REDES

Mostrando postagens com marcador um professor enterrará o neoliberalismo?. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador um professor enterrará o neoliberalismo?. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Peru: um professor enterrará o neoliberalismo? OUTRAS PALAVRAS.NET

 





FOTO POR OUTRAS PALAVRAS.NET

OUTRAS PALAVRAS NOS OFERECE :

Peru: um professor enterrará o neoliberalismo?

Da luta camponesa emergiu Pedro Castilho. Ele ousou desafiar a oligarquia peruana – e tornou-se presidente. Agora, com amplo programa de esquerda e protagonismo dos povos indígenas, promete ataque frontal ao modelo que devastou o país

https://bit.ly/3hhfkqN

Por Francisco Dominguez, com tradução em A Terra é Redonda

Pedro Castillo, o candidato à presidência da coalizão de esquerda Peru Libre, venceu, com 50.14% dos votos, Keiko Fujimori, a filha do infame e desonrado ditador corrupto Alberto Fujimori. Keiko, que obteve 49,86% dos votos, era a candidata de direita do partido Fuerza Popular, uma coalizão apoiada pela elite oligárquica do país.

Para muitos, a robusta performance eleitoral de Castillo no primeiro turno, com 18% dos votos, foi uma surpresa. Até aquele ponto, a principal candidata da esquerda era Veronika Mendoza, pela coalizão Juntos por el Peru, que obteve pouco menos de 8% dos votos. Examinaremos, na sequência, os principais eventos e desenvolvimentos que culminariam nesta extraordinária vitória para a esquerda peruana e latinoamericana.

A longa crise de legitimidade

Conforme é típico ao domínio oligárquico na América Latina, sempre que a elite encontra uma ameaça séria a seu domínio ela recorre a métodos autoritários, incluindo repressão brutal e, se necessário, genocídio. Foi o que fez a elite peruana quando, no começo dos anos 1990, encontrou uma resistência massiva à imposição do empobrecimento neoliberal; uma das manifestações mais extremas dessa oposição foi o surgimento do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso. A repressão estatal foi substancialmente intensificada com a eleição de Alberto Fujimori à presidência em 1990.

O regime ditatorial de Fujimori durou toda uma década (1990-2000), mas ruiu com o peso de sua própria corrupção, engolido por uma crise constitucional de legitimidade causada por seu desprezo pelos procedimentos democráticos: ele fechou o Congresso, usurpou a autoridade judicial, promulgou uma constituição neoliberal e governou brutal e autocraticamente. Hoje, ele responde a uma sentença de 25 anos de prisão por seu papel em assassinatos e sequestros realizados por esquadrões da morte durante a campanha militar de seu governo contra as guerrilhas de esquerda.

O sucessor de Fujimori, Alejandro Toledo (2001-2006), não se saiu melhor, ainda que, diferentemente de seu antecessor, não recorresse a métodos ilegais e brutais durante sua presidência. Mesmo assim, ele se encontra em prisão domiciliar em São Francisco enquanto aguarda sua extradição devido a acusações de receber propinas multimilionárias.

Foi, então, a vez de Alan Garcia, líder da APRA, um partido originalmente progressista e populista. Garcia sucedeu Toledo no período entre 2006 e 2011 e cometeu suicídio em 2020, enquanto a polícia vinha o prender por suborno e corrupção durante seu governo.

Ollanta Humala, superficialmente retratado como uma espécie de Chavez peruano – até mesmo apoiado publicamente pelo próprio Comandante –, derrotou Keiko Fujimori nas eleições de 2011, tornando-se, assim, o presidente do país para o período de 2011-2016. No entanto, como parece ser próprio aos presidentes peruanos, ele e sua esposa foram presos em 2017 sob acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. Ambos estão proibidos de deixar o Peru e aguardam julgamento.

A eleição de 2017 coroou Pedro Pablo Kuczynski como o presidente do país entre 2016 e 2021, mas ele não conseguiu romper com a ‘tradição cultural’ e foi forçado a abdicar em 2018 (para evitar um processo de impeachment iniciado em 2017) por ter mentido ao Congresso e por receber suborno em troca de contratos governamentais. Kuczynski também declarou sofrer de problemas cardíacos (como fizeram Fujimori, Toledo e Humala) para beneficiar-se de prisão domiciliar. Evidentemente, ser o inquilino da Casa de Pizarro (o nome popular do palácio presidencial do Peru) é uma tarefa difícil, cheia de estímulos empolgantes que podem afetar o sistema cardíaco.

Kuczynski teve de ser substituído por seu vice-presidente, Martin Vizcarra, que lançou uma ofensiva contra a corrupção mas foi destituido pelo Congresso em novembro de 2020, acusado de receber suborno em diversas ocasiões, no ano de 2014, em troca de contratos públicos. Acredita-se que seu impeachment foi provocado por sua decisão de fechar o Congresso, acusando-o de obstruir as investigações contra a corrupção.[i]

Vizcarra (que ainda não declarou enfrentar problemas cardíacos) aceitou a decisão do Congresso e foi substituído por seu presidente, Manuel Merino, um líder interino cujo gabinete era dominado pela elite dos negócios. O breve governo de 6 dias de Merino emitiu fortes sinais de desprezo pelas demandas populares por reformas nos sistemas político e judicial, e até considerou postergar as eleições marcadas para 2021 sob o pretexto dos problemas gerados pela pandemia de Covid-19.

O país explodiu em enormes manifestações de massa, recebidas por uma brutal repressão policial que terminou com dois mortos, algumas dúzias de feridos e muitos mais presos. Merino foi forçado a abdicar no dia 15 de novembro de 2020, e o Congresso nomeou Francisco Sagasti (que havia votado contra o impeachment de Vizcarra) como presidente interino, a quem foi confiada a tarefa de organizar as eleições presidenciais de abril de 2021.

Portanto, desde que, há décadas, a elite peruana subverte o Estado de direito e a credibilidade das instituições nacionais, as principais posições do Estado têm sido ocupadas por membros corruptos ou corruptíveis da classe política (envolvendo todos os principais partidos políticos), em um sistema esmagadoramente dominado pelo capital financeiro, por interesses dos mineradores, dos exportadores de matéria-prima, por um monopólio midiático e por empresas multinacionais. Esses grupos poderosos praticamente não pagam impostos enquanto tomam para si a riqueza do país, deixando o setor agricultor em um estado de negligência total. Esse era o contexto das eleições que levaram Pedro Castillo à presidência do Peru.


LEIA TODA MATÉRIA EM OUTRAS PALAVRAS:  https://bit.ly/3hhfkqN