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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Punheta de pai


Amante da literatura, cinema, teatro e música. Henrique Wagner nasceu em Salvador-BA, é do signo de Touro, já jogou futebol, pegou onda e já frequentou academia (não a das letras). Santiago Fontoura(Cazzo)


"Eu fui pego no banheiro de meus pais, por meu pai, me masturbando com revistas de minha mãe. Amiga, Contigo! e coisas do tipo, embora catálogo da Avon (seção calcinhas) e catálogo da Hermes (mesma seção) também tenham me servido algumas vezes. Eu não tinha idade para comprar Playboy e, menos ainda, Private e similares. "

*Henrique Wagner

Henrique Wagner nasceu em Salvador, Bahia, em maio de 1977. Publicou dois livros de poemas e um ensaio sobre estética da linguagem. Colaborou para diversos jornais. Atualmente escreve sobre literatura e teatro para o www.expoart.com.br. Suas crônicas, curtas no Face, chamam atenção .A  linguagem  é sincera e digere a sociedade brasileira.A Punheta de pai é um retrato de nós, sem temor de lamber o real. Um intelectual, poeta/cronista que merece nossa leitura.Tomo uma de suas postagens no Face que  chama atenção pelo aspecto psíquico/antropológico que por vezes tememos pensar, dizer e ou publicar, numa poética  e tanto.Parabéns ! Paulo Vasconcelos!
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A punheta de pai



Quando eu tinha algo em torno de onze anos de idade, fui pego me masturbando no banheiro do quarto de meus pais - uma suíte, portanto. Pior: fui pego em flagrante por meu pai, não por minha mãe. É que meu pai, homem nascido e criado na roça, muito humilde intelectualmente, rude, tosco, embora provido de certa doçura, abominava a masturbação, e dizia que jamais se masturbara em toda sua vida, nem mesmo na adolescência, quando são imperativas as demandas do corpo glabro. Abominava por mais de um motivo, e até arriscava, mas com rede de segurança (tecida por ele mesmo), uma teoria muito particular - e enviesada: costumava dizer que o homem, para se masturbar, precisa pegar em pau (assim, sem artigo definido em contração com a preposição), e como pegar em pau é coisa de viado, não importando de quem fosse o pau, quem se masturba é viado. 
Além do mais, sendo pau tudo igual - espiritualmente falando, ou, para os materialistas, em sua natureza -, para o punheteiro pegar em pau de outro era daqui pra ali. Não faltava ainda às suas impressões sobre a punheta os clássicos prognósticos apocalípticos de homens de sua geração e origem: o sujeito que se masturba fica fraco, caindo das pernas (“Dá caruara, meu filho”), perde a concentração, a audição vai se perdendo lentamente (e para sempre), e, em casos mais graves, a vítima pode ficar cega. Ele dizia quase o mesmo sobre quem fumava maconha, ou melhor, sobre os maconheiros. 
Eu fui pego no banheiro de meus pais, por meu pai, me masturbando com revistas de minha mãe. Amiga, Contigo! e coisas do tipo, embora catálogo da Avon (seção calcinhas) e catálogo da Hermes (mesma seção) também tenham me servido algumas vezes. Eu não tinha idade para comprar Playboy e, menos ainda, Private e similares. 
Mais de década depois, quando a mãe de meu filho estava grávida, passei a me masturbar com alguma frequência. É que ela, durante toda a gravidez, sentiu cheiro de leite em mim, e esse cheiro provocava nela enjoo e ânsia de vômito - eu não podia sequer chegar perto dela para um cumprimento. Passei nove meses na mão, abortando meio mundo de vidas inocentes. Mas eu já tinha idade suficiente não só para comprar revistas pornográficas como também para alugar filmes pornôs. 
Esperava a mãe de meu filho dormir - em geral ela caía no sono entre nove e dez da noite - para, na sala, me masturbar diante da tevê (e do dvd). O problema é que havia, no apartamento do edifício que ficava defronte ao meu, em uma rua estreita, um homem de meia idade famoso pelo moralismo carola e pela truculência, fiscal de toda a vizinhança - morador antigo, assinou o projeto, na condição de engenheiro, da construção do edifício onde morava. Ele, pai de três adolescentes, sabe-se lá como, me viu me masturbar da varanda de seu apartamento (meu pau não é tão grande assim) e prestou queixa contra mim na delegacia correspondente ao distrito onde morávamos. 
Meu filho já havia nascido quando compareci à audiência de conciliação.




quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

As veias suturadas continuam latindo - Hermano José Almeida

Capturas do Facebook
Em breve teremos uma matéria exclusiva com este poeta, Hermano José Almeida, jovem marcante, paraibano que desmancha sua doçura e fel quando quer em sua obra, mas não  me contive, de antemão, em capturar sua postagem no facebook .Paulo Vasconcelos
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"A leitura foi fuga e salvação. Entendi que o jogo da vida é discórdia, vaidade, poder e inveja"
Hermano José Almeida-

A vida ou o que tentamos chamar de vida continua. Rotular, excluir, distorcer. Aprendi cedo. Talvez antes do útero. Na veia. Meu corpo quebrado é uma extensão de muitos corpos quebrados. Fui ter noção do mundo em que vivo
Através de livros. Aleijado, castrado sem ser, excluído. A leitura foi fuga e salvação. Entendi que o jogo da vida é discórdia, vaidade, poder e inveja. Muitos usam outras e outros por uma bela foto na coluna social. Me recuperei das fraturas em 81. Me arrastava dentro da casa para me recuperar depressa. Era a metamorfose de Kafka. Lá vem a larva arrastando_se no chão. Não tenho receio em dizer que comia até farelos do chão para me recuperar mais rápido. Minha mãe detestava. Mas ela passava o dia trabalhando. O inseto estava solto. 

Nessa época li muito. As veias abertas da América latina. Parecia minha vida. Principalmente as torturas. Me via no pau de arara. Passei por fase romântica de acreditar que a esquerda salvaria o mundo. Maquiavel me salvou. Marx achava que o proletariado é " o povo prometido". Um bom judeu alemão. Hitler e Stálin disputavam matanças. E o capital triunfa. Violência para todos os lados. Da simbólica a morte. E muitos acumulando. A mídia ... Adorava ver distorções.
Conto de fadas. Adorava os enlatados norte_americanos. O " descanso do inseto era ver As panteras e praticar o revolucionário onanismo. Americanoh. Chimamanda bem antes dela existir. O inseto virou borboleta. voltei para o colégio . Abril. Era o " homem invisível". No primeiro dia forcei um pouco e tive distensão. Voltava a forma de larva. Duas semanas em casa. Cama , idiota! Era semana santa e eu retirava Jesus da cruz e assumia o lugar. Sangue, morte e dor. Libertava os dois ladrões. Redimir Judas. A humanidade não tem salvação. Antes de morrer na cruz, enfiam uma lança em minha genitália. Não me dirijo ao Pai.
Madalena me toca . A revolução está chegando. Muitos atiram pedras em Madalena. Morre junto ao meu corpo . Toca Lou Reed. Romeu and julieth. Ressurreição ? Acordo do pesadelo na minha cama. Coberto de urina. Rasgo Kafka. Leio a Playboy e invado o penico de balas. Vejo Che no reino dos céus. É expulso do paraíso perdido. Diretas já. Tomo um gole de água. Golpe de água. Voltava a me recuperar. Li Nietzsche e adentrei com ele na eterna meia_ noite. Olho pro abismo e tomo coragem.
" Endureci e até hoje busco a ternura". Diretas já? Ronald e Margareth mandavam no mundo. Finalmente retornava ao colégio. Ereto. Será? Corações e mentes ... uma amiga convidou_me para assistir. No cinema , perdi o coração . Hipertrofiei a mente. " Doce amiga : nós que amávamos tanto a revolução"! Nem um abraço. A "mente , mente". Che sem vara...

O golpe é visto e debatido mundo afora. A Tv alemã mostra a Escola Paraíso do Tuiti


O Carnaval é tempo de protesto e é visto internacionalmente, mas a  mídia Brasileira sendo cúmplice do Golpe não divulga, todavia a mídia de outros países do mundo o faz com a devida crítica que merece.O golpe é visto e debatido mundo afora. A Tv alemã mostra a Escola Paraíso do Tuiti e colhe depoimentos que são claros e diretos com a voz dos brasileiros.Vergonha nacional a mídia comprometida com o Golpe Brasileiro.!!!!

Um outro vídeo da imprensa independente, alternativa brasileira.

Abaixo Uma captura do face por intelectual e colunista da revista Forum

Enquanto a escola Paraíso do Tuiuti no Rio de Janeiro deixava Fátima Bernardes e Alex Escobar constrangidos ao vivo, quebrando o silêncio com cacos de falas desconexas enquanto alas de passistas mostravam Temer como “o vampiro neoliberatista”, “manifestoches” com patos amarelos da Fiesp e operários bradando carteiras de trabalho, em Curitiba o Carnaval era assombrado por uma Zombie Walk em plena cidade-sede da Lava Jato. Ao mesmo tempo a esquerda pensa em “frentes suprapartidárias” para ganhar tempo na eminente prisão de Lula e simplesmente se exime em ocupar o campo semiótico da sociedade. E a grande mídia ganha a guerrilha semiótica por W.O.. Com raras exceções como mostrou a Paraíso do Tuiuti... mas não conte para a esquerda, sempre muito ocupada com o jogo parlamentar no qual cada um tenta salvar a própria biografia com narrativas de “luta” e “resistência”. Será que alcançamos o “grau zero da política” como anteviu o pensador Jean Baudrillard, a Matrix política que simula escândalos e golpes para colocar em movimento signos vazios? Teoria da Conspiração? E se descobrirmos que essa expressão foi criada pela CIA em 1967 para tentar desacreditar todas as narrativas não-oficiais?

TUIUTI :Seu desfile teve tom crítico à política vigente JACK VASCONCELOS

Jack Vasconcelos, formado em Belas Artes pela UFRJ, gostou mais do último setor da Paraíso do Tuiuti - Reprodução Instagram


"Sou um inconformado por natureza, todo artista tem esse inconformismo dentro dele. Se a arte não proporcionar o pensamento, a discussão, ela não tem muita função."
Existem Carnavalescos e Carnavalescos, mas Jack Vasconcelos, além de um senso estético do povo, fala pelo povo e soube gritar o desejo da maioria dos Brasileiros. A arte que não for engajada desfalece , morre. Ele deu  o recado ao mundo sobre o Golpe que vivemos, uma ditadura que não mais disfarça. Ele tem força e sua equipe, inclua-se os que desfilaram , deram um grande Berro de Liberdade ouvido pelo Brasil e o mundo. Com toda opressão, nosso peito se exalta com a denúncia feita .Jack Vasconcelos fala melhor que eu colunistas em sua entrevista ao DIA, VIA IG-Por  Bruna Fantti. http://bit.ly/2EBc3jR
Paulo Vasconcelos
Rio - Com críticas à Reforma Trabalhista, ala chamando manifestantes pelo impeachment de fantoches e um 'presidente vampiro', o enredo da Paraíso do Tuiuti foi o mais comentado da Avenida. Confira a entrevista com o carnavalesco da escola, Jack Vasconcelos.
O DIA: Seu desfile teve tom crítico à política vigente. O senhor é filiado a algum partido político ou um cidadão inconformado o atual governo?
Sou um inconformado por natureza, todo artista tem esse inconformismo dentro dele. Se a arte não proporcionar o pensamento, a discussão, ela não tem muita função.
O presidente vampiro do neoliberalismo foi entendido por todos como sendo Michel Temer. A última ala como uma crítica à Reforma Trabalhista. Foi um posicionamento político?
Sou formado pelo ensino público, fui uma criança de escola pública, me formei em uma federal, em Belas Artes. Então, a população ajudou a me formar, foi dinheiro público que ajudou a pagar meus estudos e a manter as instituições em que me formei. Preciso de alguma forma retribuir para a população esse investimento. É a maneira que eu posso prestar o serviço a ela (à sociedade), através da minha arte. Acho que é bom as pessoas se posicionarem mesmo. Acho bacana que o Carnaval tenha esse espaço e papel.
Acha que a Sapucaí é um bom espaço para isso?
No Carnaval as pessoas liberam aquilo que guardam dentro delas durante o convívio social educado e civilizado no resto do ano. E o Carnaval sempre foi o espaço para esse tipo de ideia, para as pessoas colocarem para fora o que sentem, aquilo que elas querem gritar. E na verdade o que eu sou é uma antena. Vou captando essas ideias, anseios à minha volta e construindo o meu trabalho. Porque o meu trabalho representa uma comunidade, os anseios de parte da população.
Qual sua ala favorita e por quê?
Eu não tenho uma ala preferida. Todas elas tinham uma função e é uma sequência natural de outra. Mas sei das alas que causaram e cada um terá sua preferida por conta das suas convicções. O último setor que eu falo da escravidão ou da exploração da mão de obra dos mais desvalidos, dos mais pobres, o último setor foi o mais bacana. Exercitei minha cidadania.
A recepção do público e os comentários na internet foram grandes. O senhor atingiu o seu objetivo?
As pessoas precisam aprender a ficar mais espertas ao que chega de informação para elas, que vão comprando ideias e repassando isso como se fosse verdade, sem se dar o trabalho de ouvir outra fonte, ideia ou visão. E esse poder dessa propaganda forte que vai disseminando uma ideia a ser replicada. E nisso as pessoas vão mantendo sistemas que as prejudicam e não percebem. Acho que o desfile desse ano teve esse conceito no seu interior, na sua raiz. Se as pessoas conseguiram perceber isso de alguma forma, valeu a pena.
Algumas pessoas disseram que se sentiram desrespeitadas. O senhor teve esta intenção?
Sinto muito (se alguém se sentiu ofendido). Seria bom as pessoas pararem para pensar antes de tomar a decisão de seguir uma moda ou algo que uma campanha de jornal ou de TV diga para elas fazerem.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Michel Temer "vampiro ESCOLA DE SAMBA PARAÍSO DO TUIUTI RJ.BR

A REVISTA FORUM FALA E PASSO A PALAVRA:
http://bit.ly/2HbVvgM


Paraíso do Tuiuti faz desfile histórico e eterniza o golpe na Sapucaí








Michel Temer "vampiro", paneleiros com camisetas do Brasil e patos da Fiesp sendo controlados pela mídia, críticas às reformas trabalhista e da Previdência. Em um desfile histórico, a escola de samba carioca escancarou o golpe e constrangeu a Globo, que tentou abafar o "Fora, Temer" da plateia.

Com um desfile corajoso e rico em ironias na madrugada desta segunda-feira (12), a escola de samba Paraíso do Tuiuti (RJ) fez história ao levar para a Sapucaí um Michel Temer “vampiro” e escancarar, em pleno Carnaval, o golpe pelo qual passa o Brasil e sua “nova escravidão”.
Com o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, sobre os 130 anos da Lei Áurea, a agremiação fez duras críticas ao atual governo e expôs, em uma das alas, como a reforma trabalhista e da Previdência representariam essa nova escravidão no Brasil.

Eu acho que a gente está fazendo uma coisa que todo mundo quer. Todo mundo quer botar pra fora, as pessoas querem gritar o ‘Fora Temer’, as pessoas querem se manifestar e é forma de manifestar da minha parte”, disse em entrevista professor de história Léo Morais, que interpretou o Michel Temer Vampiro na última alegoria da escola, intitulada “Navio neo tumbeiro”.

Outra ala de destaque no desfile da Tuiuti foi a dos “manifestantes fantoches”, que ironizou os chamados paneleiros que saíram às ruas com camisetas do Brasil pedindo o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. A escola de samba utilizou mãos gigantes representando a mídia, que controlava esses paneleiros envolvidos por patos amarelos, em referência à campanha da Fiesp contra o aumento de impostos que inflamou a população contra o governo petista.

ESCOLA DE SAMBA PARAÍSO DO TUIUTI CARNAVAL 2018 RJ. BR.







Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, RJ,vingou o Brasil, mesmo sendo Carnaval, a Mídia Internacional ovaciona a denúncia do Golpe..O Brasil,  o mundo ovaciona a Tuiti!!!!!!!!


quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Um Problema Mental da Nação - Rubens Casara -


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A linguagem é uma dupla mão do pensar e funciona por economias, via estereótipos, vícios, hábitos, estabelecendo uma dinâmica de imediatização, sem reflexões maiores. Isso sustenta a comunicação na publicidade, na televisão (sobretudo nas novelas) e na família, entre amigos, muitas vezes. Com isso entramos no fascismo da linguagem, para lembrar Roland Barthes. Não se dialoga com as mídias, logo é um autômato a repetir continuamente em sua fala. Não há diálogo. Esse fascismo nos torna robôs, zumbis e entramos no empobrecer da subjetividade e do pensamento geral, logo da política e no adestramento total. As redes sociais estão lotadas de tal fato, raros posts salvam-se. A imagem, emojis, gifs ou similares, são o empobrecimento fatal, por economia da linguagem do pensar e da imediatez no tempo. O artigo abaixo nos fala disto, leiam:

Paulo Vasconcelos

Na era do empobrecimento da linguagem, quem ousa ser diferente deve ser eliminado

07 de fevereiro de 2018 às 14h07



Um Problema Mental da Nação
 por Rubens Casara*, especial para o Viomundo
Os discursos de ódio, a dificuldade de interpretar um texto, o desaparecimento das metáforas, a incompreensão das ironias, a divulgação de notícias falsas (ou manipuladas) e o desrespeito à Constituição são fenômenos que podem ser explicados a partir de uma única causa: o empobrecimento subjetivo.
Empobrecimento que se dá na linguagem. Alguns chegam a falar na “arte de reduzir cabeças”, outros no encolhimento das mentes.
A linguagem, e isso já foi dito antes, sempre antecipa sentidos. Uma linguagem empobrecida antecipa sentidos empobrecidos, estruturalmente violentos, pois se fecham à alteridade, às nuances e à negatividade que é constitutiva do mundo e se faz presente em toda percepção da complexidade.
Sentidos empobrecidos que não se prestam à reflexão e que são funcionais à manutenção das coisas como estão.
A linguagem empobrecida é resultado e atende à razão neoliberal, a esse modo de ver e atuar no mundo que transforma (e trata) a tudo e a todos como mercadorias, como objetos que podem ser negociados.
A lógica das mercadorias esconde o negativo e o complexo enquanto apresenta discursos que mostram as coisas existentes como pura positividade e simplicidade.
Não é por acaso que para atender ao projeto neoliberal, que poderíamos resumir como a total liberdade voltada apenas para alcançar o lucro e aumentar o capital, cria-se uma oposição à mentalidade subjetiva, apaixonada, imaginativa e sensível.
Segundo o mantra neoliberal, não há que se sensibilizar com a violação a direitos fundamentais diante dos interesses do mercado e da circulação do capital. Há uma recusa a qualquer compaixão ou empatia. A proposta é de que se esqueça como lidar e reagir ao sofrimento e a dor.
Na era do empobrecimento da linguagem, não há espaço para a negatividade que é condição de possibilidade tanto da dialética quanto da hermenêutica mais sofisticada. Tudo se apresenta como simples para evitar conflitos, dúvidas e perspectivas de transformação.
Aposta-se em explicações hipersimplistas de eventos humanos, o que faz com que sejam interditadas as pesquisas, ideias e observações necessárias para um enfoque e uma compreensão necessária dos fenômenos.
Correlata a essa “simplificação” da realidade, há a disposição a pensar mediante categorias rígidas. A população é levada a recorrer ao pensamento estereotipado, fundado com frequência em preconceitos aceitos como premissas, que faz com que não tenha a necessidade de se esforçar para compreender a realidade em toda a sua complexidade.
Quem se afasta do pensamento raso e dos slogans argumentativos, e assim coloca em dúvida as certezas que se originam da adequação aos preconceitos, torna-se um inimigo a ser abatido, isso se antes não for cooptado.
Nesse sentido, pode-se falar que o empobrecimento da linguagem gera o ódio direcionado a quem contraria essas certezas e desvela os correlatos preconceitos.
É também o empobrecimento da linguagem que reforça a dimensão domínio-submissão e leva à identificação com figuras de poder (“o poder sou Eu”).
Pense-se em um juiz lançado no empobrecimento da linguagem, não há teorias, dogmática, tradição ou lei que sirva de limite: a “lei” é “ele mesmo” a partir de suas convicções e de seu pensamento simplificado.
Em outras palavras, o empobrecimento da linguagem abre caminho à afirmação desproporcional tanto da convicção e de certezas delirantes quanto dos valores “força” e “dureza”, razão pela qual pessoas lançadas na linguagem empobrecida sempre optam por respostas de força em detrimento de respostas baseadas na compreensão dos fenômenos e no conhecimento.
Essa ênfase na força e na dureza leva ao anti-intelectualismo e à negação de análises minimamente sofisticadas.
A razão neoliberal se sustenta diante da hegemonia do vazio do pensamento expressa no visível empobrecimento da linguagem, da ausência de reflexão e de uma percepção democrática de baixíssima intensidade.
Qualquer processo reflexivo ou menção aos valores democráticos representam uma ameaça a esse projeto de mercantilização do mundo.
Não por acaso, a razão neoliberal levou à substituição do sujeito crítico kantiano pelo consumidor acrítico, do sujeito responsável por suas atitudes pelo “a-sujeito” que protagoniza a banalidade do mal, que é incapaz de refletir sobre as consequências de seus atos.
Pode-se, então, identificar a sociedade que atende à razão neoliberal como uma sociedade do pensamento ultra-simplificado.
A exigência de simplificação tornou-se um verdadeiro fetiche e um tema totalizante. Como em toda perspectiva totalizante, há uma tendência à barbárie: aos que não cederam ao pensamento simplificado, reserva-se a exclusão e, no extremo, a eliminação.
As coisas se tornam simples ao se eliminar qualquer elemento ou nuance capaz de levar à reflexão.
A simplicidade neoliberal exige que se elimine toda negatividade e as diferenças que não podem ser objeto de exploração comercial, fazendo com que a coisa se torne rasa, plana e incontroversa, para que se encaixe sem resistência ao projeto neoliberal.
A simplicidade leva a ações operacionais, no interesse do capital, que se subordinam a um governo passível de cálculo e controle.
A simplicidade se afasta da verdade e mostra-se compatível com a informação (também simplificada).
A verdade, por definição, é complexa, formada de positividades e negatividades, a ponto de não ser apreensível por meio de atividade humana. A verdade nunca é meramente expositiva.
A informação é construída e manipulada segundo a lógica das mercadorias. A informação simplificada recorre aos preconceitos e as convicções dos destinatários para se tornar atrativa e ser consumida.
Da mesma maneira, a simplicidade neoliberal também impede o diálogo, que exige abertura às diferenças, para insistir em discursos, adequados ao pensamento estereotipado e simplificador, verdadeiros monólogos, por vezes vendidos como “debates”.
O ideal de comunicação na era da simplificação neoliberal parte do paradigma do amor ao igual. A comunicação ideal seria aquela entre iguais, na qual o igual responde ao igual e, então, se gera uma reação em cadeia do igual.
É esse amor ao igual, avesso a qualquer resistência do outro, o que só é possível diante da linguagem empobrecida, é que explica o ódio ao diferente, a quem se coloca contra esse projeto totalizante e a essa reação em cadeia do igual.
Vale lembrar que Freud já identificava nos casos de paranoia um amor ao igual (amor homossexual) que não era reconhecido e se tornava insuportável a quem amava.
Esse ódio, que nasce do amor ao igual e da comodidade gerada pelo pensamento simplificador, direciona-se à alteridade que retarda a velocidade e a operacionalidade da comunicação entre iguais, coloca em questão as certezas e desestabiliza o sistema.
Quem ousa ser diferente (e pensar para além do pensamento simplificador autorizado), deve ser eliminado, simbólica ou fisicamente, em atenção ao projeto neoliberal.

http://bit.ly/2BNxWuY

*Rubens Casara é Doutor em Direito, Mestre em Ciências Penais, Juiz de Direito do TJ/RJ.