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sábado, 27 de outubro de 2018

Presidenciável que defende a ditadura e elogia a tortura. Captura do Face Luciana Hidalgo

Luciana Hidalgo

4 h
Vivemos num país onde quase 50 milhões de pessoas foram às urnas votar num presidenciável que defende a ditadura e elogia a tortura. Um golpe militar nem é mais necessário. Os quatro Poderes da República fizeram tão bem seu trabalho sujo nos últimos anos que a direita se esfarelou, e o que resta é uma extrema-direita que anseia pelo fascismo. Seja qual for o resultado do segundo turno, sabemos desde já que falhamos como nação naquela coisinha básica que se convém chamar: civilização. 
Quem votou no presidenciável que tem um vice general do Exército, votou num projeto claro: elogio à violência e ao justiçamento (“bandido bom é bandido morto” etc.); desejo de retorno ao regime ditatorial dos anos 1960/70 com Exército nas ruas, tortura e assassinato dos opositores do governo; desprezo por mulheres, gays, negros; aniquilamento total da inteligência, da cultura, da literatura, da arte (os ataques à Lei Rouanet, à área de Humanas, às universidades públicas e aos intelectuais como um todo nos últimos anos demonstram em que nível baixíssimo de conhecimento tais seres rastejam). Todos esses eleitores estão aptos ao fascismo, portanto não os subestimemos. São pessoas que, ao optar pela barbárie, negam a civilização. Isso já aconteceu antes. 
O nazismo na Alemanha só cresceu e durou porque grande parte da sociedade alemã fingiu que não viu e outra grande parte no fundo o desejou. A ditadura no Brasil dos anos 1960/70 só cresceu e durou porque grande parte da sociedade brasileira fingiu que não viu e outra grande parte no fundo a desejou. Nascida no Brasil um ano depois do golpe de 1964, demorei décadas para ver exatamente quem apoiava aquela barbárie e quem a recusava. 
Hoje essa percepção é cristalina. Basta olhar para o lado e ver quem votou ontem no presidenciável pró-ditadura. São as mesmas pessoas. Triste notar que muitas pertencem a classes abastadas, agora multiplicadas em filhos e netos que estudaram nos melhores colégios, mas não leem livros, não têm a menor consciência político-social e, sobretudo, não pensam além da sua própria classe social, o que equivale a: não pensar, não duvidar do que lhe caiu nas mãos de bandeja, não sair da casinha. Ironicamente falhamos como nação, não na Educação pública, mas na Educação particular. E se digo isso é porque eu mesma estudei nos melhores colégios e lá aprendi pouco, muito pouco do mundo fora da casinha. Infelizmente vivi para ouvir amigos de infância, adolescência e de faculdade, ou mesmo parentes, dizerem que eram felizes durante a ditadura civil-militar no Brasil. Por isso a querem de volta. Ouvir isso de pessoas que eu considerava humanas foi um golpe duro que me obrigou a exclui-las do convívio. 
Mas concluo que foi exatamente a censura total e o silêncio corrosivo da ditadura civil-militar dos anos 1960/70 que inibiu o saber-poder político da minha geração e das que vieram depois, atrasando-nos todos no processo civilizatório, na conscientização de ideias básicas como: o que é liberdade, o que é igualdade social, o que é direito humano – ou, simplesmente, o que é humano. Muitos eleitores do presidenciável de ideias fascistas mantêm uma ideia nostálgica de “paraíso”. E isso porque viveram num paraíso artificial que o regime militar soube montar muito bem à custa da prisão e do assassinato de todos os que não obedeciam ao Estado totalitário. 
Por outro lado, os obedientes, os “neutros” que obedeceram cegamente ao regime enriqueceram justamente graças ao “milagre econômico” fabricado para manter a população sob controle. Eis a origem do “paraíso”. Pena que esse dinheiro não foi investido numa Educação tipo europeia, em leituras de clássicos da literatura, em livros de História ou filosofia (um exemplo: nenhum dos meus amigos e parentes nostálgicos da ditadura leram sequer um livro inteiro sobre a ditadura). Não estaríamos nesse retrocesso se nossas elites, ao tirarem uma foto com a Mona Lisa no Louvre, tivessem sido obrigadas a sentar e ouvir aulas do governo francês sobre o que é igualdade social, o que são direitos humanos, e principalmente qual a diferença entre direita e extrema-direita. Sei exatamente por que chegamos até aqui, quem contribuiu, quem fechou os olhos. Daí o apelo: não fechemos mais os olhos. Não dá mais para fingir que não vê o fascismo batendo à sua porta nem dá para ser neutro diante da barbárie. Não vote em branco, não vote nulo, não vote no fascismo. No segundo turno, é EleNão. Não percamos de vez a dimensão do humano porque, como ensina a História, quando isso se perde, a grande cratera do fascismo se abre e engole até o último traço da nossa humanidade.