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terça-feira, 14 de março de 2017

o menino que carregava água na peneira...

o menino que carregava água na peneira...


Elton Luiz  Leite de Souza


(trecho do livro)

Quanto às funções da poesia...Creio que a principal é a de promover o arejamento das palavras, inventando para elas novos relacionamentos, para que os idiomas não morram a morte por fórmulas, por lugares comuns. Os governos mais sábios deveriam contratar os poetas para esse trabalho de restituir a virgindade a certas palavras ou expressões, que estão morrendo cariadas, corroídas pelo uso em clichês. Só os poetas podem salvar o idioma da esclerose. Além disso, a poesia tem a função de pregar a prática da inocência entre os homens.
Manoel de Barros, “Sobreviver pela palavra”).
Essa “terapia” da linguagem e dos homens constitui a essência dessa poética que se abre a uma experiência singular, onde o chão “pode divinar” e nos restituir a eucaristia com os seres que, “vestindo o poeta” , fazem da poesia um “afloramento de falas” : falas da vida, falas da infância, falas dos excluídos, falas do inconsciente, falas do corpo, falas daqueles que não têm falas...enfim, falas de nós mesmos que muito nos custa calar.
Assim, essa “didática da invenção” e do estilo, construindo uma “Imagem” singular para a vida,  “empoemando” as palavras para assim nos ensinar a “empoemar” a nós mesmos, nos diz que é preciso
A prática do desnecessário e da cambalhota , desenvolvendo em cada um de nós o sentido do lúdico. Se a poesia desaparecesse do mundo, os homens se transformariam em monstros,máquinas, robôs.
 Se a poesia desaparecesse do mundo, adoeceríamos de uma fala puramente egóica ou massificada, uma fala-clichê sem “florescimentos”: uma fala refém das significações e representações que, no presente, prostituem e estupram as palavras.
Se a poesia desaparecesse do mundo, restaria apenas uma fala que tão somente reproduziria, como “boa-cópia”, aquilo que o poder, estabelecendo seus limites (semânticos, políticos, midiáticos, mercadológicos, existenciais...), permite falar e ser.
A essência da poética de Manoel de Barros, sua empoética terapêutica,consiste em produzir uma didática da invenção. Esta nos ensina que não apenas o poema, mas a própria Vida somente se explica como um “milagre estético”:

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto no final da frase. 
Manoel de Barros “O menino que carregava água na peneira”)

51 ANOS DE CHICO DE CHICO SCIENCE

* Um grande músico que renovou a música brasileira, o rock, inserindo ritmo mediante novos instrumentos de percussão.Fez sucesso mundial, alargou os patamares de visibilidade de nossa canção, de certo modo fez críticas sociais. Inovou o video clipe e trouxe a Pernambuco uma visibilidade ainda maior na sua música jovem, o estado de Pernambuco mantém sua memória viva pelos posters pela cidade e na sua programação, mesmo fora de eventos comemorativos.O movimento manguebeat  dos anos 80 deu-nos -Chico Science & Nação Zumbi ele  era o CARA!!!!!!!!
Paulo Vasconcelos



                                         Foto : Arquivo Rtv por D.Pe.PE


Diário de Pernambuco 14.03.2017

Nesta segunda e terça-feira (14), das 9h às 17h, serão exibidos shows, documentários, entrevistas e fotos da trajetória de Chico, que morreu tragicamente em um acidente de carro em 1997 na rodovia PE-1, região do Complexo de Salgadinho, divisa entre Olinda e o Recife. Na quarta-feira (15), às 15h, o DJ Tiger apresenta seleção musical baseada nas influências do artista, como James Brown, Afrika Bambaataa e Beastie Boys.

Na quinta-feira (16), às 14h, Jamelão, o irmão mais velho de Science, resgata histórias, lembranças, detalhes e curiosidades sobre o parente. Na sexta-feira (17), às 15h, Gilmar Bolla 8 conversa com o público e detalha a trajetória do líder do manguebeat desde a década de 1980, quando se formou o embrião da banda Chico Science & Nação Zumbi. Inscrições podem ser feitas pelo e-mail mchicoscience@gmail.com. 

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terça-feira, 7 de março de 2017

Carnaval: Papangus ausente? E os Apangus Paulistanos?

FOTO .D PE.

Papangu denominação dada a foliões que se vestem colorido, fantasiados, nas manifestações carnavalescas do Nordeste, , nas regiões de Alagoas, Paraíba, sobretudo em Pernambuco (a cidade de Bezerros, com seu carnaval nesta temática). Diz-se que sua origem está em grupos e pessoas que se vestiam com máscaras de panos simples improvisadas e saiam de casa em casa, comendo e bebendo durante o carnaval; há um outra manifestação que se aproxima, destacadamente na Paraíba, que  é a Lauça, uma ressignificação de se vestir ”a la um urso” .

Mas o papangu, pernambucano, se alterou: de máscaras simples para industrializadas ou ainda artesanalmente, mas de modo rebuscado, à moda Italiana, veneziana. Já  a  Lauça não, permanece no improviso. Entretanto, já há muito tempo, no dia a dia, a palavra ganha outro significado no sentido de ser um sujeito tolo, apalermado, bobo, moleirão.

São Paulo foi uma cidade que teve tradição de carnaval de rua entre o século XIX e começo do século XX. Era um carnaval veneziano, de máscaras, os Clóvis (mascarados solitários) e corsos, da burguesia na Av. Paulista, ainda sem este nome. Depois a Vila Esperança, com seus bonecos enormes como os de Olinda, e o Bexiga e Barra Funda. Foram famosos diversos cordões carnavalescos, uma espécie de procissão, em fila de corda pelas ruas.

O carnaval de avenida – escolas de samba – foi inspirado por estes cordões. Copiaram os modelos cariocas, incentivados por um corporativismo das escolas, investimentos da mídia, e empresas, de bebidas alcoólicas, cervejas... Daí o Sambódromo paulista, construído com apoio de rede de televisão, instigado e pago por tal rede, teve seu calendário alterado, para não bater com os desfiles do Rio de janeiro, do primeiro grupo de lá.
Enfim, o carnaval da capital não tem originalidade, coisa que cordões tiveram. Hoje são reféns do capital. Decaiu o samba, o desfile, como afirmou Beth Carvalho, recentemente.

Nas periferias o carnaval existe disperso, resistiu às tradições, até dos maracatus, índios e afoxés, isto como resistência dos negros e nordestinos. Entretanto, não ganha expressividade midiática.

Voltemos ao Papangu. Ele não existe de modo nordestino. Salvo nas periferias, o Papangu Paulista são grupos soltos ou redutos de blocos nascidos aos poucos, desde o século passado. Em 2012,  ganharam intensidade, no governo do PT, que incentivou este carnaval de rua. 

A concentração se dá, sobretudo, na semana pré-carnavalesca; na Zona Oeste, Centro, Av. Paulista, Consolação, Anhangabaú, Bexiga, Vila Madalena, sendo que, neste último, resultado da classe média, burguesa, que recriou um carnaval apapanguzado. São sujeitos sós ou em blocos, pequenos e grandes, e que vem copiando a modalidade do nordeste e alguns do Rio de janeiro, mas sem expressividade estética maior e se vestem com máscaras, ornamentos outros. Grande parte das vezes o álcool os fantasia nos seus gestos, e solta o bicho de dentro de si  num entortar das roupas que o fazem uns papangus anômalos Ornam-se, como falam eles.

Eles então ganham o segundo sentido, que mencionei no início, são manifestações tolas, abobalhadas que não sabem nem porque estão nas ruas e ficam uns-vão-com-outros.

Alguns blocos vem se afastando deste apapanguzamento e estendem-se pelo período momesco, tomam motes políticos, dentro da crise no pais.

Mas não só de desajeitados vem à tona o carnaval paulistano:  Gretchen, DJs e o povo que o digam; pelas ruas do centro, e mais Vila Mariana, Santo Amaro, Bexiga, Faria Lima, Vila Maria, Pinheiros, Lapa, Pompéia, Consolação, praça Roosevelt, Av. Paulista, fora o off Broadway do sambódromo .

Os nomes  lembram o espontâneo e popular como: Bloco Vem Ku Nóis Ó, Bloco de Concreto, Bloco do Desmanche, Banda Carnavalesca Macaco Cansado, Bloco Bastardo, Esfarrapados (famoso e antigo), Bloco Ma-Que-Bloco, para falar apenas de alguns, pois são mais de 500.

Conheci um Europeu, que estuda assistematicamente o país, e gosta da nossa cultura. Fala bem o português. Veio a São Paulo, andou pelas ruas do centro e Avenida Paulista e disse-me: “Que TV é essa? 24 horas de Carnaval?  Que é isso?”, e mais, “que carnaval é este, daqui de São Paulo?, não  entendi, encontrei mais bêbados enturmados e solitários”. Retruquei, falando de nossos carnavais e, ao fazê-lo, apontei vários carnavais do brasil passando pelos papangus – falei dos dois sentidos, o que ele revidou dizendo “então aqui é o carnaval do Apangu!”. Ri e vi que sim. Ele disse: então é o Trema  !
O fato é temos circo, carnaval e gritos de “Fora Temer”...
Este foi o maior papangu...!



quarta-feira, 1 de março de 2017

BOCAS APALAVRADAS - uma melancia aberta e um poste entortado

Paulo Vasconcelos ...por R .Brasileiros



As ruas do país, capitais ou não, vêm sendo frequentadas, em grupos pequenos, grandes ou imensos, para dizer algo sobre o atual contexto político. E se fala sempre em mil e milhões com as palavras nas bocas, com álcool para melhor soltar o verbo arretado. E haja língua, gestos, gritos cartazes, bordões. Nestes ajuntamentos, aparecem as palavras orais e escritas como poesia raivosa ou não, sobre o poder. A mídia especialmente: a TV aberta, ou que aborta os fatos, e a cabo, rádios (AM e FM), os jornais, as revistas semanais etc. dizem o que ideologicamente creem, além das redes sociais.

Mas, como disse a moça na porta da lotérica, na praça da Sé: “Tem malandro, tem otário, tem meuzovo e tem as paneleiras da crasse arta, mas tem as empregadas farsas que dá panela à patroa e depois elas reclamam que elas machucaram a panela no fogão”.

Já em outra manifestação, Dona Delzimar, de Pananabiacaba, que veio apoiar Dilma e Lula, pois sonhou com uma melancia aberta e um poste entortado. Isto lhe deu medo e disse: “Vim para gritar minhas palavras de apoio a Democracia. Dilma! Ela fica!”

Do outro lado nas redes sociais, a Cientista Política da UFMG, Drª Mara Telles, diz no seu Face, com seu humor imenso e crítica:

“Passei por aqui só para deixar um Rivotril e uma vassoura para dar voadora naquela turminha que vai dar presente de Páscoa para a titia e, acabado o almoço de domingo, oferece como sobremesa odinhos, ataques e xingueiras nas redes sociais. A Páscoa nasceu para todos, mas o coelhinho só trás ovinhos para quem se comportou direitinho, viu? Antes de rezar no almoço de família, não toque terror nas redes: é feio. Jesus perdoa até ladrão, ele vai perdoar você também, porque ele ama a todos os infelizes. Mas, calúnias e danos morais, a Justiça não perdoa não, viu? Feliz Páscoa e aos Bolsonarinhos que foram bem mauzinhos desejo que Moro não lhes traga seus ovinhos...” (http://bit.ly/1PtWCU5 em 23.03.16, as 13.30)

“Hoje eu tô poética depois de minha visita ontem à Fiesp. Tô fazendo até versinho: ‘Patinho, Patinho, quem é o seu Painho que chocou o seu ovinho, quem é o seu Padrinho? Patinho, Patinho, vem prá rua fazer quaquá, aproveita a manifestação e me diga de qual sonegação veio tanta movimentação?’ Poemas lúdicos para iluminar nossa quarta-feira líquida. E, vocês ingratos, ficam aí detonando Maria Padilha, a Pomba-Gira, mas não sabem que quarta-feira é dia dedicado à nossa Iansã, que Iansã gosta de vermelho e que Lacerda treme no túmulo toda vez que vocês o confundem com Cunha? Bom Dia, Anarquia! Quem não tem cão, caça com Gato, quem não gosta de Democracia, elege um Pato!”

Mas será que Mara viu? Uma cadeirante, filha de militar com aposentadoria do pai, que veio com a neta pintada de amarelo e verde e defende o Bolsonaro, e os militares e a neta de cara roxa não sabe de nada nem empurrar a cadeira, mas grita: “Meu avô, minha vó e viva os milico”.

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