REDES

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O poema não é cego

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soucatequista.com


“Num me venha com cunversa mole nao; eu num presto,sou deus, sou o diabo,  sou Tiresi,deixo Omero no xinelo; sou rin, rin mermo, sou nego ,cego,bofoti,tenho os oi aboticado,mai os juízo dos oio foro pra imaginação ,mermo cum os dente distraído taivez pruisso canto veusso e vosmece com seus oi fai veusso de segunda, inda diz que é  literato, num venha não...” Delzo Silva-poeta de Queimadas-PB-já falecido- em pendenga --1977

Vivi, na minha infância, as cantorias dos meus cegos do Nordeste-nas feiras-especialmente ,praças, mercados  e ruas e ,aqui mesmo, em S.Paulo,R.de Janeiro,  E. Santo e S. Catarina migrando ou não – eles estão entre outros estados  que visitei e conversei , anotei, gravei, escutando seus poemas, suas loas,desafios ,causos e frases.

Apreciei seu processo criador ,sua poética e crítica social. Divisei assim com uma língua rica.Não é literatura fantástica,é a literatura do povo e seu verso afiado que o diga M.Bandeira e João G. Rosa..

Na literatura -de Cordel -a presença dos cegos- numa tradição mouro/ibérica -é intensa, talvez tenha sido maior , mas estão pelo Brasil afora.Existem os famosos: Aderaldo e Oliveira mas não se resumem a estes .Cineasta, entre outros, W. Carvalho,R. Cariry e L Meirelles documentaram  a arte destes .

Mas vejamos: Cego –Aderaldo F. de Araujo- um dos mais famosos do Ceará –Crato- 1878/1967.

Canto para distrair

“Este meu curto poema:
Vou fugindo da miséria
Que é este o penoso tema,
Desta terra de Alencar,
Deste berço de Iracema.
...
Fugi com medo da seca,
Do pesadelo voraz
Que alarmou todo o sertão
Da cidade aos arraiais.”( http://bit.ly/LvjAvY)

Já o Cego Oliveira-José Oliveira 1883/1977

Estava cantando em Guiana
Na casa de um amigo
Quando uma mulher mundana
Chegou pra falar comigo
Toda cheia de desgosto
A lágrima banhando o rosto
E sei que poeta tu és
Por Deus escreva um poema
Relativo ao meu dilema
Na Porta dos Cabarés
Deixei a casa paterna
Com 15 anos de idade
...
Numa vida de prazer
Nunca pensei deu sofrer
Nas Porta dos Cabarés
Eu só andava no trato
...
A cadeia é o meu prédio
Aguardente é meu remédio
E eu sou mulher de mais de dez
Portanto minha insistência
Vou sofrer com paciência
Nas Porta dos Cabarés (http://bit.ly/IPAM1e)

Há aqueles que nao pelejam,nem versejam, e até o fazem no formato de frases soltas:

“ Os cego inauguraram o mundo
na escuridão ,só despolis vei a lui e aí a ilusão “Zé do Bigu CG.PB-1979

“Os cego nao vê espei,mas vê o espei da lingua
na carteira da solidão “Terto da Silva- Mercado S.José-Recife-PE-1982

“Na cegueira fui nascido,no veusso afabetizado,na cantoria fui entronizado”-Amaro da Silva-J.Pessoa-1987

“Minha mãe deu me os peito,mas num deume a visao,mai como tudo e inlusão deu me a visao de poetar “ - Deodato de Maria –Forataleza-1988

Em C.Grande PB,  temos  as atrizes/cantoras  no ganzá -
Maria, Regina e Conceição, mais conhecidas como Maroca, Poroca e Indaiá, conheci-as e disseram :A pessoa é para o que nasce- frase  que deu nome ao filme de R. Berliner 2003( http://bit.ly/hzAsDi)

 ***publicado já na Revista Brasileiros




domingo, 3 de maio de 2015

...Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança. Mário de Andrade 70 anos


Mario de Andrade(1893-1945)…70 anos


Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança.
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas turrona paulista
….
A Meditação sobre o Tietê -1945-( parte final)

Depois das cinzas, das águas, do tempo estamos há setenta anos da morte de Mario de Andrade e o panorama não mudou na sua cidade Seu poema, vide trecho acima, foi escrito no ano de sua morte(1945) , talvez o último grande poema. Perfeitamente severo ao tempo ,como o de hoje.
Ele nos deixou um grande legado que até hoje há muito para se ver e entender. Sua obra é vasta e passa por mais diversos campos, da  literatura, a música, a dança, enfim da cultura popular. 
Trabalhei com seu material recolhido nas missões iconográficas da Sec.M. de Cultura de SP, tal acervo não foi trabalhado como deveria, face a nao formacão  de uma comissão múltipla – interdisciplinares de especialistas -de vários estados, como assim mereceria. O material passa pelas linguagens das artes e tem objetos raros que mesmo,  os estados –do nordeste e norte, nao os possui ,caso de Pernambuco, mas há outros mais.

Mas voltemos ao poeta, ele como um homem  solitario,  meditabundo encarou poetar a cidade em suas praças, ruas, avenidas, casas e seu maior rio. Com seus poemas iniciais, da Lira Paulistana, ele quebra a rima, fala de um Brasil, Brasil, brasileiro

Poeta do Modernismo ele foi fatal na poesía desde a Lira Paulistana, 1922. Obra magistral e antropológica como só ele sabia dar suas pitadas com seu português brasileiro. Vide -manuscrito A gramatiquinha da fala brasileira, obra inacabada, deixada pelo poeta: é a língua falada pelo povo. Fase caótica primitiva em que o Brasil é livre, [...] dá as tendências essenciais da futura fala brasileira(http://bit.ly/1CK2Rxm),mas finquemos o olhar sobre a Meditação do Rio Tietê:

Porque os homens não me escutam! Por que os governadores
Não me escutam? Por que não me escutam
Os plutocratas e todos os que são chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o impossível e lhes daria o segredo,
Eu lhes dava tudo aquilo que fica pra cá do grito
Metálico dos números, e tudo
O que está além da insinuação cruenta da posse.
E si acaso eles protestassem, que não! que não desejam
A borboleta translúcida da humana vida, porque preferem
O retrato a ólio das inaugurações espontâneas,
Com béstias de operário e do oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os sorrisos das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que isso eu lhes dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me despojar porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos. E enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem na creche de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de felicidade deslumbrante:
Nós nos iríamos de camisa aberta ao peito,
Descendo verdadeiros ao léu da corrente do rio,
Entrando na terra dos homens ao coro das quatro estações.

PIERRE LEVY ,PARADOXOS NA COMUNICAÇÃO


PROF. DR. PAULO ALEXANDRE CORDEIRO DE VASCONCELOS

Palavras-chave - educação, comunicação , democracia , tecnologias

RESUMO Este pequeno artigo levanta pontos prós e contra sobre a
cibercomunicação na perspectiva de Pierre Lévy, e de autores que o influenciaram
ensejando uma nova comunicação e suas possibilidades junto à Educação.

ABRINDO
Os anos 90, no Brasil, presenciaram uma avalanche de propostas de educação
à distancia, mediadas pela rede mundial de computadores, em que pontuam os
recursos multimÍdia, as webcans, as tele-conferências; prometendo assim mudar o
ambiente da aprendizagem. Munidos de otimismo e marketing, os cursos
transversam desde propostas mais simples, indo até a cursos de extensão
universitária e mestrados.
A pedagogia, ai defendida, apoia-se numa ciberpedagogia, na trama do
hipertexto, e suas múltiplas linguagens; a avaliação do aprendizado apoia-se
muito mais na demanda em que o curso se coloca(economicamente),
fundamentando assim sua defesa, qual seja, em nível de marketing.
Inúmeros e novos profissionais adentram aos novos espaços da educação à
distância e ocupam lugares dos profissionais da pedagogia; são eles com
destaque web designer, instructional designer..
Grande parte destes projetos é defendida sob inspiração de Pierre Lévy, em
defesa do ciberespaço, potencializam terminologias como inteligência coletiva em
ambientes interativos, insinuando diversidade ecológica do conhecimento.
Livros brasileiros, que discutem a educação à distância, citam inexoravelmente a
obra de Pierre Lévy. A fim de construir argumentos, ou justificativas, que acoplem
o pedagógico ao ciberespaço, Lévy é, agora, um novo ciberpedagogo.
A tecnologia, tenta assumir nos seus procedimentos de arquitetura técnica e
performances da informação, baseada na cibernética, o lugar da didática, das
discussões filosóficas da aprendizagem.
A sala de aula, o espaço presencial , o espaço de trocas, em que se misturam
elementos simbólicos variados, desde linguagens verbais, imagéticas, sonoras e
cinestésicas são trocados pelo ambiente do ciberespaço, numa tentativa de fazer
valer este espaço desnudo, ainda , de compreensões didáticas.
LÉVY - UM PERCURSO
Pierre Lévy (1956- ) aparece no Brasil no início da década de 90 .Seu livro de
impacto é Tecnologias da Inteligência – Brasil,1993, com datação francesa de
edição de 1990.
Este autor é fruto de uma metamorfose franco-canadense. De formação em
História na França, parte para o Canadá onde desenvolve estudos ligados à
inteligência e cognição e lá investe no hipertexto, não mais retornando à sua
gênese acadêmica.
Visto como um filósofo da cultura virtual contemporânea, Lèvy é docente do
Departamento de Hipermídia, Universidade de Paris-VIII. Trabalha junto ao
Ministério de Educação da França, com seu ex-professor e companheiro
intelectual Michel Serres.
Seu trajeto inicial intelectual publicado é a Máquina Universo (Brasil,1998) - La
Machine Univers, edição francesa (1987), em que já trata da inteligência e das
tecnologias intelectuais, recortadas pelos paradigmas da informática.
Tecnologias da Inteligência é resultado de suas andanças e elucubrações em
terras americanas - Lês Techonologies de L’intelligence (1990).
Sua formação histórica lhe permite fazer algumas elucubrações esparsas em que
se sustenta parcamente para elucidar os fundamentos da escrita e seu poder
textual, mas parece não considerar substratos epistêmicos sociais como o caráter
genético da fala , da oralidade e suas implicações com a escrita.
A TÉCNICA/CIÊNCIA: FILOSOFIA
Tomando a técnica como o seu grande aliado, ele não a situa dentro do devir
histórico, senão num corte das técnicas operadoras do texto, caso da agricultura -
campo – pagus - a pagina da escrita, levantando que esta, ao estabelecer
parcerias interativas, participou do constructo epistêmico com a ciência .
Ao vincular-se à Filosofia, toma posição defensiva, ou seja, defende-se, acusando
Heidegger, Simondon, J. Ellul, entre outros, de desconhecerem a real eficácia da
técnica , invertendo assim o papel da mesma, diante da ciência.
“Que o filósofo ou o historiador devam adquirir conhecimentos técnicos antes de
falar sobre o assunto, é o mínimo. Mas é preciso ir mais longe, não ficar preso a
um ”ponto de vista sobre....” para abrir-se possíveis metamorfoses sob o efeito do
objeto. A técnica e as tecnologias intelectuais em particular tem muitas coisas a
ensinar aos filósofos e ao historiadores sobre a história”(Lévy:199:11:1993)
Apesar de querer repropor uma história das técnicas, e apelar para ciências e
mesmo à Filosofia, perde-se num emaranhado de argumentações interpretativas
subjetivas e de defensiva racionalidade técnica e seu poder de antevisão do
futuro e do conhecimento.
Todavia, o que Lévy quer propor é a reconciliação absoluta entre ciência e técnica,
sem absolutamente reconhecer o devir histórico já percorrido e todo o discurso
filosófico que o reflexiona, em que se destacam os desmandos que historicamente
foram realizados sobretudo no âmbito dos dispositivos da era industrial, pósindustrial
e da explosão das tecnologias midiáticas.
O capitalismo, na era das mídias eletro- eletrônicas e digitais, firma seu apogeu,
unindo-se à Matemática, ao cálculo, às especulações do ser vivo, às
biotecnologias, buscando a construção de frankensteins, que busquem competir,
ou até mesmo, superar o humano. Contudo, para este autor não se trata de
superação do humano, mas sua reconstrução.
Ora, se é legítimo cogitar sobre a reconstrução do humano, porque não é dado o
direito à Filosofia em perguntar sobre esta desconstrução, em tempos em que a
técnica fragmenta, exclui ou propõe a ação desumanizadora?, ou com isto já
inauguramos a morte do sujeito corpóreo, do social e da política, como já
preconizava Baudrillard(1990)?
A desconstrução de Lévy, atacada pelos discursos de seus concidadãos franceses
Jean Baudrillard, Paul Virilio e Philippe Breton, se dá no âmbito da sedução das
engrenagens motrizes, num espaço reinventado de uma comunicação utópica e,
como tal, num investimento, em parte, alienada em face da condição do humano e
morte de uma Filosofia que plasmou o humano na busca de sua verdade.
Na França, proliferam-se posturas dissidentes ao pensar filosófico clássico, ou de
base humanista como as do grupo de Breton, em que se situa o próprio Lévy,
como também Michel Serres e Bruno Latour. Tais posturas, ao se centrarem no
âmbito da Filosofia da Matemática, reiteram críticas às perspectivas do
pensamento filosófico cujo enfoque é o homem, como a querer forjar uma nova
essência, a informacional.
Atestando esse pensamento, assim se coloca Serres:
  • “......já não há querelas entre antigos e modernos nos pontos em que a Filosofia
  • seria polêmica: há querelas entre antigos e novos matemáticos entre os
  • modernos e lógicos. A Epistemologia afastou-se do circuito. Enquanto conservar
  • sua intenção tradicional continua a estar.(...) Vemos aqui duas razões para que a
  • epistemologia clássica seja banida das matemáticas modernas e da lógica
  • matemática: a recusa duma situação de prioridades, no primeiro caso, a estreita
  • ligação com a análise reflexiva, no segundo o transporte efetivo dos problemas
  • da epistemologia para a técnica científica. Em cada um dos casos, apenas se trata
  • de origem e de fundamento: ficamos pela prioridade numeral par ao edifício e
  • pela prioridade do sujeito operante para a sua justificação.(Serres :47 ;s/d)
Lévy, indo na mesma mão que Serres, refuta as críticas da Filosofia à técnica,
pois é este o grande impasse para a sua apologia da tecnologia do ciberespaço
reinando como instrumento da razão, e da ideologia, que inclusive faz montar sua
Antropologia descentrada no homem, mas partilhada entre homem e seus objetos
com o poder de confundir esse sujeito com o objeto.
  • “.....no momento em que dezenas de trabalhos empíricos e teóricos renovam
  • completamente a reflexão sobre tecnociência não é mais possível repetir com ou
  • sem variantes Husserl , Heidegger ou Ellul . A ciência e a técnica representam
  • uma questão política e cultural excessivamente importante para serem deixados a
  • cargo dos irmãos inimigos cientistas ou críticos da ciência que concordam em ver
  • no objeto de seus louvores ou de suas censuras um fenômeno estranho ao
  • funcionamento social ordinário. “(Lévy :12:1993)

Segundo Lévy, parece-nos, só é possível de reinventarmos o homem na troca da
ciência pela técnica e desdizer Heidegger do ente como pano de fundo ontológico.
Mas o impasse maior é criado quando o mesmo afirma que o seu propósito não é
uma crítica filosófica da técnica, aliás não poderia ser na sua argumentatividade
frágil, mas logo a seguir diz que seu verdadeiro propósito é “antes de colocar em
dia a possibilidade prática de uma tecnodemocracia” (Idem:12).
Bom do impasse evidente, cresce sua incoerência epistêmica ao desejar justapor
dois conceitos vistos e revistos pela Filosofia em lugares tão antagônicos: a
democracia e o fulgor da técnica. Todavia, dando uma seqüência a seu plano
incoerente, ele propõe que a filosofia política “não pode mais ignorar a ciência e a
técnica.” (pág 9). Ele despeja sua argumentatividade para poder afirmar mais
adiante que, diante das críticas de Jacque Ellul, Gilbert Hottois e Michel Henry,
fica impossível reafirmar seu desenho da tecnodemocracia. Assim, pede uma
revisão da técnica historicamente, do ponto de vista das reflexões da filosofia
clássica.
Tal estratégia prende-se ao fato de a seguir pretender fazer a apologia da
modulação da rede como se fora uma verdadeira simulação da mente humana, e
assim buscar ser a rede um espelho cognitivo, quando na verdade nem 30 por
cento da população mundial se acha plugada na rede, quando ainda não
atingimos a democracia na escrita para uma educação coletiva.
Na verdade, o que Lévy quer encontrar similitude, na rede do hipertexto e sua
interfaces, é com uma organização cognitiva, em que ele luta para ali encontrar
espaço para a sua defesa da tecnodemocracia., em que reinaria a ecologia
cognitiva, dentro de um contexto da Cibercultura, portanto da Comunicação,
“através de mundos virtuais compartilhados”.
Lévy, neste sentido, é muito mais a utopia wieneriana do que um pedagogo pois o
que ele pretende é prospectar o homem pelo viés do comando orgânico de
informação, podendo ser conformado nos critérios da comunicação midiática, o
que reduz o ser a uma releitura do biológico através das interfaces de
informações, transmutadas da sintomatologia orgânica à codificação
cibernética/informacional.
Tal modulação da comunicação, segundo seu maior crítico P. Breton,
pesquisador da informática e teorias da argumentação, é resultado das pesquisas
nos anos quarenta - 42 a 47 - em que se uniam interdisciplinarmente a
cardiologia, a neurofisiologia, a telefonia, a eletrotécnica, as matemáticas
aplicadas, bem como a antropologia (Breton:15:94).
Tais pressupostos começam, segundo Breton, a se alinhar num segundo
momento – ano final dos anos quarenta - se caracterizar pelo domínio do social e
do político. Passa a vigir então um modo de ver a comunicação, gestada não entre
os medias, mas entre cibernéticos, cuja proposta era de que a
informação/comunicação era o todo, podendo o real ser visualizado por este par e,
indo mais além, ver o comportamento dos seres apenas como “permuta de
informação”.
Consignando desta feita o ser enquanto comportamento observável e podendo ser
decomposto, estão lançadas as bases da interatividade ou retroação da
comunicação. Tal pressuposto leva a contemplar a democratização do saber
humano pela interatividade e retroação interconectada pelas próteses
maquínicas.(idem)
Indo a busca de uma crítica a tais posturas, como essas em que se achega a
Pierre Lévy, em que se vê as tecnologias da comunicação como a salvação para
a democracia, Philippe Breton chamará isso de “Uma Utopia da Comunicação”.
Ele vai tomar o pensamento wieneriano, que permeia projectualmente o
pensamento de Lévy, para apontar as distorções do homem pela técnica no
ambiente das comunicações e no aparecimento de novas antropologias, como a
de Lévy, que busca justificar tecnodemocracia, no ciberespaço, erigindo a sua
utópica ágora, mantida pelo hipertexto.
.Breton assim se coloca:
  • “o projeto utópico que se desenvolve em redor da comunicação, é ambicioso e se
  • desenvolve em três níveis: uma sociedade ideal, uma outra definição
  • antropológica do homem e a promoção da comunicação como valor. Esses três
  • níveis concentram-se em torno do tema de um homem novo a que se chamará
  • aqui de homo communicans. Esse homem novo corresponde nada mais nada
  • menos, na perspectiva de Wiener , à tentativa de recolar, recorrendo aos materiais
  • disponíveis, os fragmentos que uma civilização derrotada tinha feito estalar num
  • grande turbilhão entrópico. O homo communicans é um ser sem interioridade e
  • sem corpo, que vive numa sociedade sem segredos, um ser por inteiro voltado
  • para o social, que não existe se não através da informação e da permuta, numa
  • sociedade tornada transparente graças às novas “ máquinas de comunicar”.

Essas qualidades do homem na comunicação, que contribui para alimentar o
ideal do homem moderno, parecem como uma das alternativas á degradação do
ser humano, resultante da tormenta do século XX”Breton:46:1992).
Breton chama-nos a atenção, no que compartilho, para os novos paradigmas
desta nova comunicação que se instaura, no sentido de sua utopia, ou nas
demasias forjadas pela comunicação que a tudo comunica e a nada comunica,
como que numa perspectiva bem próxima a de Jean Baudrillard. O primeiro ainda
coloca de modo contundente, em oposição a Lévy, que, na verdade, as
articulações da sociedade de consumo e sociedade no seu pensamento liberal
manipulam jogos de interesses econômicos e políticos mancomunados com os
trunfos da informática, no ideal utópico de plena comunicação, sem antever as
situações de exclusões sociais, e de bloqueios sociais. Isto, para o autor, pode
na verdade afetar os patamares possíveis da democracia, pelo excesso de
comunicação forjada nos domínios da banalização da retórica e de suas técnicas
que a viabilizam.
PARA CONCLUIR
Inegável que a rede é um espaço da comunicação em que se alocam as
perspectivas utópicas plurais como também se alojam fanatismos, é um espaço
em que transita o saber, mas neste também se constitui o espaço dos excessos,
das simulações, e sobretudo espaço do consumo. Não queremos aqui negar sua
condição de ferramenta da educação, todavia ainda estamos distantes de uma
pedagogia ágil para a rede, até mesmo face aos impasses econômicos, no que
de econômico implica o uso da mesma.
A Rede Mundial de Computadores_Internet- tem potência como ferramenta,
dentro do que se entende por tecnologia educacional, em agilizar o espaço do
saber, da educação, mas sem os exageros prescritos por Lévy quando trata a
inteligência nos meandros da rede midiática de inteligência coletiva, justapondo-a
num mesmo espaço de homens e máquinas, fazendo ,ainda assim, um recorte
antropológico.
Caminha ainda ele para uma deturpação, com relação à inteligência, pois ela
sempre foi exercida no domínio do coletivo, todavia ela é individuada, sendo copartícipe
do outro e no coletivo, aliás assunto já visto pelo construtivismo, nos
focos piagetianos e vygotskianos. A rede é facilitadora,da informação, enquanto
ferramenta e sistema.Mas. por outro lado, ela exige capacitação técnica de
ferramentas –pc, softwares, browser, para só assim constituir o sujeito-potência do
conhecimento. Há mediações técnicas e, portanto, de consumo, de dispêndio
econômico,assim como se necessita de agilidade de comportamento técnico, para
só assim estar constituído potencialmente o sujeito do saber.
Por outro lado os ambientes interativos são produção de contatos sociais, e de
simulações do espaço social, em que o volume se descredibiliza, como nos
aponta Virilio, e que tal variável definha a presença, por decorrência a
percepção e o aquecimento do vínculo social .(Virilio:1993)
Chama-nos atenção Breton em sua última obra – Lê culte de L’internet(2000) -
para a ameaça ao vínculo social que se depreende da forma política articulada
pelos grupos hegemônicos da rede, determinando uma nova forma de vida que
passaria por um verdadeiro fundamentalismo, pondo em jogo princípios da
democracia até então vividos, e cultivados.
A ágora leviana é utópica, fundada pois na ideologia do approche da tecnologia,
da cibernética, da informação matemática, ou das tecnobiologias. Ela se inscreve
no ideário utópico da perseguição à comunicação democrática. Ainda hoje as
tecnologias aplicadas pela educação, e como tantas outras formas da
tecnociência, que já tentaram a democratização do saber através da escrita, da
imprensa, do rádio e da TV, mas que na verdade se mostraram utópicas, até
porque as tecnologias são ideologias a serviço de um sistema econômico maior.
Lévy é utópico pois ainda estamos a esperar a mais perfeita forma de ágora.

BIBLIOGRAFIA

BAUDRILLARD, Jean. Estratégias Fatais. Trad. M. Parreira. Lisboa : Estampa
1990.
BRETON, Philippe. A Utopia da Comunicação. Trad. S. Fereira. Lisboa;
Instituto Piaget 1999.
BRETON, Philippe e S. Proulx. A Explosão da
Comunicação.Trad.M.Carvalho. Lisboa: Ed Bizâncio, 1997.
BRETON, Philippe. Le Culte d L’ Internet. Paris: Decouvert ,2000
BRETON, Philippe. História da Informática. São Paulo: Ed Unesp 1991.
LÉVY, Pierre. O que é virtual.Trad.P. Neves. São Paulo: Ed.34, 1996.
LÉVY, Pierre A Árvore do Conhecimento. São Paulo: Escuta, 1995.
LÉVY, Pierre A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço, São
Paulo: Loyola, 1988.
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência, São Paulo: Editora 34, 1995.
LÉVY, Pierre O que é o virtual?, São Paulo: Editora 34, 1996.
LÉVY, Pierre. A Máquina/universo. Trad. B. C. Magne. Porto Alegre: Artes
Médicas,1998.
SERRES, Michel. A comunicação. trad. F.Gomes, Porto, Portugal, ed Re,s/d
VIRILIO, Paul. Estratégia da decepção. Trad.L.V. Machado. São Paulo : Estação
Liberdade, 2000.
VIRILIO, Paul.O Espaço crítico.Trad.P.R.Pires.Rio de Janeiro:Ed.34. 1993
VIRILIO, Paul . Cibermundo: a política do pior. Lisboa: Teorema, 2000
WIENER, Norbert. Cibernética ou o controle e comunicação no animal e na
maquina. São Paulo; Polígono e Usp, 1970
WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade. São Paulo; Cultrix, 1973

sábado, 2 de maio de 2015

Um novo Mário de Andrade da cultura Brasileira : Agenor Vasconcelos Neto



Paulo Vasconcelos-SP
Morgana Dantas - Manaus- AM




                                              Agenor C. Vasconcelos Neto




                                          Em São Francisco, comunidade da Venezuela


AGENOR, tem graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM (2009). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Filosofia da Ciência, atuando principalmente na área da filosofia da ciência aplicada à etnografia da região amazônica. Na graduação estudou Filosofia Antiga e Estética. Obteve título de mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) e participa das atividades do Centro de Estudos e Pesquisas em Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Amazonas. Atualmente pesquisa : Etnografia da Amazônia, Koch-Grünberg e Nietzsche. Tem desenvolvido e coordenado projetos de pesquisa, além de ter publicado livros, cd, websites e artigos científicos sobre os resultados obtido

Agenor Vasconcelos Neto, apesar de ser um filósofo, UFAM,.mestre na mesma área,ora doutorando trabalha com a cabeça de um antropólogo. Deixou Recife, cedo, foi para Roraima, de lá para o Amazonas,  onde discutiu em seu mestrado a ritualística do Índio do Amazonas, tema de relevância Nacional.

O músico e Antropólogo, aglutinação, perfeita,vem de duas famílias tradicionais de Campina Grande, PB:Quirino, um industrial, parte materna, Marize Quirino e Vasconcelos,outro industrial, por parte do pai, Ronaldo Vasconcelos

Mas isto não bastou,  músico de qualidade, cria banda com outros mais - Alaíde Negão - conhecida no Norte  e sul do país,  com apresentações em São Paulo ;e submete seu projeto A música das Cachoeiras ao  Edital Nacional do Natura Musical. A proposta decorre de suas reflexões  acerca da expedição do antropólogo alemão Koch-Grünberg nos anos de 1903 a 1913, nas comunidades do Alto Rio Negro e do Monte Roraima. A partir daí, o jovem pesquisador, já comparado ao novo Mário de Andrade, na imprensa carioca, quando esteve lá, vai a campo e inicia sua pesquisa e coleta.

O livro-CD, resultado deste resgate de campo, tem 3 horas e 40 minutos de música, entre as 79 faixas. Com isto, é possivel sentir um pouco a viagem através de fotos e depoimentos, músicas coletadas, nas 35 páginas da obra.

Mas isto é apenas o primeiro pulo e extroversão de parte de todo material, diz Vasconcelos a Revista . “Apenas mil cópias estão à venda. O restante será distribuído em bibliotecas, escolas públicas e entre comunidades que participaram… Haverá um website, cujo endereço será divulgado em breve, em que se disponibilizará todo o conteúdo do projeto para download gratuito, ocasião do lançamento oficial no dia 6 de dezembro, na Estação Cultural Arte – Manaus - AM.


Perguntado, ainda, se considerava-se um novo Mário de Andrade, diz ele “… que é isso!!!! (e rir) não gosto de comparacões, Mário foi um grande pesquisador da cultura do nosso Norte e Nordeste e até do estado de São Paulo, mas não tenho interesse literário, como ele teve, destacadamente na sua obra geral , agora as Incursões Iconográficas de Mário foi um projeto político, da Secretaria de Cultura de São Paulo, inicialmente, numa dimensão muito maior que a nossa ,na Música das Cachoeiras. Essa história de novo Mário, até agradeço a comparação, mas não aceito, uma coisa é uma coisa, eu sou outra, outro momento da história do Brasil e de nossa região Norte, o que temos de comum, (diz Agenor rindo) é  o gosto e peso valor da cultura nacional”


A Música das Cachoeiras..https://soundcloud.com/musicadascachoeiras

quinta-feira, 30 de abril de 2015

A literatura boliviana como explosão no mundo Latino.



A integração latino-americana está longe de ser realizada nos ideais de Simon 
Bolivar, assim, se na economia estamos a passos lerdos, tampouco na literatura estamos unidos e não dialogamos, especialmente no Brasil. A Fliporto tentou mas não foi longe, dilacerou-se no seu caminho de luzes gerais para o internacional como todo ocidental, lhe dar mais flashes. Todavia, o mundo editorial- e do jornalismo literário argentino, sempre busca essa façanha de integração  e isso vem de anos. Lê-se muito no país argentino e pela facilidade da língua hispânica, a literatura dos seu vizinhos de mesma língua, circula melhor.

A última edição da Revista Ñ-grupo Clarin traz matéria interessante sobre a literatura  boliviana assinada por Edmundo Paz Soldán .Nascido em Cochabamba, na Bolívia, em 1967. Doutor em literatura hispânica pela Universidade de Berkeley e professor de literatura latino-americana na Universidade Cornell.Aqui no Brasil duas obras suas traduzidas O Norte -2011e O delirio de Thuring 2003.

O Artigo da Revista El Clarin, Revista Ñ, Literatura boliviana: una irreverente solenidade…(http://clar.in/1pAiGQk.)inicia com a reverência e referência de dois grandes autores Jaime Saenz y Jesús Urzagasti. Saenz (1921-1986)O primeiro é destaque na poesia latinoamericana do sec XX; por sua vez Jesús Urzagasti (1941-2013), nascido em Chaco boliviano. Ele é um ficionista e poeta, Urzagasti , traz em sua poética as relações e continuidades entre a vida e a morte em que figuras malignas tem seu espaço,face ao imaginário humano . Isto vamos encontrar na sua obra destacada, De la ventana al parque (1992).

A seguir, Soldan grifa  a posição dos críticos que apontam a obra  que dá início a contemporaneidade da literatura boliviana através da obra: Jonás y la ballena rosada (1987) de Wolfango Montes (1951), de Santa Cruz de la Sierra e hoje radicado  aqui, no Brasil , onde também atua na medicina como psiquiatra.

Em contiuidade, Soldan aponta uma outra obra De cuando en cuando Saturnina (2004) de Alison Spedding (1962), escritora e antropóloga inglesa -1962, que após publicar suas obras em inglés mudou-se para Bolivia em 1989 e agregou-se ao idioma espanico. Esta obra tem na ficção um olhar feminista e indigenista, tendo um aporte forte na exploração lingüística- entre o ingles e aymara, da nação  indígena, é considerada por alguns críticos -destacada ficionista boliviana contemporanea.

Por fimo articulista aponta para o nova geração de escritores das décadas de setenta e oitenta e que vem colocando a Bolivia dentro de um destaque da literatura latinoamericana. Destaca-se entre outros,  Giovanna Rivero (1972), Wilmer Urrelo (1975), Christian Vera (1977), Fabiola Morales (1978), Maximiliano Barrientos (1979), Juan Pablo Piñeiro (1979) Rodrigo Hasbún (1981), Liliana Colanzi (1981) y Sebastián Antezana (1982).

Outro destaque do articulista é a confluência do mundo rural e urbano o que vem a enriquecer essa literatura tornando-a mais viva e um retrato mais verdadeiro dos tempos contemporaneous.

Não atoa a III FILBA- Feira Internacional de Literatura de  Buenos Aires

2014, teve inúmeros autores bolivianos convidados, só ultrapassado pelos latinos  uruguaios