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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A ascensão da Classe C



Biografia- por ENC.ITAÚ--http://bit.ly/2t3AQJA


Fernando Bonassi (São Paulo, São Paulo, 1962). Autor. Escritor de notoriedade e projeção a partir dos anos 1990, que transita com desenvoltura em vários setores artísticos, atuando como dramaturgo, autor de prosa de ficção, roteiros cinematográficos e crônicas jornalísticas.

Forma-se em cinema na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Sua primeira peça é de 1989, As Coisas Ruins da Nossa Cabeça, ainda inédita no palco, mas que ganha adaptação para o cinema, por Di Moretti e Toni Venturi, intitulada Latitude Zero, filme protagonizado por Débora Duboc (1965), em 2001. Estréia no teatro com Preso Entre Ferragens, em 1990, espetáculo dirigido por Eliana Fonseca. Sobre sua estréia, comenta a crítica e repórter Beth Néspoli: "Texto teatral escrito por Bonassi, depois de ele ter presenciado um terrível acidente numa estrada de Cuiabá, Preso entre Ferragens ficou na gaveta do autor por dez anos, por ser considerado de difícil montagem. No entanto, personagens em situações claustrofóbicas e no limiar da tragédia já começam a tornar-se sua marca registrada".1 Em 1996, transpõe para o palco seu romance Um Céu de Estrelas, dirigido por Lígia Cortez, que ganha versão cinematográfica, no mesmo ano, da diretora Tata Amaral, tendo Leona Cavalli (1970) como atriz principal.
Uma de suas criações cênicas mais notáveis, até o momento, é Apocalipse 1,11, espetáculo criado em 2000, inspirado no Apocalipse, de São João, último episódio do livro bíblico, junto ao Teatro da Vertigem de Antônio Araújo (1966). Colaborando estreitamente junto à equipe, deu forma ao texto bíblico, enfatizando os horrores que acompanham a trajetória de João em sua caminhada pela terra dos desvalidos. Sobre o texto comenta o editor Arthur Nestrovski: "Que a lista de recriadores de João inclua Dante, Milton, Blake e Melville, ou um grande romancista atual como Thomas Pynchon, dá a medida da audácia de Fernando Bonassi. Mas o ciclo alucinatório de perseguição-destruição-recompensa ganha acentos locais com a naturalidade que se pode esperar de um escritor de vocação tão brasileira".2 Em 2001, surge São Paulo É Uma Festa, montagem de Beth Lopes (1956). No ano seguinte, escreve Souvenirs, em parceria com Victor Navas, texto sobre um triângulo amoroso formado por um sedutor profissional e um casal estável, dirigido por Marcio Aurelio (1948), com cenário de Daniela Thomas (1959), para o Teatro Popular do Sesi (TPS). No mesmo ano, está na Mostra de Dramaturgia Contemporânea, com o monólogo Três Cigarros e A Última Lasanha, escrito para Renato Borghi (1937) e inspirado numa matéria jornalística sobre a rejeição de um homem ao implante da mão de um cadáver. Ainda em 2002, dedica-se a outro projeto ambicioso: transpõe para o ambiente brasileiro a peça Woyzeck, de Georg Büchner, numa encenação de Cibele Forjaz (1966) encabeçada por Matheus Nachtergaele (1968).
Fernando Bonassi é um profícuo escritor, tendo uma série de livros publicados, tais como o romance já citado Um Céu de Estrelas, 1991; Subúrbio, 1994; Passaporte, 2001, livro de contos; e Prova Contrária, novela, 2003, entre outros.
Desde 1997, assina duas colunas na Folha de S.Paulo. No cinema, é co-roteirista dos filmes Os Matadores, de Beto Brant, 1995; Através da Janela, de Tata Amaral, 1998; Castelo Rá-Tim-Bum, de Cao Hamburger, 2000; Estação Carandiru, de Hector Babenco, 2003, e Cazuza, O Tempo Não Pára, de Sandra Werneck, 2004.
Num panorama sobre a produção dos dramaturgos paulistas do início do novo milênio, a pesquisadora Sílvia Fernandes (1953) analisa: "As constantes passagens do jornalismo para o romance e o conto minimalista, com estágios nos roteiros de cinema, perceptíveis na prática de Fernando Bonassi, por exemplo, parecem provar que os autores do teatro recente são avessos a modelos rígidos e preferem experimentar muitas vias no interior dos processos criativos a que estão ligados. O que talvez possa indicar um exercício de correspondências entre dramaturgia, roteiro, prosa e reportagem, ou entre produção teatral, literária e visual. Nesse sentido, Bonassi continua um bom exemplo, especialmente no estilo seco e contundente dos contos curtos, híbridos de drama e narrativa, recentemente encenados por Beth Lopes em São Paulo É Uma Festa, ou nos duelos verbais de Um Céu de Estrelas, romance posteriormente adaptado para cinema e teatro. Semanticamente fortes, as produções de Bonassi têm uma relação imediata, quase selvagem, com a violência que explode no Brasil de hoje. Seu realismo cru sinaliza a atração da dramaturgia recente pelo submundo de marginalizados, prostitutas, policiais corruptos e sub-empregados envolvidos em tragédias de rua da grande cidade. E pelo escrever sucinto e direto, que se impõe como modelo de um novo teatro urbano, herdeiro violento dos romances de Rubem Fonseca e dos flagrantes dramáticos de Plínio Marcos.[...] Por outro lado, um 'desconforto narrativo' parece acompanhar essas dramatizações da insegurança social e da criminalização sistemática das questões públicas, semelhante ao que Flora Sussekind observa na literatura dos 90. Na dramaturgia de Bonassi, ele é bastante visível na produção de uma espécie de duplicidade no tratamento do tema, capaz de associar efeitos de real, ou de autenticidade, a recursos da mais radical teatralidade. São exemplares desse processo os desdobramentos em Um Céu de Estrelas, onde o dramaturgo trabalha de forma aparentemente realista a história do desempregado que invade a casa da ex-noiva para cometer todo tipo de violência, até acabar cercado pela polícia. A evolução do roteiro através de guinadas propositais de inverossimilhança deixa claro que o que está em jogo é a tensão entre o emprego de uma estrutura dramática linear, compacta, e o exercício de interrupção do efeito de realidade, como o que orienta a ação da mãe, que nem nome tem, ou a chegada da polícia sem ser chamada, ou a omissão deliberada de certos elos de ligação do contexto e da trama. [...] Movimento complementar marca a expressão de Bonassi em Apocalipse 1, 11, escrito para o Teatro da Vertigem de Antonio Araújo. Exemplo da prática conhecida como 'processo colaborativo', comum entre os autores de hoje, o texto filtra as vozes heterogêneas do grupo numa espécie de roteiro cênico, cruel e poético ao ligar a violenta exclusão social brasileira às alegorias do apocalipse bíblico, mantendo a tensão enunciativa anterior".3