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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Lendo o livro "Branco Vivo" Mais médicos por Aldo Ambrózio

Após uma leitura comovente do livro,tragando a narrativa passo a passo e me emocionar por diversas vezes,vejo um Brasil que ainda existe, como o da minha infância e com a humanidade a flor da pele.
A obra é um conjunto de crônicas que correm independente das fotos deslumbrantes e poemáticas de Araquém Alcântara.Mas cantam uníssonas num coro de exaltação ao viver
Corre a narrativa em paralelo com as ações dos Mais  Médicos.
Antonio Lino tem a sensibilidade de flagrar um Brasil miserável,mas salvo por incrível que pareça, pelo ato de humanidade e simplicidade do povo do interior do país.As mãos são juntas e de todos  os tipos,calosas ou não e se juntam às outras demais de  saber cientifico, mas não se dilaceram, ao contrário, se afagam: benzedeiras,parteiras, religiosos civis, anônimos com os  médicos do país de fora para sustentar a vida .Em meio a tragédia ou a festa alegre  o povo vive, ou transforma a vida.
Lino brinda o viver do homem e seus pares com a natureza : flora e fauna e os humanos numa ordem atávica.E tudo se completa na precariedade que é  a vida.
Flagro após isto o relato de Aldo Ambrózio que de outro modo-que não o meu, contempla a mesma obra.
Não tenho o que falar, pela proximidade com o Aldo, suas palavras bastam, leiam ! Paulo Vasconcelos





BRANCO VIVO-ANTONIO LINO -FOTOS ARAQUÉM ALCÂNTARA -ED.Elefante.



ALDO  AMBRÓZIO*

Perguntou Deleuze em (não deixa de ser histórico) 01 de maio de 1990 no artigo "Post-Scriptum sobre as sociedades de controle", artigo este que se tornou clássico para se retratar os tempos contemporâneos, animados pela governamentalidade neoliberal, se já se poderia "apreender esboços dessas formas por vir, capazes de combater as alegrias do marketing (DELEUZE, 1990, p 226). Essa pegunta ficou sem resposta ou obteve respostas fugidias, até o presente momento, tendo em vista a claudicância da possibilidade de se apresentar algo distinto da força totalitária das alegrias do marketing. 

Lendo o livro escrito por Antônio Lino e ornado pelas fotografias de Araquém Alcântara, nomeado "Branco Vivo", que traz, para o leitor, o frescor das formas de vida escutadas pelos operadores do programa mais médicos, fica aberto à percepção que estas formas de vida já existem espalhadas nos extremos e na parte forcluída do Brasil que não se duplica na imagem e semelhança do ordenamento segundo a forma vazia da frase que constrange a sua bandeira, qual seja, "ordem e progresso" que se duplica em jargões fascistas como "Brasil: ame-o ou deixe-o". 

O livro se abre em uma miríade de histórias paralelas que se mostram como sendo a força motriz dos agenciamentos que desejam constrangê-las ou destiná-las ao silêncio. Apesar de, aparentemente, o furor totalitário ter vencido uma batalha com o resultado das urnas, resta a pulsação destes outros brasis que não se encaixam nas propagandas dos serviços de turismo. O livro lembra a imagem de uma arraia, que no poema de Manuel de Barros nomeado "Agroval", com o início do período de secas, se fixa no redor dos brejos e se torna útero para um conjunto incerto de bichos e insetos. É como se um universo se constituísse, se destituísse e se reconstituísse segundo a pulsação das águas. 

Assim parece com as formas de vida nomeadas com elegância e precisão neste livro cirúrgico: os médicos retornaram para o seu país de origem devido ao furor totalitário do atual clima político brasileiro, não obstante, as formas de vida lá continuam e, espero, exijam, do aspirante a governante, a devida escuta e cuidado que outrora lhes foram dados! Às vezes, é com estes pequenos gestos que se produzem as grandes revoluções! Quem sabe?

*Psicanalista, Dr.em-Psicologia Clínica PUC-SP, autor de livro Empresariamento da Vida- Ed. Apris, com  diversos artigos publicados no Brasil e fora , prof.UFSCar- DCHE, Pós- doutorando em História Cultural, IFCH UNICAMP SP