Cuba. Foi assim!

A Verdade – Como é a participação de brigadistas vindos dos Estados Unidos?
Juan - Eles têm uma participação ativa de mais de 40 anos, na chamada brigada Venceremos. Essa brigada vem todos os anos, mesmo com seus membros correndo o risco de ser presos ou sofrer multa muito alta e ameaças psicológicas. Sabemos que o trabalho que fazem dentro do país é muito importante para a solidariedade a Cuba.

Eduardo Augusto, Paulo Tiecher e Geysa Karla

* Site do ICAP: www.icap.cu

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