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segunda-feira, 21 de março de 2022

Tecnofeudalismo, etapa superior del capitalismo – Por Alfredo Moreno- por NODAL

 

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NODAL NOS OFERECE  UMA REPORTAGEm  PARA QUE ABRAMOS OS OLHOS,SE É QUE AINDA PODEMOS, FACE A ESCRAVATURA DA TECNOLOGIA A QUAL ESTAMOS A SERVIÇO

Por Alfredo Moreno*

Por Alfredo Moreno*

La derecha política y mediática regional repite eslóganes y prejuicios contra el Estado, sus políticas públicas de inclusión social y cuidado en salud. Desconoce el debate mundial que apunta a fortalecer la presencia del Estado, ya no sólo por el papel central ocupado en la pandemia, sino para enfrentar el avance despiadado de los gigantes del mundo digital que abusan de la posición dominante de mercado y del mega flujo de datos que alimentan sus algoritmos como “armas de destrucción matemáticai”.


Vivimos en un feudalismo propio a los tiempos tecno digitales, muy alejado de la libertad y la equidad prometida por las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC). Bajo el manto de una retórica de democratización y acceso a la información, progreso e innovación se esconde el más puro y antiguo sistema de dominación. La implementación social y cultural de las TIC, la “inocencia de los ingenieros informáticos”, las Tecno Corporaciones y sus modelos de negocios son todo lo contrario de lo que prometen. 

El ensayo publicado por el investigador Cédric Durand: “Tecno-Feudalismo, crítica de la economía digital” demuestra cómo el capitalismo se renovó hacia atrás. Se instaló en el contexto del medioevo con las herramientas y servicios de la modernidad. No dio ni nos hizo dar un salto hacia el futuro en términos de acceso y representación ciudadana, sino que se replegó hacia atrás y resucitó las formas más crueles de la dominación y el sometimiento. 

El mito del Silicon Valley californiano se derrite ante nosotros; acumulación escandalosa de ganancias, tecno empresarios dictadores, desigualdades sociales indecorosas, desempleo crónico, millones de pobres suplementarios y un puñado de tecno oligarcas que han acumulado fortunas jamás igualadas. La tan cantada “nueva economía” dio lugar una economía de la dominación y la desigualdad. Politizar las TIC es una necesidad humana para vivir en el territorio digital.

Cédric Duran inicia un viaje al revés, una desconstrucción de los mitos tecnológicos: la digitalización del mundo no ha conducido al progreso humano sino a una gigantesca regresión en todos los ámbitos: restauración de los monopolios, dependencia, manipulación política, privilegios y una tarea de depredación global son la identidad verdadera de la nueva economía concentrada como nunca en la historia.

Yanis Varoufakis afirma que las transformaciones radicales que tuvieron repercusiones trascendentales como la Gran Depresión, la Segunda Guerra Mundial, la Gran Recesión y el Largo Estancamiento posterior a 2009, no alteraron la característica principal del capitalismo: un sistema impulsado por ganancias privadas y rentas extraídas a través de algún mercado.

Ahora, en cambio, la extracción de valor se ha alejado cada vez más de los mercados y se ha trasladado a plataformas digitales, como Facebook, Google (Alphabet Inc.), Apple y Amazon que ya no operan sólo como empresas oligopólicas, sino como feudos donde los datos son el valor de sus territorios digitales.

Para Varoufakis “Las plataformas digitales han reemplazado a los mercados como el lugar de extracción de riqueza privada. Por primera vez en la historia, casi todo el mundo produce gratuitamente el capital social de las grandes corporaciones. Eso es lo que significa cargar cosas en Facebook o moverse mientras se está vinculado a Google Maps”. Aclara que no es que los sectores capitalistas tradicionales hayan desaparecido puesto que las relaciones capitalistas permanecen intactas, sino que las relaciones tecno-feudalistas han comenzado a superarlas. 

Lo que está en juego dentro de la economía digital es una reconfiguración de las relaciones sociales. Esta reconfiguración se manifiesta a través del resurgimiento de la figura de la dependencia, que era una figura central en el mundo feudal. La idea de la dependencia remite al principio según la cual existe una forma de adhesión de los seres humanos a un recurso. 

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terça-feira, 15 de março de 2022

JA NADA ADIANTA... O OCIDENTE JÁ PERDEU O FUTURO

 


Por  VK 


João Augusto-Silva


Foto Anselmo Dantas




Já nada adianta... o Ocidente já perdeu o futuro. 

A sua herança e identidade originária de raiz colonialista e imperialista, arrogância pelo poder continuado acumulado durante séculos... os saqueios e a chantagem sobre outros povos e nações, os usos e abusos e erros estratégicos do império das últimas décadas... determinaram o seu apagamento no confronto do contexto global! 

- E de que a questão ucraniana, nomeadamente a sua intervenção no golpe militar da chamada praça de Maiden... é paradigmática... e corolário lógico dos actuais acontecimentos e que marcam e definem o presente e futuro. 

Em 2014, depois do golpe dos USA da praça de Maiden, em Kiev... Eu, eu que não sendo um cientista político escrevi e disse... Acabou o império... ou melhor, anunciava em Kiev o seu fim! 

- E a intervenção da Rússia na defesa do povo da Síria, veio confirmar que já nada era como antes! 

A Rússia ocupa a maioria do território europeu, desde as fronteiras a ocidente, até aos Urais. 

Mas deixa de ser europeia porque os Estados Unidos... apesar de estarem do outro lado do Atlântico, assim o decidiram. 

E passou por razões de segurança do povo russo e se evitarem novos ataques de surpresa a qualquer altura, vindos do ocidente... e percebeu... finalmente, que apesar das suas elites e história no poder do seu passado europeu e cultura, o remoto e o mais recente... ter de tomar atitude de afastar-se para sempre para oriente. 

Inserindo-se como elemento decisivo da nova Eurásia, da Rota da Seda e da Globalização Multipolar! 

O que faz os gringos correrem... mas já é tarde demais e não vale a pena. 

- Quanto mais se mexerem mais se enterram nas areias movediças do desespero. 

Senão vejamos: Até 2014, admitiam e sentenciavam os estrategas ocidentais; políticos, economistas, militares e outros vendidos e rendidos a tais evidências. 

Que o mundo seria dominado e dirigido pela globalização unipolar global USA... acoitado a ocidente. 

E o que vemos hoje? 

A globalização unipolar ocidental USA, vale mil milhões de pessoas: 

Os Estados Unidos, o Reino Unido, a Europa dos pequeninos (os 27 de Portugal à Polónia) O Canadá, Australia, Nova Zelândia... e pouco mais haverá a somar aqui. 

Por sua vez, a globalização Multipolar, vale mais de 4... e está próximo dos 5 mil milhões de pessoas: 

China, Rússia, India, Paquistão, Irão, África do Sul e muitos outros países. 

O que foram os impérios coloniais ocidentais durante séculos, formataram o mundo durante muito tempo... e muitos ainda se relacionavam com o ocidente por falta de uma alternativa... e do medo das retaliações e chantagem do império ocidental. 

Pelo que a descolonização política activa e mental é agora irreversível... o papão já não amedronta, está sem dentes para morder... e as dinâmicas surgidas pela alternativa no novo contexto, é que vão provocar atitudes anti-colonialistas e novos enquadramentos na globalização Multipolar na economia Mundo pelo fim da perca do medo das reações do império e seus capatazes, aderindo ao Multilateralismo. 

É o novo contexto agora surgido, que vai permitir à África, sair do sub-desenvolvimento imposto e livrar-se de séculos de servidão e humilhação e poder levar a cabo a renascença africana, tão urgente e necessária. 

É neste novo contexto também que a América Latina vai conseguir levar a cabo e erradicar do que resta das sequelas do colonialismo no seu continente e realizar a sua afirmação e independências adentro do Mundo Global Multipolar! 

E do tudo o mais... do que resta descolonizar... ainda na Ásia! 

António Jorge - editor 

Porto e Luanda

segunda-feira, 7 de março de 2022

Thomas Lovejoy, grande estudioso da Amazônia, morre nos EUA

 





https://bit.ly/341mifx

A DW nos oferta a notícia triste da morte de  Thomas Lovejoy.Há pouco tempo, ele afirmou a degradação da Floresta e suas consequências nefastas ao mundo.P.Vasco




Biólogo cunhou o termo "biodiversidade" na década de 1980 e tinha forte vínculo com o Brasil, onde pesquisava a floresta. Em entrevista em 2019, alertou que a Amazônia se aproximava de ponto de inflexão.

https://www.dw.com/pt-br/thomas-lovejoy-grande-estudioso-da-amaz%C3%B4nia-morre-nos-eua/a-60259541?maca=bra-rss-br-br-1031-rdf

O biólogo americano Thomas Lovejoy, conhecido como o "padrinho da biodiversidade" por ter cunhado o termo na década de 1980 e um dos principais especialistas em floresta amazônica, morreu neste sábado (25/12), aos 80 anos de idade, em Washington.

Lovejoy decidiu estudar biologia após fazer um estágio em um zoológico no estado de Nova York quando ainda estava na escola. Ele começou a estudar a floresta amazônica no Brasil em 1965 e obteve seu doutorado pela universidade Yale em 1971.

Grande estudioso da interação entre mudanças climáticas e biodiversidade, ele ganhou em 2012 o prêmio Blue Planet, considerado o Prêmio Nobel do Meio Ambiente.

Lovejoy foi conselheiro ambiental dos ex-presidentes americanos Ronald Reagan, Bill Clinton e George W. Bush e ex-conselheiro-chefe do Banco Mundial para biodiversidade, e era um membro honorário da National Geographic, que financiou suas primeiras pesquisas sobre pássaros da floresta amazônica.

Ele também foi diretor da organização ambientalista WWF, dos Estados Unidos, de 1973 a 1987, tendo sido responsável pela orientação científica a respeito das florestas tropicais do hemisfério ocidental.

"Tom deixa um profundo legado no campo da biologia e na National Geographic. (...) As pesquisas pioneiras de Tom sobre a Amazônia, sua advocacia apaixonada e muitas outras de suas conquistas nos ajudaram a melhor entender, apreciar e cuidar da grande diversidade da vida em nosso planeta", disse Jill Tiefenthaler, diretor executivo da National Geographic, em um comunicado.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), também lamentou a morte de Lovejoy no Twitter, e afirmou que ele era "um dos maiores cientistas e estudiosos da Amazônia", que "deixa um legado incomparável de conhecimento sobre a Amazônia para esta e futuras gerações".

Vínculo com o Brasil

Lovejoy esteve inúmeras vezes no Brasil para estudar a floresta amazônica, e ajudou a fundar o Centro de Biodiversidade da Amazônia e o Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, no final da década de 1970.

Ele foi o primeiro ambientalista condecorado pelo governo brasileiro com a Ordem do Rio Branco, em 1988, e também recebeu a Ordem do Mérito Científico, em 1998.

Em entrevista à DW Brasil em agosto de 2019, Lovey demonstrou preocupação com o futuro da floresta em meio ao avanço do desmatamento e afirmou que o presidente Jair Bolsonaro ignorava o meio ambiente a a ciência.

Alguns meses antes, ele havia assinado um editorial na revista científica Science Advances, ao lado do climatologista brasileiro Carlos Nobre, no qual alertava que o desmatamento na Amazônia estava caminhando para o que chamam de ponto de inflexão, a partir do qual os padrões biológicos e climáticos são afetados de modo irreparável. 

Na entrevista, ele afirmou ainda ter esperança que o Brasil pudesse no futuro retomar o posto de líder global em meio ambiente e que as ameaças à biodiversidade fossem enfrentadas "por meio do bom diálogo entre nações".

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A triste história de Astrud Gilberto, a voz que deu fama internacional a “Garota de Ipanema”

 



A cantora Astrud Gilberto pelas lentes de Marcelo Gilberto, seu filho. Foto: Arquivo pessoal

GGN

https://bit.ly/3I1RV7E


Astrud Gilberto, ex-companheira de João Gilberto, foi vítima de "misoginia" e jamais foi compensada pelo sucesso que fez com a música "Garota de Ipanema"

O site The Independent publicou nesta segunda (14/02/22) uma reportagem especial, cuja tradução o GGN reproduz abaixo, sobre a cantora Astrud Gilberto. Aos 22 anos, a ex-companheira de João Gilberto deu voz à versão em inglês de “Garota de Ipanema” e assim ganhou fama internacional. A música, um hino da bossa nova, se consagrou como a segunda mais tocada em todo o mundo, mas Astrud jamais foi compensada pelo sucesso.

Para o autor da reportagem, ela foi vítima de “misoginia e maus-tratos” e sofreu sobretudo por ter sido “ingênua” em um mercado tomado por predadores. Ainda segundo o repórter, Astrud, que “um dia foi o rosto e a voz da bossa nova para a maioria do planeta”, hoje vive “isolada e desconhecida”, um destino trágico para uma cantora “tão exuberante”.

Por Martin Chilton

No site The Independent

Sem a voz da jovem de 22 anos, ‘Garota de Ipanema’ não teria se tornado o fenômeno que se tornou – mas maus-tratos, misoginia e falta de compensação a desgastaram,

Garota de Ipanema” foi uma das canções seminais dos anos 1960. Vendeu mais de cinco milhões de cópias em todo o mundo, popularizou a bossa nova em todo o mundo e fez uma superestrela da cantora brasileira Astrud Gilberto , que tinha apenas 22 anos quando gravou a faixa em 18 de março de 1963.

No entanto, o que deveria ser uma história edificante – celebrando uma cantora que deixou uma marca extraordinária em seu primeiro compromisso profissional – tornou-se uma triste história de como uma jovem tímida foi explorada, manipulada e quebrada por uma indústria da música dominada por homens, como ela colocou – de “lobos posando como ovelhas”.

Astrud Gilberto, que nasceu Astrud Evangelina Weinert em Salvador, Bahia, em 29 de março de 1940, apareceu em seu disco de estreia completamente por acaso. Ela estava no A&R Studios em Manhattan para acompanhar o marido João Gilberto, o célebre guitarrista que ajudou a criar a bossa nova. Ele estava gravando o álbum Getz/Gilberto da Verve Records , ao lado do renomado saxofonista de jazz Stan Getz e do pianista Antonio Carlos Jobim.

A música “Garota de Ipanema” foi composta em 1962 por Jobim e Vinícius de Moraes, dois homens de meia-idade se deliciando com o desejo de Heloísa Pinheiro, a adolescente que costumava passar pelo Veloso, um bar onde bebiam perto da praia de Ipanema. As letras em português, posteriormente foram traduzidas para o inglês por Norman Gimbel.

Gimbel – que passou a escrever a letra do hit “Killing Me Softly with His Song” e a compor a música tema do programa de televisão Happy Days – estava presente quando foi discutido pela primeira vez que suas palavras em inglês seriam usadas junto com o português cantada por João Gilberto. O aclamado engenheiro de A&R Phil Ramone estava supervisionando a gravação em Nova York e lembrou claramente que foi Astrud Gilberto quem se ofereceu para cantar um dueto. “Astrud estava na sala de controle quando Norm entrou com as letras em inglês”, Ramone disse ao JazzWax em 2010. “O produtor Creed Taylor disse que queria terminar a música imediatamente e olhou ao redor da sala. Astrud se ofereceu, dizendo que sabia cantar em inglês. Creed disse: ‘Ótimo.’ Astrud não era uma cantora profissional, mas ela foi a única vítima sentada lá naquela noite.

Astrud Gilberto não era uma novata completa. Ela cresceu mergulhada na música (sua mãe Evangelina Neves Lobo Weinert tocava vários instrumentos) e cantava regularmente com o marido no Brasil, inclusive em um show na Faculdade de Arquitetura, parte de uma das melhores universidades do Rio de Janeiro. Mais tarde, ela admitiu que estava “nervosa” ao olhar para a letra de “Garota de Ipanema”, porque “este era o meu trabalho profissional”. Ela concluiu que era “um pouco do destino” – e sua voz sedutora e sussurrante fez toda a diferença para o apelo da música, ganhando um Grammy de música do ano e uma indicação de Melhor Performance Vocal por uma mulher.

Assim que os músicos ouviram o playback, eles souberam que tinham algo especial em suas mãos. Eles ficaram tão satisfeitos com a contribuição de Astrud Gilberto que pediram para ela cantar em outra faixa de Jobim, “Corcovado”.

Quase imediatamente, Taylor e Getz, ambos mais de uma década mais velhos que Astrud Gilberto, começaram a alegar que foi ideia deles pedir ao jovem para cantar no disco. Taylor, que assinou com John Coltrane para Impulse! Records, disse que sabia que “Garota de Ipanema” seria um sucesso absoluto “desde o momento em que Astrud entrou com sua vozinha e cantou com aquele sotaque”.

Em uma entrevista de 1964 que Getz deu ao escritor de jazz Les Tompkins, para a revista britânica Jazz Professional , ele afirmou que sabia que a voz “inocente e recatada” de Astrud Gilberto seria uma sensação, acrescentando: “Ela era apenas uma dona de casa na época, e eu a coloquei naquele disco porque eu queria ‘Garota de Ipanema’ cantada em inglês – o que João não conseguiu fazer. ‘Ipanema’ foi um sucesso e foi um golpe de sorte para ela.”

O comentário arrogante e condescendente de “dona de casa” de Getz irritou o cantor. “O engraçado é que, depois do meu sucesso, abundam as histórias de Stan Getz ou Creed Taylor terem ‘me descoberto’, quando na verdade nada está mais longe da verdade”, disse ela em 1982, citada em seu site. “Acho que isso os fez parecer importantes por ter sido aquele que tinha a ‘sabedoria’ de reconhecer o potencial no meu canto. Acho que deveria me sentir lisonjeada com a importância que eles dão a isso, mas não posso deixar de me sentir incomodada por eles terem recorrido à mentira. Sua versão é apoiada por seu filho Marcelo, que disse ao The Independent em uma entrevista por e-mail de sua casa nos Estados Unidos: “Meu pai João costumava ser inflexível sobre as mentiras contadas sobre sua descoberta”.

Astrud Gilberto não mereceu um único crédito na prensagem do LP original em vinil de Getz/Gilberto . Foi um sucesso instantâneo depois de ser lançado em março de 1964, permanecendo nas paradas de álbuns da Billboard por 96 semanas e chegando ao 5º lugar. Ganhou quatro Grammys, incluindo Álbum do Ano. A faixa mais popular foi facilmente “Garota de Ipanema”, que desde então se tornou a segunda música mais gravada da música popular, atrás apenas de “Yesterday”, dos Beatles, e apareceu em dezenas de filmes e programas de televisão, incluindo Os Simpsons e Os Sopranos .

Taylor, Getz e presumivelmente os executivos da Verve perceberam o potencial da faixa. Em maio de 1964, eles lançaram uma versão mais curta de sete polegadas da música (removendo os vocais masculinos da versão do álbum de cinco minutos). Quando Taylor foi questionado pela JazzWax por que eles focaram na voz de Astrud Gilberto para o single, ele respondeu: “Adivinha?” Quando o entrevistador o pressionou perguntando: “Porque venderia mais?”, Taylor respondeu: “Bem, sim. Olha, se você quer que as pessoas gastem seu dinheiro em algo, você precisa dar a elas uma razão para fazê-lo.” Em seu livro de 2019 GETZ/GILBERTO, Bryan McCann, professor de história do Brasil na Georgetown University, é claro sobre o valor de sua contribuição. “Foi Astrud Gilberto que fez do álbum um grande sucesso”, escreveu. “Astrud forneceu o fascínio inefável que tornou o álbum irresistível.”

Ela foi, para dizer claramente, enganada de suas recompensas financeiras legítimas. Isso se deveu em parte à crueldade de Getz, que até Taylor admitiu ser “um tipo desagradável de cara”. Getz cumpriu pena em uma prisão de Los Angeles em 1954 por posse de heroína, após sua tentativa de assaltar uma farmácia de Seattle, comportamento que levou o juiz a chamá-lo de “uma desculpa pobre para um homem”. No mundo do jazz, Getz tinha fama de valentão, acostumado a passar por cima dos colegas. O dono do clube de Londres, Ronnie Scott, costumava contar inúmeras histórias engraçadas sobre o caráter azedo de Getz. O colega músico Bob Brookmeyer, que trabalhou em estreita colaboração com Getz, certa vez respondeu ao boato de que Getz havia feito uma cirurgia cardíaca com a piada: “Eles colocaram um?”

Getz muitas vezes se gabava de que “ele havia tornado Astrud famosa”, mas parece que ele fez o possível para garantir que ela nunca recebesse sua parte justa dos royalties. Gene Lees, editor da revista DownBeat , que traduziu “Corcovado” para o inglês, mais tarde alegou que Getz interveio assim que ficou claro que “A Garota de Ipanema” seria um sucesso lucrativo. “Astrud não recebeu um centavo pela sessão e em poucos dias, o disco estava nas paradas”, escreveu ele em Singers and the Song II.. “Foi nesse ponto que Getz ligou para o escritório de Creed. Betsy, a secretária de Creed, atendeu. Creed estava fora do escritório. Quando ele voltou e ela lhe disse que Stan estava ansioso para falar com ele, Creed pensou que Stan devia estar ligando para ver que Astrud tinha uma parte dos royalties. Pelo contrário, ele estava ligando para se certificar de que ela não recebeu nada.”

A extensão da injustiça financeira também fica clara no livro de Ruy Castro, de 2003, Bossa Nova: A história da música brasileira que seduziu o mundo . Castro detalha que João Gilberto recebeu US$ 23 mil por seu trabalho no álbum. Getz recebeu a maior parte do dinheiro pelo álbum, estimado por alguns em quase um milhão de dólares. Getz ganhou tanto com seu sucesso que imediatamente comprou uma mansão estilo ” E o Vento Levou” com 23 quartos em Irvington, Nova York.

Quanto à pobre Astrud Gilberto, ela recebia uma ninharia relativa para atrair milhões de pessoas para o jazz e os ritmos do Brasil. A mulher “responsável pelo sucesso internacional do disco” (nas palavras de Castro) ganhava apenas o que o sindicato dos músicos americanos pagava por uma noite de trabalho: US$ 120.

Sua popularidade foi instantânea, porém, e a convenceu a tentar se tornar uma cantora por direito próprio, mesmo que tenha ocorrido durante um período de turbulência pessoal. Durante uma turnê pela Europa em 1963, seu casamento com João se desfez. Embora a imprensa no Brasil a culpasse pelo fim do casamento, foi João quem foi infiel, tendo um caso com a brasileira Heloísa Maria Buarque De Hollanda, uma estudante de história da arte que mais tarde se tornou uma cantora conhecida como Miúcha.

João e Astrud se divorciaram em 1964, ano em que o cantor concordou relutantemente em voltar à América como parte da banda de Getz. Foi uma decisão nascida da necessidade, uma que ela mais tarde se arrependeu. “Foram tempos muito difíceis”, ela escreveu em 2002. “Além de estar no meio de uma separação e lidar com as responsabilidades de ser mãe solteira e uma nova carreira exigente, eu também estava lidando a primeira vez na vida, em um país estrangeiro, viajando com uma criança, tendo dificuldades financeiras… e, claro, infelizmente, totalmente ingênua”.

É difícil não sentir simpatia por uma jovem de 24 anos que era, por sua própria admissão, “muito inconsciente do showbusiness” e sem orientação. “Eu estava em um estágio muito difícil de divórcio”, acrescentou. “Era mais ou menos um trabalho, uma questão de sobrevivência apenas cantando para ganhar dinheiro. Meu amor e respeito pela música foi um bônus. Eu estava com medo de estar no palco e com medo de toda a cena.”

Getz continuou a tratá-la mal, como fez com muitas mulheres em sua vida. Na época, ele era casado com sua segunda esposa, a sueca Monica Silfverskiöld, e seu abuso físico dela foi documentado na biografia de Donald L Maggin, Stan Getz, a Life in Jazz . Monica mais tarde trabalhou para uma instituição de caridade de violência doméstica. Getz também era um mulherengo conhecido. Em seu livro de memórias de 2000, Cybill Disobedience , a atriz e cantora Cybill Shepherd, que fez seu sucesso como Jacy no filme de Peter Bogdanovich de 1971, The Last Picture Show , lembrou seu comportamento horrível quando eles estavam colaborando em um álbum em meados da década de 1970 chamado Mad About the Boy .. “Getz deu em cima de mim e, quando recusei, ele rosnou: ‘É sua culpa se eu voltar a ser um viciado’, me ignorando pelo resto da sessão.”

A imprensa brasileira alegremente divulgou rumores de que Getz estava tendo um caso com Astrud Gilberto durante uma turnê que ela descreveu como “tortuosa”. Ele alegou que a administrava de uma maneira que permitia que ela sempre “sair com boa aparência, recebendo uma boa rodada de aplausos”, embora ela acreditasse que sua conformidade se devia a uma cultura em que “a liberdade das mulheres ainda não era um modo de vida”. Ela também foi objetificada na imprensa – uma crítica disse que ela “evocou o devaneio de todo homem heterossexual de uma mulher exótica e submissa em um biquíni”.

Marcelo Gilberto, que mais tarde se tornou baixista de sua banda e atuou como road manager, técnico de som e assistente pessoal durante 15 anos de estrada juntos, tem lembranças vívidas de estar ao lado dela quando enfrentou um pacote de imprensa em Nova York para o primeira vez. “Fui para o que provavelmente foi a primeira coletiva de imprensa que ela teve nos Estados Unidos, em Nova York, e era realmente uma atmosfera de Mad Men , com o que era essencialmente uma sala inteira cheia de homens”, disse ele. “Eu era um menino na época e, em algum momento, falei com ela e disse ‘Mãe’, e me lembro claramente do murmúrio que se espalhou pela sala. Eu tinha quebrado uma ilusão. O símbolo sexual era uma mãe. Eu sabia que tinha puxado a cortina e me senti horrível. Eu a chamei de ‘Astrud’ a partir de então.”

Seu filho, que junto com seu meio-irmão Gregory mais tarde gravou com sua mãe, disse que havia filas de pessoas fazendo fila ao redor do quarteirão para ver sua mãe cantar como o “vocalista convidado especial” no Cafe Au Go Go em Greenwich Village com Getz e o guitarrista Kenny Burrell. “Stan Getz estava pagando amendoins e isso sempre a irritou muito”, acrescentou Marcelo. Felizmente, sua estrela estava subindo e outras ofertas começaram a aparecer, incluindo uma aparição no filme da MGM de dezembro de 1964 Get Yourself a College Girl , ao lado de The Animals, The Dave Clark Five e o grande órgão de jazz Jimmy Smith.

Depois de deixar a banda de Getz, ela teve a chance de trabalhar em seus próprios álbuns para a Verve Records. De 1965 a 1971, fez oito álbuns solo – The Astrud Gilberto Album (que lhe rendeu outra indicação ao Grammy de melhor performance vocal feminina), The Shadow of Your Smile, Look to the Rainbow , Beach Samba , A Certain Smile, a Certain Tristeza , Windy , 17 de setembro de 1968 e I Haven’t Got Anything Better To Do – tendo a chance de trabalhar com luminares como Gil Evans e Walter Wanderley (e com Quincy Jones, em “Who Needs Forever”, a música tema de um Suspense de Sidney Lumet chamado The Deadly Affair ).

Ela sempre sustentou que não recebeu crédito ou recompensa por seu trabalho de produção. Além disso, ela costumava descobrir que sua música havia sido reembalada e vendida em novas formas de compilação; quando ela apareceu no programa de rádio Fresh Air em 1978, o apresentador Terry Gross presenteou-a com um desses álbuns Best Of e Gilberto disse: “O que é isso? Eu nunca vi isso antes.”

Ela novamente cometeu o erro de gravar sem contrato quando se reuniu com Taylor para sua própria gravadora, a CTI Records, quando fez a maior parte do trabalho de produção. “Eu era inexperiente e não sabia que você deveria insistir em créditos”, disse ela. Sua família também afirma que ela não recebeu o pagamento integral por seu álbum de 1972 Now e por seu álbum de 1977 That Girl from Ipanema . “Ela regravou uma versão disco de ‘Garota de Ipanema’ no último álbum, marcando a segunda vez em que gravaria a música e nunca seria paga por isso”, alega Marcelo. “Ela acreditava nas pessoas e estava confiando”, acrescentou. “Eles se aproveitaram de sua boa índole, confiança e desejo de fazer música.”

Gilberto não gravou novamente por 10 anos, até o álbum de 1987 Astrud Gilberto Plus James Last Orchestra . Embora ela achasse difícil o líder da banda, o disco impressionou George Michael, que a amava cantando. O Wham! A superestrela acabou pedindo que ela se apresentasse em um disco de caridade para a pesquisa da Aids. Em 1996, a dupla gravou uma linda versão de “Desafinado”, para seu álbum Red Hot + Rio . Marcelo, que a acompanhou na viagem a Londres, lembra que Michael era “enigmático” e tinha um senso de humor seco – e que ambos ficaram satisfeitos com o resultado. “Ela estava cantando no tom dele – toda a música estava pronta”, diz ele. “Era uma chave muito alta para ela, mas ela resistiu, nunca disse nada. Ela acertou em menos de três tomadas e foi embora.”

Gilberto teve outras colaborações de alto nível, inclusive com o cantor francês Étienne Daho, mas sua parceria mais agradável foi com Chet Baker. Gilberto cresceu amando o jazz do saxofonista Gerry Mulligan, do guitarrista Barney Kessel e do trompetista Baker e teve a chance de trabalhar com seu ídolo em 1977 quando eles colaboraram em uma versão da música “Far Away”, para a qual ela escreveu a melodia . Ela chamou a experiência de “uma emoção, um sonho realizado, o ponto alto da minha carreira”.

Gilberto, filha de um professor de línguas chamado Fritz Wilhelm Weinert, era fluente em francês, italiano, espanhol, português, inglês e japonês. Ela era muito popular na Ásia e até lançou álbuns em japonês. Em seu Brasil natal, no entanto, havia forças contrárias à bossa nova e ela nunca recebeu o devido valor, embora claramente merecesse ser aclamada como uma pioneira cultural. “Muitos músicos brasileiros consagrados nunca aceitaram o sucesso de Astrud. Eles a retrataram como sortuda em vez de talentosa – no lugar certo na hora certa”, disse o professor McCann. Marcelo é mais simples: “O Brasil deu as costas para ela. Ela alcançou fama no exterior em um momento em que isso era considerado traição pela imprensa”, disse.

Mais tarde, ela confessou que ficou “muito magoada” com as “críticas duras e sarcasmo injustificado” que recebeu de repórteres brasileiros. Após um show em 1965, ela nunca mais cantou no Brasil e não esteve presente quando “Garota de Ipanema” foi tocada na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, usada como supermodelo Gisele Bundchen subiu ao palco.

Em 2002, ano em que foi admitida no Hall da Fama da Música Latina Internacional, Gilberto anunciou que estava tirando “tempo indefinido” de apresentações públicas após quatro décadas tocando em clubes e festivais. Seu segundo casamento, com Nicholas LaSorsa, terminou há mais de quatro décadas e ela permaneceu na Filadélfia vivendo em privacidade. Na aposentadoria, ela se interessou por filosofia, pintura e campanha contra a crueldade com os animais, insistindo que não sentia falta do “medo do palco” e seus maus-tratos pelas gravadoras.

Os últimos anos, no entanto, foram extremamente difíceis para Gilberto, que completa 82 anos em março de 2022. Suas experiências no mundo da música a afetaram profundamente e prejudicaram sua confiança nas pessoas. Ela agora vive isolada, em seu apartamento com vista para um rio, com a companhia de um gato e as visitas e ligações dos filhos. Sua voz aparentemente ainda está intacta, embora seu espírito esteja quebrado.

Acabar isolada e desconhecida é um destino doloroso para uma performer tão exuberante, que seu filho Marcelo descreve com razão como “um dia foi o rosto e a voz da bossa nova para a maioria do planeta”. Ela merece ser homenageada como uma cantora que trouxe alegria ao mundo com uma música, que em suas próprias palavras, deu a todos “romance e distração sonhadora”.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Lá vai ELZA SOARES.sem lata mas com luminosos asteróides raros



ELZA SOARES POR FLICK -IN https://bit.ly/3G1bUBN
1930-2022


Lá vai ELZA,agora o braço é tumular,ja não toca o bastão da música, nem urra em canção o grito da carne negra.
Ela fez o poema na vida,sem rimas fáceis, escreveu o poema humano: lutar e denunciar o desumano que habita em nós.
A mulher que se colava a cantora politizada é uma dessas mulheres que continha dentro da ELZA SOARES.Mas  havia muitas outras:amiga , amante,mãe avó. bisavó,e fazedora de milagres com sua imagem de força viva.

Não foi santa, mas jamais quis ser,seu canto e a denúncia foram seus lemas durante toda vida.
Parou questionou ser cantora.ELZA andou este Brasil todo,escondeu-se ,muitas vezes ,para pensar, como o fez um tempo em Pernambuco,mas sua terra, seu miolo era o Rio e para lá voltou e gritou. Em plena maturidade,voltou a cantare muitos amigos compositores a estimularam,dando não mais lata, mas poemas--canções para sua estirpe;ganhou mais ainda reconhecimento  aqui e internacionalmente.
E como um filme de Feliini teve um THE END.


Encerro com um trecho de um post do amigo Elton LL. de Souza in Facebook

"A voz de Elza é canto de Gaia, voz da Terra-Mãe que chora a dor da injustiça que violenta seus filhos . Ouvindo-a, revejo o guri de Ouro Preto caminhando ao meu lado, um pouquinho à frente, feliz por me ensinar. Quem ama o que faz sente alegria, a potência-alegria de que nos fala Espinosa. Com certeza, esse guri faria a Elza-Gaia sorrir , assim como me fez.

Biografia sugiro de modo resumido: Biografia de Elza Soares - eBiografia
Destaco matéria- em  A TERRA É REDONDA-Elza Soares - A TERRA É REDONDA (aterraeredonda.com.br)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

THIAGO DE MELLO -1926.2022- SOME UMA FLORESTA

 



foto por Youtube


"Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar."


Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, no Amazonas, em 1926. (1926-2022)

O sumiço  de um poeta, sua morte, é como um sumir constelações de estrelas,ou um conjunto de cérebros e pessoas num mesmo corpo.Com a morte de Thiago de Mello desaparecem  florestas.Lutador contra o sistema que esmaga o homem e o verde-a floresta Amazônica-sua grande mãe,partiu o poeta aos 95 anos.

Um ser humano de real grandeza, que o diga o finado ZÉLINS  DO REGO, que  o teve a sua cabeceira ,antes e nos momentos finais-sua morte.Mas este fato era comum em sua vida distribuindo empatias mundo afora com tatos outros poetas como Pablo Neruda ,Paulo Freire, (vide abaixo poema- Canções para os fonemas da Alegria) e outros tantos no Brasil e no mundo

Thiago exaltou o homem e fez seu decreto -Os Estatutos Do homem- seu poema mais conhecido, todavia sua obra é extensa, mais de 30 obras entre prosa e poesia, e sua morte deixa-nos órfãos,num momento em que a orfandade já se prolifera.Contudo seu verso será corrente que viralizará entre os mais jovens, mais ainda.O poeta jamais parte, fica sempre entre os tempos invisíveis mas a florescer como o verde entre o concreto e a lama.


Mas  como diz o poeta:

Faz escuro mas eu canto
Faz escuro mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.

.....




“Canção para os Fonemas da Alegria”,

Peço licença para algumas coisas.

Primeiramente, para desfraldar

este canto de amor publicamente.

Sucede que só sei dizer amor

quando reparto o ramo azul de estrelas

que em meu peito floresce de menino.

Peço licença para soletrar,

no alfabeto do sol pernambucano

a palavra ti-jo-lo, por exemplo,

e poder ver que dentro dela vivem

paredes, aconchegos e janelas,

e descobrir que todos os fonemas

são mágicos sinais que vão se abrindo

constelação de girassóis girando

em círculos de amor que de repente

estalam como flor no chão da casa.

Às vezes nem há casa: é só o chão.

Mas sobre o chão quem reina agora é um homem

diferente, que acaba de nascer:

porque unindo pedaços de palavras

aos poucos vai unindo argila e orvalho,

tristeza e pão, cambão e beija-flor,

e acaba por unir a própria vida

no seu peito partida e repartida

quando afinal descobre num clarão

que o mundo é seu também, que o seu trabalho

não é a pena que paga por ser homem,

mas um modo de amar – e de ajudar

o mundo a ser melhor. Peço licença

para avisar que, ao gosto de Jesus,

este homem renascido é um homem novo:

ele atravessa os campos espalhando

a boa-nova, e chama os companheiros

a pelejar no limpo, fronte a fronte,

contra o bicho de quatrocentos anos,

mas cujo fel espesso não resiste

a quarenta horas de total ternura.

Peço licença para terminar

soletrando a canção de rebeldia

que existe nos fonemas da alegria:

canção de amor geral que eu vi crescer

nos olhos do homem que aprendeu a ler.

Santiago do Chile, verão de 1964.

Vide reportagem do sepultamento do poeta: https://www.manaus.am.gov.br/noticia/artistas-e-amigos-prestam-as-ultimas-homenagens-ao-poeta-thiago-de-mello/

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

2022 O QUE SERÁ? MAIS RESPEITO AO OUTRO , SOBRETUDO ,A MÃE TERRA E AO PAI UNIVERSO

 


                                           https://bit.ly/3FR0fGr

OS POETAS FALAM COMO O AR QUE CIRCULA:


A partir de um poeta que se ampara na Filosofia, Elton  L.L.SOUZA  nos traz os cheiros de outros poetas que circulam no ar,entre eles, M.de Barros.


Há um poema de Manoel de Barros no qual ele diz: "Vi que tudo o que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião, automóvel ... Até nave espacial vira sucata." E completa: “O que é verdadeiramente novo nunca vira sucata.”
Não só automóveis e celulares viram sucata : doze meses atrás , 2021 foi chamado de ano novo , e 2020 virou sucata. Hoje, é 2022 que recebe a etiqueta de ano novo, enquanto 2021 está virando sucata.
Se olharmos para o tempo com os olhos do poeta, veremos que não se encontrava então em 2021 o tempo novo tão desejado, assim como não está em 2022 o tempo que não vira sucata.
Mas onde encontrar esse tempo-embrião, esse tempo de minadouros?
Segundo o poeta, não é no produto criado que se encontra o novo, e sim no ato de criação. O rio só mantém seu fluxo vivo e avança se estiver umbilicado à nascente da qual continua a fontanejar, sendo criado.
O novo nunca pode ser representado por abstrações , pois ele vive nas singularidades concretas.
“2022” é uma abstração , uma convenção do calendário hoje vigente. Ao longo da história, porém, povos diferentes tiveram outras formas de contar o tempo segundo outros calendários.
Os povos originários , por exemplo, vivem muito mais próximos do tempo que não vira sucata, pois os indígenas não vivem o tempo sob números abstratos, e sim a partir dos acontecimentos singulares da própria natureza, segundo os ritmos do sol e da lua.
Os números são abstrações porque conseguem representar somente as quantidades, nunca as qualidades , os ritmos e as intensidades. Somente um tempo concreto, singular, qualitativo e intenso tem força para resistir a virar sucata, pois um tempo assim tem a potência da vida e de seus ritmos.
Mas onde encontrar esse tempo singular? Onde fica sua nascente, seu nascedouro, sua natência?
O poeta assim responde: os dias, os anos, os séculos, os milênios...tudo isso vira sucata. Mas o que nuca vira sucata é a aurora. A aurora é a nascente da qual brota o autêntico tempo novo.
E nós mesmos nunca viraremos sucata, não importa a idade que tenhamos, enquanto nos horizontarmos afetados por uma aurora . Para que, juntando forças, possamos “fazer amanheceres”, como ensina o poeta, apesar dessa noite longa...
Não somente em 2022, mas sobretudo no hoje , no aqui e agora, desejo a todas e todos necessárias auroras!
Uma aurora sempre vem para nos lembrar que todo dia é dia novo, e não apenas o 1º de janeiro!
“Erguer-se...
Como se ergue a aurora do seio da noite.”
(Homero)
“Durante as viagens sem rumo dos andarilhos,
eles são instalados na natureza igual se fossem uma aurora.” (Manoel de Barros)

E segue outro poeta:


PASSAGEM DO ANO
 C. DRUMMOND DE ANDRADE

https://bit.ly/3FTmmvY


O último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
Farás viagens e tantas celebrações
De aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
E coral,
 
Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
Os irreparáveis uivos
Do lobo, na solidão.

 
O último dia do tempo
Não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
Onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
Uma mulher e seu pé,
Um corpo e sua memória,
Um olho e seu brilho,
Uma voz e seu eco.
E quem sabe até se Deus…
 
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
 
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa, já se expirou, outras espreitam a morte,
Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer.
 
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
O recurso da bola colorida,
O recurso de Kant e da poesia,
Todos eles… e nenhum resolve.
 
Surge a manhã de um novo ano.
 
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
Lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.