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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Douglas Diegues TERCIOPELO DE MI VIDA - PORTUNHOLGLES......Captura do Facebook





Esta postagem me chamou atenção face o quão é vivenciado isto na realidade.Somos um povo cercado do idioma hispânico mas gaguejamos no inglês e quando viajamos fazemos essa salada de idiomas como tentativa de se comunicar, e sai a salada natural do PORTUNHOLGLES, vejam a postagem de D.Diegues Paulo Vasconcelos





Uma de las referências de mío portunhol selvagem (atenti, críticos & críticas: selvagem sem aspas) es el Mar Paraguayo de Wilson Bueno, pero jamais será solamente la única ou la primeira y la última... Antes de Mar Paraguayo, está la referencia impagabelle de las Galáxias, de Haroldo de Campos; la antropofagia de Oswald de Andrade; el repertorio dos trovadores galaico-portugueses; y agora este surpreendente portunhol selvagem de Caio Fernando Abreu, de 1977, que mescla português + espanhol + inglês.
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TERCIOPELO DE MI VIDA
Peruca verde, longo de cetim púrpura, unhas cintilantes, sandálias douradas de altíssimas plataformas, Sally miro at herself in the glass. Passou lentamente las manos pelos quadris, o vestido realçando um pouco o busto quase inexistente. Agora, pensou excitada, agora sim deveriam entrar os dois homens (zarrões). Depois lembrou q essa história dos homens (zarrões) tinha sido deixada pra lá. Then mudou de assunto y walked to su habitación. Empty hogar. The brother-sister of Sally ainda não chegara do IPV (Instituto Pré-Vestibular), onde fazia cursinho para economês, embora suas aptidões fossem mais para a área humanística, q ele(a) rejeitava violentamente por recear ser tachado(a) de homossexual (bicha ou sapatão) pelo Corner's Club, entidade da qual era sócio(a) benemérito(a). La madrecita tinha ido levar sete velas negras, sete charutos, sete cocadas, uma garrafa de pinga (Três Fazendas), uma folha de papel celofane e um cordeiro para mãe Juliana de Oloxá, deus dos lagos (Obatalá, o Céu, uniu-se a Odudua, a Terra, e dessa união nasceram Aganju e lemanjá, respectivamente Fogo e Água. lemanjá desposou seu irmão Aganju, de quem teve um filho, Orungan. Apaixonou-se este por sua mãe lemanjá, nascendo então os seguintes filhos, todos divindades: Dada, deus dos vegetais; Xangô, deus do trovão; Ogun, deus do ferro e da guerra; Olokun, deus do mar; Oloxá, deus dos lagos; Oyá, deusa do rio Níger; Oxun, deusa do rio Oxun e mãe da cantora Clara Nunes; Obá, deusa do rio Obá; Orixá Okô, deus dos caçadores; Oké, deus dos montes; Ajê Xaluga, deus da riqueza; Xapanan (Shankpanna), deus da varíola; Orun, o Sol; Oxu, a Lua — from Almanaque do Correio do Povo 1975, p. 137). Ainda sobre esse assunto diga-se, sob pena de não revelar toda a áspera verdade: a) Sally vezenquando admirava em silêncio as rivelinianas coxas of her brother-sister, depois crispava a mão direita sobre a testa e exclamava: — Ai de mim! Não somos deuses!; b) mais informações sobre a mitologia ioruba tinham-lhe sido fornecidas por su mejor friendship, Selma Jaguarassu. Y acá, infelizmente para a disponibilidade de tempo do(a) caro(a) leitor(a), mas perfeitamente de acordo com nossa intenção de esclarecer definitivamente toda a verdade about Sally (and The Kids), devemos fazer um parágrafo para a
INTRODUÇÃO A SELMA (Flash-back nº. 2)
Sally met Selma no primeiro FICNA (Festival de Cinema Nacional de Altamira). Quando abriu as janelas de sua suite, um pouco aborrecida com a voracidade dos mosquitos, q não a deixara repousar más q três míseras horas, o calor viscoso da selva grudando o tule da camisola contra el cuerpo, viu primeiro a jaguatirica de estimação do boy afastando-se da piscina com água azul importada de Amaralina (era-lhe permitido — à jaguatirica — desfrutar de um banho antes do despertar dos hóspedes) y, logo a seguir, sem tener tiempo para pensar, on the grass: uma esplêndida mulata de enormes cabelos desgrenhados enfeitados por uma selvagem flor vermelha. Era Selma, soube ao primeiro olhar. Selma olhou para ela. "Devo estar medonha' ', pensou Sally sorrindo com a boca fechada para ocultar o aparelho nos dentes. Tão logo a viu, com gestos bruscos, Selma jogou longe a parte superior do maiô tigrado, colocou-se subitamente em pé, apanhou o primeiro cipó y desapareceu na selva com um rugido estarrecedor.
Sally desceu as stairs, tomo de la parte superior do maiô y comprimiu-a ardentemente contra o ventre. Selma, Selma Jaguarassu, the queen of the jungle, estava here/now, em carne (farta) y ossos (poucos), tinha visto com sus próprios ojos, pensou ajeitando os óculos de lentes um y meio no esquerdo y três y un cuarto no direito. A la noche, cuando tentava dormir, después de ter assistido à pré-estréia de Quem muito dá um dia se escracha, ainda intrigada com a lúcida colocação sócio-político-existencial, se bem que um tanto niilista, do jovem diretor Valdomiro Jorge, com quem tomara gin-fizz no grill-room do Altamira's Palace Hotel até as três da matina, tentando provar-lhe exatamente o contrário da proposição da controvertida obra, ou seja: que seria perfeitamente posible dar ainda muitíssimo mais (caso houvesse demanda) sem chegar contudo never a escrachar-se, hipótese contra a qual o rebelde Valdomiro Jorge, na ânsia kierkegaardiana de organizar o Kaos, não poderia jamais concordar, caso contrário precisaria abdicar de todas as suas concepções cinematógrafo-sócio-político-existenciais — enfim: tentava dormir, por la noche, cuando um rumor violento fez com que soerguesse o busto no leito. As narinas frementes, ali estava a voluptuosa Selma Jaguarassu:
SELMA (com um rugido agreste): Vim buscar a parte superior do meu maio tigrado.
SALLY (desabotoando lentamente a camisola de tule): Está em meu corpo. (Sussurrando) lt's in my body. (Gemendo) Está en mi cuerpo.
SELMA (rosnando e cingindo a cintura da donzela num feroz amplexo): S. i. m. p.!
Obs.: (Nesta altura, para evitar — embora inevitáveis — futuros problemas com a conhecida firma distribuidora dos afamados Cintos de Castidade Mental S.S., a câmera pode (deve) desviar-se dos corpos suados para el reloj de cabeceira e fixá-lo durante o tempo necessário. A trilha sonora deve manter, em contraponto, suspiros y gemidos very hots com o tique-taque cibernético del reloj — se possível, digital, y se possível, ainda, sugere-se que desperte com a interpretação de Ney Matogrosso para "Trepa no coqueiro", finalizando então a tomada).
Después desse curioso phato, tornaram-se amigas inseparáveis, univitelinas, embora por vezes tivessem alguns choques ideológicos. Profundamente latina, sometimes Selma criticava acerbamente o vocabulário y los maneirismos anglo-saxões de Sally, citando como argumento as seguintes palavras de Ruy Barbosa: Uma raça cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida, y llegando mismo a lamentá-la como vítima-símbolo da violação de nossa cultura y do escapismo da juventude; ao passo que Sally, embora admirasse a Selma más q a su própio ego, obtemperava ser essa atitude, a essa altura do campeonato, inteiramente utópica & reacionaria, citando Mick Jagger (it 's only rock and roll, but I like it) y chamando-a de vestal de um deus morto, festiva, careta y otros adjetivos menos publicáveis. Como não eram dogmáticas, concluíam q, embora estivessem no mesmo barco, as maneiras de remar podiam perfeitamente ser diferentes. Além do q, acrescentavam em coro, acariciando os mútuos seios, o barco estava inapelavelmente furado. Y todo bien. Or not. Separaram-se con los ojos marejados de lágrimas amargas: Selma ofereceu sua casinha palafita às margens do Maicuru, margem esquerda do Amazonas, y Sally su departamento na av. João Pessoa, Porto Alegre, 90 000.
DECISÃO FATAL
Ahora, in front of the glass, peruca verde etc. etc, Sally pensava justamente em Selma. Não tinha mais nobody-nadie a quem recorrer. Localizou o Comando Geográfico em su mind, discou o código da América do Sul e, rapidamente, traçou o roteiro. Do Maicuru poderia, fácil e clandestinamente, atingir o Suriname; do Suriname alcançaria Trinidad, passando por Tobago, Granada, St. Vin-cent, Barbados, Martinica, Dominica, Guadalupe, Antigua y Barbuda, hasta Puerto Rico, República Dominicana, Haiti, Cuba — Cuba não ("este passaporte não é válido para Cuba", lembrou), melhor desviar pelas Bahamas, hasta Nassau y la Florida, onde poderia vender algum artesanato aos veranista y llegar finalmente a El Paso, onde Don a esperaria com uma cesta de flores de peyote ainda frescas, como de costume.
Selma naturalmente não a acompanharia, fiel a su luxuriante y úmido amazonic dream. Sally não se atrevia a partir sozinha. Roeu algumas unhas antes de a luz fazer-se em su cabeza y recordar-se — of course! — dos Kids. Como pudera olvidá-los? Ligou imediatamente para o IAPI, pediu para falar com Mike Pocket-Knife. Ele atendeu prontamente, dizendo q estava à espera (havia uma insólita relação telepática entre os dois). Ela perguntou se seu passaporte mais o dos outros Kids estavam em ordem. Ele disse q não, mas podia conseguir alguns no mercado negro em questão de quarenta minutos. Ela perguntou se estariam a fim de acompanhá-la numa pequena trip. Expôs-lhe o tra(pro)jeto. Sem manifestar nenhum entusiasmo, ele disse secamente q sim. Providenciaria os papéis para todos, daria uma revisada nas motos, compraria um novo blusão de coiro y la aguardaria dentro de dos horas na saída da freeway próxima à Rodoviária. Sally desligou. Conhecia-o sobejamente bem para saber q não blefava.
EPILOGUS
Os dados estavam lançados. Arrancou nervosamente a peruca verde, verteu solvente nas unhas, espatifou o longo de cetim púrpura y as sandálias-douradas-de-altíssimas-plataformas, tomou da mochila no guarda-roupa y jogou inside: 1 par de jeans boca justa outro boca larga (não sabia como estava a moda no Caribe); 1 pandeiro com fitas; l foto de Mercedes Sosa (presente para Selma); l seringa nova (presente para Mike); 1 pôster de Mick Jagger; l fita magnética com o último LP de Rita Lee; 1 recorte de uma entrevista com Denise Bandeira; l túnica indiana; 1 vidrinho de patchuli, pela metade; 1 exemplar de Be Here Now; 1 par de tênis e 1 bustier de lamê prateado q comprara no verão passado em Buenos Aires. Rodou por alguns segundos pelo quarto, antes de atinar com o sleeping-bag y a barraca Priscilla detrás de la puerta. Después, foi até o banheiro, apanhou o batom ciclamen e riscou fuerte no espelho: Sally doesn't live here anymore. Cheirou duas ou três carreiras e, antes de sair, ainda teve tempo de jogar contra os ladrilhos a velha seringa manchada de sangre. No elevador, cruzou com la madrecita.
— lt's ali right, man — disse batendo a porta. — I'm only bleeding.
— Já te disse mais de mil vezes que não entendo inglês, Maria Suely — resmungou la madre.
THE END (exit)

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Restaurante Porto do Moreira, Largo do Mucambinho SSA. BA..adeus Antônio Moreira Captura do Face




Como sempre o cronista abre a boca para falar do cotidiano e da história, Prof.Florisvaldo Mattos ,desta vez com triste notícia de uma perda para cidade de Salvador , do Brasil, quiça do mundo: a morte de Antonio Moreira, ícone de um gastronomia   da terra baiana, que muitos se refastelam e refastelaram; eu comi lambi o bico entre salgados pratos, deliciosos e sobremesas brasileiras:goiabada com queijo e banana pessoalmente.Lamento, aqui vai a a fala do cronista  no seu Facebook Paulo Vasconcelos


ADEUS AO AMIGO ANTÔNIO MOREIRA
Prof Dr.Florisvaldo Mattos
Estou hoje, pela manhã, em casa, ainda me recuperando das tropelias hedonistas de final de ano, quando recebo pela voz embargada do jornalista Carlos Navarro Filho (Navarrinho) a triste notícia de que misteriosamente se fora o querido amigo de todos nós e de muitos mais Antônio Moreira, que desde decênios divide com o irmão Francisco (Chico) Moreira a direção e sustentação do paradigmático Restaurante Porto do Moreira, situado no Largo do Mucambinho, uma das joias, senão a principal, do universo sensorial da Cidade do Salvador. Memorável figura, admirável exemplo de fraternidade e cordialidade, que conciliava na convivência diária com clientes, muitos frequentadores da casa por muitos decênios, gestos de amabilidade e respeito com irreverência bonachão como bem o caracterizou hoje um deles, o Dr. Fernando Santana, presidente do Clube inglês, sempre alegre, sorridente e afetuoso, em todos os momentos e dias em que lá se postava para cumprir a faina que o destino lhe reservara e o tornara um ser humano amado por todos que dele se aproximavam. Desde que o conheci, lá se vão quase sessenta anos, travamos uma relação de consideração e amizade que durou até que os Fados permitiram. Vai-se Moreira, de repente, deixando em todos os que o conheceram um sentimento de perda incalculável. Que a eternidade o receba coberto com consagrador manto de luz e paz, tornando a sua memória um patrimônio de todos.
Como o conheci, lá mesmo no célebre restaurante, ainda um garçom infanto-juvenil servindo com o irmão Américo à freguesia sob ordens às vezes severas do pai, o saudoso português José Moreira, guardo dele na memória a mesma expressão sociocultural do restaurante, palco de episódios e histórias memoráveis, algumas até de contorno humorístico, que, certa feita, ao pronunciar recentemente uma conferência sobre trajetos boêmios da cidade, nos anos 1950/1960, não deixei de dedicar uma parte ao significado cultural de seu nobre estabelecimento.
Assim é que, entre muitas histórias que reuni na narrativa de tão rico e inesquecível período da vida de Salvador, sinto-me impelido a reproduzir dela a parte que segue abaixo.

"Desse hoje para muitos um urbano paraíso perdido, repositório de sensações e conquistas inauditas, todos teriam histórias prazerosas a contar, mas, de todos esses lugares, talvez seja o Porto do Moreira o que, pela qualificação e variedade da clientela, mais guarde a memória de casos dignos de registro. Fundado em 1938 pelo português José Moreira (o Sêo Moreira), e facultando a seus clientes um assíduo quanto vasto cardápio de pratos caseiros de inspiração lusa e baiana, tornou-se desde cedo uma casa de pasto cujas mesas reuniam diariamente a nata da inteligência e da burocracia, representada por escritores, poetas, artistas plásticos, professores, jornalistas, profissionais liberais, membros da magistratura, além de políticos, funcionários públicos e comerciários, que lhe davam cor local, como até hoje ocorre neste ameno quase octogenário recanto. Além da cordialidade e simpatia do dono, virtudes saudavelmente transferidas aos filhos, Antônio e Francisco, que, na condição de herdeiros, ainda hoje mantêm o famoso lugar como um ícone de prazeres gustativos na geografia da cidade.
Muito de histórias passadas lá permanece no imaginário dos remanescentes de uma fiel clientela. Evoquemos uma delas quase ao acaso, narrada por Carlos Coqueijo Costa, conceituado dublê de jurista do Trabalho, cronista, compositor musical e animador cultural. Com o restaurante funcionando já no atual endereço, no Largo do Mucambinho, mais conhecido como Largo das Flores, na Rua Carlos Gomes, entre os garçons do serviço, havia um mulato magro, calmo, atencioso e simpático, apelidado de Popó. Atendido por ele, certo dia, na hora do almoço, com preguiça de ler o cardápio escrito à mão, um freguês lhe pergunta: “Popó, que temos de bom hoje, aqui na casa, para comer?”. Solícito, lhe responde Popó, suavemente: “Tem galinha de molho pardo, galinha de ensopado, fígado acebolado, ensopado de carneiro, porco assado, salada de bacalhau, filé a cavalo, moqueca de miolo e moqueca de carne”. Fez uma pequena pausa e concluiu: “E, de sobremesa, goiabada com queijo e banana pessoalmente”. Coqueijo contou este curioso diálogo numa das crônicas que então escrevia, às segundas-feiras, no jornal “A Tarde”, cujo recorte ainda hoje, emoldurado, está afixado na parede do restaurante, à vista dos fregueses."
ADEUS, GRANDE AMIGO ANTÔNIO MOREIRA.

sábado, 30 de dezembro de 2017

Zé Louzeiro em Capturas do Face por Antônio Torres


Aqui o Antonio Torres baiano se despede de Zé Louzeiro- maranhennse- 1932-2017. outra figura que deixa marca de falta profunda neste Brasil de tantos encantos e desencantos,e que fica um buraco duro,difícil de ser aterrado, por tantas crises, inclusive  de amizade e ternura, esta última já parece coisa do antigamente, que dó...o tempo não para pois nós não paramos como natureza em eterna ebulição.




Lá se foi mais um velho e bom camarada. Convivemos muito durante um longo tempo, sobretudo quando ele esteve à frente do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, e me levou para fazer parte da sua diretoria. Antes de tudo, Zé Louzeiro era um ser gregário, combativo e de ótima convivência. Fazem-lhe justiça as linhas escritas pelo "primo" Bolívar Torres, hoje, no Globo. Saudades. (Com Henrique Pires).

CARTA DE CAYMMI PARA JORGE AMADO ......CAPTURAS DO FACE VIA AMIGA REGINA GOMES via Claudio Passavante





A BAHIA de São Salvador  é sempre a  Bahia enorme que se espalha pelo país e mundo  com seu cheiro de brasilidade africana, e tudo  acompanhado de belezas, contradições , amizade, carinho. e cores .De Claudio Passavante para Regina Gomes para mim e para vocês.....Bom ano com esperanças de um tempo que seja ensopado  de amizades ,Paulo Vasconcelos.
Bahiatour


CARTA DE CAYMMI PARA JORGE AMADO
“Jorge, meu irmão, são onze e trinta da manhã e terminei de compor uma linda canção para Yemanjá, pois o reflexo do sol desenha seu manto em nosso mar, aqui na Pedra da Sereia. Quantas canções compus para Janaína, nem eu mesmo sei, é minha mãe, dela nasci.
Talvez Stela saiba, ela sabe tudo, que mulher, duas iguais não existem, que foi que eu fiz de bom para merecê-la? Ela te manda um beijo, outro para Zélia e eu morro de saudade de vocês.
Quando vierem, me tragam um pano africano para eu fazer uma túnica e ficar irresistível.
Ontem saí com Carybé, fomos buscar Camafeu na Rampa do Mercado, andamos por aí trocando pernas, sentindo os cheiros, tantos, um perfume de vida ao sol, vendo as cores, só de azuis contamos mais de quinze e havia um ocre na parede de uma casa, nem te digo. Então ao voltar, pintei um quadro, tão bonito, irmão, de causar inveja a Graciano. De inveja, Carybé quase morreu e Jenner, imagine!, se fartou de elogiar, te juro. Um quadro simples: uma baiana, o tabuleiro com abarás e acarajés e gente em volta.
Se eu tivesse tempo, ia ser pintor, ganhava uma fortuna. O que me falta é tempo para pintar, compor vou compondo devagar e sempre, tu sabes como é, música com pressa é aquela droga que tem às pampas sobrando por aí. O tempo que tenho mal chega para viver: visitar Dona Menininha, saudar Xangô, conversar com Mirabeau, me aconselhar com Celestino sobre como investir o dinheiro que não tenho e nunca terei, graças a Deus, ouvir Carybé mentir, andar nas ruas, olhar o mar, não fazer nada e tantas outras obrigações que me ocupam o dia inteiro. Cadê tempo pra pintar?
Quero te dizer uma coisa que já te disse uma vez, há mais de vinte anos quando te deu de viver na Europa e nunca mais voltavas: a Bahia está viva, ainda lá, cada dia mais bonita, o firmamento azul, esse mar tão verde e o povaréu. Por falar nisso, Stela de Oxóssi é a nova iyalorixá do Axé e, na festa da consagração, ikedes e iaôs, todos na roça perguntavam onde anda Obá Arolu que não veio ver sua irmã subir ao trono de rainha?
Pois ontem, às quatro da tarde, um pouco mais ou menos, saí com Carybé e Camafeu a te procurar e não te encontrando, indagamos: que faz ele que não está aqui se aqui é seu lugar? A lua de Londres, já dizia um poeta lusitano que li numa antologia de meu tempo de menino, é merencória. A daqui é aquela lua. Por que foi ele para a Inglaterra? Não é inglês, nem nada, que faz em Londres? Um bom filho-da-puta é o que ele é, nosso irmãozinho.
Sabes que vendi a casa da Pedra da Sereia? Pois vendi. Fizeram um edifício medonho bem em cima dela e anunciaram nos jornais: venha ser vizinho de Dorival Caymmi. Então fiquei retado e vendi a casa, comprei um apartamento na Pituba, vou ser vizinho de James e de João Ubaldo, daquelas duas ‘línguas viperinas, veja que irresponsabilidade a minha.
Mas hoje, antes de me mudar, fiz essa canção para Yemanjá que fala em peixe e em vento, em saveiro e no mestre do saveiro, no mar da Bahia. Nunca soube falar de outras coisas. Dessas e de mulher. Dora, Marina, Adalgisa, Anália, Rosa morena, como vais morena Rosa, quantas outras e todas, como sabes, são a minha Stela com quem um dia me casei te tendo de padrinho.
A bênção, meu padrinho, Oxóssi te proteja nessas inglaterras, um beijo para Zélia, não esqueçam de trazer meu pano africano, volte logo, tua casa é aqui e eu sou teu irmão Caymmi”.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Se 2018 também vai virar sucata, não acharemos nele o novo que desejamos -Elton Luiz L. de Souza - Captura do Face


O professor, Filósofo e poeta nos diz bem simples o que estamos a viver,saindo de um conceito para outro  ou para um mesmo, o tempo é assim, a vida e assim que digam, falem os poetas um dentro da boca do outro, um falando para o outro e os outros, nós ,a ouvir.Um ano que sai e outro que segue..Paulo Vasconcelos

“O que é verdadeiramente novo nunca vira sucata” , ensina o poeta Manoel de Barros. “Sucata”, segundo o poeta, é tudo aquilo que a “velhez venceu”. “Velhez” não é uma vida perto do fim , velhez é uma vida que se perdeu de seu começo, de seu “minadouro”, de sua (re)invenção.
Se 2017 está virando sucata, não era ele verdadeiramente o tempo novo. Se 2018 também vai virar sucata, não acharemos nele o novo que desejamos . Mas onde achar a “não velhez” do tempo, o seu embrião?

Sem fazer alarde ou promessas, independente de tecnologias, a aurora de não importa qual dia nos dá a resposta, sem exigir champanhe ou fogos em troca: uma aurora sempre vem para nos lembrar que todo dia é dia novo! ( e não apenas 1º de janeiro!)

“Durante as viagens sem rumo dos andarilhos
eles são instalados na natureza igual se fossem uma aurora”.
( Manoel de Barros)
“Erguer-se... como se ergue
a aurora do seio da noite”.
(Homero, Ilíada )
Elton Luiz Leite de Souza-RF
Prof Uerj Rj

domingo, 24 de dezembro de 2017

NATAL SEM GOLPE, SEM FOME..O Nordeste espera um Cristo, espera o rei da esperança que traga a espada e o pão.

NATAL SEM GOLPE, SEM FOME ,SEM INFÂMIA...FORA TEMER E SUA TRUPE




É preciso da as mãos e sair às ruas, é preciso expulsar este governo.A dignidade há de se ter sem ou com pancadaria, a paz não é feita só de branco, mas de sangue, de luta, de união dos que acreditam em uma democracia dos homens de boa vontade. É preciso ensaiar e estrear a luta nas ruas , cidades, campos e igreja.A paz não se recebe de mãos limpas, de cristianismo barato, a paz é de fogo, fé e pé no chão, espada  e grito.
Como disse o poeta Ledo Ivo em O Alagoano: pag 732 Poesia completa


O Nordeste espera um Cristo,
espera o rei da esperança
que traga a espada e o pão.

....
O Nordeste espera um rei como Dom Sebastião
que venha com seu chicote,
flor de fogo em sua mão,
castigar quem mata o povo
e condenar o  ladrão
que desde que  vida é vida
rouba tudo quanto temos,
a terra que Deus nos eu
quando dividiu o mundo
entre os viventes,
a roupa  do nosso corpo
o milho da plantação,
nossa mandioca branca
e o leite de nossas  cabras
as águas de nossa sede,
o charque de nossa fome
e os frutos do nosso ventre.
O nordeste espera um Cristo
que não morra numa cruz
como o menino Jesus
ou não seja esqurtejado
como o Major Calabar
mas que, salvo pelo povo,
da sanha dos fariseus,
viva sempre ao nosso lado
rei e monarca do mundo
com  seu reinado de luz.
Que venha um deus -guerrilheiro
ser o nosso capitão,
corrigir as injustiças,libertar-nos da miséria
e fundar na nossa terra
A monarquia do pão

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Pernambucana vence disputa nacional de poesia e vai para etapa mundial em Paris

Interessante matéria do Diário de Pernambuco. A poesia como crítica social....vale a pena...
http://bit.ly/2kKA6AU




Isabella Puente versou sobre racismo, machismo e a 'identidade nordestina', destacando os preconceitos http://bit.ly/2kKA6AU
Da última quinta-feira (14) até domingo (17), Isabella e poetas de diversos lugares do Brasil se apresentaram no Sesc Pinheiros. A competição consiste na performance de textos autorais de até três minutos, que podem discorrer sobre temas variados, com inspiração na prática batizada de slam poetry que surgiu na década de 1980 em Chicago, nos Estados Unidos, em um movimento encabeçado por Marc Smith. Dentre temas como machismo, racismo, a ideia de depredação do patrimônio público e o adoecimento psicológico de jovens em decorrência da pressão da sociedade capitalistas, a pernambucana versou a respeito do e a identidade nordestina, com destaque para o próprio estado. 

"Nordeste tem nove estados, nem vem dizer que não sabia. Sul e Sudeste têm IDH foda, mas não tem aula de geografia. De onde eu venho, nós 'fala' 'oxe, eita carai, misericórdia, minha fia'. Ataque. Ator de novela quando imita nosso sotaque. É que pra vocês, nós somos caricatura. Não importa de onde eu venho, me chamam de "paraíba". Me respeita, boy. Sou da terra de Capiba! Mestre Vitalino, Paulo Freire, Manoel Bandeira, brega, frevo, coco de roda, maracatu, cultura popular pulsante!", recita Isabella em uma das apresentações, que, postada pela irmã no Facebook, se tornou viral. 

Ela explica que tem família carioca por parte de mãe e sempre sentiu na pele o preconceito por ser nordestina. "Como boa pernambucana, sou bairrista e comecei a refletir sobre questões que eu não via nos slams, que era essa relação do Nordeste com o Sudeste. Minha família do Rio de Janeiro é pobre e, mesmo sendo classe média no Recife, as pessoas de lá se sentiam melhores do que a gente, nos chamando de 'paraíba'", reflete, citando que, todo o Norte - cerca de 45,25% do território nacional - estava representado por apenas uma pessoa, enquanto cinco paulistas competiam na disputa. 

Com o título nacional, Isabella agora dividirá o tempo entre a dissertação do mestrado e a observação da competição internacional, que ela enfrentará em Paris em maio do ano que vem. Assim como ocorreu para a viagem a São Paulo, deve receber apoio para custear a viagem. "Preciso estudar e ver vídeos do que os artistas de outros países fazem por lá. "É uma felicidade muito grande por todo o compromisso e dedicação, estou muito feliz por ser de Pernambuco e do Nordeste", comemora. 

Vide Link http://bit.ly/2kKA6AU