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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Doc Lisboa mostra pujança do género documental



por EURICO DE BARROS


Começa hoje e vai até dia 25: a sétima edição do DocLisboa apresenta cerca de 200 filmes que mostram uma atenção especial aos vários aspectos da crise mundial.

Um crítico de cinema inglês queixava-se na semana passada de que o documentário já estava a rapar o fundo do tacho do género, a propósito da estreia de Died Young, Stayed Pretty, um filme sobre os coleccionadores fanáticos de posters de concertos de rock. Se passarmos os olhos pelos grandes jornais americanos e europeus em dia de estreias de cinema, reparamos que se estão a fazer documentários com temas tão de nicho como os viciados em máquinas de jogos de vídeo que se estafam a tentar estabelecer recordes mundiais da especialidade (The King of Kong) ou a vida dos flamingos desvendada até ao mais ínfimo detalhe (The Crimson Wing: Mystery of the Flamingos).
Mas se como alguém escreveu, o documentário, numa definição ampla, "está a progredir continuamente, e não tem fronteiras precisas", na sua tarefa contínua de retratar o real em todas as suas manifestações, então filmes como os citados, por mais desconcertantes, inesperados ou micro-especializados que sejam, fazem todo o sentido e mais não estão do que a expandir as fronteiras do género. E nestes últimos anos, por factores diversos, entre económicos, técnicos, políticos e das próprias circunstâncias do real, desde as grandes comoções político-económico-ecológicas até às mais pequenas alterações do quotidiano social, familiar e pessoal, a maré do documentário não tem parado de subir.
Basta passarmos os olhos pela programação da sétima edição do DocLisboa, que começa hoje e vai até ao dia 25 (Culturgest, cinemas São Jorge e Londres, www.doclisboa.org), para vermos como o género documental está pujante, a mexer por todos os lados e a interessar-se por tudo e mais e alguma coisa, contrastando com a crise criativa e de inventividade que varre o cinema de ficção.
No DocLisboa 2009 há filmes sobre portugueses que fizeram a vida na Angola colonial, perderam tudo na descolonização e começaram de novo no Brasil (Acácio, da brasileira Marília Rocha), e sobre um professor turco numa remota aldeia curda (On the Way to School, de Orhan Eskikoy e Ozgur Dogan); sobre uma orangotango fêmea que vive há 40 anos no Jardin des Plantes de Paris (Nénette, de Nicolas Philibert) e sobre o organismo estatal que faz a triagem das cartas enviadas pelos iranianos ao presidente Ahmadinejad (Letters to the President, de Petr Lom); sobre um septuagenário americano, antigo pugilista e corretor de apostas da Mafia, cuja história um realizador português se lembrou de contar (Bobby Cassidy-Counter Puncher, de Bruno de Almeida); sobre a construção de uma casa e os que a erguem, ao longo de ano e meio (Gente da Casa, de Carlos Gomes e Ruy Otero) e sobre a tia do realizador Michel Gondry, que foi professora numa zona rural e isolada de França por 40 anos (The Thorn in the Heart); a indústria da pornografia na Sérvia (Made in Serbia, de Mladen DorDevic), uma senhora alemã que vai ao mesmo cabeleireiro há 4 décadas (In Terms of Perms, de Catherine Bode), ou o quotidiano da companhia de ballet da Ópera de Paris (La Danse, de Frederick Wiseman).
São cerca de 200 filmes este ano, para ver durante 11 dias. E ainda ficou muito real de forahttp://bit.ly/36X29M

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