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quinta-feira, 4 de maio de 2017

O mundo de agora ...Crônica de Maria Lucia Dahl

Maria Lucia Dahl-atriz cronista

O que aconteceu com o mundo? Será que ele sempre foi assim, e de repente resolveu, finalmente, se revelar como realmente era, um território inteiro governado por mentiras de todos os tipos com o intuito de esconder seu único ideal verdadeiro, seguido por todos os políticos de qualquer partido, que agora foi, finalmente declarado oficialmente e que se chama dinheiro?
Quem é que hoje torce por algum político, se impressiona com o seu carisma? Quem tem carisma verdadeiro que nos contamine com um mínimo de verdade transposta pelo seu ser?
Não consigo mais achar graça no mundo, fora a natureza. Onde é que podemos conversar sobre partidos, objetivos, mudanças? Nunca vivi um período tão sem graça e perigoso como o de agora.
Quando saio com os amigos, as vezes que rimos e até gargalhamos é sempre sobre um acontecimento de um passado longínquo onde ainda havia esperança, se acreditava no próximo e se tinha humor.
Essas pessoas já se foram e até saíram da vida antes de chegar à hora, como o Belchior, por exemplo, que se exilou, ninguém sabe por que nem aonde, fugindo de seus milhares de admiradores, de seus amigos, de sua família.
Não foi por dinheiro que andava devendo, pois seu amigo que o produzia de vez em quando me disse que se ele fizesse dois shows agora, daria pra pagar tudo o que ele devia. Mas ele fugiu do mundo e segundo esse produtor amigo,para não ser visto, chegava até a se esconder atrás de um poste.
Não o via ha muitos e muitos anos, mas lembro de como ele se envolvia com as pessoas, com suas histórias incríveis contadas pros meus amigos, em geral, no Restaurante Pronto, no Leblon.
Uma vez fui com ele dirigindo o meu carro para leva-lo a um show no centro da cidade, quando um casal, naquelas redondezas, nos pediu carona sem saber com quem estavam falando.
Parei o carro, levei-os conosco e quando chegou perto do teatro o rapaz nos disse: "Vocês não vão conseguir entrar nunca! Quem sabe talvez ficando umas trê
Olhei pra cara do Belchior e rimos muito do casal que não tinha noção de que estava chegando
de carona com o artista.
O primeiro show que vi dele foi no Teatro Tereza Raquel, nos anos 70. Fui com a minha amiga e atriz Beth Erthal que me disse que aquele show era imperdível e que aquele cantor e compositor era das pessoas mais interessantes, inteligentes e carismáticas que ela havia visto.
Nunca mais perdi os seus shows e me emocionei com o da Ellis Regina sobre ele, que quando cantava as suas músicas , fazia o teatro inteiro se levantar, gritando de emoção.
Uma coincidência impressionante que aconteceu comigo foi me chamarem pra ver uma foto que puseram dele, por acaso, na esquina da minha rua, escrito embaixo: "Volta, Belchior!" e que eu participei do grupo que desenhava a foto sem saber que naquela hora do dia seguinte ele estaria morrendo.
Deixo então pra ele um pensamento de Emily Dickinsson :
"Este mundo é inconcluso
Alem da continuação.
Invisível como a música.
Evidente como o som.


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