REDES

Mostrando postagens com marcador PORQUE ESTUDAR BAUDRILLARD ? Paulo A C Vasconcelos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador PORQUE ESTUDAR BAUDRILLARD ? Paulo A C Vasconcelos. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

POR QUE ESTUDAR BAUDRILLARD ? Paulo A C Vasconcelos

JEAN BAUDRILLARD por wikipedia

Jean Baudrillard: Do Texto ao Pretexto eBook Kindle

Jean Baudrillard: Do Texto ao Pretexto por [Paulo Vasconcelos]

Baudrillard se constitui para algum de nos intelectuais do Brasil, um caso a parte – pensamento diferenciado- pensamento complexo do intelectual preocupado com uma contemporaneidade e, com a crise do paradigma do valor- sua preocupação mais genérica-.Valor aqui entendido em todos seus sentidos.

O meio acadêmico se depara com Baudrillard a partir dos anos 70 e mais intensamente nos anos 80, até porque é a partir de sua obra Sistema dos objetos(1968) – que nos aparece suas reflexões. Seu pensamento sociológico -apresenta um novo desenho epistemológico, dentro da ótica de analisar o social ,pelas filigranas da tessitura do consumo.

Partindo das influencias da Escola de Frankfurt, ele depura seu pensamento na macro estrutura marxista da economia política, todavia indo mais além com Mauss Weblen, Battaille.Seu discurso faz arte de um bloco novo dos anos 6o em que se conjuga o marxismo e a teoria psicanalítica- como foi o caso de Marcuse.

A sua sociologia dialoga assim com outras ciências para melhor entender o sujeito e seu social- na trama que ele coloca o consumo- universo amplo que também ultrapassa a visão apenas econômica , mas se estende numa bipolaridade tônica do real/ imaginário.

A teia em que o sistema produz e manipula os objetos – portanto passam por óticas – da sociologia- antropologia- economia – à psicanálise- esta entendida lacanianamente- sobretudo- o que permite seu exacerbar no uso da lingüística.
Em que pese caminhar de modo bipolar quanto a psicanálise no sentido de tentar desautorizá-la quando a uma série de categorias suas- como principio do prazer, principio da realidade, etc.. Baudrillard é dual ,contraditório, pois se há uma recusa sua recusa , e com isso uma derrubada da mesma, face seu pensamento, isso parece dar-lhe o direito de usufruir de algumas de suas categorias para outro fim, e assim se ajuntar para explicar o social. Aqui se finca seu estilo paratático/parafrásico, delineando seu estilo retórico provocador, as então linguagens intelectuais, sobretudo francesa.

Estudar Baudrillard é, portanto, se deparar com um pensamento novo, polêmico e por mais intricado que seja, desde seu estilo a sua forma de argumentação é interessante adentrarmos ao modo de pensar para observarmos como ele se coloca diante das implicadas querelas e contradições que no social residem. E que nos parece permitir a ele ser também controverso.

O que nos prendeu e prende em Baudrillard é um discurso,que permite pensar de modo interdisciplinar, por mais que isto implique em ruptura e reconstruções epistêmicas , e permita ver de modo amplo a nossa contemporaneidade, bem como, avançar ainda numa perspectiva marxista, sob um olhar novo, diante de um social diferenciado que emerge , e sacode a sociedade. Ao mesmo tempo um pensamento que tenta desestabilizar paradigmas postos , como alguns do marxismo, no uso do valor ligando-a semiologia e a psicanálise, no que concerne ao imaginário – real e o simbólico.

Ao mesmo tempo destaca-se no autor sua forma de envergar o consumo , não só numa perspectiva econômica, mas atrelada a uma visão – -digamos assim do imaginário social, em que o sujeito se enreda por uma trama que , sendo a que o suporta, entretanto , cerca o sujeito enredando-o numa trama mais ampla, em que a possibilidade de se desalienar desta trama, não passa por uma perspectiva do repensar-se isoladamente nem teoricamente apenas mas de retomar coletivamente, em todas a s nuances a ordem da vida e seus valor.

O que é mais interessante no autor, é como ele cerca o consumo, numa visão semiótica, em que os signos não apenas dizem os objetos mas colam- se ao sujeito formando uma segunda pele, o que sem isso não o faz se constituir como sujeito ativo da trama de identidade, mas que agora só se torna exeqüível no e pelo consumo.

Se a perspectiva do signo apreende esse sujeito na sua amplitude de representação , ele também esta retido na trama do seu imaginário num domínio, profundamente denso, em que a sua consciência se esfacela, na sedução das peripécias imaginarias que ao se tornar público , público- comunicável, na e pela linguagem, ou, ao se tornar visível , concomitantemente faz opaco o sujeito e credibilizando a linguagem, faz uma espécie de invisibilidade de si e manipulável na sombra e trama das mesmas visibilidades. Se estas dizem, dizem anonimamente, e sorrateiramente escraviza, na e pela sedução do que foi acreditado.
O corpo e a sexualidade em Baudrillard é um dos álibis, da sedução usadas pelas visibilidades do consumo, que ao atentar para o perceptível ,a fasta o deglutidor da imagem e , agora o sujeito é mais um tragado na visibilidade,.Agora sendo visível, é a anomia, um estereótipo. Na desculpa do ver –ser visível, de acreditar no visível, o sujeito perde sua identidade visível e torna-se uma mutação- numa freqüência repetidora do que não existe, senão estereotipadamente.
Baudrillard ao tomar a perspectiva do corpo e da sexualidade avança em sua obra, para o erótico , sedutor de nossa contemporaneidade , de modo a buscar , nas possíveis e supostas ações da psicanálise a contribuição para consumo exacerbado do erótico.Será?

O corpo, sempre foi cotejado pelas revoluções econômicas industriais ,e agora seria o mais belo objeto, para a sedução do projeto d e manipulação e sedução do sujeito, culminando com a tomada do sujeito pelo consumo, pela des-naturalização do mesmo e sua conseqüente derrocada de identidade.

A obra de Baudrillard , estréia então para nós brasileiros nas suas três grandes reflexões- sobre o objeto- o consumo- e a força do signo, o que na verdade corresponderiam respectivamente aos seus títulos- Sistema dos Objetos- Sociedade do Consumo- Por uma Crítica a Economia Política do Signo.
Estas obras já nos chamavam atenção por essa plêiade de tramas do consumo, e que ao mesmo tempo ele tenta re-argumentar trazendo de modo novo- a semiótica e a Psicanálise ao seu discurso, numa visão de envolvimento com corpo – e o erótico.
Por outro lado, ele não recusando o marxismo, busca uma nova contribuição partindo dos seus novos encaminhamentos reflexivos, e indo mais além em que, chama a psicanálise a semiologia- a falar - a contribuir sobre a exacerbação do consumo, face as estratégias da sexualidade e do imaginário sedutor expostas na visibilidade sígnica.

Para Baudrillard nesta primeira fase de sua obra falar do consumo é ter que falar dos discursos visíveis e neste aspecto não se furtaria a falar da publicidade.
Matéria sobre a qual soube Baudrillard investir com tanta força, de modo a trazer um perfil diferente, crítico sobre este tipo de comunicação, que com ele recebe um estudo crítico denso, e chega mesmo a fazer escola , de modo a que, quem depois de Sistema dos objetos , envereda pelo campo crítico da Publicidade E propaganda inegavelmente deixará de cita-lo, pois sua obra tangiversa a ação da publicidade, refletindo sobre sua ação combinada a outras ações sociais do consumo, ou entre outras pelo desataque que o autor concede para o esplendor social dos objetos industriais , e do poder de sedução das imagens e sua lógica combinada para o consumo e status

A combinatória de suas reflexões em o Sistema dos Objetos e A sociedade do Consumo, permitiu ao grande publico divisar com um autor que na sua densidade de pensar - ou numa reflexão macrocósmica do consumo adentrou para a mídia, a publicidade, e o lazer. A partir de então o autor é incluído no hall daqueles que discutem a mídia, o que a meu ver é estreitar a proposta baudrillardiana. A mídia e a publicidade , são fatos concorrentes para um fenômeno maior do seu pensamento que é a ordem do valor e o sujeito social.


Em que pese tais equívocos o que Baudrillard quer nos chamar atenção é da variantes formas de circulação do valor, e os meios pelos quais esses adentram, e em que medida a mídia não produz sua contribuição á ordem do valor humano, e em assim sendo , rediz valores que não são de outra ordem ,mas que para mais valorar o objeto cria armadilhas ao sujeito de modo que o seduz, e o recobre para indefiní-lo no social.

A indefinição do valor na ordem sócia, em Baudrillard, é algo que se presentifica de ponto a ponto em sua obra, chamando a tenção para a banalização de um pacto humano, que ora , na contemporaneidade opera de forma adversa ao pacto humanista e que com isso ascendemos a fenômenos estranhos, ou na sua linguagem a “fenômenos extremos “ , como o da banalização e entropia do sentido.
Pensar Baudrillard é degustar sentidos e interpretações que ele cuida em resgatar em minúncias colhidas no social, e em que se recusa a acreditar ,pois para acreditar teria que abrir mão da existência aguda que pede coerência e indagação permanente, e como hermeneuta seria desaparecer.

Chegamos ao êxtase da descredibilidade, ou ai reside uma outra ordem indevassada que não temos como aspira-la senão entrando na plena inconsciência do ser perdido, sujeito desmantelado no social.?

Refletir com Baudrillard é perpassar a ordem do exato, para se imiscuir numa outra perspectiva em que ele enxerga um sujeito fragilizado e agonizante.

Desde sua obra - As trocas simbólicas e a morte – 19....;- até a sua obra mais estruturada como corpus de indagação, e refiro-me a Transparência do mal –19.....= o autor explode em gritos para pedir uma definição deste homem contemporâneo, que na visão dele também grita nesta parafernália de proposições e verdades em que ele diz não encontrar coerência.
Por outro lado buscar uma compreensão da obra deste autor é produzir um
mergulho vasto de sua obra sem deixar de contemplar a sua poiesis nos escritos
tidos como não acadêmicos- em que pese o mesmo afirmar que não escreve para a academia- refiro-me aqui as suas obras – COLL MEMORIES I , II E III, ou mesmo seus artigos para o jornal Liberation nos anos-
Pensamos que sua obra poética- no conjunto de suas memórias tem o mesmo viço inquietante sobre a valorização da a condição humana, em que ele traz para um cotidiano mais chão suas indagações existenciais.
Este poeta às vezes se aparenta a poetas do absurdo, mas no que pese assim sê-lo, ele na verdade torna absurdo aquilo que lhe toca pela forma estranha, difícil de ser digerida, enfim, também absurda. Todavia há um Baudrillard claro, manso, no sentido da estética, na conjugação das formas literárias, imprevisível no aproveitamento da literatura , re-significador constante. Denso na verticalização das palavras e da meta estabelecida a poetar.

Baudrillard ascende a um discurso novo que, na verdade, já se prenunciava em suas instâncias teóricas em: A Transparência do Mal, As Estratégias Fatais, Da Sedução e mesmo em América, no entanto chega a tornar-se fatal em suas Coll Memories.

Em Coll Memories I(1992a), Baudrillard nos sacode não só nas entrelinhas mas numa nova figuração poética de seus contrapontos. Suas imagens chegam a uma figuração plástica imaginária como a de um escultor ou performático. Ele chega a ser metalingüístico ao se posicionar sobre a formalidade da obrigação da escritura teórica:

"... nada pior do que esta obrigação da pesquisa, da referencia e da documentação que se instalou no campo do pensamento, e que é o equivalente mental e obsessional da higiene ..." (Baudrillard:1992 a: 99)

Como literatura poética, a densidade da sua afirmativa não carece de contextos argumentativos, aliás fato comum em sua própria produção teórica . Na poesia não poderia deixar de ser mais ainda. A síntese do seu estilo, quer teórica ou poeticamente, faz vibrar um modo diferente de dizer. Sua busca sintética é como uma réplica da desmedida crítica midiática, ou como ele mesmo diz:

"A verdadeira alegria da escrita está na possibilidade de sacrificar um capítulo inteiro por uma única frase , uma frase inteira por uma única palavra; de tudo sacrificar por um efeito artificial ou uma aceleração do vazio." (Baudrillard:1992a: 30)

O poeta Baudrillard é brillhante na sua poiesis tecida na escritura dura, mas simultaneamente doce e densa. Sendo acasalado ao sensível é feitor também do mesmo e consegue poeticamente apontar nos outros, outros teóricos, este mesmo sensível quando assim os flagra. Se discorda deles na sua tessitura teórica, os critica, no entanto não lhes nega a poética ali desnuda. Ao poetar sobre os outros teóricos os enlaça pela estética fazendo alastrar sua sensibilidade e reconhecer as alter-poiesis. Deste modo diz de outros teóricos bramindo poeticamente:

SOBRE ADORNO E BENJAMIM

“-...há uma nostalgia da dialética, em Bejamim e Adorno por exemplo. A dialética mais sutil sempre acaba na nostalgia. Por outro lado, e mais profundamente (em Bejamim e Adorno mesmo_ , existe uma melancolia do sistema incurável e invulnerável à dialética. Ela é que hoje vem à tona por entre as formas ironicamente transparentes...”

SOBRE LACAN

“Lacan tem razão: a linguagem não indica o sentido; ela está no lugar do sentido. Mas o que daí resulta não são efeitos de estrutura, são efeitos da sedução. Não há uma lei que regula o jogo dos significantes, mas uma regra que ordena o jogo das aparências. Mas talvez tudo isso queira dizer a mesma coisa..."

SOBRE BATAILLE, ARTAUD E KLOSSOWSKI

"... há heresias mais paradoxais. A soberania( Bataille ), a crueldade (Artaud), o simulacro ( Klossowski). A sedução.”

SOBRE HEIDDEGGER

"...Se olharmos bem a essência ambígua da técnica, perceberemos a constelação, o movimento estelar do secreto...( heidegger)"

SOBRE FOUCAULT, BARTHES E SARTRE

"... Morte de Foucault. Perda da confiança em seu próprio gênio. Ser uma referência absoluta é o perigo da vida... Sartre ainda morre pomposamente. Barthes e Foucault desapareceram discretamente, prematuramente. A era dos grandes literatos e retóricos que suportavam alegremente a glória acabou...”

SOBRE BORGES

"...Borges e sua face cega de mulher asteca, de velho gatuno da metáfora, diante da qual passam sem comovê-lo, sobre seus olhos abertos, os clarões de magnésio. Os cegos parecem manter a cabeça fora d’água. Mas são dotados para a irrealidade e para a astúcia... Ponha um tigre dentro de sua biblioteca e retire-lhe a visão: é Borges...”

Baudrillard chega a um requinte poético ao tentar se dizer e o faz com o mesmo preciosismo com que sabe re-significar a palavra ou fazer uso astuciosamente, borgianamente, da metáfora, instrumento que ele não divisa poeticamente como simulacro, mas usando-a com o rigor do bom gourmet literário francês:

"...brinquei com a paixão, brinquei com a ternura, brinquei com a ruptura, brinquei com a tristeza. Fiz o máximo na expressão da tristeza, como antes fizera o máximo na aparência da sedução. Às vezes me parece que nada fiz senão dar a aparência das idéias. Mas é de fato a única saída que nos cabe num mundo especulativo sem saída: produzir os signos mais satisfatórios de uma idéia...." (Baudrillard:1992a:27)

Consegue assim, em sua poética, mais dizer e não pede coerência se toda ela é derrocada, se a verdade se relativiza, e aí temos o Baudrillard filósofo puro, nietzschiano, na credibilidade.

Assim pensando, não arredamos o pé de uma contemplação ao pensar baudrillardiano senão também pelo viés de sua poesia, e isto tem sido sua última sistemática literária e é com a poesia, mesmo com A Arte da Desaparição (1997 a), que esta obra é uma apologia a Warhol.

Mas, se então assim pensamos, por uma outra condição do nosso estudo, a metódica, poderemos pela poesia adentrar no universo amplo de seu pensamento.


Assim, pois, como poeta que é, e sobretudo por isso exclama, e não teme que sua retórica e ajustes teóricos se percam de entendimento, pois ele denuncia sua dor do mundo e das indagações:

“Não estou alienado.Sou definitivamente outro.Submisso na a lei do desejo mas ao artifício total da regra. Perdi todo o vestígio do desejo próprio.Só obedeço a algo desumano, que está inscrito não na interioridade mas nas únicas vicissitudes objetivas e arbitrárias do mundo......” o outro é o que me dá a possibilidade de não me reptir ao infinito.(T.do Mal 1990:185)

E assim como poeta, toma outra vez o texto para ser seu pretexto de inconformidade com a vida e até mesmo com o outro paradigma da psicanálise.