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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Sorria, você está sendo colonizado": tecnologia é instrumento de poder entre países POR BRASILDE FATO ELOA ORAZEM

 


Estados Unidos usam a internet para perpetuar a colonização de países do Sul global

Brasil de Fato | Los Angeles (EUA) |
 
Especialistas defendem que a melhor forma de combater o imperialismo digital é estabelecer conexões diretas, com vozes diversas e plurais - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os colonizadores são os mesmos, mas agora navegam na onda da internet. As nações imperialistas fazem da tecnologia uma ferramenta de perpetuação de poder e repetem, on-line, as técnicas de exploração contada nos livros de História.

"Chamamos esse fenômeno de 'beta colonialismo', e ele funciona a partir 

da extração de dados das nossas vidas sociais", explica Ulisses Mejias, 

professor de Comunicação na Universidade de Oswego e co-autor do livro 

"The Cost of Connection", ao lado de Nick Couldry.

Ainda segundo o pesquisador, muita gente acha "exagero" chamar esse

 fenômeno de colonização, mas ele defende o uso acertado da palavra. 

"Não é nenhuma metáfora, é intencional porque é, de fato, um processo 

de colonização.”

Mejias pondera que há diferenças importantes, sobretudo no tipo de 

violência praticada. "Quando comparamos o velho e o novo colonialismo, 

não podemos comparar 

tudo ao pé da letra. No processo 'antigo', nós víamos genocídio e escravidão, 

o que não necessariamente acontece hoje", aponta. Ele explica que "são modos, 

contextos e intensidades diferentes, mas a colonização on e offline se encontra 

em sua função, que é despojar e extrair". 

:: Leia também: Artigo | Geopolítica da vacina e luta anti-imperialista ::

Apesar do resultado ser basicamente o mesmo, o professor alerta para os

 "sintomas" desse imperialismo 2.0. "Com colonizadores invadindo nossas 

vidas sociais, sentimos os efeitos em nossa saúde mental, no vício que 

criamos dessas tecnologias e no sistema narcisístico promovido por elas. 

Também vemos isso na dissociação cognitiva, com notícias falsas alterando

 nossa percepção da realidade", afirma ao Brasil de Fato

Embora diversos países participem desses ataques, o professor de

 Comunicação e Estudos de Mídias Digitais na Ontario Tech University, 

Tanner Mirrlees, enxerga os Estados Unidos como um dos principais 

protagonistas dessa narrativa colonizadora. "O império norte-americano 

é sustentado, há tempos, por três pilares estruturais de poder: exército, 

tecnologia e cultura popular", explica. 

O professor assina o livro Global Entertainment Media: Between Cultural

 Imperialism, em que explora como o chamado GAFAM, grupo composto por 

Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft, é crucial para a manutenção 

dos poderes estadunidenses. "O Vale do Silício alimenta nossa força econômica 

que, por sua vez, abastece o poderio militar, tecnológico e cultural", afirma. 

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Para dimensionar a relevância desse poderio, Mirrlees conta que das 161 corporações digitais listadas na Forbes 2000, quase metade tem sede nos Estados Unidos. "

Mas as maiores mesmo, Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft, são americanas. 

Juntas elas movimentam o capitalismo digital e correspondem a 9% de todo o PIB 

[Produto Interno Bruto] dos EUA". 

Crítico ferrenho do imperialismo on-line, o pesquisador pede cautela quanto

 às bandeiras associadas ao movimento. "O ‘beta colonialismo’ pode abastecer tanto os discursos 

alinhados à direita, quanto à esquerda, então é preciso estar muito atento às 

nuances do processo", finaliza.

Esse cuidado, para Joseph O. Boyd-Barrett, professor de Comunicação na 

Universidade Estadual da Califórnia Channel Island, tem que transbordar das 

mídias sociais e invadir todas as fontes de informação. "Os ditos 'países do Sul'

 dependem de organizações

 baseadas no Norte para obter informações sobre o mundo, mas também para 

produtos de entretenimento", aponta.

O professor reconhece que a mídia brasileira muita própria força, mas acena para o

 recorte dado por ela. "A imagem do mundo que as pessoas no Brasil estão 

recebendo é uma imagem que foi compilada por organizações como Reuters ou AP [Associated Press] que são, é claro, sediadas nos Estados Unidos."

Combater um processo tão longo de colonização não é fácil, sobretudo porque 

a internet está nas mãos de corporações, que conseguem com alguma facilidade

 manipular o sentimento social. Boyd-Barrett defende a conexão direta com vozes

 plurais como forma de "combate".
 

Edição: Camila Maciel

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