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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Mário Cravo Jr. (1923-2018) Capturas do Facebook Florisvaldo Mattos



por https://bit.ly/1e5LwbJ




por :https://bit.ly/2P3Anxc 


Foto por youtube



Sempre conosco, Prof Florisvaldo Mattos ,UFBA , nos relembra a vida e obra de Mário Cravo Junior 1923/2018, símbolo das artes plásticas,da |Bahia ,do Brasil, e que fez eco no mundo ocidental; um personagem do movimento dos intelectuais baianos do século passado e que perpassa a vida se Salvador.Além das Artes Plásticas ele atuou na literatura-com sua poesia*.Sempre teve uma aproximação para com  a cultura popular em que plantou parte de sua obra. Vamos ao texto colhido no Facebook.
.Paulo Vasconcelos


Florisvaldo Mattos



No dia das exéquias e anunciada cremação do corpo do artista plástico Mário Cravo Jr. (1923-2018), às 16 horas, no Cemitério Jardim da Saudade, aproveito para, em sua memória, reproduzir texto constante de ensaio que escrevi sobre a Academia dos Rebeldes, que atuou na Bahia entre 1928 e 1933, na parte relativa às suas influências no movimento intitulado Caderno da Bahia, atuante entre 1948 e 1955, do qual o saudoso escultor e pintor foi membro e ativo líder.
Em preparo, o livro reunindo mais de uma dezena de ensaiso sobre literatura, artes e ciências humanas está previsto para lançamento ainda este ano, se Júpiter permitir. Aproveito também para ilustrar esta despretensiosa intervenção com três famosas esculturas de Cravo Jr. expostas em locais de Salvador.
1. NA ESTRADA DA LIBERTAÇÃO

Caderno da Bahia veio com uma novidade, a presença forte das artes plásticas, embora fosse predominante o cultivo das letras. Vale lembrar que, estranhamente, em nenhum dos movimentos anteriores (Samba, Arco & Flexa e Academia dos Rebeldes) havia participação clara das linguagens plásticas. A mais razoável explicação para tanto deve-se à predominância da arte acadêmica, presente em instituições de prestígio, como a Escola de Belas Artes, e representada por artistas do porte e conceito de Presciliano Silva, Alberto Valença e Mendonça Filho. As novas ideias germinaram fora desse circuito tradicionalista, a partir dos artistas plásticos Mário Cravo Jr. e Carlos Bastos, na volta de viagens e cursos realizados nos Estados Unidos, na França e no Rio de Janeiro, onde tomaram conhecimento da revolução estética. Além desses, o grupo se constituiu de outros artistas plásticos, entre os quais Jenner Augusto, Rubem Valentim, Lígia Sampaio e Mota e Silva, mantendo-se à distância o tapeceiro Genaro de Carvalho, embora da mesma geração e desígnio; dos ficcionistas Vasconcelos Maia, José Pedreira e Nelson de Araújo; dos poetas Wilson Rocha, Cláudio Tuiuti Tavares, Camilo de Jesus Lima e Jair Gramacho e dos jornalistas Heron de Alencar e Darwin Brandão, e intelectuais outros como Luís Henrique Dias Tavares, Adalmir da Cunha Miranda, Machado Neto e Pedro Moacir Maia, mas o movimento consagrado com o epíteto de “Caderno da Bahia” só adquire visibilidade a partir de 1948, com a primeira exposição baiana de arte moderna em que figuram artistas da geração. Abriu-se também para a fotografia e o cinema, para adquirir corpo com a publicação da revista que lhe daria nome, cujo primeiro número é deste mesmo ano, conseguindo somar seis edições, até encerrar-se em setembro de 1951. A ela assim se refere o escritor Vasconcelos Maia:

“O Caderno da Bahia começou sem muitas pretensões, mas, como se a nossa geração estivesse aguardando um veículo com que antes não contava, as adesões se precipitaram. Suas atividades ganharam fôlego. E logo relativo prestígio o cercou, não só aqui, como nos outros estados, onde se processava luta mais ou menos igual: a da afirmação dos talentos jovens na província eminentemente dominada pelo gosto acadêmico”.

É justamente no editorial inserido na edição de 17 de abril de 1950, no qual se percebem ressonâncias de ideias cultivadas pela Academia dos Rebeldes, agora hospedadas na atmosfera libertária do pós-guerra e das fortes aspirações de paz e igualdade social que se alastravam. O pensamento de esquerda responsável pela opção comunista de influentes rebeldes, açulado pela propaganda internacional de princípios marxistas difundidos a partir do sucesso da Revolução de 1917 e a instalação do comunismo na Rússia, a postura de rejeição a todas as formas de idealismo político, que desaguasse em regimes ditatoriais, e o claro propósito de abraçar tudo o que representasse fortalecimento do humanismo, eram visivelmente os esteios ideológicos em que repousava a disposição dos que editavam Caderno da Bahia.

O texto aponta como destino preferencial do grupo a “ampla e larga estrada da libertação, na qual marcha uma nova humanidade, na busca de um mundo de tranquilidade e de trabalho, de paz e de amor entre os povos”, reconhecendo este como seu roteiro, “a serviço da paz e da defesa e enriquecimento da cultura”, em contraposição ao outro, “o caminho sangrento e tortuoso do desespero, no qual as formas sociais historicamente decadentes, e mesmo superadas, tentam conservar seus privilégios de exploração e de injustiça”. Vasconcelos Maia diria, alguns decênios depois, que Caderno da Bahia era “um boletim literário e artístico, mas, como a situação política exigia, também político”. Ao definir as características do movimento, como a consciência do que buscavam, Maia alude ao essencial que lhe deu suporte: “Tínhamos tido e aprendido as lições da Semana de Arte Moderna de 22 e do movimento aqui liderado por Pinheiro Viegas”. Não havia por que negar, pois lá estava Walter da Silveira, da linha de frente da Academia dos Rebeldes, que se incorporara ao grupo de Caderno da Bahia. Era a projeção do que, entre os rebeldes, se constituiu em ponto de coesão para a atividade criadora. “A militância serviu de régua e compasso aos escritores que levantaram um projeto de modernidade – visceral e epidermicamente – afinado com a realidade de seu povo”, infere com percuciência o ensaísta Cid Seixas.

De hábitos presumivelmente herdados dos rebeldes, podem-se alinhar alguns, tais como um semelhante desejo de maior fruição da cidade, no dizer de Maia, “ideal para se viver - tranquila e pacata, sem assaltos” onde “pouca gente tinha automóvel e a grande maioria das pessoas andava de bonde”. Em timbre que repetia Jorge Amado, acentuava: “Os grandes vales, que foram utilizados como avenidas e se incorporaram ao processo de urbanização, eram hortas e pomares. O clima era agradabilíssimo, ameno”. O grupo vivenciou melhorias no setor de transportes urbanos, com as mudanças que se operaram no serviço de bondes elétricos, a partir da aquisição de unidades mais modernas – agora todos iguais e abertos, amarelos, com os números pretos, com capacidade cada para 50 passageiros, surgindo logo a seguir os bondes fechados de 46 passageiros sentados, que o povo apelidou de “Sossega Leão”, em alusão ao samba de sucesso do compositor baiano Assis Valente, “Camisa Listrada”.

A boemia também tinha seu lugar. Além de alguns espaços sobreviventes, como o Café das Meninas, os componentes de Caderno da Bahia se reuniam preferencialmente na Pastelaria Triunfo, misto de bar e mercearia, na Praça Municipal, mas, para dar um toque especial de fruição hedonista, criaram seu próprio espaço, o Bar Anjo Azul, um ambiente decorado em tons barrocos, que se tornaria um ícone local de sedução e sofisticações boêmias.

O ambiente recriava a atmosfera de doutrinas em moda na época, como o surrealismo e o existencialismo, refletindo-se na postura dos frequentadores. O interior imitava um bistrô parisiense, onde a música de preferência era o Jazz, na voz langorosa de Billie Holiday. Bebia-se pernod ou xixi-de-anjo, este uma especialidade da casa, à base de aguardente, de fórmula secreta, guardada a sete chaves.

Tal como os rebeldes, a frequência aos bordéis e cassinos figurava naturalmente na agenda do grupo. Relembra Vasconcelos Maia: “Íamos muito em grupo aos cabarés. Não tanto ao Tabaris, porque não tínhamos grana. Íamos mais aos rumbas, aos boleros. Apesar de moços, éramos muito conhecidos, Quando chegávamos nesses dancings, dominávamos o ambiente. Os donos e as dançarinas nos tratavam otimamente, era formidável. Jenner Augusto se arvorava a cantor, Mário Cravo a mágico, nosso amigo Jairo Saback fazia um número de música, ficávamos donos dos salões”. (Florisvaldo Mattos)


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*Adendo meu- face sua poesia:

Colhido em https://bit.ly/2Oodgfi
Facebook Umbanda Sagrada
POEMA DE EXU
Poema de Mario Cravo Jr. dedicado a Jorge Amado

POEMA DE EXU
Poema de Mario Cravo Jr. dedicado a Jorge Amado
Não sou preto, branco ou vermelho;
Tenho as cores e formas que quiser.
Não sou diabo nem santo, sou Exu!
Mando e desmando, traço e risco, faço e desfaço.
Estou e não vou. Tiro e não dou.
Sou Exu!
Passo e cruzo.
Traço, misturo e arrasto o pé.
Sou reboliço e alegria.
Rodo, tiro e boto; jogo e faço fé.
Sou nuvem, vento e poeira.
Quando quero, homem e mulher.
Sou das praias e da maré.
Ocupo todos os cantos;
Sou menino, avô, maluco até.
Posso ser João, Maria ou José.
Sou o ponto do cruzamento.
Durmo acordado e ronco falando.
Corro, grito e pulo.
Faço filho assobiando.
Sou argamassa, de sonho, carne e areia.
Sou a gente sem bandeira.
O espeto, meu bastão.
O assento? O vento! …
Sou do mundo,
nem do campo, nem da cidade.
Não tenho idade.
Recebo e respondo pelas pontas,
pelos chifres da Nação.
Sou Exu.
Sou agito, vida, ação.
Sou os cornos da lua nova;
a barriga da lua cheia!…
Quer mais?
Não dou, não tô mais aqui.