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segunda-feira, 11 de março de 2024

A polêmica graduação em psicanálise por OUTRAS PALAVRAS




Estou em alguns grupos de Psicanálise, VIA WHATSAPP, e vejo quantas pessoas estão desinformadas acerca da formação como Psicanalista.Cursos abrem graduação e não esclarecem aos alunos como será sua vida futura,alguns fazem o curso como forma te tentar se analisar, como se possível fosse,outros pensando fazer formação,engano, mas  coisa muito comum , contudo incongruente.OUTRAS PALAVRAS HÁ DOIS ANOS já alertava para este fato.EDUARDO GUIMARÃES, COLEGA, faz excelente artigo. Leiam, esclareço que ora sou apenas estudioso,pesquisador e analisando por 40 anos.P VASONCELOS


https://bit.ly/3v93TLF

Oportunista e inconsistente, novo curso suscitou críticas. Mas será que esclarecemos a singularidade da formação do psicanalista e os porquês do rechaço a essa graduação? Como discutir as relações entre psicanálise e universidade?



 Por Eduardo Guimarães

Recentemente, a comunidade psicanalítica se sentiu convocada a se posicionar sobre uma questão: a graduação em psicanálise. Essa questão foi motivada pela criação do bacharelado em psicanálise, em formato de ensino a distância e com duração de quatro anos, pelo Centro Universitário Internacional Uninter. A Uninter é uma instituição privada de ensino superior sediada em Curitiba e presidida pelo empresário Wilson Picler. Com a criação do bacharelado, a Uninter se tornou assunto de diferentes meios de comunicação, inclusive das redes sociais.

Diversos psicanalistas e movimentos de psicanálise vêm se posicionando publicamente. A posição da maioria deles é inequívoca: repúdio ao curso de graduação em psicanálise. Vale lembrar, contudo, que reflexões de pequeno alcance, mas não menos interessantes, foram elaboradas por alguns psicanalistas e circularam prioritariamente nas redes sociais, pondo em questão o modo como a questão estava sendo colocada e debatida pela comunidade psicanalítica.

Para dar prosseguimento ao meu raciocínio, é necessário explicar, para os não psicanalistas, o motivo de a criação de uma graduação em psicanálise ter provocado um debate tão caloroso na comunidade psicanalítica. Infelizmente, a maioria dos psicanalistas que, rápida ou tardiamente, emitiram notas de repúdio, com exceção de Christian Dunker e Antonio Quinet e, em menor medida, de Luciano Elia e Vera Iaconelli, não esclareceu a distinção entre graduação e formação em psicanálise. Para os psicanalistas (ou, pelo menos, para a maioria deles), essa distinção é óbvia, mas o mesmo não se aplica aos leigos.

A formação em psicanálise é continuada e singular. Continuada porque se espera que seu término, no limite, ocorra somente com a própria morte do psicanalista. Apesar de a formação ser frequentemente realizada em cursos, módulos e seminários com data de início e término, isso não implica na identificação entre formação do analista e seminários, cursos etc. realizados com este propósito. O psicanalista se vale desses dispositivos para realizar sua formação, mas sua formação não se reduz a eles. Por outro lado, a formação em psicanálise é singular porque não existe um currículo previamente determinado, mas cada psicanalista deve percorrer o seu próprio caminho nesse processo de formação. É verdade que o psicanalista frequenta cursos ao lado de outros psicanalistas, porém cada um deve responder por aquilo que faz. Não é sem outros psicanalistas, mas cada psicanalista deve realizar sua própria formação.

Ainda seria possível argumentar que a graduação, como qualquer curso ou seminário, possui um currículo prévio e uma duração determinada. Sendo assim, faria sentido que um psicanalista, em sua formação, também pudesse se beneficiar de um curso de graduação. Entretanto, o raciocínio não é tão simples assim. A graduação em psicanálise apresenta problemas que precisam ser esclarecidos. Algumas notas de repúdio enfrentaram esses problemas, mas, a meu ver, muitas delas utilizaram argumentos que apresentam fragilidades que precisam ser apontadas.

Um dos argumentos para criticar a graduação em psicanálise, como aquele apresentado por Luciano Elia, sustenta haver uma relação necessária entre curso de graduação e regulamentação de uma atividade profissional. Apesar de ser verificada na maioria dos cursos de graduação, essa relação não é necessária. A publicidade é uma profissão regulamentada, mas seu exercício não exige o diploma de graduação. Por outro lado, a profissão de cientista molecular não é regulamentada, embora exista o curso de ciências moleculares oferecido pela Universidade de São Paulo. Ainda podemos mencionar, em menor medida, a profissão do historiador, regulamentada somente recentemente, apesar de seu curso de graduação ser oferecido há muitas décadas.

Foi possível notar, também, que a maioria das notas de repúdio sequer leu os textos de apresentação publicados no site da Uninter a respeito do curso de graduação em psicanálise. Se vocês forem curiosos e realizarem essa pequena investigação, vão perceber que o curso oferecido é uma constelação de incongruências. Em primeiro lugar, descreve a natureza da atividade profissional do psicanalista para, em seguida, declarar que, ao fim de quatro anos, o estudante receberá o título de bacharel em psicanálise. Em nenhum momento o texto afirma que psicanalista e bacharel em psicanálise são a mesma coisa, mas a apresentação tão próxima e maliciosa entre um e outro termos torna possível essa confusão. Em segundo lugar, define o mercado de atuação do bacharel em psicanálise – como isso é possível, se nunca existiu, até o momento, um bacharel em psicanálise?

O diploma de bacharel em psicanálise, portanto, não tem nenhum valor para a comunidade psicanalítica. Posto isso, aí faria muito sentido questionarmos as razões que levaram à abertura desse curso. Em segundo lugar, também poderíamos investigar os motivos de a comunidade psicanalítica não ter sido consultada. As razões do mercado foram frequentemente evocadas, como fizeram Rosana Coelho e Vera Iaconelli, para explicar o surgimento do bacharelado da Uninter, o que em certa medida faz sentido. Entretanto, parece-me que não houve um debruçamento, não sobre as razões universais do mercado, e sim sobre as razões singulares de “por que a psicanálise?”. O mercado é capaz de capitalizar qualquer atividade, mas nunca escolhe qualquer atividade.

Para concluir, pretendo levantar uma importante questão. Todos os psicanalistas que emitiram notas de repúdio à criação de um curso de graduação em psicanálise são professores universitários ou estiveram e estão, de algum modo, vinculados à universidade. Isso me fez pensar que a discussão sobre a relação entre psicanálise e universidade, mais ampla que a relação entre psicanálise e graduação, foi sumariamente ignorada. A psicanálise já está na universidade, mas essa questão foi abordada, infelizmente, somente por Antonio Quinet e pela Freduc. Nada impede que o psicanalista tenha realizado graduação em psicologia ou pós-graduação em psicanálise ou outra coisa que o valha, mas esse percurso na vida universitária não se identifica com sua formação. A pesquisa em psicanálise na universidade é suplemento, mas nunca define uma formação.

Creio que alguns de nós, psicanalistas, perdemos uma boa oportunidade para esclarecer pontos cruciais da formação em psicanálise para o público leigo. Entendo, também, que existe a necessidade de discutirmos com mais cuidado o fato de que as notas de repúdio publicadas contra a graduação em psicanálise foram redigidas por quem está de algum modo vinculado à universidade. Então, por que não esclarecer essa diferença? Por que ficar chutando cachorro morto, quando se faz tão necessário pensar sobre a relação entre a psicanálise e a universidade, por um lado, e, por outro, o modo como se dá a formação do psicanalista?

Para que não reste dúvidas. Penso que o curso de graduação em psicanálise oferecido pela Uninter deve ser objeto de críticas por um motivo bastante concreto: a instituição promete (ou dá a entender que promete) o que é incapaz de cumprir. Por outro lado, penso que nós, psicanalistas, precisamos enfrentar uma delicada questão: qual é o papel que os programas de pós-graduação exercem no interior da formação de um psicanalista? Qual é a relação possível que a psicanálise pode estabelecer com a universidade

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

A cilada capitalista do eu único por Outras PALAVRAS

 

Lola López Mondéjar, entrevistada por Esther Peñas, no ctxt | Tradução: Simone Paz

Acrescento aqui o vídeo que não consta da matéria de OUTRAS PALAVRAS



A cilada capitalista do eu único

Ao propor que nossos desejos e vazios sejam saciados com objetos, sistema não alimenta apenas o consumismo, alerta psicanalista espanhola. Ele incita as ilusões narcísicas de identidade e busca da felicidade — das quais deveríamos fugir…


Das muitas questões que sustentam uma época, a da identidade pode ser uma das que mais nos permeiam, neste século. A miragem da invulnerabilidade, o pânico em reconhecermos a nossa frágil essência, a possibilidade de nos reivindicarmos a partir do erro, o medo de nos conhecermos, esse mesmo medo que qualquer tipo de compromisso desperta — mas sobretudo o afetivo e a questão da liberdade como condição possível… Conversamos sobre essas e outras questões com Lola López Mondéjar , psicanalista e escritora, além de destacada conversadora, com nuances e estímulos tão sensíveis quanto intelectuais.

Seu próximo ensaio, “Invulneráveis e invertebrados”, aborda a questão da subjetividade, um conceito que foi aprofundado desde Montaigne. Porém, de forma sutil, essa palavra vem sendo substituída por “identidade”, mas não é, de maneira alguma, a mesma coisa. Qual a diferença entre uma e outra?

A identidade é uma ficção de unidade necessária para a nossa sobrevivência, mas que deixa de lado a multiplicidade do nosso eu. Nosso cérebro procura um sentido e cobre as lacunas entre os fragmentos que nos compõem, com histórias que nos dão uma certa ilusão de sentido: uma identidade. A identidade é mimética, baseia-se nas identificações, na marca que os outros significantes nos deixam e no desejo triangular, como René Girard chamou a estrutura mimética do desejo: segundo ele, Emma Bovary quer amar como nos romances românticos que ela leu; Dom Quixote quer ser um cavaleiro andante movido pelos livros da cavalaria e pelo heroísmo de Amadís de Gaula.

Esse desejo é mimético porque existe um mediador entre nós e nossos objetos de desejo; queremos o mesmo que nossos modelos. Trata-se do que Lacan mais tarde expressou como “o desejo humano é o desejo do Outro”. Queremos o que eles nos propõem que queiramos. A publicidade e o capitalismo baseiam-se nessa natureza mimética do desejo, que propõe interminavelmente objetos, usando todos os tipos de modelos como mediadores. Subjetividade seria o oposto de identidade. Onde há identidade, a ilusão da unidade, não há exploração da multiplicidade, não há diálogo com as identificações que nos constituem. A subjetividade implica a criação de um eu que questiona as identificações anteriores e constrói outras em um processo dinâmico constante que só cessa com a morte. Digamos que quanto mais identidade, menos subjetividade.]

Leia toda matéria indo até o link: https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/a-cilada-capitalista-do-eu/