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segunda-feira, 22 de maio de 2017

DRUMMOND NA PAREDE por Marcilio Godoi

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" drummond na parede
em itabira as sete faces do poeta se deixam entrever mais ou menos sutilmente. no amargor de ferro e ausência das montanhas exiladas, na alma pura de pedra de suas gentes, nos seus balcões desconfiados de longa espera, na topografia ondulante de seus opostos brancos, no jogo de suas casas de planos desfeitos, nos seus retorcidos de timidez e recusa, na serena carta de névoa de seus silêncios.
mas há ainda uma outra coisa que senti em itabira, uma funda abissal tristeza, parada na chaga da imensa flor em chamas que incendeia seu mapa ou o voo panorâmico sobre o seu solo, pele e corpo revirados por monstros carterpillar amarelos e crueis.
imaginava que a empresa que despeja dejetos mortais diariamente no desastre ambiental que antecipa sem disfarce algum em barragem dentro da cidade houvesse ao menos de cuidar da memória de seu filho mais célebre. qual nada.
constato que carlos drummond de andrade é, em itabira, e por assim dizer, um ilustre e um desconhecido. a cidade em geral guarda dele, não por sua própria culpa, claro está, uma visada confusa, prosaica, superficial, quase picaresca, recheada de causos, inverdades e rasas apressadas exegeses.
muito distantes e de certa forma negando a existência das idiossincrasias universais do autor de carta a stalingrado, os habitantes e visitantes da cidade não têm oportunidade acesso mediado às essenciais práticas de decifração das infinitas camadas de seu universo literário, seu caráter múltiplo e sequer, salvo guerreiras e honrosas exceções, desconfiam do descomunal valor se sua obra, hoje tomada na cidade sem uma curadoria integrada que exerça proporcionalmente a difusão plena e científica de suas complexidades, suas "inquietudes poéticas" para usar uma expressão de antonio candido.
foi com inconsolável desalento que constatei o olhar quase colegial, isolado, sobre o monumental legado drummondiano, em sua cidade natal. a despeito da ótima formação, da simpatia e do empenho abnegado dos atuais profissionais que lidam com seu espólio lírico expositivo, vê-se que estão todos de pés acorrentados e mãos atadas, sem orçamento, sem apoio de políticas, sem mediação, sem intercâmbio que promova a constante prática de decifração que o maior poeta brasileiro indiscutivelmente requer e merece.
tem casa, tem fazenda, tem memorial, tem centro cultural drummond em itabira. todos muito precariamente providos de um corte diagonal sobre a obra do poeta naquela que deveria ser a cidade-centro de sua inigualável referência, revelando-a dignamente em um conteúdo crítico à altura de seu povo, a todo visitante que nesse nosso vasto e complicado mundo procura desesperadamente pela dose de inigualável beleza presente no sentimento drummondiano."

Temer-JBS: a implosão do grupo do impeachment

quinta-feira, 18 de maio de 2017

UM PAÍS INCHADO DE PERVERSOS ..SÓ O CAPITAL FARIA...

Depois da chamada denúncia, da JBS,NADA DE NOVO, o capital econômico entrega suas forças e pede a cabeça do dito presidente do Golpe,Michel Temer, junto com outros, como o senador Aécio Neves.
Vivemos o escrachamento dos poderes, a queda da política, pois esta submeteu-se a velha senhora economia, ja nos adiantava Baudrillard, há anos.
Como estamos em clima de desumanidade e esquecimento fatal da ética, nada se pode esperar em previsões.O homem é condenado ao poder e seus fatalismos.
O Brasil está num abismo criado pela perversão, algo tão humano, mas demasiado em tempos atuais.
Entregue ao sabor da lei que é manipulada na sua interpretação de falsos intérpretes, ditos representantes do povo; não podemos prever futuro, só o amargo dano a democracia, dissolvida entre os poderes.
Agora é aguardar o que vem do acordo entre os perversos e suas leis!!!!!!!!!

sábado, 13 de maio de 2017

ANTONIO CANDIDO....POR SOCORRO LIRA NO FACEBOOK


"O senhor é socialista?"

"Ah, claro, inteiramente. 
Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. 
E não é paradoxo.
O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo.
Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo.
Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado.
Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo... tudo isso.
Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças.
Coisas que hoje são banais.
Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias... tudo é conquista do socialismo."

Por Socorro Lira Facebook 12/05/2017
Paulo Alexandre compartilhou a publicação de Socorro Lira.
4 min

Socorro Lira
5 h
ANTÔNIO CÂNDIDO
"O senhor é socialista?"

sexta-feira, 12 de maio de 2017

MORRE ANTONIO CANDIDO : O poder não é para intelectuais, mas para grandes líderes", diz Antonio Candido*




Um dos homens importantes da crítica literária brasileira faleceu hoje aos 98 anos, no hospital Albert Eisntein, SP.Lúcido até o fim, Antonio Cândido de Mello e Souza, deixa uma fortuna a nós em sua obra de crítico e ensaista. Fundador do PT,teve lucidez política e coerência com o seu trajeto  de vida.
Assim disse o Diário de Pernambuco:

Morreu, na madrugada desta sexta-feira (12), o escritor e crítico literário Antonio Candido. Ele tinha 98 anos de idade e estava internado com problemas intestinais no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo. De acordo com nota de pesar divulgada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), o velório ocorrerá no hospital, entre 9h e 17h. 

Antonio Candido era autor e crítico de literatura, tendo assinado obras importantes para cultura brasileira, como Método crítico de Silvio Romero (1944), Formação da literatura brasileira (1959) e Literatura e sociedade (1965). No Facebook, o escritor Ricardo Lisias lamentou a morte de Candido: "Para sempre o professor Antonio Candido será um exemplo de imensa coragem e dignidade no ambiente intelectual brasileiro". 

Durante a carreira, Candido ganhou os principais prêmios da literatura nacional, como Jabuti (1960, 1965, 1966, 1993), Alfonso Reyes (2005), Juca Pato (2007), Camões (1998) e Machado de Assis (1993). Além de escritor e crítico literário, Candido era militante e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele declarou apoio à candidatura de Dilma Rousseff nas últimas eleições.
Veja a seguir uma entrevista dada em  2002 a  campanha de Lula:


Por Claudio Cerri e Rodrigo Savazoni, da campanha Lula Presidente

Em entrevista exclusiva ao site da campanha Lula Presidente, o crítico literário Antonio Candido, 84 anos, autor de “Parceiros do Rio Bonito” e “Formação da Literatura Brasileira”, falou por quase duas horas e meia. A emoldurá-lo, as obras completas de Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda. Clássicos escritos por dois companheiros que, como ele, ajudaram a desvelar o Brasil e, não raro, a transformá-lo.
Física e intelectualmente ágil, Antonio Candido explicou por que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, no seu entender, “é a única expectativa esperançosa de futuro que nós temos no mar de iniqüidades do Brasil”. Também discutiu a política de alianças do partido nestas eleições e disparou seu balanço sobre a gestão do amigo particular, e também sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, após oito anos na Presidência da República: “O poder não é para intelectuais, o poder é para grandes líderes - como Lula”.

Antes do PT, o senhor já havia fundado um partido?
Sim, o Partido Socialista Brasileiro, completamente diferente deste que tem agora. Nós éramos um pequeno partido. Fui um dos fundadores da Esquerda Democrática, em 1945; em 1947, transformou-se no PSB, cuja característica era um socialismo democrático.

Como o senhor vê esse ideal de socialismo democrático hoje?
Vejamos bem, naquela época nós tínhamos a concepção de um partido socialista radical, mas não subordinado às diretrizes da União Soviética, nem stalinista nem trotskista...

O senhor teve um namoro com o trotskismo?
Não, não, não... Os stalinistas que nos combatiam muito e nos atacavam em suas publicações é que diziam que éramos trotskistas, porque isso para eles era xingo. Aliás, para um homem da minha idade, uma das ironias da história, uma das belas ironias, é que os trotskistas que aqui em São Paulo eram nada hoje estão florescentes; ao passo que os stalinistas, que eram tudo, hoje nem querem mais ser identificados assim. Eu, que não tinha medo, pelo contrário, lia e admirava o Trotski, vejo aí uma ironia da história que me enche de satisfação.

A posição do PSB era bem eqüidistante então?
Paulo Emilio Salles Gomes e outros diziam isso: que o importante no Brasil era construir um partido de massas. Que fosse de trabalhadores e socialista, mas que não seguisse o zigue-zague da política externa da União Soviética.

O PT surge na esteira desse eixo?
Olha, vou contar uma coisa: eu sou um mal militante. Não gosto de ir a assembléias, longas reuniões. Não tenho cabeça política. Entrei no partido, sobretudo, por causa de meus amigos. Por influência do Mário Pedrosa, companheiro do Partido Socialista. Ele, sim, um trotskista. E por causa de meus amigos mortos. Tinha essa sensação de que, finalmente, o PT seria a realização de nossos ideais. Para Paulo Emilio Salles Gomes, Arnaldo Pedroso D"Horta, Febus Gikovate, Antônio Costa Correia, amigos que tiveram muita influência em mim, e que tinham boa cabeça política.

Mas o senhor acabou participando desde o início...
Dizer que eu sou fundador, acho um pouco pomposo. Sou membro desde a fundação. Participei das conversas precedentes, em Santo André, em São Paulo, no sindicato dos jornalistas. Cheguei a ficar em dúvida se era hora de se criar um novo partido. Imaginei que talvez fosse vantagem esperar a ditadura esmaecer mais ainda e, enquanto isso, continuar no MDB. Mas dizia sempre: se for fundado um Partido dos Trabalhadores, eu entro. Fundou, entrei. Eu estava na primeira reunião do Colégio Sion.

Acabou sendo a realização do sonho dos socialistas democráticos?
Sim, a criação de um partido socialista independente. Sem ideologia obrigatória. Revolucionário no sentido que quer a transformação radical da sociedade, mas não no sentido de achar que só a revolução armada leva a isso. A transformação da sociedade se faz de várias maneiras...

Como o senhor vê isso hoje?
Costumo dizer que o PT realizou aquilo que acho que é a verdadeira política: uma política bifocal, como esses óculos [Mostra os óculos].

Como é isso?
Nesses óculos bifocais, eu tenho lentes para ver perto; lentes para ver longe. Um partido tem que estar preparado para trabalhar assim, a longo prazo e ajustado ao jogo político...

Vamos tocar num ponto sensível a muitos intelectuais: a atual política de alianças do PT. Como o senhor vê esse projeto de aliança ampla, com hegemonia popular para fazer reformas básicas no país?
Olha, não é segredo para ninguém que, num primeiro momento, eu fui contra a aliança com o PL. Lula inclusive fez uma declaração na Folha citando meu nome, o nome da Marilena Chauí, reconhecendo nossa posição, mas achando que nós somos intelectuais e que os políticos têm as suas razões e que a aliança com o PL se justificava...

O senhor concordou com essa posição?
Enquanto membro de um partido, eu discuto até a decisão ser tomada. Depois, eu tenho duas opções: ou aceito, ou eu saio. Eu criei um casuísmo de dois dedos: nesse [mostra o indicador], sou brasileiro; nesse [mostra o médio], sou petista. Como brasileiro, acho que devo fazer muitas coisas que não gostaria de fazer como petista. Como cidadão, como patriota, eu admito aliança com o Partido Liberal. Acho que a vitória de Lula pode ser algo tão importante para a liberação das energias populares que, como brasileiro, aceito que ele faça a aliança que achar necessária. Tenho confiança de que, uma vez eleito, ele, o partido e os quadros modificarão este país. Aí, eu, como petista, fico satisfeito. Mando o brasileiro dormir e fico só com o petista - mesmo porque os dois serão um só. Políticas de alianças envolvem riscos, mas tudo em política é risco.

Na vida, tudo é risco...
Como dizia Guimarães Rosa, viver é muito perigoso. Tudo é risco. Agora, as alianças de um partido podem ir pesando nele de tal maneira que o arrastem para o fundo. Podem desfigurar o partido. Podem desmoralizar. Mas sem essas alianças o partido não vence. Não há partido no Brasil capaz de chegar ao poder por suas próprias forças. Então, a opção é a seguinte: ou eu não quero o poder, ou eu quero o poder. Se quero, tenho que correr os riscos inerentes a essa decisão. Então, aceito plenamente essa política do PT e espero que não perturbe...

Qual o principal trunfo do PT nessa grande negociação? A hegemonia?
Não só a hegemonia. O PT tem uma força muito grande. Talvez seja um pouco de romantismo - na minha mocidade eu sofri influências muito fortes de anarquistas. Como li anarquistas e socialistas utópicos, não posso deixar de guardar um certo romantismo em minhas avaliações.

Em que sentido?
Eu acredito que, além do pão-pão, queijo-queijo, da análise política fria, há os imponderáveis. O imponderável é o humano. Por exemplo: sem grandes lideranças não se faz política. Não existe uma política científica. Existe sistema, existe teoria, mas política científica é algo abstrato. É preciso a configuração de uma liderança. Sem o fator humano, portanto, o processo não deslancha.

E o PT tem essa liderança...
Exato. Lula é um homem absolutamente excepcional. No panorama brasileiro não há ninguém como ele, em qualquer posição de direita, de centro ou de esquerda. Ninguém que se aproxime, de longe, da capacidade de liderança de Lula.

Por quê?
Porque Lula, a meu ver, é um homem que encarna as aspirações profundas do povo brasileiro.

Ele tem falado muito isso em comícios, que se considera uma resultante das lutas vividas pelo povo brasileiro...
O povo brasileiro fala pela voz de Lula. Isso eu sempre disse e o Lula, como todo grande líder, primeiro inconscientemente, agora conscientemente, sente que é um representante desse povo. O que é essa liderança? É a centelha que falta para o sistema entrar em movimento.

Demorou para que o Brasil tivesse uma liderança dessa envergadura?
Demorou muito tempo. Nunca houve na esquerda nada parecido.

Nem o [Luiz Carlos] Prestes?
Não, não, não... Nunca houve nada com essa amplitude e essa profundidade de liderança.

Como o senhor conheceu Lula?
Conheci-o em Santo André, na formação do partido. Quando convivemos, senti que havia algo mais profundo nele, essa tal centelha de que falo...

Por que isso é tão importante no país?
Porque a energia recalcada do povo brasileiro ainda não foi despertada. E as grandes massas pobres sentem que o ideal está em algum lugar adiante. E que você precisa se superar para chegar a ele. Ora, racionalmente, essa superação se dá pelo partido político, não por mistificações. Agora, esse partido só irá para frente se tiver uma liderança capaz de contagiar, e isso Lula tem.

Apesar de toda a tentativa de desqualificação...
A meu ver, Lula é um homem que, se for eleito presidente da República, apesar de toda a oposição que venha a sofrer, apesar de todo o peso do novo “império romano” - os EUA -, apesar disso tudo... Existe uma coisa que ninguém tira dele: que é a possibilidade de despertar as energias adormecidas do povo brasileiro. E isso só Lula é capaz. Ninguém sabe o que será um Brasil com um grande líder capaz de despertar as energias recalcadas desse grande povo sofrido. Nós não temos muita noção desse sofrimento porque somos uma pequena elite. Como dizia Antonio Callado, no Brasil, quem faz três refeições por dia, toma banho e troca de roupa é um privilegiado. Nós somos uma pequena ilha cercada por um mar de iniqüidades. Vivemos em cima dessa iniqüidade.

Uma iniqüidade explosiva?
Essa iniqüidade pode explodir de várias maneiras: no quebra-quebra, na selvageria, na baderna e pode gerar a construção de uma sociedade nova, dependendo da liderança. Creio que é preciso ser muito cego para não perceber que a conjunção de Lula com o povo brasileiro, que é expressa no PT, é a única expectativa esperançosa de futuro que nós temos. Fora disso, poderemos ter governos melhores, governos piores, mais ou menos honestos. Mas essa ascensão do povo, só com um governo que una uma grande liderança, uma grande honestidade de militância e que isso toque as energias recalcadas dos brasileiros.

Que papéis teriam os intelectuais e os movimentos culturais nessa interlocução entre partido, liderança e sociedade?
É uma questão complexa. Mas, se eu analiso a trajetória de Lula, uma coisa me chama a atenção: é o interesse constante que ele tem para ouvir as opiniões técnicas, científicas - e os intelectuais.

Mas o conservadorismo insiste na tese do despreparo...
Isso é uma bobagem. Lula tem uma poderosa inteligência, e essa inteligência supre muito. Lula tem uma capacidade extraordinária de absorver qualquer fonte de ensinamento que existe em volta dele - viajando pelo país, conversando com o povo, convivendo com os intelectuais. Agora, perceba um fato notável: eu convivo com Lula há muito tempo. Conheço-o há 20 anos. Nunca vi Lula ser um “papagaio” de ninguém. Nunca vi Lula repetir o que ouviu. Ele tem uma grande capacidade de re-elaborar o que aprende. E isso é muito importante num líder.

Exatamente o oposto do que diz o preconceito.
Isso me dá uma grande confiança. E todo o esforço que a intelectualidade brasileira puder fazer para colaborar com Lula renderá juros elevadíssimos. Porque ele vai aplicar muito bem esse capital intelectual. Como eu o tenho visto aplicar. É um homem que o que ouve, lê e vê, ele transforma em instrumentos de análise de um poder extraordinário. A visão que Lula formou da questão agrária no Brasil, por exemplo, parece-me tipicamente fruto de uma re-elaboração muito refinada de tudo o que viu, ouviu e discutiu com homens como José Gomes da Silva, Aziz Ab"Saber, de suas viagens, debates etc. Por isso vejo nele a possibilidade de aglutinar em torno de seu governo tudo o que houver de intelectualmente relevante no Brasil.

Lula tem falado muito sobre a importância da cultura como elemento de resgate de jovens pobres excluídos da cidadania, a cultura como um aliado para disputar esses jovens com o tráfico. Como o senhor vê isso?
Hoje em dia há uma possibilidade muito maior de se levar a cultura para grandes massas, através da televisão, da música moderna, do cinema. O problema que se coloca é o da distinção entre cultura erudita e cultura popular. É uma coisa extremamente perigosa.

Em que sentido?
Existe uma certa demagogia que enaltece a cultura popular unilateralmente. Quase uma visão de folclore. Quem insiste muito nisso está implicitamente achando que o povo tem que ficar confinado a essa cultura de São João, cururu etc. Enquanto isso, Sheakespeare e Camões ficam para nós, a elite. Agora, há o perigo simétrico: que a cultura erudita tende a se bastar a ela própria. A ficar apenas entre os letrados. Entre os dois fica um abismo muito grande - que é maior ou menor conforme a época. Há momentos em que as duas se comunicam muito mais. No nosso tempo a separação é muito grande.

Qual o papel do Estado para reduzir esse fosso?
O papel do Estado é fundamental. Em Pernambuco, nos anos 60, na época do governo [Miguel] Arraes, por exemplo, fez-se uma grande tentativa de unir a cultura popular com a erudita. Era um momento de grande impulso da música popular brasileira. Por sorte, convergiam para ela nomes como o de Vinícius de Morais - um belo poeta que se popularizou através da MPB. Chico Buarque é outro - poeta e compositor. Sem falar de outros, como Caetano Veloso, que tem uma sensibilidade literária fora do comum. Naquele momento, então, pôde haver essa aproximação das várias esferas da cultura. Aproximou tudo. Foi um raro momento de convergência.

O Estado funciona como indutor dessa aproximação?
Exato, sua função é diminuir o máximo possível o fosso entre os dois lados. Numa sociedade em que as diferenças de classes fiquem muito reduzidas haverá um desaparecimento da cultura erudita e da popular. E surgirá uma nova cultura. Isso é possível. A função do Estado é fazer um grande esforço econômico e social para que no plano cultural o hiato diminua. De tal maneira que no fim de certo tempo, o popular se torna erudito e o erudito se torna popular.
Em que medida uma política cultural pode fortalecer os laços de identidade?
A cultura é um elemento da identidade de um povo. É a expressão suprema de uma coletividade. Tanto assim que você esquece mais facilmente os grandes políticos do que os grandes artistas. Se você perguntar a um colegial quem era o homem mais importante da Grécia, ele vai te dizer “Homero”, dificilmente dirá Licurgo, Péricles. Vai dizer Homero. Enfim, um poeta, não um governante. Ninguém esquece Castro Alves, Dante Alighieri, Sheakespeare etc. É a prova prática de que as grandes criações da cultura espiritual exprimem o que há de mais profundo no povo. A cultura é a manifestação de uma coletividade, não há coletividade sem ela. Cabe ao Estado um papel muito importante, porque ele pode orientar essa cultura. Se ele resolve, por exemplo, subvencionar bobagem, estará contribuindo para abastardar essa cultura.

Por exemplo?
A educação é assim. Eu fui professor a vida inteira. O aluno achava Camões chatíssimo, mas o professor orientava - “preste atenção, veja isso, aquilo”. O aluno, às vezes, tinha que engolir Camões como se toma óleo de rícino, não tinha outro jeito. No fim de algum tempo aquilo funcionava - tanto um, quanto o outro.

Como o senhor vê a política de incentivos culturais do governo FHC, que transfere ao mercado esse papel indutor, por meio de recursos como a renúncia fiscal?
Acho muito perigoso. É importante você permitir que haja patrocínio de atividades culturais. Mas o Estado não pode renunciar à sua iniciativa e confiar tudo ao setor privado. Numa sociedade de classes como a nossa, o Estado é, ou deveria ser, o representante do povo. Qual é o nosso ideal no PT? Que o Estado se torne aquilo que ele não é: o defensor do povo. Se eu transfiro a responsabilidade cultural ao mercado, estou renunciando a esse papel de indutor da cultura. Repito: é bom que se tenha incentivos para que todos possam fomentar cultura e não haja monopólio de espécie alguma, mas desde que o governo não perca a iniciativa. Empresas e bancos representam interesses de grupos, e o Estado representa o interesse de toda a sociedade. Portanto, tem que ter uma política cultural ativa.
O que se vê no plano cultural ocorre também na frente do ensino, e da pesquisa, com crescente privatização...
É bem-vinda a participação da iniciativa privada em posição subalterna nessas áreas da pesquisa, por exemplo. Mas só o governo pode saber qual é o interesse coletivo. Universidade pública, por exemplo, é fundamental - e acho até escandaloso o governo subvencionar tanto as instituições particulares. Na medida em que o governo está saindo aos poucos desse setor, está armando uma catástrofe educacional no país. A educação vai se transformar no privilégio de poucos.

Como o senhor avalia o conflito entre democratização e perda de nível, ou elitização e ensino de qualidade? Um antagonismo que não se restringe à universidade, mas parece se estender também à televisão, o cinema etc.
Temos aqui uma crise de civilização. O ensino francês, por exemplo, hoje é um ensino em decadência. Talvez seja um mal que deriva de um bem. O esforço para tornar todos os níveis de ensino acessíveis a todos força diminuir o nível. Então você fica num dilema perverso: elitizo ou democratizo e abdico de qualidade?

Qual a saída?
A saída está numa sociedade igualitária, onde todos tenham acesso à cultura e à educação de qualidade. Foi o que eu vi em Cuba. Instrução pública e gratuita em todos os níveis. E de muito boa qualidade. A chave é a transformação da sociedade, na qual as pessoas se apresentam para a educação em pé de igualdade. Quem acha que um bom sistema educacional salva a pátria está redondamente enganado. A participação nesse sistema será sempre restrita. Por isso você tem que, primeiro, fazer mudanças estruturais; depois, terá uma boa educação. Os liberais pensam: eu tendo uma população instruída terei uma sociedade melhor. Errado! Eu tendo a sociedade melhor, terei uma população instruída. Só assim você supera essa contradição aparente entre elitização e democratização. Continuo achando que a forma republicana do ensino público e gratuito é o grande modelo. Estamos abandonando isso.

Por que a tradição republicana está sendo abandonada em várias frentes?
Sinto isso em coisas pequenas, aparentemente bobas, mas sintomáticas. Quer ver uma: a profusão de condecorações que existem hoje. Parece coisa menor, não é? Mas se a idéia de República é que todos os cidadãos são iguais, você não pode distinguir um - justamente o que gera uma condecoração. Ela cria diferença entre os iguais. Quando eu era menino, não havia condecoração no Brasil. Meu pai dizia: a República suprimiu as condecorações. Hoje são tantas, tem sujeito que mais parece uma vitrine. É questão menor, mas sinaliza o enfraquecimento da idéia de República, da universalização de direitos.

Em que medida a vitória de um líder popular nessas eleições pode restaurar o espírito republicano?
A República é o regime de todos; o regime contra os privilégios. Claro que você tem repúblicas aristocráticas, como foi a de Veneza. Mas República vincula-se à idéia de democracia de direitos. No caso brasileiro, infelizmente, ela é muito ambígua, porque nasceu em grande parte de um sentimento de revolta das elites por perda de privilégios. A elite perdeu seus escravos com a Abolição decretada pela Monarquia. Aderiu à República para se vingar do Imperador. A República brasileira nasceu desse sentimento de revolta por perda de propriedade.
Uma República pior que a Monarquia?
Instituíram um regime mais duro que a monarquia. Você lê um livro como o de Campos Salles, um homem muito inteligente, propagandista da República, e ele defende o quê? Defende com toda pureza a idéia de que a escolha é boa quando é feito pelos melhores. Portanto a República deveria ser decidida por poucos. Se entrar todo mundo, vira bagunça.

Nada a ver com a idéia de res publica [coisa pública]?
Sempre tivemos uma República de elite. Um presidente da República era eleito com 200 mil votos - e votos descobertos. Em 1930, eu assisti na minha cidade, em Cássia, Minas Gerais, à última eleição a descoberto. O eleitor chegava e o coronel ao lado, fiscalizando. Depois de Getúlio [Vargas], com a emergência das massas operárias, das massas urbanas, não foi mais possível manter esse estreitamento. O Getúlio era um caudilho esperto. Para manter as elites sob controle, abriu as porteiras e deixou o povo entrar, mas patrocinado por ele. Todavia, abriu a porteira, e ela está aberta até hoje.

E a oligarquia atual?
Hoje temos uma plutocracia de industriais, banqueiros etc. Lula não causa mais tanto medo. E com a queda da União Soviética, o pavor do comunismo desapareceu. Mas eu me lembro que ainda na primeira candidatura do PT à Presidência, havia professores universitários inteligentes que achavam que iriam perder o apartamento se Lula fosse eleito.

Professores universitários?
Não estou brincando, não. Professores da Universidade de São Paulo. Aliás, para ser mais preciso, professoras. Hoje o pessoal já se acostumou com o PT e vê que não é um partido revolucionário. O partido é um leque de tendências.

Que muitos criticam como um saco de gatos...
Mas é uma bobagem. Trata-se de uma virtude. Eu sou do tempo dos partidos monolíticos. A quem censura essa diversidade, eu digo: vá para o partido monolítico. Vá lá para ver como é que é. Aqui no PT é uma grande democracia interna. É um leque que exprime as diferentes gamas da sociedade. Isso lhe dá muito trabalho. Muito quebra-quebra interno. Mas historicamente é uma vantagem. Daqui a 50 anos vai se falar: puxa, o PT foi um grande partido de esquerda da América Latina. Numa sociedade muito desigual, conseguia incorporar interesses variados. Isso é de um valor histórico inimaginável. Nunca teve no Brasil.

E como o senhor vê o desafio desse partido construir um modelo de desenvolvimento alternativo àquele ditado pelo “Império Romano dos EUA”?
Eles podem fechar a torneira. Mas não é tão simples também. Há o outro lado: eles têm que vender para alguém; têm que explorar alguém. Nossa sorte é essa, somos um país enorme e podemos boicotar os seus produtos. E se o Brasil quebrar, arrasta americanos, franceses, tudo. É um poder de barganha. Portanto, o Brasil deve assumir uma postura de mais dignidade frente aos EUA. Sei que é necessário, mas a própria ida de representantes para explicar posições e projetos soa desagradável para mim.

O senhor vê algum risco de bonapartismo nestas eleições?
Candidatos de corte autoritário podem sempre tentar uma aventura bonapartista, sobrepondo-se aos partidos e às instituições democráticas. O autoritário potencial tem apoio forte da classe dominante e sabe, ao mesmo tempo, fingir que é popular. É um discurso feito com apoio e no interesse das classes dominantes. Mas com aparente defesa dos interesses populares.

Hoje se fala muito em bagagem intelectual, experiência administrativa etc. Como explicar o fracasso do governo FHC nessa perspectiva?
Simples: intelectual não foi feito para o poder. É preciso ser um líder. Daí a vantagem de Lula.
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http://bit.ly/2qaXhId


  

terça-feira, 9 de maio de 2017

Macron não é um centrista. É um direitista outsider...

SÉRIE FACEBOOK  PROFA. DRA. MARA TELES




Macron não é um centrista. É um direitista outsider, um banqueiro que participou de um governo do Partido Socialista. Participar de um governo deste naipe não dá garantia a ninguém do carimbo "socialista". Kassab e tantos outros participaram dos governos petistas, sem que tenham nenhuma dose igualitária em suas veias azuis. O PS decretou guerra contra a Síria e os franceses, orgulhosos, se acomodam no Estado de Guerra, com as metralhadoras presentes nos espaços públicos e invasões da privacidade em nome do combate ao ISI. Não há nada o que comemorar quando a única opção possível é votar num banqueiro pelo Medo que a direita radical-racial representa. Há inúmeras responsabilidades pela ascensão da Direita Radical na Europa. Contudo, não se pode descartar que as indiferenciações entre os governos sociais-democratas com os governos neoliberais tenha responsabilidade nisso. Um dos principais estudiosos dos sistemas partidários já havia alertado para esta hipótese explicativa: centrismo em excesso leva ao surgimento de extremos, uma vez que as ideologias deixam de ser atalhos importantes. Macron não é um centrista, como diz a mídia. É o pior entre os piores. Mas, é a única escolha possível. Uma pena que a França tenha que se decidir entre o Wall Street Francês e o Nacionalismo populista e anti-imigração. É o que temos. E a social-democracia européia, tanto quanto a latino-americana, faz que não vê que ela também é em alguma medida responsável pela catástrofe que se instala na Europa e que se esparrama pelo mundo. Na França, que amanhã vença o mal menor e ainda assim será o pior.
POR FACEBOOK http://bit.ly/2qYTRqo

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O mundo de agora ...Crônica de Maria Lucia Dahl

Maria Lucia Dahl-atriz cronista

O que aconteceu com o mundo? Será que ele sempre foi assim, e de repente resolveu, finalmente, se revelar como realmente era, um território inteiro governado por mentiras de todos os tipos com o intuito de esconder seu único ideal verdadeiro, seguido por todos os políticos de qualquer partido, que agora foi, finalmente declarado oficialmente e que se chama dinheiro?
Quem é que hoje torce por algum político, se impressiona com o seu carisma? Quem tem carisma verdadeiro que nos contamine com um mínimo de verdade transposta pelo seu ser?
Não consigo mais achar graça no mundo, fora a natureza. Onde é que podemos conversar sobre partidos, objetivos, mudanças? Nunca vivi um período tão sem graça e perigoso como o de agora.
Quando saio com os amigos, as vezes que rimos e até gargalhamos é sempre sobre um acontecimento de um passado longínquo onde ainda havia esperança, se acreditava no próximo e se tinha humor.
Essas pessoas já se foram e até saíram da vida antes de chegar à hora, como o Belchior, por exemplo, que se exilou, ninguém sabe por que nem aonde, fugindo de seus milhares de admiradores, de seus amigos, de sua família.
Não foi por dinheiro que andava devendo, pois seu amigo que o produzia de vez em quando me disse que se ele fizesse dois shows agora, daria pra pagar tudo o que ele devia. Mas ele fugiu do mundo e segundo esse produtor amigo,para não ser visto, chegava até a se esconder atrás de um poste.
Não o via ha muitos e muitos anos, mas lembro de como ele se envolvia com as pessoas, com suas histórias incríveis contadas pros meus amigos, em geral, no Restaurante Pronto, no Leblon.
Uma vez fui com ele dirigindo o meu carro para leva-lo a um show no centro da cidade, quando um casal, naquelas redondezas, nos pediu carona sem saber com quem estavam falando.
Parei o carro, levei-os conosco e quando chegou perto do teatro o rapaz nos disse: "Vocês não vão conseguir entrar nunca! Quem sabe talvez ficando umas trê
Olhei pra cara do Belchior e rimos muito do casal que não tinha noção de que estava chegando
de carona com o artista.
O primeiro show que vi dele foi no Teatro Tereza Raquel, nos anos 70. Fui com a minha amiga e atriz Beth Erthal que me disse que aquele show era imperdível e que aquele cantor e compositor era das pessoas mais interessantes, inteligentes e carismáticas que ela havia visto.
Nunca mais perdi os seus shows e me emocionei com o da Ellis Regina sobre ele, que quando cantava as suas músicas , fazia o teatro inteiro se levantar, gritando de emoção.
Uma coincidência impressionante que aconteceu comigo foi me chamarem pra ver uma foto que puseram dele, por acaso, na esquina da minha rua, escrito embaixo: "Volta, Belchior!" e que eu participei do grupo que desenhava a foto sem saber que naquela hora do dia seguinte ele estaria morrendo.
Deixo então pra ele um pensamento de Emily Dickinsson :
"Este mundo é inconcluso
Alem da continuação.
Invisível como a música.
Evidente como o som.


por Facebook http://bit.ly/2qFL9NC

O BRASIL NO CAMINHO DA DITADURA NUA E CRUA

Ja convivemos com O GOLPE- NU E CRU, agora examinem a matéria e o documento que enseja o NOVO GOLPE DITATORIAL no país.Vivemos a exclamação mais severa da direita no Brasil com golpes de todas as espécies; a direita e o empresariado brasileiro apoiando a ditadura e a morte da Democracia. Ou se faz uma revolução com o povo nas ruas ou cairemos no mais denso fascismo operado por forças internacionais e com apoio de governos da América. A América do Sul sofrerá, como já vem sofrendo, a exaltação  de um fascismo denunciado, ja faz tempo, pelos governos do PT e com apoio de outros partidos da esquerda.
O Senhor Maia, presidente da Câmara é a figuração escancarada de um GOLPISTA a serviço da direita e derrocada de um estado democrático.
Leiam e divulgem:


"O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mandou instalar, na tarde desta quinta-feira, uma comissão especial para analisar uma proposta de emenda constitucional, apresentada pelo deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), que estabelece a simultaneidade nas eleições para todos os cargos majoritários.
Com isso, abre-se o caminho para a anulação das eleições presidenciais de 2018 e a disputa poderia ocorrer apenas em 2020, quando haverá eleição para as prefeituras.
No último domingo, o Datafolha revelou que o ex-presidente Lula lidera em todos os cenários, com 29% a 31% das intenções de voto, e que 85% dos brasileiros exigem a saída imediata de Michel Temer e a convocação de diretas já.
No entanto, o adiamento das eleições ajudaria a direita, que já derrubou a presidente Dilma Rousseff por meio de um golpe parlamentar, a tentar inabilitar Lula no tapetão.
Esta proposta de emenda constitucional estava parada desde 2003, mas acaba de ganhar tramitação urgente na Câmara. Em suas falas posteriores ao golpe, a presidente deposta Dilma Rousseff sempre alertou para o risco de anulação das eleições de 2018.
Com manobras como o golpe parlamentar de 2016 e a emenda constitucional agora em tramitação, a direita vem levando adiante seu plano de destruição da democracia brasileira.
Confira, abaixo, o documento:
Por Revista Forum http://bit.ly/2pEBCYJ