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segunda-feira, 20 de setembro de 2021

"Assistimos a situações de profunda cobardia e de deserção humana à conta da pandemia" DN-PORTUGAL

 





Miguel Sousa Tavares estava há sete anos sem escrever um romance mas a pandemia obrigou-o a voltar à ficção com Último Olhar

© Diana Quintela / Global Imagens

https://bit.ly/3k8iHSi

O DIÁRIO DE NOTÍCIAS -PORTUGAL-LISBOA GMG-João Céu e Silva-NOS OFERECE UMA ENTREVISTA COM MIGUEL S.TAVARES ,face seu novo livro.


João Céu e Silva

O personagem principal do novo romance de Miguel Sousa Tavares recusa ser um "estorvo" só porque é velho. O retrato de um crime social a que se assistiu há poucos meses em Portugal e noutros países, quando as autoridades puseram os idosos fora da lista dos prioritários para a vacinação em nome de uma eutanásia etária. Um personagem que já vivera a Guerra Civil espanhola e estivera nos campos de concentração alemães, tragédias a que sobreviveu.



"Daqui a uns anos, não sei se seremos capazes de lembrar aquilo porque passámos nestes últimos meses de tão surreal que é: as máscaras, a distância social, as pessoas trancadas em casa, os filhos sem poderem ir à escola, o teletrabalho, o não nos cumprimentarmos nem abraçarmos." Quem o diz é Miguel Sousa Tavares, que acaba de publicar um novo romance, Último Olhar, onde a pandemia é a personagem principal, rodeada de outras que constroem com as suas vidas um retrato de uma situação mundial que surgiu de forma inesperada. Por isso mesmo afirma: "As verdadeiras tragédias vêm sempre sem aviso."

Logo à primeira página está a origem do romance: "O veneno da China". Para o autor não é difícil concluir: "Se não fosse a covid, este livro não existia. Foi um "romance imprevisto", afinal há sete anos que não publicava um." Revela que tem dois ou três encravados: "Não consigo planear romances, mas neste fui como que obrigado a escrever a partir do momento em que percebi que era mais do que uma epidemia sanitária, que era também moral. Achei que um romance ia mais direto ao coração das pessoas do que outro registo." Além do vírus e dos seus efeitos sobre a sociedade, o protagonista é Pablo. Um "velho" que atravessou a Guerra Civil de Espanha, esteve num campo de concentração durante a II Guerra Mundial, e que leva os leitores do princípio ao fim com a sua história de vida. Pelo meio, meia dúzia de personagens desenham o que a humanidade tem assistido e vivido desde há ano e meio.

Há uma particularidade narrativa que se destaca na segunda metade de Último Olhar, as passagens onde o sexo são um cenário frequente. Para Sousa Tavares, que recusa caracterizar essas páginas como eróticas mas sim de sexo mesmo, a resposta é simples: "Aconteceu naturalmente e acho que o sexo também é um sinal de vida. Além de que vinha a propósito, fazia sentido e humanizava. Se não viesse, não punha." Justifica: "O livro tem muita coisa sobre morte." Em sua defesa recorda as palavras de Millôr Fernandes quando escreveu uma crítica sobre o Equador e questionava os escritores brasileiros dizendo "O Miguel escreve sobre sexo sem medo porque na vida também há sexo". A situação mais inesperada, confessa, é a "cena de sexo no campo de concentração, de que nunca ninguém se lembraria". Como "veio a propósito", a pergunta que fez foi "porque não?"

É um romance que se passa em Espanha. Quis distanciar-se da nossa realidade?
Não foi esse o caso, antes porque o detonador do romance é um acontecimento passado em Espanha: o apedrejamento de um autocarro que levava idosos infetados pela covid. A partir daí senti necessidade de o situar de forma correta.

A covid será o segundo grande acontecimento deste início de século a seguir ao 11 de Setembro de 2001?
Sim, sem dúvida, o 11 de Setembro e a covid serão os dois momentos disruptores deste milénio. Eu comecei a escrever o romance em março de 2020, no início da pandemia, e esse acontecimento em Espanha veio ao encontro daquilo que antevi: que os velhos iriam ser as grandes vítimas e que a sociedade estava pronta a descartá-los. Foi essa perceção que me fez pensar que existe um lado de instinto de sobrevivência que estabelece uma fronteira muito ténue com a barbárie. Que foi muito nítido nesta pandemia e mesmo em Portugal, pois após o Presidente e o primeiro-ministro terem falado sobre a questão, foi preciso que o almirante das vacinas se impusesse para que os velhos passassem à frente de todas as corporações que estavam a ser vacinadas antes: polícias, bombeiros, militares, magistrados, etc.. Foi preciso que alguém dissesse "não" e que o primeiro critério deveria ser o de salvar vidas e, portanto, aqueles que mais morriam por causa do vírus: os velhos.

Uma situação impensável?
Sim. Foi estabelecido tacitamente que os velhos não iam para os hospitais ocupar camas necessárias porque vão morrer de qualquer maneira e também não iam ser vacinados porque há poucas vacinas e temos de começar pelos que têm mais hipótese de sobreviver. Foi a partir desse momento que pensei: "então a nossa sociedade investiu tanto em prolongar a vida das pessoas e chega a um ponto em que descarta os mais velhos e só quer que fiquem trancados em casa ou nos lares, sem acesso aos filhos e netos, porque se saírem à rua são um perigo público?" Que raio de sociedade é esta que construímos?

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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

El capitalismo camina hacia el tecnofeudalismo PAG12 -AR

                                                 FOTO POR https://bit.ly/3x9RthK


O Jornal PÁGINA12- AR- POR- A. ZAIAT NOS OFERECE UMA LÚCIDA PONDERAÇÃO COM SEUS ARGUMENTOS FORTES FACE O CAPITALISMO-NEOLIBERALISMO E AS TECNOLOGIAS,SEU INSTRUMENTAL DE CONTROLE E RENTISMO



Alarma en las potencias occidentales y hasta en el FMI por el poder cada vez más impresionante de las grandes corporaciones

El capitalismo camina hacia el tecnofeudalismo

Mientras la derecha política y mediática local repite eslóganes y prejuicios contra el Estado, el debate mundial apunta a fortalecerlo, ya no sólo por el papel central ocupado en la pandemia, sino para enfrentar el avance despiadado de los gigantes del mundo digital. Señales para la economía argentina acerca de la necesidad de intervenir sobre empresas que abusan de la posición dominante de mercado.

Por Alfredo Zaiat  PAGINA 12 AR.

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Tres ideas se están debatiendo en los máximos niveles políticos de las potencias, que necesariamente deberían tener influencia en países periféricos como Argentina:

1. Las multinacionales contabilizan ganancias extraordinarias y, para financiar a un Estado que ha destinado muchos recursos para atender la pandemia, deben pagar un impuesto adicional.

2. La posición dominante de grandes empresas monopólicas u oligopólicas deriva en aumentos de precios excesivos y en ausencia de competencia.

3. El cada vez mayor poder de mercado y financiero de las grandes empresas está limitando la efectividad de tradicionales instrumentos de política monetaria, como la suba de la tasa de interés por parte de las bancas centrales para atender tensiones inflacionarias.

No se trata de diagnósticos y propuestas de una plataforma de gobiernos de izquierda, sino que es la reacción de un sistema estatal que, desde su origen, estuvo aliado y, a la vez, condicionado por las corporaciones, pero ahora las firmas dominantes directamente se están independizando de ese circuito político y de control económico tradicional.

Esta emancipación se expresa en la utilización de guaridas fiscales para pagar poco o nada de impuestos en los países de origen; los aumentos de precios por encima del promedio luego de eliminar por absorción a la competencia; y la abundancia de recursos financieros líquidos que hace que no les importe la estrategia monetaria de las bancas centrales.

Son más grandes que el Estado

La pandemia dejó al descubierto la actual fase histórica del capitalismo concentrado cuando, por primera vez, una extraordinaria crisis económica-financiera global no afectó en forma negativa el negocio bursátil.

Por el contrario, el índice promedio de las principales bolsas mundiales está en niveles record, mientras las economías se derrumbaron y están tratando de recuperar lo perdido, la desocupación se ha disparado y el drama sanitario y social ha sido fulminante.

Este comportamiento divergente entre la economía real y la evolución de las cotizaciones de grandes firmas es uno –no el único- factor que refleja la nueva etapa del capitalismo. En ésta se está desvinculando la histórica asociación entre los Estados y las corporaciones dominantes del sistema de organización tradicional de las fuerzas de producción.

Las tres menciones arriba indicadas sobre las multinacionales sólo son la reacción del mundo político de las potencias, en especial las de Occidente, para tratar de no ver disminuida la capacidad de intervención e influencia de los Estados o, en los hechos, la pretensión de no perder importancia en las relaciones de poder.

Cuál será el legado de la pandemia

No deja de sorprender el análisis rústico de economistas locales, con sus habituales amplificadores, dedicados a debilitar y desacreditar el rol del Estado en la economía.

Hasta la revista conservadora The Economist se hace eco de la nueva etapa y del papel central que está ocupando el Estado, espacio que aspira a preservar pese a la expansión de las corporaciones globales, en especial las vinculadas al negocio digital.

En el texto "Después de la enfermedad. El largo adiós a la covid-19" se asegura que, con la vacuna, están surgiendo destellos de vida poscovid, pero se advierte que existen dos cuestiones claras. Una, que la última fase de la pandemia será prolongada y dolorosa, y dos, que la covid-19 dejará atrás el mundo conocido.

Ese mundo nuevo que presenta The Economist seguiría el patrón establecido por pandemias pasadas, identificando tres cambios, definidos por el sociólogo y médico greco-estadounidense Nicholas Christakis de la Universidad de Yale:

1. La amenaza colectiva impulsa un crecimiento del poder estatal.

2. El vuelco de la vida cotidiana conduce a la búsqueda de sentido.

3. La cercanía de la muerte que trae precaución mientras la enfermedad se agita estimula la audacia cuando ha pasado.

La gente se atrinchera con el Estado

El artículo describe que cuando la población de los países ricos se refugiaba en sus casas durante los cierres, el Estado se atrincheró con ellos.

Detalla que durante la pandemia, los gobiernos han sido el principal canal de información, los que establecieron las reglas, fueron la fuente principal de dinero en efectivo y, finalmente, se han convertido en los proveedores exclusivos de vacunas.

Calcula que los Estados de los países ricos pagaron 90 centavos por cada dólar de producción perdida.

Menciona que existe un vigoroso debate académico sobre si los encierros "valieron la pena, pero el legado de la pandemia del gran Estado ya está a la vista".

Apunta en forma crítica –vale recordar que The Economist es una fuente destacada del conservadurismo- que "sólo hay que mirar los planes de gastos de la administración Biden". Para concluir que "cualquiera que sea el problema (desigualdad, crecimiento económico lento, seguridad de las cadenas de suministro), un Estado más grande y más activista parece ser la solución preferida".

Hasta el FMI se sorprende del poder de las corporaciones

Algo está cambiando en el marco analítico, por lo menos en la voluntad de reflexionar sobre la dinámica de la economía en la fase de la globalización pospandemia.

Un reciente documento del Fondo Monetario Internacional "Taming Market Power Could (also) Help Monetary Policy", de los investigadores Romain Duval, Davide Furceri y Marina M. Tavares, explica que, ante la amenaza de la inflación, las bancas centrales de los países desarrollados están estudiando aplicar la receta conocida: subir la tasa de interés.

Esta medida es lo que la ortodoxia local está reclamando que haga el Banco Central, para imitar al resto de las autoridades monetarias de la región que ya subieron las tasas.

Como se sabe, el alza de las tasas incrementa la renta de inversores y encarece el crédito, una forma de restringir así la demanda y, por lo tanto, controlar los precios. Es la receta monetarista clásica.

La idea de la suba de la tasa de interés, además, busca influir sobre las expectativas futuras de consumidores y empresas y, de ese modo, lograr eficacia en la política monetaria contractiva.

Sin embargo, esos economistas del Fondo se sorprendieron con un factor que, aseguran, el análisis convencional pasa por alto: el poder de mercado de las grandes empresas.

La investigación que presentaron revela que empresas cada vez más grandes y poderosas están haciendo de la política monetaria una herramienta menos efectiva para administrar la economía.

Lo dicen para países ricos, pero se puede extender a economías en desarrollo con mercados muy concentrados, en los cuales operan empresas con posición dominante y abundantes recursos financieros (en Argentina, por ejemplo, corporaciones de telecomunicaciones con ramificaciones en medios de comunicación).

Apple y Google tienen tanto dinero en efectivo que son Amo y Señor

El estudio del FMI describe que las empresas con mayor poder de mercado responden menos a las acciones de la política monetaria debido a que contabilizan ganancias abultadas.

Esas utilidades, que se incrementaron pese a la tragedia de la pandemia o, para ser precisos, las aumentaron gracias a la pandemia, hacen que esas empresas sean menos sensibles a los cambios en las condiciones de acceso al financiamiento por decisiones de las bancas centrales.

Esos economistas fondomonetaristas ponen por ejemplo que, en marzo de 2021, Apple tenía más de 200.000 millones de dólares en efectivo y en inversiones en acciones y bonos, mientras que Alphabet (Google) tenía más de 150.000 millones de dólares.


O sea, esas empresas tienen un colchón de efectivo tan grande que pueden decidir inversiones y otros proyectos sin preocuparse por la facilidad con la que podrían acceder a otras fuentes de financiación. Es decir, dejan de depender de cuál es la tasa de interés de referencia que fija la banca central.

En cambio, las empresas que enfrentan mayores restricciones crediticias, como pymes o firmas con un margen de rentabilidad reducido, quedan condicionadas por la política monetaria.

Por lo tanto, la investigación concluye que "el poder de mercado excesivo también puede obstaculizar la capacidad de las bancas centrales para estimular la actividad económica durante las recesiones y enfriarla durante las expansiones". Lo dice el FMI, no un economista de izquierda.

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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Brasil | Sin indígenas no hay Amazonas – Por Soledad Barruti -NODAL

 


Foto por PINTEREST-https://binged.it/3xqLRj5

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El Brasil anti-indígenas de Bolsonaro avanza con el afán de rematar la selva más importante del mundo, Amazonas. Allí viven pueblos como los awa guajá: de los últimos cazadores recolectores, con formas de vida que regeneran la biodiversidad en vez de liquidarla, y un sistema de organización que los había mantenido a salvo de la pandemia. En los últimos días tras recibir un apoyo inusual de la compañía Vale S.A. salieron de su territorio y hoy están aislados, enfermos, duelando a uno de sus miembros más queridos, y pidiendo una asistencia que no llega.

Se llamaba relatos de reparación desde la selva en ruinas. Sucedía en el mismo lugar, Maranhao, un estado del noreste de Brasil donde Amazonas empieza y también donde ha estallado su destrucción.

Maranhao es la frontera más deforestada de ese paraíso de plantas y animales y pueblos que se está acabando. El lugar donde más brasileros viven en extrema pobreza y uno de los dos estados donde más ha crecido la violencia en el último año.

Esa historia sin embargo proponía narrar algo que también acontecía. Un pasaje luminoso en medio del horror que viven los pueblos indígenas desde hace demasiados años, recrudecido en los últimos tres por un presidente que está haciendo lo posible por acabar con ellos: Jair Messias Bolsonaro.

Esa historia era, como esta, sobre los indígenas awa guajá que viven en esa selva. Son cazadores recolectores, parte de los últimos grupos del mundo con esas formas de vida siempre en movimiento, andada. Hay un número indeterminado de ellos que todavía permanecen aislados: no ignoran que hay una sociedad ordenada tras un Estado, se niegan a relacionarse con ella y han ganado ese derecho. Otros, unos cuatrocientos, viven bajo la categoría de recientemente contactados: tras haber padecido una cantidad de violencias que implicaron el asesinato de sus familias, su persecución y cercamiento, hoy viven agrupados en aldeas desde donde establecen las estrategias defensivas para no perderse, para no dejar de ser awás.

Son sobrevivientes y viven en cuatro aldeas ubicadas en sus tres territorios demarcados: Guajá (en Tierra Indígena Alto Turiaçu), Juriti (en Tierra Indígena Awa) y Awá y Tiracambú (en Tierra Indígena Carú). Que estén demarcados quiere decir que, si bien no dejan de pertenecer al Estado brasilero, ellos tienen derecho exclusivo a vivir ahí y a valerse del lugar con todo lo que contiene. También a tomar todas las decisiones y organizarse.

Esa historia empezaba así, y esta también lo hará.

En marzo de 2020 con el registro vivo sobre sus cuerpos del exterminio biológico que provocaron a sus parientes enfermedades como la malaria y la neumonía, ni bien supieron de la Covid-19 los awa guajá contactados cerraron sus aldeas. Nadie podía entrar ni salir salvo que hubiera una emergencia. Llegado ese caso fijaron espacios de aislamiento obligatorio: 14 días en una casa destinada para tal fin. Buscaron permanecer a salvo de quienes portan las dolencias, los karaís (como llaman a los blancos).

Durante esos largos meses recuperaron la fluidez de muchas de sus prácticas interrumpidas a diario en normalidad donde son forzados primero a vivir en esas aldeas y luego a recibir visitas constantes. En su aislamiento por pandemia volvieron a llenar sus horas de caminatas y caza. Así reencontraron sus ritmos, sus silencios, su alimentación, su salud, sus cantos.

Conocer esas vidas contemporáneas a las nuestras en este tiempo de colapso en que extinguimos nuestras posibilidades de permanecer en el planeta Tierra, puede servir para evidenciar de una manera rotunda que hay hoy otras formas relacionales posibles a las que muchos de nosotros asumimos. Formas que no rompen lo vivo sino que se entraman con ello, lo guardianan y preservan. Como escribe el antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, estos pueblos son “islas de humanidad que permanecen encima de la superficie de sumersión de este océano blanco y homogéneo en su composición política (estado nacional), económica (capitalismo) y cultural (cristianismo)”.

Durante la pandemia, los awa guajá abrieron nuevos parajes para sí mismos, espacios de reencuentro hechos de selva. Y lograron permanecer a salvo: no tuvieron dentro de las aldeas ni un caso de coronavirus en todo 2020, tampoco un año más tarde cuando Brasil, gestionado bajo un plan sanitario más parecido a la total propagación del virus que a su contención, llegaba al medio millón de muertos.

Pero en julio de 2021, producto del avance de un gobierno que es un peligro para la humanidad toda, la Covid-19 llegó a sus tierras.

Cuando el virus llegó

En tierra awa guajá y, en sólo 17 días, el virus mató a un hombre. Un awá guajá de ojos dulces y una sonrisa extática. Un hombre de edad misteriosa pero ya avanzada llamado Karapiru. Unos cuatro días más tarde de esa muerte -los que tardó el gobierno en testar al resto de los indígenas- hubo 36 casos positivos, 11 casos en Tiracambu y 25 casos en la aldea Awa. Los testeos no se repitieron. Hoy la mayoría de ellos permanecen aislados y en un estado desesperante: no cuentan con asistencia alimentaria adecuada ni productos de higiene. No están protegidos, ni ellos ni sus tierras.

“La situación es muy difícil -resume Tatuxia’a uno de los líderes-. Necesitamos un médico en la puerta de cada aldea (actualmente hay uno solo para cuatro aldeas distantes hasta por 6 horas). Necesitamos máscaras, alcohol en gel y alimentos. Si no lo hacen las personas van a morir. En las tierras están entrando invasores, matan a los animales, se llevan la madera, y nosotros no podemos salir de acá a defenderlas”.

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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

LOJAS COLOMBO RS-USO INDEVIDO DE MEU NOME PARA COMPRA QUE NÃO FIZ

 





NF 556313 - Pedido 73842672--incidente de número 210807-000017


Fui cliente das LOJAS COLOMBO- RS -há  5 anos ou mais, de repente aparece na a tarde do dia 06.08.2021 uma entrega de máquina de costura Singer na portaria do prédio e logo em seguida comparece o setor de logística da empresa DIRECT EXPRESS para leva-la de volta de -pois houve erro  de envio(,tenho vídeo inclusive das câmeras do prédio)-e deram-me um comprovante do resgate ORDEM .COLETA DIRECT EXPRESS NUMERO 275132064701 Isto me preocupa pois estão usando meu nome e endereço para vendas trocadas.

Consta em meu cadastro da loja referida a compra dessa Máquina ref pedido73842672 ,mas a compra não realizei e foi paga com cartão de crédito que não é meu, e de uma operadora que nunca possui cartão AMERICAN EXPRESS...MANDEI Vários documentos conforme solicitado por resposta aos emails enviados -sac1@colombo.com.br- (com registro de incidente que ele  registraram sob   numero 210807000017 )

FIZ RECLAMAÇÃO AO SAC DA EMPRESA JUNTANDO: CARTA RELATANDO O OCORRIDO FEITO A PUNHO JUNTO COM BOLETIM DE OCORRÊNCIA-SSP-SP, CÓPIA RG, CPF,FOTOS DA ENCOMENDA INDEVIDA VÍDEO CÂMERAS DO PRÉDIO QUANDO  A EMPRESA  VEIO FAZER A COLETA DIRECT EXPRESS-)

TENHO   E TODOS OS EMAILS  QUE ENVIEI AO CANAL DE ATENDIMEBNTO.

Fiz também contato pelo whatsapp É ROBOTIZADO E NÃO DÁ MARGEM A RECLAMAÇÃO DETALHADA -WHATSAPP REF CASO 210807000017..

Reitero Já enviei toda documentação pedida BO, RG,CPF,carta do próprio punho, documento de resgate ,nota fiscal fotografada e vcs responderam por email que eu não tomasse mais nenhuma ação e aguardasse . Já são mais de cinco emails enviados com farta documentação e o fone de vcs não funciona por celular.  Meus fones vcs tem no meu cadastro .NO-RECLAMEAQUI-vcs dizem que tentaram contato POR FONE E EMAIL sem retorno, o que não é verdade POIS enviei-mails  inclusive a prova disto é o número de incidente que vcs me responderam por email e solicitação de RG E CARTA DO PRÓPRIO PUNHO QUE ALIÁS VCS PEDIRAM QUE APÓS O PRIMEIRO ENVIO EU REENVIASSE POIS A FOTO DA CARTA SAIU CORTADA,E ASSIM O FIZ, REENVIEI.Desta feita Exijo retirar este pedido de minha conta imediatamente ou tomarei medidas jurídicas cabíveis caso haja consequências a mim imputadas

sábado, 31 de julho de 2021

O filósofo Deleuze ensina que só conseguimos mudar alguma coisa fazendo agenciamentos... captura do Facebook

 

                                                Foto divulgação ALFAGUARA- IN FACEBOOK

Elton Luiz Leite de Souza - Sempre conosco.......e realizando seus agenciamentos que dão cor e recria a vida, põe água em nosso coco  que transborda e,  novamente, agencia como uma circular do catavento .Paulo Vasconcelos


O filósofo Deleuze ensina que só conseguimos mudar alguma coisa fazendo agenciamentos, pois ninguém muda nada, inclusive a si mesmo, sozinho . No coração da palavra agenciamento se encontra o termo “agente”. Mas o que é um agente?

Um agente pode ser qualquer coisa que favoreça um agenciamento. Por exemplo, uma música pode ser o agente de um agenciamento. Também podem ser o agente de um agenciamento um livro, um filme, um quadro... Mesmo algo considerado inútil pelo poder dominante pode servir a agenciamentos cuja “utilidade” não se mede em dinheiro.
Nem sempre um agente para um agenciamento se mostra evidente. De certo modo, é preciso saber achar um agente para nossos agenciamentos, ou até mesmo criá-lo . Sobretudo, é preciso aprendermos nós mesmos a sermos um agente para agenciamentos que potencializem os outros quando eles se encontram conosco. Quando nos agenciamos para mudarmos uma situação social, por exemplo, nos tornamos agentes uns dos outros.
Há um poema de Manoel de Barros que narra a potência que pode ter um agenciamento: o agente do poema é um pote que o poeta encontra no meio do mato jogado fora de "barriga vazia para cima". Não faz muito tempo esse pote deve ter sido o centro das atenções: todos ficavam felizes e o queriam perto. Ele assim era tratado por guardar algo que despertava interesse: ele era um pote cheio de sorvete...
Tamanha deve ser a dor que o pote sente agora, abandonado . Rejeitado pelos homens após estes o sugarem, apenas a natureza quis o pote. A natureza nunca despreza: ela recebe e regenera, preenche vazios - disso também já sabia Espinosa.
“Inútil”, o pote já não servia para nada, a não ser para metamorfoses, pois é isto que a natureza produz em tudo aquilo que, ao receber os cuidados dela , sofre um contágio, uma comunhão: "depois desse desmanche em natureza, as latas podem até namorar com as borboletas", pressagiou o poeta.
Tempos depois, o poeta teve que passar pelo mesmo lugar ermo. Lembrou do pote e se preparou para rever aquela imagem triste do sofrimento.

Porém, nesse intervalo de tempo , sem que o poeta soubesse, um passarinho passou voando “atoamente” sobre o pote e cuspiu uma semente em seu ventre vazio. Ali já havia areia e cisco que a natureza depositou: “as chuvas e os ventos deram à gravidez do pote forças de parir". E onde antes crescia o vazio, um poema vivo o pote partejou: do ventre do pote um pé de rosas desabrochou... "Se a gente não der o amor ele apodrece dentro de nós”, agradeceu o poeta ao pote por essa lição que recebeu sob a forma de rosas. Em seu agenciamento com o pote, o poeta metamorfoseou as rosas que recebeu em poesia que nos oferta.

Elton Luiz Leite de Souza

Professor Adjunto na empresa UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro,poeta, filósofo com obras publicadas

segunda-feira, 26 de julho de 2021

PSICANÁLISE E BIOPOLÍTICA:UMA LEITURA CRUZADA DE FREUD E FOUCAULT -CURSO INÉDITO COM DR. ALDO AMBRÓZIO

 


Recomendo pela forma inédita a que se propõe o curso ,além de um foco com didática na discursividade e argumentações dos campos epistêmicos envolvidos.

Aldo Ambrózio

 

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Oferecerei um curso no Instituto Racionalidades no mês de Agosto de 2021. 

PSICANÁLISE E BIOPOLÍTICA:UMA LEITURA CRUZADA DE FREUD E FOUCAULT

Serão quatro encontros de 1h30m por meio dos quais a teoria pulsional freudiana será aproximada/distanciada de uma das vertentes do conceito de biopolítica forjado pelo Filósofo Francês Paul-Michel Foucault no primeiro volume de sua peculiar história da sexualidade.

Informações sobre o conteúdo, dias e horários das aulas podem ser encontrados neste link: <https://lnkd.in/dBqVBmY>.


*Breve dados curriculares:

Aldo Ambrózio

Professor, Psicanalista e Pesquisador com boa formação acadêmica em instituições de reconhecido valor no âmbito nacional como a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o Instituto SEDES Sapientiae e a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professor universitário que também circulou por instituições com a devida seriedade no ensino, pesquisa e extensão como a UFES, UNESP e UFSCar. Atualmente é Professor de Psicologia Social e da Educação no Departamento de Ciências Humanas e da Educação (DCHE)no Campus de Sorocaba da UFSCar e, também, realiza uma pesquisa de pós-doutoramento no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O interesse de sua pesquisa tem se posicionado na relação entre as atuais formas de reconhecimento do sofrimento humano e as políticas de subjetivação vigentes no momento contemporâneo.


EL FRASCO HISPANTV-mercenarios: Instigando la intervención

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Conexión Miami, el núcleo del golpismo latinoamericano

 



FOTO POR https://bit.ly/3xNqnhv




                                                                  Foto EDER PEÑA 

https://bit.ly/3z7Uq3A

O Portal Alba  nos oferece pistas a pensar :MIAMI-AMÉRICA LATINA


https://bit.ly/3z7Uq3A


La ciudad de Miami (Florida, Estados Unidos) ha funcionado como núcleo en distintas operaciones de «cambio de régimen» contra países. A partir de hechos recientes, y no tanto, su enclave El Doral ha sido catalogado como una especie de bar de Star Wars para los aspirantes a «libertadores» y guerreros a sueldo.

Es, de alguna manera, histórica su fama de refugio para políticos latinoamericanos acusados o implicados en delitos de corrupción, en ese sentido no ha habido mayor distinción respecto a su nacionalidad. Desde los fallecidos venezolanos Carlos Andrés Pérez, Jaime Lusinchi, pasando por distintos niveles jerárquicos que incluyen a exgobernadores, exministros y hasta expresidentes, como Ricardo Martinelli de Panamá, el más reciente que ha sido detenido y sobre quien cursa una solicitud de extradición.

También se fraguan noticias falsas y conspiraciones en eventos públicos de ultraderecha llamando a golpes e intervenciones, como el supuesto Foro Defensa de la Democracia en las Américas realizado en mayo pasado con la presencia de otros expresidentes que fueron de paso: Mauricio Macri (Argentina), Andrés Pastrana (Colombia), Luis Guillermo Solís (Costa Rica) y Lenín Moreno (Ecuador), quien acusó al presidente venezolano Nicolás Maduro de las protestas en Colombia, trabajando duro para quedar fijo como ponente exiliado.

La lista es larga, pero no se trata de la única actividad amparada en el territorio entre los Everglades y el Océano Atlántico. Desde la que es considerada una ciudad global por su importancia para el metabolismo especulativo del capital transnacional, se instrumentan aventuras antipolíticas porque fondos sobran, y si no sobran se saquean jugando Monopolio con desarrollos urbanísticos que sirvan para lavar dinero, venga de donde venga.

El alto cilindraje de la maquinaria financiera, comercial y mediática ha convertido a la metrópoli en «la capital del Hemisferio Occidental al sur del Río Grande y el Golfo de México», como diría el periodista e historiador T.D. Allman en su libro Miami. City of future. De allí que sus poderes fácticos determinan narrativas y exportan violencia, además de fondos, llegando a ser una pieza clave en la instrumentación de medidas coercitivas unilaterales contra otros Estados.

El impacto de tales aventuras es tal que se han convertido en políticas que han podido cambiar el curso de la historia en algunos países. Veamos algunos casos.

Robo y mentiras en Nicaragua

En julio de 2019 el columnista Nan McCurdy publicó en The Grayzone que tres miembros de la junta directiva de la llamada Asociación Nicaragüense Pro-Derechos Humanos (ANPDH) acusaban a su exsecretario ejecutivo ahora «asilado» en Costa Rica, Álvaro Leiva, de robar hasta medio millón de dólares del dinero de los contribuyentes estadounidenses proveniente de las organizaciones de poder blando de Estados Unidos.

Se trataba de fondos recibidos entre 2017 y 2019 desde la National Endowment for Democracy (NED), el National Democratic Institute (NDI) y Open Society, entes internacionales alineados a procesos de desestabilización de gobiernos de izquierda en Latinoamérica.

Esta ONG fue fundada en Miami en 1986 bajo el mandato de Ronald Reagan para blanquear los abusos de los Contras durante la guerra sucia que la CIA estaba llevando a cabo contra Nicaragua. A Leiva se le acusó además de inflar el número de muertos durante el intento de golpe de Estado de 2018 para pedir más recursos a los donantes norteamericanos.

También se denunció que la OEA, basada en datos defectuosos de la ANPDH para instigar condenas y «sanciones» contra el país centroamericano, guardaba silencio hasta entonces.

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segunda-feira, 12 de julho de 2021

Só as ruas podem fazer o Centrão ‘largar o osso’ e frear o processo de destruição- Instituto Humanitas Unisinos

 

foto por:https://bit.ly/3jJGNmU

“Só as ruas podem fazer o Centrão ‘largar o osso’ e frear o processo de destruição”

Entrevista de José María Gómez ao Instituto Humanitas Unisinos
04/07/2021 11:54
https://bit.ly/3jJGNmU

Por: João Vitor Santos | 
Edição: João Vitor Santos, Patricia Fachin e Ricardo Machado | 02 Julho 2021
Desde que essas terras receberam o primeiro europeu e se tornaram uma colônia do império extramarítimo lusitano, foram se forjando modos de viver baseados na expropriação, repressão e desigualdade, insuflando um sentimento despótico que gera uma política de morte. Mas é no período de ditadura civil-militar, entre 1945 e 1985 (ou 1988 como defendem alguns), que essas forças dão as caras. É por isso que o professor José María Gómez diz que no Brasil sempre houve esses sentimentos, mas que no período da repressão se materializam. Para ele, é nesse contexto que se compreende o que é e o que representa a figura de Jair Messias Bolsonaro. “Bolsanaro é a expressão de algo que sempre esteve aí, é ideologicamente a expressão dos grupos dos porões da ditadura militar”, pontua, na entrevista concedida via Zoom ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Essa concepção do professor culmina na sua tese de que “ele pode desaparecer politicamente, mas o biolsonarismo vai conseguir permanecer, porque já entrou, cresceu e está aí, apesar de todas as crises que estamos padecendo”. “Bolsonaro não se explica por Bolsonaro; se explica por sua inscrição nos processos históricos do Brasil, onde a ditadura é, certamente, uma experiência decisiva”, observa.
Assim, Gómez entende que Bolsonaro tem a missão de levar adiante o projeto de destruição de país, uma forma de frear e acabar com o que ficou acordado lá em 1988, quando da promulgação da Constituição Federal e toda a ideia de ‘transição democrática pacífica’. É como se, nesse processo, não tivéssemos enfrentado todos os nossos fantasmas soltos durante a ditadura e eles seguiram pelas sombras, voltando à luz agora. “O mais paradoxal é que no momento – por volta de 2013, 2014 – em que parecia, do ponto de vista das políticas de Estado, haver um desejo de reparações, verdade e memória, não havia mudado nada em termos de justiça, pois estava bloqueada por meio da Lei da Anistia”, chama atenção.

Por isso, Gómez compreende que os acordos do fim da ditadura e as tentativas de revisitar a História e fazer realmente a memória desses anos de chumbo são tomados como afronta. Enquanto isso, Bolsonaro vai emergindo na cena política como um personagem anedótico dentro dos quartéis, mas, no momento em que essas forças, especialmente militares, se veem mais ameaçadas, ele surge justamente como o sujeito que, sem qualquer pudor, é capaz de realizar o projeto destituinte. “Estava pensando em como nós, até 2017, subestimamos completamente a possibilidade eleitoral de Bolsonaro: pensávamos que ele estava ocupando uma faixa da extrema direita e jamais conseguiria dar o ‘pulo’ para alargar a sua base”, reconhece o professor, ao lembrar do momento histórico que permite a Bolsonaro galgar apoio de diferentes fardas e mesmo não fardados.

Tudo isso nos leva ao momento ímpar na História do Brasil hoje, uma encruzilhada que significa seguir com essa destruição do Estado como conhecemos ou parar esse rolo compressor. “Então, se ganhar a eleição [em 2022], vai ser uma situação extremamente grave porque, como aconteceu em outros países – a Hungria é um exemplo claro –, com um componente mais grave aqui porque há a questão militar, ninguém mais vai pará-lo”, projeta Gómez. “Se não ganhar – olhando um pouco o que aconteceu no assalto ao Capitólio, nos Estados Unidos –, ele já anunciou que obviamente não vai aceitar perder e aí, sim, todos os mecanismos que ele tem serão mobilizados”, conclui.

Gómez é enfático ao defender que “estamos em uma situação em que o impeachment tem que ser um imperativo, dado que isso não vai parar e vai corroendo todos os mecanismos de controle”. Mas ressalta que é importante não se esquecer que Bolsonaro tem domínio sobre o Centrão, a potente classe política que domina o Congresso. Para o professor, esse grupo que compõe qualquer coalizão para se safar só pode romper com o presidente se sentir a intensidade e a força das ruas. “O Centrão só vai abandonar o osso quando perceber que a coisa já está cozida. E até lá ele vai aproveitar o máximo que puder, como, aliás, está aproveitando”, resume.
José María Gómez é argentino, chegou ao Brasil no final da década de 1980 e acompanhou todo o processo da Lei da Anistia e a chamada “conciliação transitória” do regime militar. Realizou pós-doutorado em Direito no Centre de Recherches en Droits Fondametaux, na Université Paris X Nanterre, na França, e em Ciência Política no Centro de Estudios de Estado y Sociedad, em Buenos Aires, na Argentina. Ainda possui doutorado em Ciências Políticas e Sociais pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica, e mestrado em Ciências Políticas e Sociais pela mesma instituição.

É graduado em Direito pela Universidad Católica de Córdoba, na Argentina e, atualmente, é professor Associado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio, ainda tendo sido professor titular na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Recentemente, contribuiu com Cruzando a Linha, publicação do Coletivo RJ Memória, Verdade, Justuça e Reparação, realizado em parceria com uma equipe de pesquisa sobre Memória, Verdade e Justiça do Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio.
 
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como o senhor tem acompanhado a conjuntura política, especialmente o que tem acontecido nesses últimos dias?

José María Gómez – Desde que o governo se instalou, as crises são permanentes, são episódios que vão pautando uma dinâmica enlouquecedora. Se olharmos para trás, nesses dois anos e meio veremos que são crises atrás de crises, porque é uma estratégia de crise permanente que está animando o próprio governo. Mas essa crise de agora se coloca com elementos que me parecem extremamente importantes e novos. Isso na medida em que se pode colocar não apenas a questão que mais fragiliza o governo hoje, que é justamente essa espécie de desgoverno no tratamento da política sanitária da pandemia, mas também com essa reviravolta em torno do próprio trabalho da CPI da Pandemia e sua busca por encontrar essa pontinha de corrupção que seria um elemento importante para desmascarar algo que é óbvio, mas que ainda é levantado por Bolsonaro e seu governo de que não estão sendo atingidos pela corrupção. Aliás, o que é uma barbaridade, porque todos os indícios, a começar pela própria família e distintos ministros, estão mostrando que isso é apenas uma cortina de fumaça.
Ao mesmo tempo, pensar que isso abre caminho para o impeachment é ilusório, até porque depende de muitos passos, a começar com o que vai fazer o procurador-geral da República, que já escolheu colocar tudo em banho frio. Isso até pelo próprio interesse a respeito do que vai acontecer com ele mesmo, se vai ser reconduzido ou se vai ser o candidato a ministro do Supremo Tribunal Federal – STF. Agora, tudo vai depender de como e quando os avanços na busca por indícios vão se acomodar ou se articular cada vez mais com o imperativo das mobilizações. Mesmo que o quadro da pandemia coloque em risco qualquer aglomeração, é óbvio que sem as ruas, que já foram tomadas há cinco anos pela direita e extrema direita, nada poderá avançar.
Há todo um debate sobre se é conveniente que Bolsonaro seja impedido, porque então viria o vice-presidente, o que não é garantia nenhuma de que a coisa possa avançar de uma forma melhor. E há outros que veem essa escalada de Bolsonaro, o que me parece óbvio por todos os indicadores, como uma aposta dele para ganhar a eleição em 2022. E, mesmo perdendo, vai fazer de tudo para contestar os resultados e precipitar esse projeto antidemocrático e de golpe que ele anima desde o seu primeiro dia.
Então, se ganhar a eleição, vai ser uma situação extremamente grave porque, como aconteceu em outros países – a Hungria é um exemplo claro –, com um componente mais grave aqui porque há a questão militar, vai ser como um rolo compressor, ninguém mais vai pará-lo. Até porque ele está destruindo todos os mecanismos de controle. E, se não ganhar – olhando um pouco o que aconteceu no assalto ao Capitólio, nos Estados Unidos –, ele já anunciou que obviamente não vai aceitar perder e aí, sim, todos os mecanismos que ele tem serão mobilizados.
Estamos em uma situação em que o impeachment tem que ser um imperativo, dado que isso não vai parar e vai corroendo todos os mecanismos de controle. Por isso a mobilização é um elemento central a tudo isso, inclusive é importante que desloque mais gente num arco político muito mais amplo, que não sejam apenas os grupos mais de esquerda. Acho, também, que ele ainda tem o controle do Congresso e o Centrão só vai abandonar o osso quando perceber que a coisa já está cozida. E até lá ele vai aproveitar o máximo que puder, como, aliás, está aproveitando.

IHU On-Line – O senhor então, está acreditando no poder de mobilização das ruas e defende as mobilizações desse final de semana?

José María Gómez – Sim, eu acho que é essencial.
IHU On-Line – E com essa mobilização, se for grande e massiva como o senhor coloca que deveria ser, o Centrão “aceita esse cozido” e faz avançar o processo de impedimento de Bolsonaro?
José María Gómez – Sim, porque eles são pragmicos. Não podemos esquecer que eles têm esse pragmatismo que lhes permite atravessar as décadas e estar sempre em qualquer coalizão. Porém, acontece que Bolsonaro não é qualquer um, é um projeto antidemocrático explícito. Isso é uma questão que coloca tudo em risco, pois é um projeto de destruição, não de construção, não se tem um projeto de país. Esse é um projeto destrutivo e é a sua primeira missão.
E vem sendo assim em todas as áreas, não sobra uma. Veja a educação, cultura, meio ambiente, direitos humanos, toda a questão destituinte de direitos trabalhistas e sociais, enfim, é um escárnio permanente e não há área que se salve desse projeto extremamente reacionário e que tem esse primeiro momento destrutivo. Por isso não há gestão de governo, é uma estratégia de desgoverno. O tempo passa muito rápido, porque embora até 2022 falte bastante tempo, estamos num quadro de crises permanentes, múltiplas e simultâneas. Veja a questão econômica e social. Aliás, a questão social é terrível, há um aprofundamento de desigualdades, de exclusões, de fome, de coisas que já parecíamos ter resolvido há bastante tempo e que agora estão todas aí.

E a recuperação, se existe uma, vai ser muito fraca. Mas Bolsonaro vai apostar nessa recuperação, vai também apostar, paradoxalmente, nos efeitos da vacinação ao longo de todo este ano e certamente aposta que a CPI, nesse momento, não avance muito e não crie uma dinâmica política que o obrigue a estar constantemente na defensiva. A mobilização, aí, é sempre um fator fundamental, e foi assim nas duas situações de impeachment no Brasil. E isso é decisivo porque Bolsonaro está controlando o Congresso, com os dois presidentes, do Senado e da Câmara; isso não é qualquer elemento secundário. 
O problema não acaba aí, pois o problema fudamental continua sendo os militares, pois eles voltaram com Bolsonaro. Tinham já voltado com Michel Temer, mas com Bolsonaro há uma articulação explícita desde antes da campanha. Essa crise do mês de março e esse último episódio do Eduardo Pazuello com o comando do Exército significa um quadro muito incerto e é, sem dúvida, um problema estrutural dos militares no poder.

Claro que há uma base de apoio diversificada, construída desde muito tempo atrás, e isso é o que muitas vezes a gente não via. Mas, sim, essa base foi construída desde que Bolsonaro decidiu se lançar, já em 2014, à presidência, algo que parecia um delírio. E sua primeira campanha iniciou onde? Na Academia das Agulhas Negras, no estado do Rio de Janeiro, e desde então a mantém o tempo todo.

IHU On-Line – O senhor nos afirmou que Bolsonaro é um projeto de destruição de país. Que projeto é esse, onde ele começa e por quê?

José María Gómez – Há todo um lado que ele se encarregou de encarnar, simbolizar e anunciar explicitamente ao longo de toda a sua vida política, mas que foi afunilando justamente a partir de 2011, 2012, para se precipitar em 2014 na explícita campanha para presidência. Ele tem declarações feitas, inclusive muito fortes, em 2014, em que se anuncia como a cara da nova direita que o país precisa. A partir daí, justamente, vai enunciando os objetivos de desmontagem, tudo o que tem que ser freado e desmontado a partir do que para ele eram os avanços que ocorreram em nome do comunismo, da guerra cultural, de tudo que faz parte de seu linguajar e estava encarnado e explicitado em todo o processo político, sobretudo depois de 1988.

A chamada normalização democrática, para ele, nunca foi algo sobre o qual se aceitava a regra do jogo. Desde o início, ele explicita que não é via Congresso, que isso não serve para nada, e o único que pode avançar é aquele que provoca uma ruptura fundamental na regra do jogo para desmontar os perigos que estão em todos os planos.
E, assim, ele já se articula desde 2014, e se percebe essa articulação muita clara no escárnio que foi o seu voto no impeachment da presidente Dilma Rousseff,quando ele, em quatro linhas, revela tudo ao evocar a ditadura, com o torturador-mor Ustra, ao mesmo tempo reivindica [Duque deCaxias e as Forças Armadas, invoca a Deus e estabelece a intencionalidade de avançar no seu projeto político presidencial.

Além disso, já vai acordando e levantando alianças com o agronegócio e, cada vez mais, com os neopentecostais e vai encontrando toda sua base de apoio, além daquela que já era incondicional desde 1986 e 1987, quando ele se revela reivindicando aumento de soldo, de salários dos soldados, uma reação das baixas patentes contra a cúpula oficial e, depois, em 1987, com a tentativa de atentado, para chamar a atenção.
Daquele período para frente, toda a sua carreira política é feita anunciando os seus valores mais reacionários e, ao mesmo tempo, invocando permanentemente a necessidade de golpear as instituições democráticas. 

Se observarmos como foi se articulando a sua base social específica, que é eminentemente corporativa desde o início – ele se representa e é representado como portador das baixas patentes do exército –, veremos que, pouco a pouco, essa base se alarga e se amplia para a polícia militar, os bombeiros e todo o círculo vinculado às Forças Armadas e forças de segurança. Essa é a sua base eleitoral fundamental até 2014, quando ele é o candidato a deputado federal mais votado do Rio de Janeiro.

É claro que, mais a frente, ele vai se articular com o mercado, com o apoio do capital financeiro, e vai encontrar todos aqueles que, com a Lava Jato, levantavam as bandeiras da luta contra a corrupção – logo ele e sua família. É fantástico porque a conjuntura parece apagar tudo que ele foi anunciando e representando ao longo do tempo. Então, é uma situação muito forte, em que percebemos como ele vai articulando seus apoios e, depois, a própria conjuntura eleitoral de 2018 foi um episódio decisivo. Esse período está muito fresco para nós.

Estava pensando em como nós, até 2017, subestimamos completamente a possibilidade eleitoral de Bolsonaro: pensávamos que ele estava ocupando uma faixa da extrema direita e jamais conseguiria dar o “pulo” para alargar a sua base. Mas o que descobrimos depois é que foram se articulando componentes essenciais em sua estrutura: o poder militar, que entra com tudo, a volta dos militares à política – os quase sete mil militares que ocupam áreas estratégicas do Estado e da administração estão aí para provar. Trata-se de um projeto político. Não nos enganemos: esses militares não entraram para correr o risco de sair no ano que vem se perderem as eleições. Aí há outras coisas muito mais profundas.

IHU On-Line – Há uma discussão entre os pesquisadores dessa área de que ou Bolsonaro seria parte de um projeto maior dos militares ou ele teria captado os militares, em função da conjuntura, e os trazido para si, começando então a constituir um projeto de poder. Afinal, Bolsonaro é um projeto dos militares ou o contrário?

José María Gómez – Isso coloca em questão a relação entre Bolsonaro e o bolsonarismo. Bolsonaro, sem dúvida, desempenha um papel-chave até o momento em que ele é reconhecido e se atribui o caráter de mito. Tudo o que ele faz até 2010, quando entra nas redes sociais, no Twitter e, depois, a série de itinerários que ele faz pelo país, passeatas e eventos públicos, foi feito antes da campanha. Então, o que está na base do bolsonarismo precede Bolsonaro. 
Sem dúvida, Bolsonaro é ideologicamente a expressão dos grupos dos porões da ditadura militar. Isso que se apresenta de maneira absolutamente escandalosa e repugnante, que é sua votação no impeachment da Dilma, expressa tudo que aí está. Mas não dá para subestimá-lo, porque ele também representa muito dessa base; ele é como a encarnação dessa base e, obviamente, ele pode desaparecer politicamente, mas o bolsonarismo vai conseguir permanecer porque já entrou, cresceu e está aí, apesar de todas as crises que estamos padecendo. O que não podemos esquecer é que as condições estão aí.

O próprio Bolsonaro, por outro lado, sempre fez a defesa e a celebração da ditadura, da tortura e sempre questionou por que não mataram mais ao invés de torturarem, porque este era justamente o perigo: terem vencido a guerra, mas não terem concluído o trabalho. Isso foi dito explicitamente ao longo dos anos, inclusive mais recentemente, nos anos 2000. Esse vínculo dele com a ditadura e essa idealização estão pautados. Em seu gabinete, na Câmara, estavam as fotos de todos os presidentes militares, com preferência por [EmílioGarrastazu Médici. Para ele, o ideal da ditadura foram os anos de 1969 a 1974.
Não é que ele rompa como um outsider. Não, ele expressa tudo isso e começa sua carreira política sendo representante do baixo clero, mas tendo uma base corporativa fundamental, que é a base das Forças Armadas e das forças de segurança, sobretudo as polícias militares, que depois foram agregando a polícia civil e todo esse enorme segmento de segurança privada que há em toda parte.

Depois, ele abraçou os neopentecostais. Sabemos que Lula e Dilma tiveram o apoio dos neopentecostais na primeira eleição e tiveram voto majoritário nesse setor. Mas isso, a partir de 2013 e 2014, começa a se desmanchar. E aí entra toda essa questão que, por outro lado, se articula com vetores que não são apenas nacionais, mas internacionais, como a guerra contra as famílias que não seriam monogâmicas, com todos os padrões tradicionais e cristãos.
Isso ganha um impulso novo diante do que seria o que chamam de “o perigo de dissolver a família tradicional” contra as famílias de novas formas e novos tipos, as questões de gênero etc., que são vistas como algo muito fundamental em setores que não são somente o dos neopentecostais, mas também o dos católicos e o dos setores conservadores.

A questão da educação também foi colocada como bandeira de defesa – o que depois seria a crítica ao Movimento Escola sem Partido. Então, há uma convergência de condições e fatores históricos do Brasil e que não vêm somente da ditadura, mas vão além, vêm lá de trás, do mito fundador, que funciona para invisibilizar as violências constitutivas das relações sociais, de trabalho, que podem ser remontadas no tempo. Na ditadura, isso ganhou um peso muito forte, até porque 21 anos não é pouca coisa e o Brasil foi muito transformado [depois da ditadura], mas isso [aquela visão de mundo] ficou lá.

Como a transição da ditadura para a democracia foi feita sem um acerto de contas com os crimes da ditadura, tem aí um elemento que se mantém, que se preserva, até porque a memória militar transmitiu para outras gerações a sua visão do que foi a ditadura. Ela deixou legados de todo tipo, que não são apenas legais, institucionais, administrativos, de imaginário, de prática concreta. As polícias militares que estão aí e são fundamentalmente um recurso decisivo da ditadura, passam a ter novas funções a partir dos estados para, no lugar do inimigo político, do subversivo e do comunista – com todas essas expressões da Guerra Fria e das experiências ditatoriais –, colocar os novos inimigos internos: jovens, negros e pobres das grandes cidades.

Então, em termos de democracia liberal, da Constituição de 1988, começa uma espécie de genocídio sistemático em matéria de segurança pública: um Estado que prende e mata em nome da guerra contra o crime, contra as drogas. Vemos que essa democracia é uma democracia de fragilidades constitutivas desde o início e a ditadura permanece em seus valores, práticas e legados completos. É fundamental entender que há fios diretos desse passado que não passa, porque jamais o Brasil acertou as contas com a ditadura e, quando começou a fazer algo, foi de forma lenta, tardiamente, de maneira assimétrica e truncada, porque a Justiça estava truncada.

Foi uma transição política sem justiça de transição e sem construção de uma memória crítica da ditadura militar. Prevaleceu, no plano hegemônico da memória histórica, aquela visão que encontra, na própria Lei da Anistia e sua interpretação dominante, o dispositivo político, ideológico e jurídico, no qual se foi construindo uma memória hegemônica pública de reconciliação nacional via esquecimento. Depois, quando o Brasil avançou em matéria de comissões de reparação, com os dois mandatos de Fernando Henrique [Cardoso], isso se deu de maneira tímida, apolítica, privatista.

Mais tarde, se avançou muito mais nesta questão, durante o segundo mandato do ex-presidente Lula, quando não apenas houve um trabalho de reparação às vítimas e perseguidos políticos, mas se fez isso com uma perspectiva, limitada e contraditoriamente, de projetar essa situação para a sociedade, avançando em matéria de produção de verdade. Essas comissões tiveram enormes contribuições nos depoimentos das vítimas e culminaram nas três comissões da verdade, entre 2007 e 2014. Esse momento catalisa a oposição mais intransigente das Forças Armadas e dos grupos mais ultraconservadores da sociedade, porque eles entendem que a memória é perigosa e a memória pública, ainda mais. Essa memória era sempre bloqueada pela Lei da Anistia, com a interpretação que domina até hoje no próprio Supremo Tribunal Federal – STF.

Massas enormes de condicionamentos explicam muito do porquê isso que parecia ter ficado para trás, não ficou. O avanço que representava a mobilização em torno da própria Constituinte, de um texto que, para além de suas contradições e de seu caráter heterogêneo e contraditório, teve progressos substantivos, mostra, por outro lado, que isso [aquela visão de mundo da ditadura] nunca desapareceu, sempre esteve ali e conseguiu, inclusive, alargar-se para gerações muito jovens.

Uma das coisas que mais me impactou foi ver a capacidade de recrutamento, inclusive em distintos setores sociais: não estou falando somente daqueles que sempre apoiaram a ditadura, mas dos setores mais pobres, inclusive nas favelas. Nas favelas do Rio de Janeiro os comitês de direita são explicitamente muito jovens. Tudo isso não é linear, atravessa circuitos sinuosos e contraditórios, que incorporam novas dimensões, e que permitem entender por que Bolsonaro, uma pessoa tosca e do baixo clero, que só chamava atenção pelo exótico e absurdo, de repente, pela conjuntura criada pelas crises econômica e política desde 2013 e 2014, chegou ao poder. Essa conjuntura precipitou uma série de descontentamentos e paralisou os governos, criando condições que, mais à frente, levaram ao impeachment, que é um ponto decisivo, e fundamentalmente, levaram ao governo Temer.

Temer começa a militarização do governo e com ele começa também a desmontagem de tudo que tinha se avançado em matéria de justiça de transição, e nasce uma embrionária construção de uma memória pública crítica da ditadura, não a memória social que sempre se teve acerca do que foi a ditadura, ou seja, uma disputa hegemônica pela memória pública do que foi a ditadura. Nesse campo se avançou muito pouco e, rapidamente, aquela visão foi desmontada e apagada frente ao rolo compressor da extrema direita, que começou a ganhar as ruas e gerações novas a partir de 2015. Isso me parece decisivo para entender por que Bolsonaro é Bolsonaro.

2018 foi um ano-chave, quando tudo se precipita, mas tudo foi antecipado desde 2014, quando começou a desvelar-se na ocasião em que Aécio Neves negou o resultado das eleições, acusando o processo de fraude. Quando ele não aceitou as regras do jogo que são elementares em um regime liberal democrático, aí começou a se gestar, junto com a crise econômica, o que seria colocado nos anos seguintes.

Bolsonaro não se explica por Bolsonaro; se explica por sua inscrição nos processos históricos do Brasil, onde a ditadura é, certamente, uma experiência decisiva. Fundamentalmente, o que acontece depois da ditadura, ou seja, o fato de nem a sociedade nem o próprio Estado acertarem as contas com a ditadura, fez com que o crime e a violência fossem constituídos a partir da experiência ditatorial. Mas insisto: Bolsonaro e a extrema direita estão operando uma série de construções míticas constituídas bem antes da ditadura, com todo o racismo estrutural, as desigualdades desastrosas de um capitalismo periférico que aí está, agravando suas próprias condições de origens, com todas as recriminações e exclusões que se tem.

O mais paradoxal é que no momento – por volta de 2013, 2014 – em que parecia, do ponto de vista das políticas de Estado, haver um desejo de reparações, verdade e memória, não havia mudado nada em termos de justiça, pois estava bloqueada por meio da Lei da Anistia. Ao mesmo tempo no Chile e no Uruguai, mantendo as leis e a anistia, a interpretação jurídica mudou para colocar a responsabilização criminal em distintos repressores e figuras importantes das ditaduras uruguaia e, sobretudo, chilena. Não se precisava mudar a Lei da Anistia, mas rever o fato de que nisso não se podia mexer. Permitiu-se que isso durasse enquanto se incorpora um pouco de reparação, depois muita reparação, mas na política pública direta de memória os grupos conservadores – a começar pelas Forças Armadas, mas não somente – colocaram um veto.

Por isso que vemos, inclusive com entrevistas, mas fundamentalmente com o livro do comandante do Exército, [Eduardo] Villas Bôas [o livro a que o entrevistado se refere é General Villas Bôas: conversa com o comandante (Rio de Janeiro, FGV, 2021)], que desempenhou um papel-chave em 2018 para permitir a eleição de Bolsonaro, excluindo e precipitando a prisão de Lula no pleito, como justamente considerou a Comissão Nacional da Verdade – CNV a gota d’água. Aliás, não se acertavam desde 1995, quando Fernando Henrique implantou a primeira comissão de reparação, a comissão especial sobre mortos e desaparecidos políticos. Ou seja, as Forças Armadas jamais perderam a possibilidade de que sua memória fosse transformada ao longo da ditadura (1964-1985), depois dela e até hoje.

Nesse fio, desde o seio das próprias Forças Armadas, mas também projetando-se em distintos segmentos, públicos e contingentes muito grandes da população, a memória se preservou tal qual. Bolsonaro é um emergente, é uma expressão emergente de tudo isso com as características que lhe são próprias. Ele vai encontrar uma base que representa esses ideais, os chamados “homens de bem”, manifestos nos homens brancos, jovens, com virilidade inconteste e que vão “acabar com tudo o que está aí”. É um efeito complexo que, se não inscrevemos isso em um processo histórico, com camadas distintas e impactos diferentes, não conseguimos compreender como Bolsonaro emerge. Nosso caldo de cultura está ligado à crise que, a partir de 2014, irrompe com a crise econômica e implica uma série de realinhamentos políticos e evidentemente a crise política. Isso vai se retroalimentando e depois vem a crise pandêmica com Bolsonaro que vai sobredeterminar tudo.

Há dois paradoxos que me parecem enormes. O primeiro é que tudo aquilo que parecia ter sido um acerto com a experiência ditatorial anterior, há 60 anos, e cujo ponto culminante é a CNV, é um ponto importante que se abriu, não apenas com a multiplicação de outras comissões da verdade, setoriais e públicas. Assim, são vetores de debate, de difusão, de um avanço do jornalismo investigativo sobre experiências da ditadura, as corrupções que existiram ali, perseguições de grupos econômicos que vão emergindo, e, lentamente, essa memória social, que sempre foi muito recalcada e ficou muito subterrânea, aparece.

Mas esse tempo em que esteve no subterrâneo dificultou que se emergisse uma visão crítica da ditadura. Estes são elementos que vão se costurando, em uma perspectiva de plasticidade enorme que em toda crise grave, ainda mais quando são várias crises simultâneas, se estabelece no país. Daí essa sensação que temos de vertigem, inclusive com Bolsonaro, que faz da crise um elemento fundamental de sua estratégia política. Ele vai promovendo constantemente crises e, por outro lado, prossegue na destruição de tudo aquilo que havia avançado de 1988 até aqui.

Bolsonaro é um pouco tudo isso, mas se Bolsonaro desaparece politicamente, o “bolsonarismo” está aí e isto é o mais grave, porque não é qualquer coisa e é um contingente muito grande, sobretudo com uma base social muito corporativa que ele constantemente celebra, que é justamente a força policial, as baixas patentes das Forças Armadas, aqueles que constituem sua base incondicional. Há ainda a estratégia clara e aberta de armamento da população, que não é simplesmente um direito individual de autodefesa. Ao mesmo tempo sabemos que se trata de um projeto antidemocrático e ele mesmo diz que “não haverá um golpe porque o povo está armado”. Mas um povo na concepção de Bolsonaro é uma ideia de “povo” muito restrita, recortada, em termos de gênero, raça, mentalidade e imaginário violento.

Essa pergunta que você coloca sobre o que, afinal, representa e constitui Bolsonaro, sintetiza, de uma maneira trágica para o Brasil, esse personagem que nunca poderia ter ascendido não fossem todas essas condições sociais, históricas, econômicas e ideológicas que criaram essa possibilidade de existência. Por isso Bolsonaro pode acabar, mas o fantasma do bolsonarismo está aí. Esta é a ameaça maior, sobretudo porque tem conseguido capturar muita gente jovem e gerações jovens.

Nós vivemos com tantas crises e crises simultâneas, bem como com enormes ameaças de todo o tipo, que o próprio governo expressa, cada vez mais sob a vertigem que gera esquecimento do passado imediato, de um mês atrás. A CPI, que há dois meses não tínhamos ideia de como seria e achávamos que o trabalho seria muito difícil, também pela composição, vai gerando uma dinâmica de crises internas, que por sua vez está dentro de uma dinâmica maior de crise política. Mas não temos nenhuma certeza do que vai acontecer daqui para frente, nos próximos dois meses. 

Estamos sempre esperando o amanhã, um amanhã incerto e que vai nos surpreender dentro da “não surpresa” deste convívio permanente de dois anos e meio do inaceitável.

Tudo isso gera um mal-estar enorme, porque percebemos a profundidade gravíssima das crises nas quais estamos mergulhados. No horizonte não há expectativas para que possamos dizer “estamos avançando”; estamos em um processo defensivo brutal, pois os riscos disso se tornar dominante estão muito perto. É essa democracia em frangalhos que aí está, embora sempre fosse frágil, cuja imagem da consolidação institucional tem uma inconsistência brutal. E veja que, embora haja um Supremo, que também desempenhou um papel que beneficiou Bolsonaro lá atrás, além do próprio Congresso, esses poderes são absolutamente insuficientes para reverter esse processo.

É necessário um movimento muito maior e mais profundo, por isso as mobilizações são essenciais. Uma mobilização que amplie o arco de presenças políticas na cena pública, pois não sabemos o que vai acontecer. Se Bolsonaro ganhar, repito, terá portas abertas para fazer o que ele bem entender. E quando digo “ele”, me refiro à estrutura de poder que está por trás. E, se ele perde, vai precipitar tudo. Não é daqueles que vai sair e dizer “ok, aceito” e, ainda, tem um elemento importante, que são os atores armados.

IHU On-Line – E se o impeachment ocorrer antes da eleição, o que pode acontecer?

José María Gómez – Confesso que eu me recuso, às vezes, a imaginar o pior, embora o pior esteja sempre nos assombrando. É evidente que isso que vimos em 2019 e 2020, sobretudo pelas polícias militares – que são, em sua maior parte, apoiadores incondicionais de Bolsonaro – e o projeto de lei que trata de tirá-las da esfera estadual, é um elemento de importância fundamental no país, o que inclui, também, altas patentes. 

Todas estas investidas no sentido de destruir o Estatuto do Desarmamento e entrar com tantas medidas provisórias que visam facilitar o acesso a armamento é algo que está explicitado, mas que, ao mesmo tempo, ninguém quer levantar muito a bola. Isso é o mais perigoso, porque faz parte de um projeto. Não é para autodefesa diante do bandido, do crime, mas inscreve-se em um projeto político que é antidemocrático. Isto não é qualquer elemento, mas algo chave na conjuntura.

O que vai acontecer com os atores militares é uma questão absolutamente complexa, porque ao mesmo tempo vemos que há enormes tremores de terra aí, pois evidentemente isso significa tensionamento. Mas ninguém pode responder de uma maneira clara e precisa até onde isso vai. Dependerá do desenvolvimento da própria crise política, atrelada à econômica e social, com a pandemia mediando tudo. Quando imaginaríamos, ano passado, que morreriam 515 mil pessoas e não surgiria nada em termos de revolta? Pensávamos que isso não ia acontecer, que haveria um momento em que presenciaríamos reações muito fortes.

Enfim, há uma reação institucional que é a CPI, mas vamos ver no que dá, porque ao mesmo tempo isso não está articulado com mobilizações. O Congresso ainda está controlado no sentido de intervir para que Bolsonaro seja impedido. Isso tudo, portanto, vai depender de muitos outros elementos e de episódios concretos; por exemplo, se a CPI descobrir algo determinante, pode-se chegar a fazer uma bola de neve, mas não esqueçamos que a bola de neve sempre vai encontrar nas ruas um adversário que também ocupa esse espaço e que está armado. Além do mais, ele tem um apoio considerável de distintos segmentos da população.

É uma questão extremamente complexa e perigosa, porque justamente há um bloco incondicional aí. Não importa quanto, mas se sabe que é significativo, em primeiro lugar porque há um contingente da população muito relevante e, por outro, há a criação de um núcleo duro armado que apoia esse governo. Como chegaremos às turbulências que foram anunciadas, desde o princípio, na campanha de reeleição? Bolsonaro já lançou sua campanha de reeleição no primeiro dia, ainda mais agora com a ascensão de Lula e esta espécie de “ressurreição” judicial e política, mas eu não consigo imaginar como as coisas vão se dar, exceto pelo fato que tendem a se dar mediadas por muita violência.

À medida que a polarização vai se cristalizando cada vez mais, eu tenho mais temor em relação ao que Bolsonaro pode fazer em atos estratégicos ou desesperados. Bolsonaro não é qualquer um, nem pela mentalidade que tem, nem pelo fato de representar quem ele representa. Os cenários são extremamente turbulentos, não há um sequer em que se pode dizer que está mais ou menos tranquilo. Tudo está para uma exacerbação brutal do conflito. Por isso é melhor pensar dia a dia e pensar o que está acontecendo na conjuntura da conjuntura. É uma sucessão infinita de conjunturas, de modo que a CPI dá um alento novo à dinamização das mobilizações, pois, evidentemente, a rua tem um papel muito importante. E isso, por si só, é tremendo porque também há o risco da contaminação pela Covid-19, ainda mais em um momento como o que estamos, de fortíssimo contágio.

Não será, porém, pelo virtual que se resolve esse problema, mas na rua. É na rua e tratando de construir um arco bem grande que se oponha ao projeto explícito de democracia. A destruição do atual governo vai colonizando, aparelhando muito o Estado e as agências do governo. A destruição opera por dois registros, pelo que incorpora e pelo que apaga. Se aguardarmos chegar ao final de 2022, as coisas estarão muito, muito mais graves.
Eu não quero imaginar o que vai ser um projeto de reconstrução do Estado, da política, das instituições e, sobretudo, do tecido social. O processo que estamos vivendo deixa consequências e sequelas tremendas. Vamos ter bolsonarismo por muito tempo e esse é o desafio maior.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

José María Gómez – Estamos trabalhando com uma equipe de pesquisa, em um projeto mais longo de monitoramento das políticas públicas de direitos humanos e de justiça, transição e memória desde sua instalação até hoje. Então, fizemos uma tabela listando as falas, gestos e medidas tomadas sobre a questão da ditadura e do golpe, vinculadas, fundamentalmente, às políticas de justiça transicional que [Bolsonaro] vai demonstrando e apagando. Porque se pode ver toda a fúria com que ele impõe a memória dos vencedores e celebra a ditadura. Celebra militares na comissão de anistia, dentro do grupo especial sobre mortos e desaparecidos. Esta é a dimensão da destruição que estamos vivendo, mas isso se inscreve na perspectiva maior do processo.

Há negacionismo e revisionismo apologético que visam à destruição e apagamento da memória da ditadura. Há quatro pilares em matéria de política de transição: reparação, liberdade, não repetição e memória pública. Eu trabalho, fundamentalmente, com a memória, que é o fio condutor que nos permite entender em grande parte o que Bolsonaro representa enquanto povo. É um pouco do que falamos, neste fio sinuosíssimo, de como sem a memória não se pode entender isso, inclusive no que se refere ao apoio de segmentos que votaram em Bolsonaro sem ser bolsonaristas. São quase 58 milhões de votos. Contudo, não podemos colocar todas essas pessoas como um bloco homogêneo, o que seria um suicídio político, mas também não podemos subestimá-los.