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segunda-feira, 2 de maio de 2016

As meninas de Itabaiana


                                                                  MONTEIRO LOBATO .Foto: Domínio público / Wikimedia Commons / BBC News Brasil


As meninas de Itabaiana

POR REVISTA BRASILEIROS




Um encontro nordestino, com conversas regadas a café e Monteiro Lobato, na voz de seu Jeca Tatu

Viajo para ver, ouvir, rir e rever, constatar que passam os estilos, o tempo, enfim, tudo. O Nordeste, por onde caminhei e caminho, tem muito de um tudo desse Brasil.
De São Paulo para Recife, pesquisando, vou para João Pessoa, e de lá, indo para Campina Grande, vou para Pilar e entro em Itabaiana, cidade importante na era dos trilhos. Quero rever a estação de trem, famosa no começo dos anos passados, ver a cidade em que Zé Lins estudou e assim sentir o cheiro de terra, salpicos do rio Paraíba, ora enchendo com as chuvas.
Com o amigo Anselmo, chego em Itabaiana, vamos à casa das meninas, como assim são chamadas na cidade: “ii” e “nenén”, digo, Ivone e Margarida. Lá as encontro como que dormindo sobre o tempo, com uma lisura de humanidade  que pouco se vê, muito pouco. Eram três as filhas de Nazinha – irmãs que roeram e roem o tempo: uma faleceu, professora Clotilde, chamada Tide; ficaram as duas das pontas, Margarida (nenén), a mais velha, e a mais nova, Ivone (ii). São duas mulheres de aço que resistem ao tempo: moram sozinhas, solteiras; a família se resume a primos – Anselmo é um deles. Sentados, na cozinha, tomamos café e falamos sobre a vida e, dentro disso, dos poetas, do pastoril, do Colégio do Prof. Maciel, em que Zé Lins do Rego estudou e do qual Tide foi diretora, das festas de fim de ano, dos picolés de D. Dozinha.
O personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato. Foto: Reprodução/YouTube
O personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato. Foto: Reprodução/YouTube
O tempo passou, mas o mascaramento da vida permanece, diz ii, “os tempos mudaram muito, dá um enjoo grande, mas a vida é assim, temos que aguentar como o tempo é, mas reclamar não custa nada… a televisão não me engana mais, melhor ouvir os versos de cordel, e ver o menino assaltando outras velhas e fechar a janela e engolir o susto”. Reclama das plantações de grama, ocupando o pasto dos bois e sendo vendidas para os campos de futebol, verde mentiroso. Assim diz ii, e olha para nós, fita meus óculos e diz: “Bonito, parece os óculos de antigamente”; e prossegue: “Você é jornalista, né? Leu muito, então conhece Jeca Tatu?” Eu respondo: “Faz tempo”, e ela: “Leia, ainda tenho aqui na minha estante empoeirado, era de Tide, mas li outros, os poetas do cordel, as novenas, os almanaques, Zé da Luz.”
O caso levou-me para Lobato no seu Jeca, em que mostra um país dividido, por tanto e quanto, por um lado travestido de chique, de bacana e rico e, no entanto…
“Nossas casas não denunciam o país. Mentem à terra, ao passado, à raça, à alma, ao coração. Mentem em cal, areia e gesso, e agora, para maior duração da mentira, começam a mentir em cimento armado. Dentro dum salão Luís XV somos uma mentira com o rabo de fora. Porque por mais que nos falsifiquemos e nos estilizemos à francesa, Tomé de Sousa e os quatrocentos degredados berram no nosso sangue; Fernão Dias geme; Tibiriçá pinoteia e Henrique Dias revê o seu pigmentozinho de contribuição.”
(Monteiro Lobato, em Ideias de Jeca Tatu)
Melhor olhar o coração de Jesus, de nenén, em Itabaiana, tomando o café de Ivone.
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária em universidades privadas e consultor editorial da área de Literatura, além de contista e poeta com livros publicados (paulovasconcelos@brasileiros.com.br).
Link curto: http://brasileiros.com.br/GVSJi

terça-feira, 15 de março de 2016

O Gu, o pai Gu, o tio Gu



Conheça as denominações populares ao Google, o bruxo digital que quer substituir dicionário, enciclopédia, livros
Por Revista Brasileiros
Às vezes, é preciso rir com a vida e seus fatos de humor. Vamos a um deles. No passado, os mais velhos eram os nossos armazenadores de saberes e informação. Eram nossas enciclopédias, nossos dicionários, conselheiros, sábios, decifradores, adivinhadores, esclarecedores. Depois, vieram os padres, pastores e bruxos – esses eram como nossos buscadores.
Com a escrita, houve o registro de nossos saberes e sua sistematização. Daí, as escolas, o modelo acadêmico e a nossa memória documental. Mas como reuni-los? Surge a imprensa: os livros, as enciclopédias, os dicionários (Caldas AuleteTesouro da JuventudeEnciclopédia BritânicaBarsa,Conhecer e almanaques diversos), os folhetins, o cordel, os jornais, as revistas. A oralidade prosseguia em paralelo.
Mas chegamos às tecnologias da informação e à comunicação digital, à Internet e aos buscadores, quais enciclopédias, na verdade indexadores de termos, expressões e linguagens do conhecimento, como Wandex, Excite, Lycos, AltaVista, Cade, Yahoo, Bing, etc., que pretendem fazer um tesaurumdo saber-conhecer.
Chegamos ao famoso Google, cujo termo foi criado por Milton Sirotta a partir de “googol”, no desejo de querer designar o número representado pelo número 1 seguido de 100 zeros.
Mas o Google não ficou apenas como buscador. Trouxe uma série de aplicativos para ler, ver, ouvir, criar, gravar e difundir som e imagem. Pela sua popularização, Google poderia ser um novo mito, personificando os antigos conselheiros sábios. O bruxo digital nos coloniza pelas artimanhas de suas patas, igual a um polvo do capitalismo da informação/comunicação e do conhecimento.
Mas o que aqui nos remete é a multiplicidade de sua denominação popular. Recolhi algumas por meio de uma coleta assistemática e exploratória entre alunos e muitas pessoas do meio acadêmico e outras. E o que me aparece é um glossário de humor e criatividade do modo de pensar e falar do brasileiro.
Os alunos denominaram o Google assim:
• O brother-parceiro, gugou, Gugu, gogo, tio Gu, pai Gu, santo Gu, a Bíblia.
• O cabeça (o mestre), meu santo, o demo da busca, também foi denominado: Pai dos burros, o adivinhador, o coiso, a coisa, a lenda, a cartomante, senhor todo poderoso, big brother, o broder.
No meio acadêmico, o Google ganha nomes próximos e até se repetem:
• O mestre, o bicho, o salvador, o oráculo, muleta do saber, o Gu, o gol.
Há ainda paródias bíblicas:
• “O senhor é o meu pastor e nada me faltará… E se o Google está comigo quem estará contra mim?”
Os mandamentos do Google:
• Amar o Google sobre todas as coisas. Não terás outro buscador, além de mim. Nem Yahoo, Bing, AltaVista ou outro mero buscador qualquer.
• Não tomarás em vão o nome do Google, o teu Deus…
• Guardar todos os dias e festas. Lembrarás que cada dia que passa deves usar teu tempo como uma oportunidade para adquirir conhecimento…
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária na Anhembi-Morumbi, professor colaborador da ECA-USP, Fundação Escola de Sociologia e Política-FESP, além de contista e poeta com livros publicados (paulo@brasileiros.com.br).

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A língua mãe escondida

Por: Revista Brasileiros



A identidade linguística de nossos ameríndios. Ela está em diversos campos lexicais
Os guaranis não têm um termo para a palavra natureza porque esse termo implica em uma divisão entre os seres. Nós dividimos os seres vivos em pensantes e não-pensantes. (…) A história desses seres são os relatos que eles geraram, ou seja, são os seus mitos. Esses seres têm uma Palavra alma, que é a sua fundação (…)”.
(Pesquisadora Graciela Chamorro – http://bit.ly/15fEABw)
No dia a dia, não mais enxergamos a identidade linguística de nossos ameríndios. Mas ela está em nomes nos mais diversos campos lexicais.
O tupi é um tronco linguístico – pelo lado colonizador pertencemos às línguas neolatinas já mescladas de inserções de palavras ameríndias. Aqui existe uma diglossia, ou seja, para efeito do poder e da governança, utiliza-se o português. Entretanto, no interior familiar das aldeias, fala-se a língua mãe, como é o caso do guarani e seus subtroncos, como o kaiowá.
Há dois grandes troncos, o macro-jê e o tupi. O primeiro com nove famílias linguísticas e o segundo com dez. Nossos indígenas têm origens de migrações de povos asiáticos que adentram a América, possivelmente via o Alasca. Dessa migração, surge uma genealogia da língua prototupi (Amazônia, nas imediações de Rondônia).
Desse tronco prototupi, surgiriam as línguas (na oralidade) tupinambás, potiguares, tabajaras, temiminós, tupiniquins, caetés, carijós, guaranis, chiriguanos, etc.
Gabriela Chamorro, professora doutora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFDG), em Mato Grosso do Sul, realizou um trabalho com os guaranis, por reivindicação dos professores e professoras guarani/kaiowá para o ensino e a disseminação da língua desses povos.
Para esses povos, ver e ouvir sua língua é compreender-se a si e aos outros, assim como ter uma cartografia de seu mundo e a de outros. A língua é sua identidade.
(http://bit.ly/SYnLTQ)
Sem determinar o tronco e subtronco, temos tupi-guarani:
Lugares
Arapiraca, Atibaia, Itaipu, Itambé, Itu, Itatiaia, Jundiaí, Pará, Ceará, Piauí, Paraíba, Sergipe, Paraná, Goiás, Amapá, Roraima, Aracaju, Butantã, Guaratinguetá, Igaraçu, Iguaçu, Itaberaba, Itaim, Itaquera, Ituiutaba, Jacutinga, Pacaembu, Paracatu, Paraíba, Paraná, Piracanjuba, Piracicaba, Piraí, Piratuba, Taguatinga, Tucuruvi.
Habitantes e fenômenos
Capixaba, carioca, potiguar, caatinga, capoeira, coivara, piracema, pororoca, tapera, toca, toró, voçoroca, etc.
Baías, rios, lagos, lagoas e serras
Araguaia, Guanabara, Guajará, Itabapoana, Piratininga, Jacuí, Paraguai, Paranapanema, Ivaí, Uruguai, Jequitinhonha, Mirim, Mojiguaçu, Paranoá, Sapucaí, Paranaíba, Tapajós, Xingu, Taquari, Anhangabaú, Ibirapuera, Tamanduateí, Tibaji, Borborema, Cariri, Ibiapaba, Parima, Paracaima, etc.
Flora
Abacaxi, araçá, buriti, cabiúna/caviúna, caju, capim, carnaúba, caroba, cipó, cupuaçu, guabiroba/gabiroba (e outras variantes), imbuia, ingá, ipê, jabuticaba, jacarandá, jatobá, jequitibá, mandioca, peroba, sapé, taioba, taquara, timbó, tiririca, umbaúba, etc.
(Elia, apud http://bit.ly/YtITCI)
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária na Anhembi Morumbi, professor colaborador da ECA-USP, Fundação Escola de Sociologia e Política-FESP, além de contista e poeta com livros publicados (paulo@brasileiros.com.br).

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A literatura nos booktubers






Os booktubers são jovens entre 17 e 30 anos que ensaiam um diário literário nas redes
Paulo-Vasconcelos-header
Eu leio, tu lês, ele às vezes lê. O que se lê? Estas são questões que estão nas redes sociais: Google+, Twitter, Facebook, Instagram etc. Há uma divulgação da importância da leitura, que também se dá por blogs e vlogs de apaixonados pelo livro. Difícil é saber se realmente leram, o que leram ou como enxergaram o texto. Agora surge algo mais concreto, como prova de alguma consistência na web ou, mais especificamente, no YouTube. Refiro-me aos booktubers, expressão da língua inglesa que se disseminou pelo mundo ocidental, especialmente entre a classe média. Seria uma jogada do mundo editorial? Não sabemos, mas um convive com o outro, se dão bem e lucram com isso.
Os booktubers são jovens entre 17 e 30 anos que ensaiam um diário literário nas redes. São resenhas de livros, comentários sobre as obras, sobre o autor, o projeto gráfico etc. Os gêneros preferidos: aventura, suspense, policial, ficção científica, obras que vieram pelo cinema ou vice-versa, clássicos e best-sellers em geral. Algumas editoras americanas e no Brasil vêm aderindo a esse nicho, ainda mais em tempos de crise econômica, em que a faixa juvenil representa um bom investimento. Vale observar as imagens desses jovens nos vídeos. Veem-se novas linguagens e artifícios – a qualidade da câmera, os cenários coloridos, o figurino diferenciado e o lado cômico, repleto de expressões hilárias, que lhes conferem identidade. Seus seguidores, ou assinantes, são muitos, exibem suas leituras e respondem às tags. Os booktubers se espelham por outras mídias das redes sociais, aumentando muito o número de seguidores, o que dá margem ao recebimento de dividendos pelo YouTube, dependendo da sua audiência.
Converso com dois tubers:
Claire Scorzi (youtube.com/user/clairescorzi): “Como bibliotecária, organizo cafés literários no meu trabalho. Os autores e obras são clássicos que li e gostei: literatura policial, literatura fantástica. Só faço vídeos sobre livros e autores que já li e gostei… Não me ligo no mercado editorial; vários dos livros e autores que resenho e elogio estão esgotados ou ‘fora de moda’. Já fiz 472 vídeos.”
Rodrigo Luís: (youtube.com/user/estantecheia/): “A iniciativa aqui no Brasil foi da Tatiana Feltrin do canal Tiny Little Things. Ela fazia vídeos de maquiagem e começou também a falar sobre o que estava lendo a cada semana. Ela as­sistia a vídeos sobre livros de canais estrangeiros e, como não encontrou ninguém no nosso País que também fizesse vídeos literários, decidiu começar a fazê-los. Eu, até agora, já postei 52 vídeos.”
Além dos já citados destacam-se:
Tati Feltrin: youtube.com/user/tatianagfeltrin/
Cabine Literária: youtube.com/user/cabineliteraria
Perdido nos Livros: youtube.com/user/Perdidonoslivros
Pam Gonçalves (Garota It): youtube.com/user/tvgarotait
Por Revista Brasileiros

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Outra língua




A transposição do Português falado para o escrito
Nosso falar, nossa língua brasileira é nosso RG. É fruto de um hibridismo de diversas línguas, com primazia do Português de Portugal, com passagens por todas as outras línguas que entram nesse processo. Esse falar tem peculiaridades em seu cotidiano regional do nosso imenso País. O povo reafirma isso em seu comunicar, em sua literatura. Agora, temos uma tendência em falar de um modo e escrever de outro, deste modo a tradução para a escrita é sempre outra língua, a sua transposição é delicada como tantos fizeram, como estes aqui apontados, registrando o tempo de nossa língua e, assim, como falamos. Escreveram:
E aí vem o mago
Mario de Andrade:

LUNDU DO ESCRITOR DIFÍCIL
(…)
Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara.

Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que pára no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!

Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!…
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé, chué, ôh “xavié”
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!

Virtude de urubutinga
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje!
Você sabe o francês “singe”
Mas não sabe o que é guariba?
– Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja.
(Poesias – Obras Completas, Mário de Andrade)

E lá vem o paraibano Zé da Luz
ou Severino da Silva Andrade:

BRASI CABOCO
O qui é Brasí Caboco?
É um Brasi diferente
do Brasí das capitá.
É um Brasi brasilêro,
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná!

É o Brasi qui não veste
liforme de gazimira,
camisa de peito duro,
com butuadura de ouro…
Brasi caboco só veste,
camisa grossa de lista,
carça de brim da “polista”
gibão e chapéu de coro!

Brasi caboco num come
assentado nos banquete,
misturado cum os home
de casaca e anelão…
Brasi caboco só come
o bode seco, o feijão,
e as veiz uma panelada,
um pirão de carne verde,
nos dias da inleição
quando vai servi de iscada
prus home de posição.
(…)
(Brasil Caboclo, Zé da Luz)

*Mestre e doutor em Artes e Comunicação pela ECA-USP, pesquisador na área de Cultura Popular e docente da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP-SP) e da Universidade Anhembi Morumbi (SP).

sábado, 16 de janeiro de 2016

A mulher dos frutos na palavra


A prosa poética de Alexandra Barcelos no livro infantojuvenil Cadu e as Histórias de Bantu
Por Revista Brasileiros-SP
Paulo-Vasconcelos-header
Contar histórias, dizer o mundo aos jovens, tornou-se algo mais difícil, em tempos atuais.

O imaginário mudou: desde a oralidade na fase agrária, dos João e Maria, até as histórias das negras, dos empregados de casa, babás etc., passando para a fase urbana de Luluzinha, Bolinha, Gato Félix, etc. E entramos nas histórias espaciais ou marinhas, nos desenhos animados.
Hoje a literatura infantojuvenil vem a ocupar um lugar que tenta suprimir o contato verbal e luta com a imagem/movimento, tempo de enfrentamento das letras impressas, do livro, dos autores e seus temas.
Entre tantos autores e bons ilustradores, fez-se um álibi para concorrer com a mídia imagética; assim as editoras deram vazão à sua produção e consagraram o precursor Monteiro Lobato, passando por Ana Maria Machado, André Neves, Roger Mello, Marcelo Mansur, Lygia Bojunga, Leo Cunha, Ruth Rocha e tantos outros.
Em todos os quadrantes surgem novos autores, como é o caso de Alexandra Barcelos. Natural de Foz de Iguaçu, viveu uma intensa natureza, e lá começou sua inspiração, à qual aliou-se sua formação em Letras. Esteve na Itália e nos Estados Unidos, onde tomou bebida literária. Mas, no seu afã de ser uma andante pelo Brasil, o Nordeste marcou-a, no Rio Grande do Norte e na Bahia, onde se alimentou. Suas obras estão ligadas à ecologia, diz-nos, sempre escolhe um bioma para focar em seus livros,  já em número de seis.
Ela também é alimentada por seus alunos, do ensino fundamental II, em Curitiba, onde mora, e com seu gosto de frutas na palavra faz banquete literário com os alunos.
Agora surge Cadu e as Histórias de Bantu (Ed. Kazuá, 2015), narrativa de um menino que cresce num vilarejo do sul da Bahia. Sua família tem uma fábrica de berimbau: atividade passada há gerações de pais para filhos e que não só é um negócio, mas forma de manter as tradições. Cadu cresce nesse ambiente, e vive o seu vilarejo como se ele fosse um lugar mágico, entre rios, árvores, lugares secretos, até que grandes eventos começam a transformá-lo.
Foto: ingimage
Ilustraçao: ingimage
Há em Alexandra uma prosa poética, sutil, que acompanha sua textualidade, compondo um lirismo que refresca, como o vento na natureza, que ela sempre cita.
“Meu pai sempre dizia para eu não apressar o tempo, sinta o vento soprar me dizia ele.”
Alexandra tem uma maestria na condução do texto que cola o leitor às paginas, do adulto ao jovens e crianças – aliás, pais deviam ler mais o livro infantojuvenil.
E, na sua poética, ela ainda nos diz em Cadu:
“E, foi lá que descobri que as mangas gostam de ouvir histórias antes de amadurecer.”
Não à toa, Alexandra é uma poetisa, já com livro lançado: Velho Talismã (Inverso, 2014). E vem novo livro, em 2016. Tomemos um pré-gole:
“Vértebras deformadas aguardam na sala de espera
eu tento reanimá-las com palavras…”
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária em universidades privadas e consultor editorial da área de Literatura, além de contista e poeta com livros publicados (paulovasconcelos@brasileiros.com.br).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Carnamídia



O Carnaval que não fala do Brasil dos brasileiros: pular (SP), brincar (PB, PE, Al e CE), sair (RJ, SP e BA) o (ou no) Carnaval
Publicado pela Revista Brasileiros-SP
Vivi três tipos diferentes de Carnaval em Pernambuco, na Paraíba e em São Paulo. Um foi do estilo Entrudo e Zé Pereira, mais rural, La Ursa (“Olé, Olé, quem não dê dinheiro ao urso fica aleijado do pé”), do frevo de rua, do molha-molha, das máscaras de plástico ou de papel machê. Outro, do tipo mais urbano, dos clubes, com lança-perfume e roupas de marca. E o terceiro, de passarela – fui jurado dos desfiles das escolas de samba paulistas por três anos.
Todavia, no primeiro e segundo, cantava-se “Ô abre-alas que eu quero passar/Eu sou da lira, não posso negar” (Chiquinha Gonzaga) ou Mamãe eu Quero (Jararaca e Vicente Paiva).
O Carnaval veneziano, dos clubes, dos corsos, como o da Avenida Paulista (SP), misturou-se ao espanhol, dos bonecos grandes, da Vila Esperança (SP), de São Luiz do Paraitinga (SP), de Olinda (PE) e a toda uma tradição negra, como a dos maracatus, e até com ritos da cultura popular, como bumba meu boi e cavalo-marinho.
O Carnaval midiático tirou a poesia da boca do povo, foi formatado para a interface das TVs nacionais e estrangeiras e o “roliudianou”. O rádio também o alterou, brando, e o fez melhor articulado pelo meio fonográfico e pela cultura popular.
A imagem, pouco a pouco, tirou o som do gênero musical, dos sambas fora das escolas, das marchas, dos frevos de Capiba e Nelson Ferreira (PE). Emudeceram Ângela Maria, Isaurinha Garcia, Marlene, Emilinha Borba, Zé Kéti, Claudionor Germano, Cauby Peixoto, Germano Mathias, Geraldo Filme, Ataulfo Alves, Herivelto Martins, Dalva de Oliveira, a orquestra Tabajara, entre outros, do gosto popular.
O bloco do Eu Sozinho, do Rio de Janeiro, vem desaparecendo junto com o do Clovis, de Santos (SP), os mascarados em turmas. Restam troças, papangus (PE), afoxés, cambiadas (homens travestidos de mulher), enfim, a manifestação popular integrando público e plateia.
O Carnaval baiano da Praça Castro Alves, dos trios elétricos, antes Dodô e Osmar, espetacularizou-se, dizendo o reggae, o rock, o forró, etc., o que confirmou o antropólogo Antonio Risério.
Sumiram muitos blocos e cordões, como Mocidade e Sôdade do Cordão, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, havia os da Barra Funda, Bixiga, Lavapés e tantos outros.
Muitos afoxés, ranchos, cordões e troças, como Zé Pereira, bumba meu boi, Estrela Dalva e os maracatus, estes últimos sobrevivem distantes da mídia, distribuídos por todo o País como uma espécie de resistência da cultura negra, revivendo sua, aliás, nossa, realeza africana.
Acelera aê, de Gigi, Magno Santana, Fabio O’Brian, Dan Kambaiah (BA). Eu te Amo, Porra!, de Átila (BA). Como também “Ah! Essa lembrança que ficou, momentos que não esqueci, eu cheio de fantasias“, Roberto Carlos: a Simplicidade do Rei, samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis (RJ). Se esses foram os sucessos da Bahia e do Rio em 2011, na forma brodueidiana, o brasileiro vem retomando, nas últimas décadas, seu espaço no bem dizer Carnaval.
A palavra carnavalesca está com nova força nos grandes centros e capitais e em seus recônditos afora, assim como desforra, temos o Cordão do Bola Preta (RJ), o Galo da Madrugada (PE), o Elefante (PE), a Pitombeira (PE), o Homem da Meia-Noite (PE), Cala a Boca e Beija Logo (SC), entre tantos outros.

*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária na Anhembi-Morumbi, professor colaborador da ECA-USP, Fundação Escola de Sociologia e Política-FESP, além de contista e poeta com livros publicados (paulo@brasileiros.com.br).

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O Ano da literatura paraibana -Linaldo Guedes - A União

Enviado pelo colaborador Ranulfo Cardoso - clique no título e leia toda matéria .


Linaldo Guedes J.Pessoa.PB  - A União jornal -


Um ano pródigo para a literatura paraibana. Assim foi 2015. Com muitos lançamentos, algumas estreias e vários; autores da terra premiados nacionalmente. Além de eventos e o surgimento de grupos de poesia. O ano foi encerrado com dois prêmios nacionais para escritoras do estado. Débora Ferraz ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura com o romance “Enquanto Deus não está olhando”, que havia sido vencedor do prêmio Sesc. E a A escritora Maria Valéria Rezende foi a grande vencedora do prêmio Jabuti de Literatura este ano, com o romance “Quarenta Dias”, lançado pela Editora Objetiva. Antes, no início do ano, o escritor Wander Shirukaya lançou em João Pessoa a obra “Ascensão e Queda”, vencedora do Prêmio Pernambuco de Literatura de 2014.