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terça-feira, 10 de outubro de 2017

Ascenso Ferreira :Um intelectual da poesia - a lírica do povo para elite poética.


Acervo Fundaj -Rec_Pe


Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!
Hora de trabalhar?— 
Pernas pro ar que ninguém é de ferro!
Publicado no livro Cana caiana (1939). 


Entra pra dentro, Chiquinha!
Entra pra dentro, Chiquinha!
No caminho que você vaivocê acaba prostituta!
E ela:Deus te ouça, minha mãe...Deus te ouça !

Predestinação

Ascenso era uma figura poética ambulante, um boêmio que vivia nos versos e os dizia pelas ruas; caçava a poética do povo e sua sonoridade. Apesar de ser um marco da poesia Modernista, contestou o movimento, advindo de São Paulo, junto com Gilberto Freyre, de quem era muito próximo.
Também amigo de Assis Chateaubriand, foi com ele um dos colaboradores para criação do acervo MASP, apesar de um anonimato que historicamente impuseram a este fato. Conta o disse-me-disse que frequentava festas com Chatô, na capital paulista, onde, na ocasião, afanava obras de artes da elite e dizia, ao sair: “obrigado pela doação". Mas, acima de tudo, era um trem que puxava a sonoridade lexical do povo da canavieira nordestina, dando-lhe universalidade, apontando a poética da reinvenção da língua. Vale a pena ler a obra que é lançada pela CEPE. Aqui reproduzo reportagem do Jornal do Comercio Pernambuco lPaulo Vasconcelos 
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Por JC RECIFE PE (http://bit.ly/2y5oiiK)

Poesia de Ascenso Ferreira finalmente está de volta às livrarias

Com seleção de versos editada pela Cepe, o poeta busca ser reconhecido para além do folclore da sua figura
Nome: Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira Cordeiro Muniz Falcão Veloso de Carvalho. Nasceu em 1895 em Palmares (Pernambuco). – Altura oficial, 1,96. – Pesa 116 quilos em jejum. (...) – Seu prato predileto: pitu de coco. – Se pudesse emendar todos os charutos que tem fumado daria a volta ao mundo. (...) – É louco por música de toda espécie, desde a pancada do ganzá, batuques, sino, até o piano. (...) – Acredita piamente e já viu muitas assombrações. – Adora o Recife pelo sentido sensual de sua vida.”

Um dos principais poetas do nosso modernismo, o pernambucano Ascenso Ferreira se descrevia assim em uma antológica entrevista dada ao jornalista caruaruense João Condé. Tão famoso como alguns dos seus versos – especialmente Trem de Alagoas – era sua figura de homem alto, corpulento e da voz grossa, protagonista e colecionador de histórias quase folclóricas. Um dos homenageados pela Bienal do Livro de Pernambuco deste ano, o escritor é celebrado neste domingo em um show-recital com Isaar França e Maciel Salu, a partir das 16h, no Centro de Convenções.

Durante o evento, a Cepe Editora também aproveita para reparar uma injustiça do mercado editorial brasileiro: a ausência quase total da obra de Ascenso nas prateleiras de livrarias. Na Bienal, acontece o lançamento de Como Polpa de Ingá Maduro: Poesia Reunida de Ascenso Ferreira, com organização da pesquisadora Valéria Torres da Costa e Silva.

Além de uma seleta da poesia do autor, a obra busca enxergar Ascenso fora do local em que o senso-comum o colocou, como um mero poeta do “anedotário”, tentando desconstruir “a folclorização do poeta e a regionalização da sua obra”. Na apresentação do volume, Valéria lamenta não só a pouca circulação do poeta atualmente, mas também a pequena fortuna crítica produzida sobre ele. São, segundo ela, “raros os textos que procuram estudar, ler, interpretar e revelar seu universo poético”. “Diria mais. O melhor da fortuna crítica da poesia de Ascenso foi escrito há pelo menos 50 anos, com raras exceções”, defende.

Não é por acaso: o conterrâneo Manuel Bandeira admirava muito mais que a temática da sua poesia, mas a capacidade de fundir discursos poéticos sem fazer “nenhuma emenda”. 
O modernista paulista Mário de Andrade foi mais longe. “Depois que as personalidades dos iniciadores se fixaram, só mesmo Ascenso Ferreira com este (livro) Catimbó trouxe pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo”, escreveu.

Como Polpa de Ingá Maduro mostra a obra de Ascenso a partir de três recortes: o da tradição e da modernidade; o do cotidiano; o do amor. Trata-se de um belo e importante resgate de obra do autor, não a partir somente de seus temas e de diálogo com a oralidade, mas especialmente ressaltando como tudo isso compunha uma forma de expressão poética original. Como Valéria enfatiza, em Ascenso, “estamos diante de uma poética da sensualidade” – e as “caboclas viçosas de bocas pitangas”, “mulatas dengosas caju e cajá” e “mulheres brancas como açúcar de primeira estão lá para mostrar sua paixão.

On line 
http://bit.ly/2y5oiiK

*Poeta pernambucanoAscenso Carneiro Gonçalves Ferreira nasceu na cidade de Palmares no ano de 1895. Dizem que começou a atividade literária enganado, compondo sonetos, baladas e madrigais. Depois da "Semana de Arte Moderna" e sob a influência de Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira e de Mário de Andrade, tomou rumos novos e achou um caminho que o conduziria a uma situação de relevo nas letras pernambucanas e nacionais. Voltou-se para os temas regionais de sua terra que foram reunidos em seus livros  "Catimbó" (1927), "Cana caiana" (1939), "Poemas 1922-1951" (1951), "Poemas 1922-1953" (1953), "Catimbó e outros poemas" (1963), "Poemas" (1981) e "Eu voltarei ao sol da primavera" (1985). Foram publicados postumamente, em 1986, "O Maracatu", "Presépios e Pastoris" e "O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos", em livro organizado por Roberto Benjamin. Distingue-se não pela quantidade, mas pela qualidade, atingindo não raro efeitos novos, originais, imprevistos, em matéria de humorismo e sátira. O poeta faleceu na cidade do Recife (PE), em 1965.
http://bit.ly/2z7JaWN 

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

DICIONÁRIO :VERBETES PERVERSOS DO GOLPE


Ladrões mandam recado a Temer durante assalto – ‘Pensa que é só você que rouba?’

POR DCM/YOUTUBE http://bit.ly/2yq31mT
Este é o país em que há alibi para ignomínia?
  1. 1.

    grande desonra infligida por um julgamento público; degradação social; opróbrio.
    "o pobre homem se viu exposto à i."
  2. 2.

    caráter daquilo que degrada, humilha; ação, palavra que desonra, que envergonha.
    "a i. de uma condenação"
  3. Este é país da desventura, do despudor, da pornografia em que o furor, faz o  Brasil ser levado ao opróbio :

  4. substantivo masculino1.Vergonha pública; desonra que acorre publicamente.2.Humilhação; caraterística do que humilha, degrada, desdenha.3.Degradação; estado do que demonstra excesso de baixeza, torpeza..Desonra; que exprime ausência de consideração; expressão de desprezo.
  5. Este  é o país em que  o Golpe é desenhado na imagem aonde todos os meios justificam os fins?
  6. Que país é este?
  7. Existe governo neste país?
  8. O que é a democracia? 
  9. Existe democracia?
  10. Existe justiça neste país, ou o que é a lei?
  11. O cinismo do contraditório nega ou afirma a lei e a justiça?


quinta-feira, 28 de setembro de 2017

VIDA E MORTE ...MUTAÇÕES....MÁSCARAS

PARA MINHA MÃE QUE ME ENSINOU A  GOSTAR DE LER E ENTORTAR PALAVRAS!
LOURDES VASCONCELOS





Dizem o mesmo de mim, não sei, mas é possível. Mas contundente mesmo é vermos na velhice, em sua progressão, variantes de máscaras que ocupam o corpo da mãe/mulher e não pedem por favor, entram, infiltram-se, silenciam-se , transmutam-se à elas, umas não tem memória, outras já não recitam, outras já comem demais, outras menos, tomam remédios vários, gritam, não dormem à noite, dizem ver vultos. Pela manhã contemplo seu rosto, é uma outra mulher, tem traços da anterior originária, mas não é mesma. Trafega com um riso comum, é ele sim, é original, mas não é a mesma, admito. E quem são essas tantas mulheres? Gostam de enrolar os cabelos como criança, curtem boneca, a gula se transforma e se contradiz ouvindo Nelson Gonçalves?
...Mãe, sonhei ontem que não eram mulheres, eram máscaras e cérebros que trocamos ao chegarmos à certa idade, mas o pior é que já não me conheces tanto como antes e do mesmo modo eu a ti, o tempo comeu a ti e a mim, cansaram-se vísceras, células, cérebro, foi isto?
— Não respondes? Que mulher é esta que não responde?
A cigana ao meu lado, no sonho, disse-me ao ouvir: ela está grávida, não a gravidez que enche, essa seca, sim, ela seca e seca, chama-se a morte, é a semente brotando ao avesso.
Todos trazemos inoculados essa gravidez potencial, é esta semente que se gruda no corpo; o ser traz em si a vida/morte, semente como espécie de semente/fruto, para nos alimentar e sem sabermos alimenta, faz-nos felizes, infelizes, nos bons e maus encontros e afetos, depois alimenta a terra, sim, a terra, com a carne, ossos, gorduras, nervos, e aquele corpo deixa marcas dos seus afetos nos outros. Quanto a essas mulheres que nela habitaram, foram as várias faces da semente em gestação, mas olha, não as desprezes, tu és também extensão do mesmo corpo dela e tens o mesmo fruto dentro.
E mais, não dê tanto valor a vida, ela é assim mesmo: já está gravado em você o que ocorreu, vá e viva, tome algo, grite e seja feliz, a vida é cínica e você vai ver sempre esta cena, ela igual ao nascer e assim é o nascimento: lá a criança tem várias faces, um bebê vai mudando também, a bochecha, orelha, dente, cabelo, assim, do mesmo modo, como ela mudou, já foi bebê; ela agora é um bebê velho só, deixe-a dormir para se acostumar com a morte que carrega, será mais fácil, o fogo, a terra lhe receberá como tem recebido a todos. Ah! Esqueça um pouco, porque além de tudo ela já está esquecida, o fruto morte faz eles esquecerem tudo, vá, saia, ande, busque um novo encontro, a vida é assim mesmo, a morte é para quem quer viver, como disse o poeta, não perca tempo, viva... é tudo pequeno e simples, vague, veja, perscrute, pegue, cheire, beba, guarde, desguarde, limpe os olhos, rapaz! Você está chorando: isso é melancolia, saudade, aí vira superstição, não, não, ajeite-se um pouco, só um pouco de alegria no rosto e deixe a sua semente lá dentro em paz, vá ser feliz enquanto pode, não façamos dramas naquilo que não sabemos ao certo e o que sabemos é que é vida e morte — esse par-ímpar — que somos e nos festeja dentro de nós. Sempre, é regra, voltamos para a natureza de onde viemos, somos atributo dela e isto é recompor a produção e extensão de ser: Natureza/Deus, sejamos cordatos, outros precisam nascer com a mesma semente e o tempo não para.
Faz assim, vai até o corpo dela e poete e diz assim, como Eugénio de Andrade:

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

‘’’’’
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração


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Paulo Vasconcelos

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O triturador da cor e sabor do Texto

Potyguara Alencar
Por Revista Brasileiros original Paulo Vasconcelos

Servi de cavalo para o Espirito do Pai. e levantei da  pausa mortuária o ascensorista do Grand Hotel......

Gosto muito dos que sabem fazer mexer as tripas da  palavra, deixa-lá meio muda so com espanto e assim envergar o texto, fazer nesga com ele, imposturas com o verbo, desalinhar o encravado oculto, meter pasto no árido. Assim é O Conto modal”,  Potyguar Alencar,11Editora, Sp, 2015, ele  faz maquinações ambivalentes no texto, para suportar o pensamento, qu e, para dizer e não apenas assoletrar, oferece um indizível poético, permitindo demandas ao sentido de quem ler e crer. O cearense de Itapajé, acandangou-se em Brasília, Santa Maria, Distrito Federal, onde faz seu doutoramento em Antropologia.

Potyguara Alencar  caçou, experimentou a cultura e sua expressões na palavra e seu   discurso em que ler as cartas da razão desarrazoada dos povos e dai ser um estreante  bom  contista; coisas que o biografizam assim em par.

Com a Antropologia e sua mochila literária–  olhou, pesquisou territórios tradicionais pesqueiros e indígenas à movimentos sociais urbanos cairotas no Egito. É depois dessa organização de matérias etnografáveis que ele se chega ao encontro de uma “estética modal”-combinatória de unidades vivas de mundos, de suas significações e do atrevimento ficcional que afeite tudo isso em contos-poéticos e mesclagem de crônica .

...onde se nasça, que se nasça numa Apertada Hora.a hedra não tem resguardos,suores em salas de dar a luz e, embora, seja hedra, coisa hedra, que é um verde de alimentar calango rabudo, nao posso ficar distante do lajeiro que se apinha dela, do seu tema morfizante.hedra, coisa mesminha...(Hedra -Alencar,2015)

Poty, se  me permite, é um louco de juízo que ao descontruir sentidos e quebrando
 gêneros literários formula, quem sabe  uma poesia desconcertante :
E esse monte de pouca imagem do descontraído, de água e de pouca existência, dormida de corpo onde não se pode esperançar.(Alencar.2015)

E continua a quebra tudo, ponto ,parágrafo e todas as regras que surjam inconvenientes para a soltura do pensar e rabiscar e assim para mais fazer,  lá vai ele:
 Um doméstico
Não espere desde ontem, crie alguém. assim, convencido, qualquer um que se crie em casa será um de você com dentes militados. faça um apresamento de noite, trazendo alguém para a área coberta do quintal, e que possa surrá-lo até a incompreensão desse submetido,crie uma gente pessoa, um que seja um outro.esse ali.... .(Alencar.2015)
Não há mais o que falar dele, senão tomá-lo de vários goles e imergir sobre a sua  escrita de raio, alagaroba, cerca, ventania, olhos e precipitações de novos raios de um texto novo, absurdamente anelante de tapeçaria fina.





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