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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Cazzo Fontoura, o roedor de versos






O poeta de Salvador mistura formas e suportes, sentidos e sensações

Ele: uma sanha enfática na busca do sentido, colhe tudo – e com o bico de poeta sai esfarofando as palavras, os fatos, o possível visível para  registrar o fundo do motivo poético. Com inclinação para as letras desde cedo, o baiano esmiúça poetas que leu (Drummond, Cecília Meireles, Oswald, Bandeira), e estes se escondem na largura de seus versos em mutação. “Não sou triste nem alegre…” Mas o poetar não se fixa apenas nos poemas, como ele mesmo diz, e sim na poesia. Daí, Oxóssi pode ser tema, nota, mote, motivo, e também Luiz Gonzaga, Glauber Rocha, Nina Simone, João Gilberto ou Chet Baker – paredes ou coisas grafadas, “impronuncindível”, e assim vale BRSTZDC ou PVZQBGD.
Cazzo, poeta jovem que se estende também pela imagem com que trabalha; afinal, palavra e imagem são primas e, quiçá, irmãs. E, para escutar a imagem e as palavras, é bom fuçá-las emSelfie Poesia, com o intuito de entrevistar poetas que depõem sobre o processo criativo. Vale muito pousar lá: http://on.fb.me/1NB8ycj .
Inquieto, o baiano, além do mais, é professor. Que farra! E fala de futebol, com livro na praça em formato digital: Crônicas da Fatídica Copa do Mundo no Brasil. Mas, como bom roedor, segue em frente na sua ambiguidade poética, coisa bem dos novos poetas de metrópole, que dizem a cidade, o mundo das antenas parabólicas, as chaves, reciclando para o verso firme.


Onde o poeta/ vê estrelas/eu vejo antenas parabólicas.
Cazzo há de ser lido e relido, para nos apropriarmos do verso contemporâneo duro e certeiro, nova visão do mundo em estado de contraglobalização. Daí o design de seu livro de poemas vir em tela de processador de texto. Refiro-me a Leitura Neon-Reciclada (editora Organismo, 2014).
Conversar com Cazzo é sentir o cheiro do inquieto, ele fala, ora ligeiro, às vezes ponderado, mas há a nítida sensação de um nervo exposto para querer melhor cuspir sua poiesis, e isso se faz visível em sua produção, em que, entremisturando um jeito concretista, faz também uso do soneto, de palavras e sons. É preciso escutá-lo, emergem de suas palavras poéticas versos astutos, janelas/portas, cinismo machadiano ou um Arranjabuso para Antonio Abujamra.
Vamos senti-lo em descomunais saídas poéticas:

[…] Recôncavo é o inverso / a cor preta 

é preta / (a cor da gente)
santos, santas, pastores, assembleias, santinhos.

16 motocicletas / tem mais roda 

que um ônibus
E fechando temos diversidades do poeta (tal e qual está lá):

NEM TUDO É PERFEITO / MUITO MENOS PERFEITO / TENTAR FOTOGRAFAR / ÁRVORE TRISTE / 

NA FRENTE DA CASA / QUANDO 
NÃO SE TRATA DE UMA SIMPLES 
CASA / PORQUE SURGE / COMO UM SUSTO / TRECHO DE GRADE / ATRAPALHANDO GALHOS
Para ler Cazzo, é preciso que o leitor tenha a sensibilidade para o motor semântico e sintático de sua poesia, num concreto disfarçado:
E NADA NOVO, NADA INTENSO SOMOS (A DANÇA( IN THE RAIN)
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária em universidades privadas e consultor editorial da área de Literatura, além de contista e poeta com livros publicados (paulovasconcelos@brasileiros.com.br).
Link curto: http://brasileiros.com.br/60oHH