REDES

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Adélia Prado lança livro inédito de poesias






















Após 10 anos sem publicar um livro de poesias inédito, escritora mineira Adélia Prado lança neste mês "A Duração do Dia"


Após 10 anos sem publicar um livro de poesias inédito, a escritora mineira Adélia Prado lança neste mês "A Duração do Dia" pela editora Record. Nele, a escritora perpassa por temas, como amor carnal e divino, o ofício do poeta, os sofrimentos intrínsecos ao ser humano, entre outros.

Por meio de uma poesia sutil e sedutora, Adélia traça uma viagem pelos caminhos do coração. Lá, descreve os desejos, frustrações e sonhos que povoam os sentimentos. O leitor entra em contato com as coisas aparentemente desimportantes do cotidiano.

Adélia ainda volta a temas recorrentes em sua escrita, como a vida provinciana, a religiosidade, as cores do campo, entre outros. Dos pertinentes conflitos entre o sagrado e o profano, recorrente em sua obra, aqui são observados ou a partir da natureza ou por meio da leitura de um texto religioso.

Graças a Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Adélia publicou "Bagagem" (1976), seu primeiro livro. O escritor Affonso Romano de Sant"Anna enviou os originais da obra para a apreciação do poeta. Drummond considerou os poemas fenomenais e indicou sua publicação. À época, Adélia tinha 40 anos.

Dois anos depois, ela ganhou o prêmio Jabuti por "O Coração Disparado". Em 2006, estreou na literatura infantil com "Quando Eu Era Pequena". Adélia é autora de "Filandras", "Terras de Santa Cruz", "Quero Minha Mãe", "O Pelicano", "Oráculos de Maio", entre outros volumes. As informações são da Folha Online.

Leia abaixo três poemas extraídos do novo livro de Adélia Prado.

TÃO BOM AQUI
Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui pra rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestiono elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
o de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
eu nada sei de mim.

TENTAÇÃO EM MAIO
Maio se extingue
e com tal luz
e de tal forma se extingue
que um pecado oculto me sugere:
não olhe porque maio não é seu.
Ninguém se livra de maio.
Encantados todos viram as cabeças:
'Do que é mesmo que falávamos?'
De tua luz eterna, ó maio,
rosa que se fecha sem fanar-se.

UMA JANELA E SUA SERVENTIA
Hoje me parecem novos estes campos
e a camisa xadrez do moço,
só na aparência fortuitos.
O que existe fala por seus códigos.
As matemáticas suplantam as teologias
com enorme lucro para minha fé.
A mulher maldiz falsamente o tempo,
procura o que falar entre pessoas
que considera letradas,
ela não sabe, somos desfrutáveis.
Comamo-nos pois e a desconcertante beleza
em bons bocados de angústia.
Sofrer um pouco descansa deste excesso.
Informações da Folha.

Nenhum comentário: