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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

RESISTIREMOS MAIS AINDA ....CORAGEM! NINGUÉM SOLTA A MÃO Capturas do Facebook L. Hidalgo




Desenho viralizou nas redes sociais após as eleições. — Foto: Thereza Nardelli/Arquivo pessoal POR G1




Faço minhas as palavras de Luciana Hidalgo.
A luta continua agora mais que nunca.!!
Não baixaremos a cabeça !!!!!!!!
"Mas que nunca é preciso Lutar e alegrar a cidade ...
E o povo cantando
Seu canto de paz
Seu canto de paz " ...
Vinicius de Moraes


Luciana Hidalgo

5 h
Quase 58 milhões de brasileiros votaram ontem num presidente que defende a ditadura, a tortura, e acha que bandido bom é bandido morto. Um homem que despreza mulheres, acha que gays têm de apanhar, que negros não servem “nem para procriar”, e que dá apenas duas opções para os opositores do seu governo: o aeroporto ou a cadeia. Embora essas ideias fascistas do novo presidente do Brasil tenham circulado em vídeos, sem sombra de dúvida sobre o que disse, quase 58 milhões de simpatizantes do fascismo o elegeram democraticamente. Entre esses brasileiros, todos os que conheço, não por acaso, são: maridos violentos, pais abusivos que bateram nos filhos a vida toda, pessoas autoritárias que nunca perderam a chance de contar uma piadinha racista ou depreciativa sobre pessoas mais pobres, mulheres e gays. 
Todos os simpatizantes do fascismo que conheço sempre foram “fascistas” em seus círculos familiares ou no trabalho. Fingem não ver a relação entre o que eles próprios são e o candidato fascista em quem votaram. Pior: fingem não saber o que é fascismo. Outros, poucos, são fracos, submissos aos seus “fascistas” favoritos. Por outro lado, mais de 47 milhões de brasileiros votaram num candidato que é professor, defensor dos direitos humanos e privilegia a educação, os livros, não as armas. É entre esses que circulo, frequento, vivo e viverei. Quanto aos outros, os simpatizantes do fascismo, os evitarei cada vez mais: não serei cliente de seus serviços, sejam profissionais de todas as áreas, não comprarei artigos em suas lojas. 
Nunca me esquecerei de que na crise econômica atual, com milhões de desempregados, empresas que demitiam funcionários alegando “corte de gastos” tinham R$ 12 milhões para investir numa campanha difamatória contra o candidato adversário no Whatsapp. R$ 12 milhões, cada uma! Que nós, não simpatizantes do fascismo, memorizemos bem seus nomes e marcas – sobretudo agora que eles saem do armário. Só agora percebo que foi no final de 2015, ao chegar ao Brasil após uma longa temporada em Paris, que o tamanho do problema brasileiro me chamou atenção. Um dia a amiga de um amigo me disse que o Brasil “era melhor durante a ditadura”. Pior: o amigo concordou. Outra amiga de amigo disse que não queria metrô chegando no Leblon para evitar aquela “negralhada do subúrbio” na praia dela. Uma madame no avião disse que não queria “pobre” na cadeira ao lado. Um parente disse abertamente numa reunião de família que nunca aceitaria um filho gay. Curioso: enquanto eu ouvia essas barbaridades, ao sair nas ruas, via casais gays se beijando em público, mulheres se unindo e se empoderando, negros lindos assumindo seus cabelos encaracolados em belos penteados, pessoas mais pobres se formando na universidade e tendo ótimos empregos. 
Cenas comuns, aliás, em cidades civilizadas como Paris. Entendi tudo. Começava ali um retrocesso total de costumes que tinha a política partidária, o antipetismo, como bandeira, mas escondia apenas um processo lamentável de conservadorismo, provincianismo, preconceito de classe social, da cor da pele, da orientação sexual, que culminaria na eleição de um presidente de ideias fascistas. Ele só ganhou essa eleição porque dizia publicamente tudo o que esses ex-amigos, parentes e várias pessoas nas ruas me diziam de forma privada. É pena. Vejo hoje que nunca admirei intelectualmente, eticamente, de forma alguma, aliás, nenhuma dessas pessoas. Muitas delas, diga-se de passagem, vociferavam contra a corrupção, mas, pelo que sei, sonegaram milhares e milhares de reais em impostos ao longo da vida. Dinheiro seu, dinheiro meu, dinheiro nosso. A essa altura é bom lembrar aos quase 58 milhões de simpatizantes do fascismo que os mais de 47 milhões de brasileiros que votaram no candidato intelectual e humanista não vão sumir do mapa do Brasil. É muita, muita gente. E a menos que o novo presidente saia matando mulheres, negros, gays, trans e opositores do seu governo, como, aliás, Hitler fez no século passado, os simpatizantes do fascismo no Brasil terão que continuar a ver negros nas universidades e na praia do Leblon, pobres no avião, gays se beijando em público, mulheres empoderadíssimas. 
A polarização nunca foi entre esquerda e direita, mas entre pessoas que rejeitam o fascismo e simpatizantes do fascismo. Dizem que vivemos em “bolhas” nas redes sociais, mas vou dizer uma coisa: essa nossa bolha de mais de 47 milhões de brasileiros que recusaram o fascismo nas urnas é bonita demais. E, claro, como vivemos numa democracia, darei um voto de confiança ao presidente eleito: que ele não pratique as ideias fascistas que vem disseminando há décadas, que seja um democrata realmente, não feche o Congresso caso este não aprove suas medidas, que não deixe seu filho fechar o Supremo Tribunal Federal com o apoio das Forças Armadas. 
O que posso dizer é que a partir de hoje voltarei a falar de literatura nesse espaço, cada vez mais, porque se esses quase 58 milhões de brasileiros tivessem lido livros, e os compreendido, não estaríamos nesse buraco. Desse pesadelo que foi o dia de ontem, guardarei apenas a lembrança mais bonita: leitores me escrevendo para dizer que levaram meus romances “O passeador” e “Rio-Paris-Rio” na hora de votar. Era parte de uma campanha linda promovida pelos mais de 47 milhões de não simpatizantes do fascismo que votaram ontem no poder do livro, não na estupidez da violência. 
Tenhamos ainda alguma fé, portanto, no poder da democracia, na coligação entre partidos a partir de 2019, para que o totalitarismo carniceiro anunciado não se concretize. Nossa luta agora, meus amores, habitantes dessa gigantesca bolha, é essa. Sejamos incansáveis na difusão da literatura, da leitura, já que o fascismo só cria raízes na ignorância mais profunda. Do meu lado, asseguro: só para isso valeu, vale e valerá escrever. Sempre. E viva o fino, elegante, inteligente e cultíssimo Fernando Haddad. Desde já: #Haddad2022.