REDES

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

JOÃO CABRAL DE MELO NETO- RETRATO FALADO DO POETA -SELMA VASCONCELOS

Foto Divulgação - arquivo da autora

Selma Vasconcelos - arquivo da autora




UMA OBRA SE FAZ ATEMPORAL



O livro João Cabral de Melo Neto-Retrato falado do Poeta, da escritora Selma Vasconcelos, coincidentemente é lembrado ao vinte anos da morte do poeta. 

A obra Retrato Falado do Poeta, lançada em 2009, - Edições CEPE, Recife, PE, traz uma face do poeta através de depoimentos colhidos pela autora entre os amigos, intelectuais e familiares de Joao Cabral, e no final, as considerações da autora acerca do retrato que conseguiu desenhar e a torna uma expert na vida e obra do pernambucano. 

A obra está dividida em três capítulos: o poeta por familiares e amigos-; o poeta por intelectuais contemporâneos ; o Poeta por ele mesmo; epílogo a morte da poesia.Entre os familiares há que se destacar a filha - Inez Cabral de Melo e a irmã do poeta Maria de Lourdes Cabral de Melo Neto ,residente em Recife.Entre os Intelectuais figuram Ledo Ivo, Antônio Carlos Seccchin, Armando Freitas filho, Ferreira Gullar e Antônio Cândido.
No terceiro capítulo a autora faz uma especie de critica genética do poeta pelos veios de sua história de vida; sai à cata de sua ancestralidade desde o século XVIII e expõe suas considerações como uma expert no tema. 

O que na verdade observo é que a obra busca desenhar a face do homem com suas peculiaridades além de tentar dissecar a construção de sua subjetividade expressa pelos laços familiares e experiências de vida. 


Chama-me atenção, e isto vejo como raridade, nos apontamentos que a autora nos mostra, um João Cabral pluri-epistêmcio quando destaca a habilidade antropológica dele em desenhar nós brasileiros e, sobretudo, o nordestino dentro de uma geografia ambiental da seca ao mangue, passando pelas regiões intermedias como a zona da mata pernambucana e finalmente a zona litorânea, onde o poeta construiu vários poemas acerca do mar numa lírica é de uma importância semiológica intensa. Aliás a terra , os tipo humanos e a seca o puxa para cenários poéticos enquanto  a questão aquática se sublinha no desenho dos rios e dos mares. Joao Cabral mostra poeticamente a conversa entre os rios e o mar e seus habitantes da liquidez aquática e os homens ribeirinhos. Mas o poeta é um tecelão da figura humana nos seus devaneios que são abrangentes como aqueles em que mira a Espanha e seus habitantes.


Tivemos uma pequena conversa com a autora em que a deixei a vontade para falar dando apenas o mote dos dez anos da Obra-João Cabral de Melo Neto Retrato falado. Aproveitei para inserir também que a menção a retrato, não deixa de denunciar de modo correto, o retrato, ou o campo visual tão presente na construção da lírica do poeta, diga-se de passagem , suas relações com os artistas plásticos e entre eles Miró,na Espanha , precisamente na Catalunha e Andaluzia onde o poeta viveu por doze anos.Inclusive a autora informa ter refeito o percurso do poeta naquelas cidades espanholas e por isso fala muito a vontade sobre as semelhanças entre o Capibaribe e o Gaudalquivir que atravessa Sevilha.



Diz a autora:” Falar da própria obra pode parecer fácil, mas não o é. Foi extensa a caminhada,viajei, fiz seus percursos no Brasil e fora do do pais,na Espanha ,para sentir a paisagem , as arenas de touros, as dançarinas de flamenco, figuras com as quais ele conviveu. Isto me auxiliou a entender o fato do poeta ter eleito a Espanha como segunda pátria afetiva . 

Importante, e uma visão pouco conhecida, pode-se observar a partir da fala dos familiares; apesar dos estereótipos criados em torno do homem João Cabral,a terra e a familia são sentimentos fortes e inseparáveis em sua memoria sentimental.¨

Quanto ao aniversário da obra Selma enfatiza o fato do livro ter dez anos de publicado, argumento desarrazoado, pois sua obra foi escrita através de depoimentos de contemporâneos do poeta, inclusive vários do escritores colaboradores faleceram recentemente como Antonio Cândido Ledo Ivo e Ferreira Gullar. Portanto ,esta é uma obra memorialista e atemporal.


-->

-->

Nenhum comentário: