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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Morre o médico do corpo e do pensamento humano:Moacir Scliar



"Não preciso de Silêncios"assim falou Scliar.O poeta clínico da vida, debruçado sobre a literatura,encantou-se na morte.Deixou-nos, deixando seu pensamento, sua obra, farta de humanismo. Aparentemente em polos opostos- medicina e literatura, as duas não se contradizem em sua obra, ao contrário, se tecem juntas e se complementam como ajuste e compreensão do homem e o mundo.O senhor da gentileza, deixa-nos um grande legado, suas obras , sua poesia - a das dores do homem, expostas em sua trama literária. Trouxe-nos as dores e as histórias do povo, respeitou a oralidade e tomou-a para bordar sua literatura.Seus prêmios foras poucos, três Jabutis, mas ainda foram pouco para a dimensão de sua obra.Um dos poucos escritores brasileiros conhecidos mundialmente, citado pela critica americana como um dos cem maiores escritores e que trabalha com a temática judaica.Seus contos lembram Kafka.Seu passeio literário passa pelo romance, contos ensaio, colunista.Sobe mais uma folha humana ascende ao espaço e aO HUMUS da terra.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Salvador, Bahia

RETIRADO -CLIQUE NO TÍTULO



O filósofo espanhol García Morente propõe uma útil distinção entre vivência e informação abstrata. O segundo termo da distinção não é bem este. Como no entanto escrevo longe de minha biblioteca, valho-me de expressão que tem valor equivalente, ou pelo menos exprime o que está de acordo com o meu propósito. A alusão ocorre-me a propósito de Salvador, cidade que mais uma vez visito. O viajante que não a conheça pode figurá-la de muitos modos. O mais corrente é aquele difundido pela mídia e pela indústria publicitária. Mais exatamente, pela indústria do turismo, uma das forças contemporâneas que reduziram o mundo às proporções de uma província.

Hoje todo mundo viaja por todo o mundo relatando suas viagens e façanhas para todo mundo. Afora os pobres definitivamente pobres, alguns sedentários incuravelmente preguiçosos e alguns sábios e obscuros seguidores de Alberto Caeiro, ciente de que o mundo é do tamanho da sua aldeia, o resto da humanidade passou a viajar. Isso significa que viajar tornou-se antes de tudo um transtorno, uma dor de cabeça para sedentários do meu tipo, conscientes de que a melhor viagem é ficar em casa.

Mas noto que minhas digressões incorrigíveis fizeram-me esquecer a distinção proposta por García Morente. Quem não conhece Salvador, mas supõe conhecê-la, tende a acreditar nas informações abstratas procedentes da mídia e da indústria do turismo. Assim, reduz a riqueza e variedade desta cidade a comidas típicas, baianas estereotipadas fazendo pose para os guias turísticos do Pelourinho, as festas ruidosas da cultura negra somadas a outros clichês culturais, algumas canções de Caymmi e as imagens da cidade que todos conhecem.

Longe de mim desmentir a veracidade aferível nas imagens e representações acima condensadas. Minha intenção é apenas ressaltar que não dizem o que é a cidade real, a cidade enquanto expressão da minha vivência, para lembrar ainda a distinção proposta por García Morente. A cidade de Salvador que conheço e tenho vivido durante minhas últimas passagens por aqui é uma cidade inteiramente outra. Tão outra, afirmo, que pareceria irreal ou abstrata para o turista ou aquele ávido catador de imagens recolhidas de guias turísticos e representações estereotipadas de cenários perseguidos pelos turistas do mundo. A cidade de Salvador que tenho ultimamente visitado quase que se reduz a um bairro, a Graça. Mais exatamente, a uma avenida, a Euclydes, com y, da Cunha. Aqui me entretenho com Aloísio e Isa, meus tios queridos, Gal, minha prima adorável, Márcio e Suzy, uma cachorrinha que estou aprendendo a amar. Como nunca é tarde para a gente se corromper, afeiçoei-me a Suzy como me afeiçoaria a uma amiga de língua e hábitos intraduzíveis.

Diante do que já viajei sem pôr os pés fora do apartamento ou da minha privacidade, fica já evidente que não sirvo como guia nem mapa para quem queira viajar ou precise figurar dentro de si próprio uma ideia qualquer de Salvador. Aprendi desde muito que a viagem real que empreendo é a viagem por dentro de mim próprio, a viagem que dentro de casa me transporta ao mundo, assim como a viagem literal, a que nos perde por ruas e cidades, leva-me de volta para mim próprio.

Mas nem tanto à casa, como pareço sugerir, nem tanto ao mundo, que aparento depreciar. Na verdade, ando pelas ruas e nisso encontro muito prazer. Apesar das suas muitas ladeiras, que de algum modo me recordam as de São Paulo onde à deriva das ruas tanto suei e por vezes até me fatiguei, descortino novas paisagens, detalhes da vida e de fachadas antes desconhecidas ou simplesmente despercebidas. Recordam-me ainda Atenas e muito da topografia grega que bem me ajudaram a compreender porque os gregos inventaram os jogos olímpicos.

Também converso com gente, essa gente que vive e precisa viver nas ruas por dever de ofício ou simples hábito, ou ainda modo pessoal de ser. Aprecio saber um pouco da vida da cidade a partir da perspectiva dessa fração obscura dos seus habitantes: o porteiro, o zelador, a doméstica, o jornaleiro da praça, também o da esquina, o taxista, os que desempenham funções subordinadas nos shoppings e supermercados. E como não seguir com o olhar fascinado a beleza negra da mulher baiana, a beleza mulata, a beleza branca ou loura, tantos modos de beleza e sedução que transitam pelas ruas por vezes anunciando sua iluminadora passagem (afinal, como esquecer que baiano não nasce, estreia, como escreveu Ivan Lessa?), por vezes alheia ao olhar que a segue e se perde no fluxo sem repouso das ruas?

Noto agora que a crônica pede já para acabar e no entanto nada sequer mencionei do que seria previsível em qualquer relato de um viajante pela cidade de Salvador. É compreensível que, depois do que acima escrevi, o leitor se desiluda de esperar alguma alusão ao elevador Lacerda, ao mercado Modelo, ao Pelourinho, ao centro histórico com suas magníficas fachadas coloniais, ao acervo precioso do nosso passado barroco... O que talvez pareça espantoso, senão inadmissível, é o fato de chegar aonde cheguei sem pingar uma onda do mar da Bahia, do mar de Jorge Amado e Caymmi nestas linhas áridas. Ademais, não obstante a disponibilidade vigilante de minha prima Gal, resisto ainda a visitar a Exposição Rodin, a Fundação Pierre Verger, a Fundação Casa de Jorge Amado, a Aliança Francesa...

Como compreender ou admitir que o viajante, não importando o quanto viaje através de si próprio, suprima o mar desta cidade tão cenográfica e oceânica? Mas que posso eu acrescentar numa crônica doméstica ao mar cantado por Caymmi, ao mar de Jorge Amado que tão indizivelmente desatou minha imaginação de leitor adolescente? Melhor, portanto, deixar que o leitor viaje a seu modo, com ou sem guia turístico, pondo de lado esse viajante excêntrico que sai de casa para continuar fechado na sua própria casa, ainda quando a casa seja alheia. Tudo que me resta é dar razão ao leitor. Não bastasse tanto, concluo com uma volta na fechadura que sem dúvida o convencerá de que sou definitivamente um turista ou viajante perdido: a melhor viagem é sempre viajar sem sair de casa, ou viajar para logo voltar para casa.
Salvador, 10 de fevereiro de 2011.
POSTADO POR FERNANDO ÀS 18:36

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Blog do Gutemberg: Quadrinhos abstratos exploram outros limites gr�ficos

Blog do Gutemberg: Quadrinhos abstratos exploram outros limites gr�ficos

Ensino médio: a pior etapa da educação do Brasil

Série especial do iG mostra por que os adolescentes perdem interesse pela escola, acabam desistindo ou não aprendem o que deveriam

Cinthia Rodrigues, iG São Paulo | 21/02/2011 07:00A+A-

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Há duas avaliações possíveis em relação à educação brasileira em geral. Pode-se ressaltar os problemas apontados nos testes nacionais e a má colocação do País nos principais rankings internacionais ou olhar pelo lado positivo, de que o acesso à escola está perto da universalização e a comparação de índices de qualidade dos últimos anos aponta uma trajetória de melhora. Já sobre o ensino médio, não há opção: os dados de abandono são alarmantes e não há avanço na qualidade na última década. Para entender por que a maioria dos jovens brasileiros entra nesta etapa escolar, mas apenas metade permanece até o fim e uma pequena minoria realmente aprende o que deveria, o iG Educação apresenta esta semana uma serie de reportagens sobre o fracasso do ensino médio.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

E-book para download: “Desafios do Jornalismo”

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Por Bruno Cardoso em 01/Feb/2011

Acaba de ser lançado o e-book “Desafios do Jornalismo”, o último relatório do OberCom. O livro baseia-se em dados recolhidos após a realização de um inquérito dirigido a jornalistas dos principais meios de comunicação social de Portugal. O objetivo deste relatório não é somente caracterizar sócio-demograficamente os jornalistas portugueses, mas sim obter uma percepção dos valores, práticas e atitudes que caracterizam o momento atual da profissão. Isso é, compreender a forma como o jornalista olha hoje para a sua profissão e para a envolvente. Clique aqui para fazer o download.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

que afinal é notícia?

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Por Bruno Cardoso em 16/Feb/2011

e um cachorro morde um homem, isso não é notícia. Se o homem morde o cachorro, também não é notícia. Se o homem estivesse pagando ao cachorro por seus favores sexuais, aí sim seria notícia. Mas não seria uma notícia de primeira página. Para ser manchete, o cachorro teria de ser menor de idade e o homem deveria ter um cargo importante no governo. Ou o cachorro e o homem deveriam ter, ambos, o mesmo sexo – a menos que trabalhassem no cinema, o que transformaria a manchete numa notinha da coluna de fofocas. Se o cachorro tivesse falsificado o nome de alguém bastante conhecido num cheque, aí seria notícia de novo. Agora, se o cachorro fosse um grande anunciante, …

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Lula, Dilma e a velha mídia

via blog do Miro
Reproduzo artigo de Emir Sader, publicado no seu blog no sítio Carta Maior:

O esporte preferido da mídia é fazer comparações da Dilma com o Lula. Sem coragem para reconhecer que se chocaram contra o país – que deu a Lula 87% de apoio e apenas 4%b de rejeição no final de um mandato que teve toda a velha mídia contra – essa mídia busca se recolocar, encontrar razões para não ser tão uniformemente opositora a tudo o que governo faz. O melhor atalho que encontraram é o de dizer que as coisas ruins, que criticavam, vinham do estilo do Lula, que Dilma deixaria de lado.

Juntam temas de política exterior, tratamento da imprensa, rigor nas finanças públicas, menos discurso e mais capacidade executiva, etc., etc. Como se fosse um outro governo, de outro bloco de forças, com linhas politica e econômica distinta. Quase como se a oposição tivesse ganho. Ao invés de reconhecer seus erros brutais, tratam de alegar que é a realidade que é outra.

Como se o modelo econômico e social – âmago do governo – fosse distinto. Como se a composição do governo fosse substancialmente outra, como partidos novos tivessem ingressado e outros saído do governo. Apelam para o refrão de que “o estilo é o homem” (ou a mulher), como se a crítica fundamental que faziam ao Lula fosse de estilo.

No essencial, a participação do Estado na economia está consolidada e, se diferença houver, é para estendê-la. Os ministérios econômicos e sociais são mais coerentes entre si, tendo sido trocados ministros de pastas importantes – como comunicação, saúde e desenvolvimento – para reafirmar a hegemonia do modelo de continuidade com o governo Lula.

A política externa de priorização das alianças regionais e dos processos de integração foi reiterada na primeira viagem da Dilma ao exterior, à Argentina, assim como no acento no fortalecimento dos processos latino-americanos, como a ênfase na aproximação com o novo governo colombiano e a contribuição ao novo processo de libertação de reféns comprova.

O acerto das contas publicas se faz na lógica do compromisso do governo da Dilma de estabelecimento de taxas de juros de 2% ao final do mandato, alinhadas com as taxas internacionais, golpeando frontalmente o eixo do principal problema econômica que temos: as taxas de juros reais mais altas do mundo, que atraem o capital especulativo. A negociação do salário mínimo se faz com o apoio do Lula. A intangibilidade dos investimentos do PAC já tinha sido reafirmada pelo Lula no final do ano passado.

Muda o estilo, ênfases, certamente. Mas nunca o Brasil teve um governo de tanta continuidade como este, desde que se realizam eleições minimamente democráticas. A velha mídia busca pretextos para falar mal de Lula, no elogio a Dilma, tentando além disso jogar um contra o outro. A mesma imprensa que não se cansou de dizer que ela era um poste, que não existiria sozinha na campanha sem o Lula, etc., etc., agora avança na direção oposta, buscando diferenças e antagonismos onde não existem.