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terça-feira, 18 de setembro de 2018

Por que Voto em HADDAD . Captura do face







Luiz Eduardo Soares por https://bit.ly/2xsma4Q


A matéria abaixo me chega via Caio Clímaco (Facebook), um jovem sério, pesquisador que produz um trabalho jornalístico de alta conta. Ele é bacharel em Ciências do Estado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrando em Ciências para o Desenvolvimento Estratégico pela Universidad Bolivariana da Venezuela. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Classes Sociais e Grupos de Interesse. Sua atuação   nas mídias digitais conjuga um jornalismo sério e responsável.
Luiz Eduardo Soares , por sua vez, carioca, cientista político, antropólogo, professor universitário, pesquisador na área da violência , romancista, mostra no texto abaixo detalhes de uma geografia politica a que estamos submetidos. Sua narrativa é clara e toma focos importantes entre os candidatos ora postos para a presidência da república.Suas argumentações são densas em seus  argumentos seguros e, ainda mais, sustentados por sua experiência enquanto teórico e agente político em governos.


POR QUE VOTO EM HADDAD
Luiz Eduardo Soares*
As eleições de 2018 são dramaticamente decisivas para o país.
Ciro Gomes é um dos políticos mais inteligentes e preparados de nossa história republicana e propõe ao país uma transformação importante, dispondo-se a enfrentar os interesses do capital financeiro com o propósito de retomar o desenvolvimento e reduzir as desigualdades, tendo em vista sempre a defesa da soberania nacional, profundamente ameaçada pelo atual governo ilegítimo. Considero sua aliança com Katia Abreu -candidata a vice- compreensível, no esforço de evitar o isolamento, mas não subestimo os riscos aí envolvidos, uma vez que, mesmo tendo sido contrária à farsa do impeachment, ela tem um histórico extremamente negativo, no que diz respeito ao meio ambiente, à preservação das terras indígenas e à luta contra o trabalho escravo.
Todavia, há uma dificuldade mais relevante: Ciro é um homem na ventania. Quero dizer o seguinte: o candidato atua e se situa no mapa político como indivíduo, isto é, como um agente desprovido de vínculos orgânicos com organizações democráticas da sociedade civil e movimentos sociais. Seu partido, embora proveniente de uma origem respeitável, há muito tempo afastou-se da identidade que Brizola tentou construir. Por isso, Ciro transita entre zonas distintas do espectro político conforme cálculos táticos, apoiados em seu projeto pessoal, que por mais generoso que seja é, antes de tudo, seu próprio projeto. E, como sabemos, as conjunturas, sobretudo nesse período de constante instabilidade, são centrípetas e agonísticas. A taxa de imprevisibilidade da candidatura do PDT é elevada. Quando os críticos lhe cobram pelo temperamento explosivo erram o alvo. O que é explosivo, incerto e errático é seu destino político, porque condenado a ser moldado por decisões individuais, sob os constrangimentos das diferentes conjunturas. Sim, trata-se de um grande homem, mas é um indivíduo. E o que há lá fora é ventania.
Por fim, Haddad. Vamos lá.
O PT vinha perdendo seus laços com os movimentos sociais porque, a despeito das enormes conquistas dos governos Lula, os melhores de nossa história, não estava sendo capaz de realizar sua autocrítica, publicamente, extraindo daí todas as consequências. Entretanto, o Partido dos Trabalhadores e os movimentos sociais se reencontraram. Velhos militantes decepcionados, como eu mesmo, voltaram à trincheira comum. A aprovação do partido, que caíra vertiginosamente, retornou à marca de 24%. Críticos contumazes, como eu mesmo, cerraram fileiras com os antigos companheiros. Desafetos resolveram colocar a gravidade da situação política acima de desentendimentos, por mais significativos que fossem. Por que? Eis a resposta -há aqui muito de testemunho pessoal. Creio que o processo de afastamento foi revertido pela brutalidade com que as elites passaram a agredir o partido, chegando ao ponto de negar as conquistas alcançadas, tentando apagar da memória coletiva o fato de que Lula concluiu o segundo mandato com 85% de aprovação popular e se recusou a sequer considerar a hipótese de aceitar a mudança das leis para buscar um terceiro mandato, que lhe cairia nas mãos por gravidade, mesmo sem campanha. Apesar da grande mídia insinuar que o presidente terminaria por copiar os passos de Chaves, ele fez o contrário, dando a maior demonstração possível -não consigo imaginar outra que fosse comparável- de que, acima de tudo, respeita o Estado democrático de direito, o qual, paradoxalmente, não o respeitou, desrespeitando-se a si mesmo, negando sua própria natureza, mergulhando o país no arbítrio de violações sucessivas.
Por uma questão de honestidade intelectual, importa assinalar que o presidente FHC não resistiu ao canto da sereia, ele que, com seu partido, condena o “bolivarianismo”. Mas é claro que a compra de votos para que se viabilizasse a reeleição e a mudança das regras de jogo, enquanto o jogo era jogado, não feriram a sensibilidade moral da mídia conservadora, a qual não apenas calou-se, cúmplice, como apoiou a candidatura do PSDB à reeleição, cancelando, com o despudor que lhe é próprio, os debates entre os candidatos, nos quais FHC teria de responder por seus malfeitos na economia, na política, na ética.
A campanha pelo impeachment foi tão cínica, venal e repulsiva, que infiltrou e disseminou na opinião pública o veneno do antipetismo, o grande mal que nos assola e divide. Desde aquele momento, impunha-se, para qualquer democrata, resistir com o antídoto: o anti-antipetismo. Era preciso e urgente denunciar o perigo escandaloso das generalizações, não apenas aquelas que estendiam para o conjunto dos membros do partido qualquer acusação que atingisse algum de seus membros, como aquelas que comprometiam todas as conquistas históricas do partido e de seus governos ao conectá-las a erros econômicos específicos e recentes. E ainda aquelas generalizações que conectavam crise econômica a corrupção. O antipetismo escapou ao controle dos comunicadores que o gestaram, vestiu o uniforme do fascismo e retirou dos armários em que se escondiam, envergonhados, o racismo, a sede de vingança, os cavaleiros da barbárie.
O processo grotesco foi sendo conduzido por vazamentos seletivos, estrategicamente distribuídos. E por decisões evidentemente artificiais. Direitos foram violados sob o silêncio de uns e os aplausos da mídia conservadora. O que era importante e necessário combate à corrupção, converteu-se em método de desconstituição política, ideologicamente orientado. A Justiça degradou o direito e a 

Constituição corrompeu-se na exceção.
Para quê incendiaram o país e o contaminaram com esse ingrediente patológico, o ódio feroz ao PT, transfigurado em signo do mal? Para levar ao poder, em nome da luta contra a corrupção, os que mais fundo enterraram seus pés no pântano. Mas é claro que havia uma razão superior para que se perpetrasse tamanha traição ao que um dia chamaram pátria. Era preciso aproveitar a oportunidade para impor guela abaixo do povo brasileiro, que jamais o aceitaria pelo voto, uma agenda neoliberal extremada, liquidando direitos sociais e o patrimônio nacional, inclusive ambiental. Eis, enfim, o propósito do golpe. Havia duas metas a cumprir para garantir a continuação da política ruinosa em curso: (1) excluir Lula das eleições, a qualquer preço; (2) difundir a versão mais primária da ideologia liberal nas camadas médias. Segundo essa concepção tosca haveria uma oposição entre Estado e Sociedade. No âmbito dessa visão de mundo primitiva, o Estado atuaria como predador, a serviço dos interesses de seus operadores (governantes, legisladores e funcionários): os sangue-sugas sorveriam a energia e os frutos do trabalho da sociedade, a qual seria um saco de batatas, um aglomerado de indivíduos -como gostava de dizer Margareth Tatcher. 

Conclusão: para salvar o Brasil, seria necessário reduzir o Estado ao mínimo e liberar o mercado, porque a sociedade entregue a si mesmo, livre das garras do Estado e de seus impostos escorchantes (que só serviriam para alimentar políticos e funcionários), se desenvolveria a pleno vapor, harmoniosa e feliz. Como vêem, não há mitologia mais adequada para justificar o darwinismo social. A pobreza e as desigualdades seriam expressões da distribuição desigual do mérito. É nesse ponto que a corrupção torna-se central: o sangue drenado do corpo social alimenta o vampiro imoral, o mal supremo, a mãe de todos os males: a corrupção. Desse modo, uma ideologia política, travestida de descrição objetiva e neutra da “realidade”, ganha a alma que falta ao discurso economicista e suscita o ódio que a radica nas redes intersubjetivas que formam opiniões coletivas.
Nesse sentido, a corrupção é a linguagem que engata percepções, valores e afetos, no âmbito da ideologia neoliberal. Corrupção, enquanto tema midiaticamente associado ao impeachment de natureza golpista, é antes de tudo o veículo da ideologia anti-Estado, anti-Política, é a dramaturgia do ódio, a conclamação ao linchamento, a exaltação da vingança, o combustível do punitivismo e a dupla negação: por um lado, da sociedade como conjunto de contradições, constelação de classes sociais em conflito; por outro lado, do Estado, como espaço de luta por hegemonia.
Em síntese, eis aí o resultado: Lula preso e excluído da disputa eleitoral, que ele venceria no primeiro turno; o neoliberalismo disseminando-se como o outro lado da moeda da corrupção; a recusa à Política como apanágio da moralidade popular. Enquanto isso, o país segue sendo entregue aos interesses internacionais e a grande massa da população volta a mergulhar na miséria, ouvindo dia e noite a cantilena anti-Política. Para varrer o PT do mapa, para vetar Lula, foi preciso tentar ferir de morte a política, como atividade humana imprescindível na democracia, e a própria República. O lugar do público foi tragado pelo vórtice do mercado. O coletivo reduzido ao ajuntamento de indivíduos. As desigualdades acabaram justificadas pelo mérito.
Sabem qual é o nome disso, desse fenômeno monstruoso? Bolsonaro.
Nesse contexto, se vejo assim o país, como eu poderia não apoiar Haddad? Claro que, além disso, além do que julgo ser meu dever --confrontar sem medo o anti-petismo, resistir à tentação de capitular (por exemplo, aceitando que uma vitória do PT produziria muito desgosto nas hostes opostas e geraria uma atmosfera excessivamente tensa no país)--, além de tudo isso, há o candidato, Fernando Haddad, um dos políticos jovens mais talentosos, preparados e inteligentes de sua geração. Estão mais do que claros seus compromissos com a democracia (e a urgentíssima democratização da mídia), a soberania nacional e os direitos humanos, com a luta contra o racismo, as desigualdades, e com a defesa do meio ambiente, das sociedades indígenas e das minorias. Chega de violações aos direitos e de manipulação. Está em jogo o futuro do país.

*Luiz Eduardo Soares é antropólogo, cientista político, pós-doutor em filosofia política e uma das maiores autoridades do Brasil em segurança. Ocupou os cargos de secretário nacional de Segurança Pública e o de coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro, entre outros. Luiz Eduardo é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Tem vários livros publicados, entre eles os best-sellers Cabeça de Porco, com MV Bill e Celso Athayde; e Elite da Tropa que tem como co-autores dois ex-membros do BOPE, André Batista e Rodrigo Pimentel. O filme Tropa de Elite (de José Padilha) e o livro Elite da Tropa nascem da mesma matéria prima, e dialogam entre si.
Na década de noventa, Luiz Eduardo publicou principalmente livros de ensaios e de interesse acadêmico; além do romance O experimento de Avelar, em que narra o encontro entre um professor, angustiado com o deserto de utopias, e um ex-membro da policia da ditadura militar, acusado de ter participado do assassinato de um renomado intelectual. Em 2000, lançou Meu Casaco de General, em que revela sua experiência como coordenador de Segurança Pública do Rio. Corajoso, ele denunciou a chamada “banda podre” da polícia, fez propostas para moralizá-la e acabou demitido do cargo. Sofreu ameaças e buscou exílio nos Estados Unidos, onde escreveu o livro, trabalhou como pesquisador do Vera Institute of Justice (NY) e foi professor visitante de três universidades – Columbia, Pittsburgh e Virginia. 
Em seguida, Luiz Eduardo escreveu livros importantes sobre questões relacionadas com a violência, voltados para o público em geral. Entre esses, Cabeça de porco, resultado de uma pesquisa com jovens envolvidos no tráfico de drogas, e Elite da Tropa, em que aponta para a realidade através da ficção e mostra a violência do ponto de vista do policial. Um trecho do prefácio que assina diz: “Sonhamos com o dia em que poderemos celebrar a reconciliação entre a sociedade e as instituições policiais, entre os membros de cada comunidade e os policiais. (...) é preciso, no entanto, como ensinou Nelson Mandela, olhar nos olhos a verdade e reconhece-la, sem meias palavras e subterfúgios, sem hipocrisia e retórica política”. Veja abaixo a lista completa de livros de Luiz Eduardo Soares