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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

CARTA ABERTA AO JUDICIÁRIO BRASILEIRO CAPTURAS DO FACEBOOK




NESTA CAPTURA NÃO Há NADA MAIS A FALAR SENÃO DIVULGAR A  IGNOMÍNIA, O TERROR DA DITADURA TOGADA.P.Vasconcelos
via posta Cida Le Dort Facebook
CARTA ABERTA AO JUDICIÁRIO BRASILEIRO
Excelências, e dirijo-me a todos os magistrados brasileiros, do juiz de primeira instância, no menor, mais pobre e longínquo município, aos Ministros do Superior Tribunal Federal – STF.
A minha posição político-ideológica é pública e notória, e aqui declino dela, tentando a neutralidade.
Vou além: aqui e só aqui, circunstancialmente, admitirei a culpabilidade do ex Presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Ouvi atentamente cada minuto do julgamento do recurso impetrado pelas defesas de réus da Lava Jato, entre eles, o ex Presidente, já aludido.
Em mais de uma oportunidade ouvi dos Senhores Desembargadores coisas tais como: “juízes não julgam pessoas, mas fatos, punindo os que participaram dos fatos, se ilícitos ou criminosos”, “todos os homens são iguais perante a lei, do mais humilde ao Presidente da República”, chegando à citação do escritor russo Fiodor Dostoievsky: “não existem homens de bronze, são todos de carne e osso”.
Concordo com todas essas afirmações e, a partir delas, indago sobre algumas dúvidas, minhas, suscitadas a partir do que ouvi hoje.
O ex Presidente Fernando Henrique Cardoso é proprietário de um apartamento de luxo no mais luxuoso bairro de Paris, na Avenue Foch, ao lado dos Príncipes de Mônaco e sheiks árabes, avaliado em 11 milhões de euros, mais um apartamento em Nova Iorque, dois em bairros nobres de São Paulo, um na Zona Sul do Rio de Janeiro, área nobre, e mais um fazenda de 1 046 hectares, no município de Buritis(MG), com um aeroporto dentro, com pista maior que a do Aeroporto Santos Dumont, que serve à ponte aérea Rio-São Paulo, graciosamente construído pela empreiteira Camargo Correa, que no governo FHC ganhou praticamente todas as licitações para as obras públicas em Brasília.
Cálculos modestos apontaram que para ter este patrimônio de maneira lícita, FHC teria que ter presidido este país, acumulando os salários de presidente e de professor, por mais de 200 anos, e me ative ao registrado e assumido pelo ex presidente, sem considerar as contas e empresas offshore descobertas pela PF e Banco Central, em paraísos fiscais, a partir de denúncias vindas do exterior.
Estamos diante de fatos, ou por haver um homem de bronze por trás não são fatos?
O ex governador e atual senador Aécio Neves construiu dois aeroportos em fazendas de sua família, com dinheiro público, fora da rota dos vôos comerciais, mas na rota do narcotráfico, fez aportes enormes de dinheiro público para as suas empresas, a começar pelas suas emissoras de rádio, detém, de maneira obscura, a quase totalidade das reservas de nióbio, minério nobre, do planeta, foi gravado pedindo propinas e citado na Lava Jato dezenas de vezes.
Estamos diante de fatos ou não são fatos, porque há um homem de bronze por trás?
O ex governador, ex ministro e senador José Serra, filho de imigrantes, nascido em uma quitinete, no subúrbio paulistano, é hoje detentor de uma enorme fortuna, com a PF tendo descoberto contas suas em paraísos fiscais, tendo sido acusado de ser chefe de uma quadrilha internacional, pelo Ministério Público espanhol, com a sua filha tendo uma variação patrimonial de mais de 60 000% em menos de um ano, partindo de uma pequena sorveteria para ser sócia do dono da AMBEV, a segunda fortuna brasileira.
I
sto nos faz estar diante de fatos ou não são fatos, porque com um homem de bronze por trás?
A Polícia Federal apreendeu um helicóptero com quase meia tonelada de pasta de cocaína, helicóptero de um deputado, apreendido na fazenda de um senador. Isto é um fato ou não é um fato, porque há homens de bronze por trás?
Um jatinho executivo foi interceptado com 647 kg de pasta de cocaína, tendo levantado vôo de uma fazenda de propriedade de um ministro. Isto é um fato, ou não é um fato, porque há homens de bronze por trás?
Eu poderia continuar citando nomes, e daria um livro com centenas de páginas, mas se os senhores repararem, só citei fatos relacionados com nomes da elite do PSDB.
Hoje, no julgamento de Lula, ouvi os nomes de diversos partidos serem citados, mas não ouvi a citação do PSDB.
Por fim, Excelências, um advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán, em depoimento a uma CPI do Congressos Nacional, em depoimento de quatro horas, acusou o Juiz que condenou Lula em primeira instância, de ser um vendedor de sentenças e acordos com réus, para delações premiadas.
Mais que acusar, provou, com provas robustas, a começar por e-mails de negociatas, emitidos de computadores da 13a Vara Federal, de Curitiba, a ele.
São fatos ou há um homem de bronze por trás?
Temos uma esquerda de carne e osso e uma direita de bronze? Um povo de carne e osso e uma elite de bronze, com os seus interesses defendidos por homens de bronze?
O Judiciário brasileiro é de carne e osso? De bronze? Ou, pior, está rachado, o que nos aponta o caos, adiante?
Perdoem-me a impertinência, Excelências. É que sou fã do escritor russo, tendo devorado quase todos os seus livros na juventude, com “Crime e Castigo” me marcando sobremaneira, onde ele afirma não haver homens de bronze.
Nesta altura da vida ter a decepção de perceber que ele estava errado, dói.
Assim sendo solicito que na ata dos trabalhos de hoje, em Porto Alegre, em todas as vezes em que aparecer que o Judiciário julga fatos, substituam para o Judiciário julga homens, pelo menos o brasileiro, preservando Dostoievsky..
Decepcionadamente
Francisco Costa
Rio, 24/01/2018.

sábado, 20 de janeiro de 2018

REUBEN DA ROCHA - A POESIA DE NOVO ENXAME LEXICAL




A poesia é feito cobra mansa, braba, bico de ema, sapato furado ou papel de seda em desmonte — assim o poeta que lambe o mundo de verdade trata (quase) tudo, destrata, seleciona, diz, rediz; não agrada-me adjetivos a qualificar o poeta. Prefiro ler, sentir, gostar ou não gostar da rede de palavras que ele tece, morder e tirar meu sentir. Chama-me atenção em qualquer poeta sua teia de palavras, seu mundo lexical, seus adornos, seus investimentos político-sociais, a pintura do seu imaginário, a saída dos lugares comuns, o modo de entortar palavras, a escrita, e lá vai.

Esses agrupamentos de características, sublinho-os, faz-me abrir mais as pestanas e entrar dentro do poema — foi o caso de Reuben Rocha. Aliás, há uma afirmação dele para o estar e ser poeta quando diz: "A tarefa do poeta é o trânsito. É você conseguir fazer a tradução e a passagem de um mundo para outro." 

É sempre difícil nos definirmos, ás vezes só apelando para uma prosa poética quando escapa talvez algo de si. Aqui nesta afirmação quiçá ele se diga um pouco: "Eu sou um bicho do mato vivendo em uma megalópole do terceiro mundo. Eu nasci numa ilha, gosto de conversar com o vento, com o movimento das marés, com a gradação da luz do sol. Quando eu penso em tecnologia, me parece um monte de sucata que já passou..."

Reuben teve destaque merecido em um dos números do Suplemento Cultural do Diário Oficial de Pernambuco, que considero um dos bons meios da Literatura e Arte neste país, ainda que pouco conhecido. Tendo como mediadora da matéria/entrevista Giani de Paula de Melo, da área de Letras.

Paulo Vasconcelos





LOGO ACIMA DO SILÊNCIO DO ÍNDIO Q SE SUICIDA

o enforcado sonha em disparada desta atmosfera pesada p/ outros mistérios + esferas
logo acima
dos abacates suspensos podres 1tupi akira
vara a febre do mosquito galopa aflito p/1lugar longínquo + escapa
às tentativas de assassinato
vista multidimensional do universo
amplo ataque do enxame sobre o exército
...
.....http://bit.ly/2Bhihzt
Abaixo segue  matéria do referido suplemento e seu link:




 http://bit.ly/2mUv2L2
Escrito por Gianni Paula de Melo (imagem: Beatriz Sano/ Divulgação)



Enquanto preparava o texto desta entrevista, a mais canceriana de tantas que já realizei, me vi em algumas conversas com pessoas que não conheciam o Reuben da Rocha e que me perguntaram como era a sua escrita. Eu dizia: é algo entre os índios e os astronautas, é sobre tornar inteligível a nave espacial para um lagarto. Nascido em São Luís (MA), mas morador de São Paulo, o poeta, também conhecido por cavalodadá, é das potências mais estranhas e fascinantes da poesia contemporânea brasileira. Por não ter publicado por selos comerciais, ainda escapa a muitos leitores.
Em tempos de abismo e histeria coletiva, não é em toda esquina que alguém te diz que “a evasão pode ser um direito que as pessoas estão exercendo muito pouco”. É preciso coragem para bancar um projeto poético que ressoe alegria e saúde, uma vez que existe um preço em ser um sujeito deslocado que recusa os discursos do medo e da melancolia da época. Escaldante, seu livro mais recente, realizado a convite do selo Livros Fantasma e disponível para download (no site livros-fantasma.com/catalogo), traduz bem esse projeto.
No tocante às publicações, seu trabalho de mais visibilidade até hoje talvez seja a série Siga os sinais na brasa longa do haxixe, espécie de distopia que o autor designa como “epopeia do terceiro mundo”. Nesta conversa com o Pernambuco, Reuben explica a contribuição que lhe é possível dar como artista, fala sobre seu gesto de preservação do entusiasmo e indica os poetas e experiências que se comunicam com a sua produção.

Quem é cavalodadá?
É uma tentativa de criar uma poética a partir da degradação linguística deste século. É uma “personagem semiótica”, que apareceu em uma música que fiz e já nem lembro, um “cavalo dado” em versão travesti. E é aquele que incorpora de maneira onívora, um cavalo com o “dial” girando solto. Mas um nome vai ganhando sentidos que você não espera. Nos últimos anos, acabei descobrindo que Dadá é um nome de Xangô na Bahia, e Xangô é um orixá que é muito próximo de mim. Cavalodadá é um aspecto da minha poética, e eu sei que ainda vou ter muitos nomes na vida.
A poeta Júlia de Carvalho Hansen, certa vez, me disse que te considerava um poeta-xamânico-cognitivo. Por que ela te define assim? 
Porque ela é gentil. Eu desconfio um pouco de um poeta que se coloque nesse lugar, nesta época de autoimagens hiperconstruídas do autoengano instantâneo. Para ser xamã, você tem que passar por uma iniciação de vida ou morte, você precisa curar a si mesmo. Eu não diria isso de mim.
Escaldante conecta o cósmico com o extremamente palpável e mundano. Como este livro foi gestado?
Este é o livro que eu levei mais tempo para fazer, porque em todos os outros eu me coloquei numa certa urgência, numa rota até o limite físico do escrever. Escaldante são aqueles poemas que eu fui fazendo na beira da estrada ao longo de tantos anos que eu nem sei dizer. E também traz uma série de imagens, que chamo de “ambientais” e assino como Ambos, que é “coautor” do livro. São intervenções gráficas que fiz numa série de pedras de tamanho médio, descartadas pela construção civil, e que depois fotografei ao longo de várias derivas pela cidade, criando colagens gráfico-espaciais por meio da fotografia. Existe mesmo isso que você disse, uma ligação entre o cósmico e o chão. Eu ando muito a pé, ao mesmo tempo tenho uma relação forte com a atividade da contemplação, então eu tento transformar a observação em beleza. A origem do sentimento espiritual é a contemplação, você se deparar com o absurdo da beleza que está disponível. E é nesse estado de percepção que consigo criar. Na cidade, isso acaba se ligando muito com a calçada, com o meio-fio, com a sarjeta, a sujeira. É uma forma de olhar para cima olhando para baixo.
E existe uma ambivalência temporal, como diz aquele verso: arcos futuros alçados mil anos atrás. Tua escrita concilia muito elementos científicos e tecnológicos com elementos ancestrais e primitivos. 
É uma percepção de que os tempos convivem, e o que vai acontecer já aconteceu. Gosto de me colocar em situações nas quais me vejo fora do tempo, como no caso da experiência psicodélica, ou do ato físico de amar. Eu sou um bicho do mato vivendo em uma megalópole do terceiro mundo. Eu nasci numa ilha, gosto de conversar com o vento, com o movimento das marés, com a gradação da luz do sol. Quando eu penso em tecnologia, me parece um monte de sucata que já passou. E ao mesmo tempo isso tudo é a pedra lascada, é o mecanismo da expansão humana, porque o caminho da espécie é parecido com o caminho dos signos, né? “Os signos crescem”. Tudo caminha para a expansão, e tudo é só um brinquedo para mamíferos. E já que estou aqui, como mais um mamífero experimental no planeta, eu me ocupo com a tecnologia em busca da contemplação possível neste mundo de sucata.

Você transita confortavelmente no meio dessa sucata?
Eu me sinto estranho, mas ao mesmo tempo confortável, porque a tarefa do poeta é o trânsito. É você conseguir fazer a tradução e a passagem de um mundo para outro.
Tarso de Melo definiu a série Siga os sinais na brasa longa do haxixe como “libretos de uma ópera dos tempos convulsivos em que tudo tem donos cruéis e nada faz muito sentido”, mas ele também diz que, diante da tua forma de composição, parece que “tudo rui – e nasce mais bonito”.  Você se reconhece nessa afirmação? 
Haxixe foi um projeto bem desesperado. Eu tinha o núcleo do roteiro e me propus a escrever os seis volumes em um ano, seriam dois meses para cada livro. Às vezes, eu releio e me surpreendo, porque eu tinha uma visão mais dura, achava que era um livro terrível. É um poema distópico onde as personagens estão vivendo uma utopia de sexo, carinho e revolta. É uma epopeia do terceiro mundo.
É como se interessasse também as brechas por onde a utopia ainda escapa. 
Eu tenho uma atração pela experiência da beleza; um querer porque quero cortejar a beleza e me alimentar disso. Eu quero ver e estar sempre em busca de uma possibilidade de gozo.
Teu posicionamento coincide com uma visão otimista do mundo?
Não gosto de cultivar estados mentais de baixa frequência. Talvez meu papel na luta seja criar alguma coisa mais arejada. Existe uma reserva de alegria que eu sempre encontrei na arte. Eu quero escrever coisas que façam contrair o coração. E ao mesmo tempo você tem que morrer todos os dias e aprender a nascer de novo. Não é bem um otimismo, mas um entusiasmo.
Mas a sua perspectiva pode ser facilmente tomada como evasão? É o risco que se corre?
Talvez. Walter Benjamin dizia que a fofoca só existe porque as pessoas têm medo de ser malcompreendidas. E tem aquela história da Nise da Silveira, de que existem mil maneiras de pertencer à sua época. Eu não sei se cultivar a beleza é a pior delas. Eu tenho lido muito Brecht, tenho buscado essas pessoas que tiveram grande fôlego em momentos de ruína, que tiveram fôlego e estômago. E, ao mesmo tempo, por mais que eu me situe como um sujeito histórico, inserido em um processo de transformação socialmente doloroso, tenho uma atração pelas “ilhas desertas”, pelas experiências de solidão social e integração vital com o vazio. A evasão pode ser um direito que as pessoas estão exercendo pouco.
Parece meio perigoso dizer algo assim nos dias de hoje.
Eu fiquei pensando muito nisso quando a gente começou a falar sobre a possibilidade dessa entrevista. Será que eu deveria dar uma entrevista?
E a arte tem estado a serviço de outros discursos?
As pessoas perdem de vista que o prazer que a arte pode gerar tem um caráter desviante muito grande, que você cria novas realidades, e se energiza para as broncas do cotidiano normativo. Isso é uma questão de saúde mental, que ao mesmo tempo não resolve a vida de ninguém, mas você cria uma centelha de rebeldia instintiva. Politicamente me interessa muito saber como meu livro pode chegar ao máximo possível de adolescentes, que vão entrar em contato com um discurso perigoso que não é pra ser entendido de cara, é pra se relacionar de uma forma que não é intelectual apenas, mas é física, sensual, sensível. Chama a atenção que a gente esteja vivendo novamente um momento autoritário, mas que desta vez não tenha a experiência do desbunde. Não tem a experiência social e coletiva daquilo que pode ser visto como escapismo, mas é produção de novas formas de vida.
Quais poetas se comunicam com a sua escrita? 
William Blake é um grande contemporâneo meu; Maiakovski; José Agrippino de Paula, o multiartista importantíssimo; os cineastas Rogério Sganzerla e David Cronenberg. Khlébnikov, Walter Benjamin, Lao Tsé, o poeta místico que não conheceu a morte. Rumi, Gregory Corso, Katsuhiro Otomo, Décio Pignatari. Júlia de Carvalho Hansen, Carla Diacov, Tazio Zambi. Ricardo Aleixo, que é um grande diálogo, todos temos muita sorte de conviver neste momento com Ricardo Aleixo. Sebastião Nunes, Waly Salomão, Valêncio Xavier. Vasko Popa, Hakim Bey, Walt Whitman. Com certeza tem vários de que eu não estou conseguindo lembrar.
Que outras experiências entram no seu processo compositivo?
Eu tenho uma relação muito forte com a psicodelia e as plantas de poder, com a ayahuasca e os cogumelos, com o LSD também, com a maconha. Para mim, sempre foi uma busca espiritual decisiva e uma busca de linguagem decisiva. Todas as experiências de alteração da consciência e do corpo foram também transformações de linguagem, foram chegar a escrever diferentemente. Existe também a relação intermídia com o fazer, ao buscar me contaminar por materiais de naturezas diferentes, códigos plurais, e não fixar a poesia num suporte dado. O dub reggae, o free jazz, as histórias em quadrinho. E o hábito de andar na rua e ouvir as pessoas.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A escola não pode ser uma empresa porque a lógica da educação não é a do mercado





... devemos estudar por amor ao conhecimento, por amor à aprendizagem, para que sejamos homens e mulheres livres. Os alunos têm de compreender que não há saber sem conhecimento e que só se é livre se formos sábios. E isso não têm nada a ver com o mercado e com aquilo que este pede.


A minha grande insatisfação com a universidade Privada sempre foi com a grade curricular e por interesses econômicos, ou seja, menos disciplinas, menos professores , maior lucro. De outro lado há uma necessidade de incorporar apenas o saber técnico, desta feita as disciplinas da área de humanas são excluídas por não ter  um caráter técnico e como se  fosse algo nao inútil.
Lembro-me que fui demitido de uma dessas Universidades Privadas com a alegação de que a disciplina que eu lecionava nao estava mais na grade curricular . Na época  era Antropologia Cultural, isto no curso de Engenharia e suas especializações como: Elétrica,Ambiental de Produção , área de Informática etc.
 Buscava nesta disciplina discutir o caráter  da matéria dentro das categorias do espaço, tempo, e velocidade, enfim da produção/consumo. Embutia aí o  conceito de cultura e como esta se envolvia com aquelas categorias e como as mesmas se moviam dentro da história.Ao mesmo tempo, sublinhava como o homem se inseria e era visto com vistas ao mercado e como o  mesmo o reduzia ou o deformava.
De início os alunos contestavam, mas logo logo eles se abismavam com outro lado da questão que eles não enxergavam no  seu dia a dia. Paulo Vasconcelos
O artigo que vem abaixo, copiado, enquadra-se exato com minhas inquietações, leiam:
...
O professor universitário Nuccio Ordine contesta as “universidades-empresa” e defende mais investimento na educação, nomeadamente nos estudos clássicos.
Nuccio Ordine** acabou há pouco um périplo pela América Latina, depois Lisboa, onde realizou a conferência “A utilidade dos saberes inúteis”, na Torre do Tombo, a convite da Fundação Francisco Manuel dos Santos. A conferência está baseada no livro que publicou em 2013.
O livro “A Utilidade do Inútil”, publicado pela Kalandraka, foi traduzido para 20 línguas, está em 30 países e já vendeu mais de 200 mil exemplares. Neste, o professor italiano da Universidade de Calabria, filósofo e especialista na obra de Giordano Bruno, critica a lógica do lucro que chegou ao mundo do ensino e da investigação e propõe uma reflexão sobre quais são os verdadeiros saberes que podem ajudar a sair da crise.
Abaixo a entrevista concedida à Bárbara Wong, do jornal ‘Público’*
Finalizando Nuccio Ordine cita Victor Hugo e a necessidade de se investir na educação: “Seria necessário multiplicar as escolas, as disciplinas, as bibliotecas, os museus, os teatros, as livrarias.”
Actualmente temos gente muito competente à frente de empresas ou de governos, altamente especializada, mas que não sabe identificar uma peça de Bach ou nunca leram Thoman Mann. A escola falhou?
Esse é o grande problema da contemporaneidade: temos gente super especializada e que perdeu o sentido geral e global do saber. Hoje as escolas e as universidades preparam os alunos para seguirem uma especialização e isso é muito perigoso. Estas devem proporcionar uma cultura geral. Einstein já dizia que a especialização mata a curiosidade e esta está na base do avanço da ciência e da tecnologia. Por exemplo, a actual directora do CERN [o laboratório europeu de física de partículas] é uma italiana [Fabiola Gianotti] que fez estudos clássicos no liceu, aprendeu piano durante dez anos, mas é uma grande física. Os maiores arquitectos italianos, como Renzo Piano, fizeram estudos clássicos. Portanto é preciso ter uma cultura geral de base.
O que é preciso mudar no ensino?
O meu livro é um grito de alarme. Quando pergunto aos meus alunos por que estão na universidade, respondem-me que é para obter um diploma. Um diploma não serve para nada! Há uma visão utilitarista da educação que mata a ideia de escola. Vamos à escola para sermos pessoas cultas! Para sermos pessoas melhores, para sermos éticos, não importa o curso.
Na apresentação do meu livro, viajei de Norte a Sul de Itália e os estudantes diziam-me: “Professor, adoro os gregos e os latinos, mas os meus pais perguntam-me ‘o que vais fazer com literatura? Porque não te inscreves num curso onde possas vir a ganhar dinheiro?’ Isto é a corrupção da ideia do que deve ser a universidade! É corromper os estudantes. Temos médicos que o são porque ganham muito dinheiro e não por razões humanitárias e não pelo que prometem no juramento de Hipócrates. Esta corrupção – a ideia de ganhar muito dinheiro – atravessa a sociedade inteira, chega à política, à economia. Por isso temos corrupção no mundo inteiro.
Costumo ler uma história belíssima de Kavafis [poeta grego, 1863-1933] sobre Ítaca, a história de Ulisses, que diz que a experiência da viagem é que fará de ti um homem rico, fará de ti um homem melhor. Se não fizeres essa experiência, de nada te servirá chegar a Ítaca.
Isso significa?
Significa que devemos estudar por amor ao conhecimento, por amor à aprendizagem, para que sejamos homens e mulheres livres. Os alunos têm de compreender que não há saber sem conhecimento e que só se é livre se formos sábios. E isso não têm nada a ver com o mercado e com aquilo que este pede.
No seu livro critica as universidades-empresa.
Contesto a ideia de que as universidades sejam empresas. A nossa missão não deve ser vender diplomas que os estudantes compram. Isso é uma enorme corrupção. A escola não pode ser uma empresa porque a lógica da educação não é a do mercado. O princípio da educação é aprender a ser melhor, para si mesmo e não para o mercado. O que vemos na City em Londres [no centro financeiro britânico] são pessoas com elasticidade mental, pessoas que vêm dos estudos clássicos ou da filosofia porque compreendem melhor o mundo do que os especialistas em economia ou programação.
As consequências da Declaração de Bolonha, que veio alterar a forma como o ensino superior está organizado, são negativas?
Bolonha foi muito dura para o futuro do ensino. Há coisas graves, a começar no léxico, as palavras não são neutras, têm significado, e quando as primeiras palavras que os alunos aprendem, quando chegam ao ensino superior, é “créditos” e “débitos”, impomos uma lógica da economia no ensino. As universidades recebem financiamento consoante os seus resultados, quanto mais alunos com sucesso, mais financiamento recebem, e assim baixa-se o nível para todos passarem. Ninguém vai avaliar a qualidade, só a quantidade. Deixa-se de financiar as pesquisas de base, mas se não fossem essas não seria possível fazer ciência. As grandes revoluções são fruto de pesquisas de base. Por isso, é preciso redireccionar as coisas porque o inútil de hoje pode ser o útil de amanhã.
Que modelo de escola é que defende?
Costumo contar aos meus alunos que Albert Camus, quando ganhou o Nobel da Literatura, fez duas coisas: escreveu uma carta à sua mãe e uma ao seu professor da escola média [3.º ciclo do básico], Louis Germain. Foi ele que o incentivou a continuar a estudar, porque Camus era bom aluno, embora pobre. Camus agradeceu ao seu professor tudo o que fez por ele. É essa a escola que quero! Uma escola em que o professor e o aluno estejam no centro e os professores não estejam soterrados em burocracias. Os professores perderam a paciência para ensinar e a paciência tem de estar no centro da pedagogia.
E os pais? O que podem fazer para criar seres humanos mais completos: dar um computador ou um smartphone ou levar os filhos ao teatro ou a um concerto?
Comprar o computador e levá-los ao teatro, a ler poesia, a ouvir um concerto porque tudo isso pode mudar a vida de uma pessoa. A música pode fazer milagres, como pode a ciência. O poder libertado do utilitarismo pode tornar a humanidade mais humana.
*Entrevista originalmente publicada no jornal português ‘Público’, 21.10.2017.
http://bit.ly/2FAY1wb
**Nuccio Ordine é professor, filósofo e crítico literário italiano, um dos mais importantes estudiosos da Renascença na atualidade, especialmente sobre o filósofo Giordano Bruno.

sábado, 13 de janeiro de 2018

BRASILEIROS QUE CHEGARAM QUASE AO NOBEL: AMADO E DRUMMOND 1967









Nada é curioso e tudo pode ser político, o fato é que as palavras dos brasileiros quase chegaram lá, ao Nobel de literatura.O jornal A Tarde-MG divulgou curiosamente os bastidores -documentos da Academia Sueca, em que constavam o nome de dois brasileiros -Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado, entretanto o aclamado foi o autor da Guatemala- Miguel Asturias.De fato, um ou outro mereceriam o Prêmio pelo conjunto de suas obras e o caráter de excelência  em Literatura, mas não sabemos os entraves, os tais políticos  decisivos  que determinaram a exclusão.Ambos obtiveram outras  premiações pelo mundo afora e aqui mesmo no Brasil suas consagrações ficaram, e mais importante, na boca dos consumidores de boa literatura e poesia.Amado aos poucos não aparece tanto, como deveria,sabe-se lá o porquê, ou será que os baianos ou donos dos seus direitos sabem?  

...



Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado chegaram perto de vencer o Nobel de Literatura em 1967. É o que revelam documentos liberados pela Academia Sueca, que concede o prêmio todo ano, recém-divulgados.
Os arquivos da instituição são divulgados apenas 50 anos depois da escolha. A lista também mostra escritores aclamados, porém nunca premiados com o Nobel, como Jorge Luis Borges e Graham Greene.
O vencedor de 1967 foi o escritor guatemalteco Miguel Ángel Asturias. Na ocasião, a Academia elogiou o trabalho de Asturias “por seu feito literário vívido, fortemente baseado nos traços nacionais e nas tradições dos povos indígenas da América Latina” – é curioso notar que uma descrição muito parecida poderia ter sido atribuída à obra de Amado.
O nome do escritor baiano foi sugerido pela União Brasileira de Escritores, pela Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, e por professores das universidades do Texas, da Columbia e de Vanderbilt, nos Estados Unidos. O nome de Drummond foi sugerido pelo poeta sueco Gunnar Ekelöf (1907-1968).
Um tuíte da conta oficial do Prêmio Nobel afirma que o Comitê de Literatura não entrou acordo naquele ano – o presidente da Academia sugeriu o nome de Greene, e outros membros queriam dividir o Prêmio entre Borges e Asturias.
Lista. Dos nomes na lista divulgada pela Academia Sueca, Yasunari Kawabata levaria o Nobel em 1968; Samuel Beckett no ano seguinte; Pablo Neruda em 1971; Eugene Montale em 1975; Saul Bellow em 1976 e Claude Simon em 1985. O autor britânico nascido na àfrica do Sul, J. R. R. Tolkien, conhecido pela série “O Senhor dos Anéis”, estava entre os 70 nomes da lista.
Entre outros nomes conhecidos por aqui, também figuravam Georges Simemon, Ezra Pound, Edmund Wilson e Alejo Carpentier. Cinco mulheres também estavam na disputa: Marie Luise Kaschnitz, Katherine Anne Porter, Anna Seghers, Judith Wright e Lina Kostenko.

Vide matéria Jornal:http://bit.ly/2mwUdDA