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segunda-feira, 10 de abril de 2017

KOMBI: DO COMBOIO DA VIDA, À LITERATURA



Kombi, Kombosa ou Combinha, fez-nos, viver com ela a viagem, não só de deslocamento, mas da imaginação.

Criada nos anos 50, da expressão alemã “kombinationsfahrzeug” – “van cargo-passageiro”, projeto nacionalista de Hitler depois adaptado à sociedade moderna, do consumo, fisgou famílias-grandes, pequenas e comerciantes, mas seu fim chegou pela sua fabricante. Em seis décadas, dez milhões de unidades foram fabricadas, 1,5 milhão só no Brasil. Na versão clássica, transportava doze passageiros ou mais… Era também o tempo da contracultura, do lazer e da liberdade de ser e estar – entrevia-se no imaginário

Comecei a dirigir numa Kombi e, com ela, fiz viagens, acampei. Era um estúdio, uma sala, um restaurante e um motel, acima de tudo, um objeto de hospitalidade. Sem bancos, era o espaço. Os objetos adentrados a refaziam-na e ali os portáteis: rádio, radiola, máquina de escrever. Como cozinha – pastel, caldo de cana, pamonha –, como boteco ou bibliotecas, é o ínicio das vans.  Na semana era transporte, o escritório, lanchonete, aos fins de semana levava ao campo, praia ou às festas hippies. Sim, nos anos 60/70 a Kombi era sinônimo do movimento hippie e do psicodelismo. Foi um símbolo pop… que o diga S. Tomé das Letras, em Minas Gerais, Parati, no Rio de Janeiro, Pirenópolis e Trindade, em Goiás, Trancoso e Arembepe, na Bahia, Candeias, em Pernambuco, Atibaia, em São Paulo e tantos mais... não é, Mario Prata, Gabeira, Rita Lee e Raul Seixas ?

No cinema, as Kombis aparecem das chanchadas ao cinema novo, ou mesmo, dos anos 70 a 90, como viatura da Polícia. Na TV, deu-se o mesmo.

Na literatura ela aparece em gerações de escritores. Vejamos:

Com Drummond ela aparece num conto, “O Assalto”: “(…) Janelas e balcões apinhados de moradores, que gritavam: — Pega! Pega! Correu pra lá! — Olha ela ali! — Eles entraram na Kombi ali adiante! — É um mascarado! (…)” http://bit.ly/1cz2nAp

Também com Rubem Braga, em “Berço de Mata-Borrão”: “Perguntei então se a Santa Casa se encarregava de pegar o corpo e levá-lo para o Crematório de São Paulo e como seria feito o transporte. Em uma Kombi, responderam; a não ser que eu combinasse o transporte com alguma empresa aérea. (…) Respondi que estava em Ipanema, e então o homem disse que de Kombi o transporte para São Paulo ficaria em 35 cruzados.” http://bit.ly/1gmyHdg


Fernando Bonassi: “Tem alguém embaixo de uma Kombi na Radial Leste. É logo cedo numa terça-feira que vai se perder. Nem se forma congestionamento. Por dentro do carro, as pessoas percebem tarde.” (F. Bonassi, 100 Histórias Colhidas na Rua)

E o cearense, aloprado, hoje neste sudeste, Xico Sá nos fala do amor e engata em  “Da pontuacão  amorosa...”,  na revista  Germina. Com a metáfora da Kombi, o amor, se é o  amor, não se acaba de forma civilizada. (…) O fim do amor exige uma viuvez, um luto(…). Mas vamos ficando por aqui, pois ja derrapei na curva da auto-ajuda, como uma Kombi velha na Serra do Mar… e já já descambarei(…)” http://bit.ly/JbIlSf

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