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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Leo Cunha : "Cresci em cima, debaixo e dentro dos livros ..."



Leo Cunha



Um escritor que é bastante singular  não só da escrita, mas sobretudo na compreensão da  infância e do mundo juvenil, melhor abrangendo. Conversamos faz muito tempo, só agora pude publicar nossa conversa, sua obras cresceram, todavia segue abaixo a conversa que tem mais de dois ou três anos:




-Era uma vez acabou ou modificou para...

Era uma vez não foi, ainda é. É nos contos encantados de Marina Colasanti. É nas paródias de Sylvia Orthof. É no caldeirão televisivo de Once upon a time.
Eu mesmo já meti minha colher (e cara) de pau nessa sopa, quando escrevi os Contos De Grin Golados, que fazem bem isso: degringolam os contos de Grimm. E também na peça O Reino Adormecido.

-O que te contaram  na infância ...autores livros

Cresci em cima, debaixo e dentro dos livros. Cheguei a nadar numa piscina de livros, na minha infância. E, felizmente, me atiraram pra todo lado: pros contos de fada, pras aventuras de Tom Sawyer, Gulliver e Robinson Crusoé, pras viagens de Júlio Verne, pras turmas alucinadas de Monteiro Lobato e João Carlos Marinho, pros versos de Cecília, Quintana, Vinícius e Sidónio, pras crônicas de Drummond, Braga, Sabino. Tudo para gostar de ler. E gostei.

-Tudo tem um começo e como se deu...e este olhar infantojuvenil

Como quase falei acima, cresci numa livraria infantojuvenil, que minha mãe fundou no final da década de 1970. Eram ali as minhas tardes e sábados, lendo tudo (mesmo) o que existia no mercado, ajudando a vender livro, fazendo oficinas, pedindo autógrafos para os autores. Vem dali o fascínio pela literatura infantil e sua riqueza, sua pluralidade, sua leveza, sua esperança, seus espantos.
Nunca parei de ler os infantojuvenis, mesmo quando já lia Dostoievski, García Marquez, Borges, Calvino, Machado, Guimarães Rosa, Millôr Fernandes. De alguma maneira essas leituras todas foram se misturando em minha imaginação, mas o que eu sentava pra escrever sempre me parecia mais próximo do universo infantil, daquele olhar de descoberta do mundo, da linguagem, do jogo e do humor. Acabei seguindo por aí.

-Trabalhar a palavra na  produção para esta área exige um certo olhar para um campo linguístico de pertenças discursivas e como abarcar um pais tão grande com diversidades – considere  o lugar da prosa poética-

Sou viciado em escutar conversas, em prestar atenção no jeito como as crianças falam, gesticulam, olham e sorriem. Procuro quase sempre a coloquialidade, a fala solta, mas ao mesmo tempo poética e divertida. O desafio da prosa (e da prosa poética) me parece este. Sem deixar de contar uma história e construir personagens, construir um texto gostoso de ser lido em voz alta, de ser saboreado como linguagem.

-O contato frequente, a pesquisa junto as crianças e jovens se faz em sua vida e (ou ) você costuma fazer assim..

Meu contato com as crianças aumentou muito depois que nasceram meus filhos e sempre compartilhei com eles muitas histórias, canções, piadas, parlendas. Estou sempre atento e anotando frases divertidas, analogias inusitadas, erros criativos.

-Os  autores nacionais e de fora te dão guias na escrita ...

Acredito que tudo o que eu já li e leio me dão caminhos sim. Tanto  autores de livros adultos, quanto autores chamados infantojuvenis. Não sei se eu conseguiria apontar um autor específico cujas pegadas eu segui. Em boa parte a Sylvia Orthof, em boa parte o Zé Paulo Paes, mas muitos outros também, mesmo que meu texto seja bem diferente do deles.

-Quais livros da literatura nacional, como todo, de alguma forma se destina também ao publico infantojuvenil e quem você destacaria (autores e obras)

Poderia falar o resto da vida sobre isso. Vou destacar 10 livros que me vêm à cabeça neste  instante, aos quais estou sempre retornando.
- Os bichos que tive, da Sylvia Orthof
- Fábulas fabulosas, do Millôr Fernandes
- O gênio do crime, do João Carlos Marinho
- Corda bamba, da Lygia Bojunga
- Viviam como gato e cachorro, da Elvira Vigna
- História em 3 atos, do Bartolomeu Campos de Queirós
- Poemas para brincar, do José Paulo Paes
- Classificados poéticos, da Roseana Murray
- Camilão, o comilão, da Ana Maria Machado
- A vaca voadora, da Edy Lima

Putz, quanta injustiça: nem falei de Lobato, Cecília Meireles, Sérgio Capparelli, Elias José, Ruth Rocha, Ronaldo Simões Coelho, Mirna Pinsky, André Neves, Roger Mello, Claudio Martins, Tino Freitas, Caio Riter... ufa!
Em outro dia que você me perguntasse, certamente a lista seria outra.

-Na construção da narrativa a imagem te guia (ou não)  e depois  na edição se impõe, como é isto

Dependendo do livro, alguma ideia visual já nasce com a história e é fundamental para ela, mas, na maioria das vezes não.
Acabei de escrever um livro em parceria com o Tino Freitas, no qual a questão da imagem é fundamental.

-O imaginário dos jovens difere ou pode-se conjuminar ao imaginário adulto

Acredito numa ideia que alguns consideram meio piegas e inocente, mas que me parece muito verdadeira: toda criança é criativa, imaginativa, sonhadora, meio maluca, meio poeta, meio palhaça, e a vida vai tratando de apagar essas qualidades, que no mundo real podem até ser vistos como defeitos. Eu tento diariamente na literatura (e quase sempre na vida) dar espaço para essas coisas aflorarem.

-Destaque algumas de suas obras ( escolha )   faça algumas para considerações

São quase 50 livros, então me sinto cruel fazendo isso, mas vamos lá....

Ninguém me entende nessa casa! (ed. FTD) - Costumo chamar essa obra de um livro de memórias disfarçado de livro de crônicas. Sou eu pescando (com poesia, humor e alguma melancolia) passagens soltas da minha vida, que eu quis compartilhar com os leitores, principalmente os jovens.

Pela estrada afora (ed. Atual) - Não só porque me rendeu o prêmio de Autor Revelação no Jabuti e na FNLIJ,  mas principalmente porque considero que alcancei ali um ritmo bem dosado de memória e imaginação, de humor e emoção, de trama e jogo de linguagem. E também porque é uma homenagem aos meus avós e todas as histórias, causos, parlendas, charadas e poemas que me contaram na infância.

Haicais para filhos e pais (ed. Record) - Livro que levei anos e anos escrevendo, embora tenha apenas 51 haicais. Para cada um que usei, descartei muitos outros. É um livro de poemas soltos, instantâneos da vida, mas ao mesmo tempo carrega uma quase narrativa ali por trás, do momento da gravidez até o momento em que o filho sai de casa. Venceu o Prêmio Biblioteca Nacional, como melhor livro infantil do ano.

Clave de lua (ed. Paulinas, livro-Cd) - Os maiores méritos desse livro lindo são dos meus parceiros. Eliardo França, que usou na ilustração telas imensas, pintadas a óleo, transformando o livro numa exposição. Renato Lemos, André Abujamra e Luiz Macedo, que musicaram os poemas. E principalmente o editor Edmir Perrotti, que teve a grande sacada de reunir a turma toda neste projeto que me deu muitas alegrias.

Biografia resumida

- Nasceu em Bocaiúva (MG), em 1966, mas mora em BH desde muito pequeno. Casado com Valéria desde 1996. Pai de Sofia (15 anos) e André (7 anos)

- Autor de mais de 50 livros de literatura infanto-juvenil e de
crônica

- Autor de contos e poemas publicados em mais de 20 coletâneas e antologias

- Tradutor de 30 livros de literatura infanto-juvenil

- Autor de 35 artigos científicos ou capítulos de livros em obras teóricas sobre literatura, jornalismo e cinema

- Vencedor do Prêmio Jabuti, Nestlé, FNLIJ, Biblioteca Nacional e outros prêmios de literatura infantil

- Pesquisador e autor de diversos artigos e capítulos
de livros teóricos sobre literatura infanto-juvenil e jornalismo

- Palestrista, debatedor e oficineiro em diversos eventos

- Doutor em Artes/Cinema

- Mestre em Ciência da Informação

- Graduado em Jornalismo e Publicidade  

- Professor universitário desde 1997


Livros atualmente no mercado (sem incluir coletâneas e antologias)

1.      Pela estrada afora - Atual Editora, 1993.
2.      O sabiá e a girafa - Nova Fronteira, 1993. (atualmente na ed. FTD)
3.      Em boca fechada não entra estrela - Ediouro, 1994. (atualmente na Nova Fronteira)
4.      As pilhas fracas do tempo - Atual Editora, 1994.
5.      O menino que não mascava chiclê - Paulinas, 1994.
6.      Conversa pra boy dormir - Dimensão, 1995.
7.      Sonho passado a limpo - Ática, 1995.
8.      Joselito e seu esporte favorito - Nova Fronteira, 1996. (atualmente na Rovelle)
9.      O inventor de brincadeiras - Dimensão, 1996.
10.   Cantigamente - Ediouro, 1998. (atualmente na Nova Fronteira)
11.   Na marca do pênalti - Atual, 1999.
12.   Poemas lambuzados - Saraiva, 1999.
13.   A menina da varanda - Record, 2001.
14.   Clave de lua e outros poemas - Paulinas, 2001.
15.   Pão e Circo  (com André Salles-Coelho) - Atual, 2002.
16.   XXII!! - 22 brincadeiras de linhas e letras - Paulinas, 2003.
17.   Manual de Desculpas Esfarrapadas - FTD, 2004.
18.   Poemas avoados - Saraiva, 2004.
19.   Era uma vez um reino de mentira (com Ricardo Benevides) - Record, 2005.
20.   Contos De Grin Golados - Dimensão, 2005.
21.   Lápis encantado - Quinteto, 2006.
22.   Era uma vez um reino sonolento (com Ricardo Benevides) - Record, 2007.
23.   Três terrores - Atual, 2007.Cast
24.   Tela plana - crônicas de um país telemaníaco - Planeta, 2007.
25.   Profissonhos - um guia poético - Planeta, 2007.
26.   Viva-Voz - Positivo, 2008.
27.   Turmas do Prédio, da Rua e do Bairro (com Ricardo Benevides) - Dimensão, 2008.
28.   Vendo poesia - FTD, 2010.
29.   Castelos, princesas e babás - Dimensão, 2011.
30.   Ninguém me entende nessa casa! - FTD, 2011 
31.   Num mundo perfeito –­ Paulinas, 2012.
32.   O reino adormecido (teatro) – Record, 2012.
33.   Videntes – e outros pitacos no cotidiano – Melhoramentos, 2012.
34.   A menina e o céu – Ed. FTD, 2013.
35.   Haicais para filhos e pais – Ed. Record, 2013.
36.   Piolho na Rapunzel – Ed. Projeto, 2013.
37.   Um aventura no sonho  Ed. Edelbra, 2013.
38.   Dedé e os tubarões (com Alessandra Roscoe) – Ed. Escarlate, 2013.
39.   Língua de sobra – Ed. Cortez, 2014.
40.   ABCenário – Ed. Autêntica, 2014.
41.   Arca de Noé: uma história de amor – Ed. Nova Fronteira, 2014.
42.   Vira-lata (com Luiz Magalhães) – Ed. FTD, 2015.







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AMAZÔNIA -EnClave Política: Conversamos con Tarsicio Granizo

Solidariedade mundial pela Amazônia --Bolsonaro nem aí!

telesur

INDIFERENÇA CRIMINOSA DO SR.BOLSONARO
A TELESUR mostra em matéria e vídeo um dos maiores crimes ambientais do mundo.


Solidaridad mundial por incendios forestales en la Amazonía

Los Gobiernos de Bolivia y Paraguay se han unido para trabajar juntos en el combate efectivo de los incendios que afectan a sus respectivos territorios.
La destrucción generada por los incendios forestales que perjudican gran parte de la Amazonía desde hace dos semanas ha conmocionado al mundo por las grandes pérdidas para la biodiversidad y ante la indiferencia del Gobierno brasileño presidido por Jair Bolsonaro.
Sin embargo, el fuego que azota al "pulmón vegetal del mundo" no solo afecta a los bosques y comunidades originarias de Brasil, sino que la castástrofe se ha extendido a los territorios de Bolivia y Paraguay.
Los Gobiernos de estos dos países se han unido para trabajar juntos y así combatir de forma más efectiva los incendios registrados, los cuales han acabado con cientos de miles de hectáreas de bosque y cultivos.

Exclusivo: Entrevista de Lula à TV 247

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Entrevista de Lula à TV 247 HOJE 22.08 21HS

Entrevista de Lula à TV 247 será transmitida nesta quinta, 22.08 -às 21h   https://www.brasil247.com/

Ex-presidente falou nesta manhã aos jornalistas Paulo Moreira Leite, Mauro Lopes e Pepe Escobar sobre diversos temas; confira a íntegra da transmissão no canal da TV 247 no YouTube

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

AMAZÔNIA -AGONIA E MENTIRAS


O 247 -encurtador.com.br/lwIT4- por Por Lisandra Paraguassu mostra a farsa do presidente, coisa comum em seus procedimentos fakes, para eximir-se de sua irresponsabilidade e sandice crônica.O País, o continente desmorona, pessoas adoecem e a terra - o planeta entra em hecatombe, e assim assistiremos as mortes pelo mundo e de  nossos aborígenes defensores da terra e de nossos tesouros, sendo nossos índios  seus legítimos donos. Para onde vamos?



Bolsonaro acusagir ONGs de queimarem a Amazônia para atingir o governo

Jair Bolsonaro acusou as organizações não-governamentais de estarem por trás das queimadas na Amazônia por terem perdido recursos e estarem querendo atingi-lo. “O crime existe. Isso temos que fazer o possível para que não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs, 40% ia para ONGs. Não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro. Então pode, não estou afirmando, ter ação criminosa desses ongueiros para chamar atenção contra minha pessoa, contra o governo do Brasil”, afirmou
Reuters - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira que organizações não-governamentais podem estar por trás das queimadas na Amazônia por terem perdido recursos e estarem querendo atingi-lo.
Ele não apresentou evidências das alegações e, indagado se tinha provas do que afirmava, disse que não existem planos escritos nesses casos.
“O crime existe. Isso temos que fazer o possível para que não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs, 40% ia para ONGs. Não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro. Então pode, não estou afirmando, ter ação criminosa desses ongueiros para chamar atenção contra minha pessoa, contra o governo do Brasil”, disse o presidente em entrevista ao sair do Palácio da Alvorada.
Em seguida, Bolsonaro afirmou que “tudo indica” que pessoas se preparam para ir à Amazônia filmar e então “tocaram fogo” na floresta.
Questionado se tinha provas ou indícios das acusações que fazia, o presidente afirmou que isso “não tem um plano escrito” e “não é assim que se faz”.
Desde o início deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora os focos de queimadas no país, já detectou mais de 72 mil pontos, especialmente nos Estados do Mato Grosso, Pará, Rondônia e Amazonas. O número é 83% maior que no mesmo período de 2018 —um ano atípico por ter sido muito úmido— e o maior dos últimos sete anos. 

HUMBERTO AK"ABAL "Não é que as pedras sejam mudas: apenas guardam silêncio".

HUMBERTO AK "ABAL por http://bit.ly/2HhDf7c



Carta maior faz a matéria abaixo - um poeta com demasiada consciência do hoje e amanhã,
Eduardo Carvalho teve igual sensibilidade na introdução da matéria e as perguntas.

Vale conferir: http://bit.ly/2HhDf7c

As pedras guardam o silêncio





“Neste país pequenino
tudo fica longe:
a comida,
as letras,
a roupa...”


Humberto Ak’abal nasceu em Momostenango, Totonicapán, na Guatemala, em 1952. Filho e neto de xamã de uma comunidade maia de idioma k’iché, herdou da família a espiritualidade, a tradição, o pensamento e a história de seus antepassados. Atualmente é um dos poetas guatemaltecos mais conhecidos na Europa e América Latina. Para que sua obra esteja ao alcance de todos, ele mesmo traduz seus poemas do k’iche’ para o espanhol. 

Em 1995 recebeu o diploma emeritissimum pela Faculdade de Humanidades da Universidade de San Carlos da Guatemala. Recebeu o Prêmio Internacional de Poesia Blaise Cendrars na Suíça em 1997 e o Prêmio Continental “Canto da América” da Unesco em 1998. Seus poemas têm sido publicados em revistas e jornais da Guatemala, América Central, México, Estados Unidos, Venezuela, Brasil, Colômbia, Espanha, França, Áustria, Suíça, Alemanha e Itália. Tem mais de 18 livros publicados no mundo todo, tendo sido traduzidos para inglês, francês, alemão, italiano, japonês, catalão, sueco e agora para o português, em “Tecedor de Palavras”, uma antologia bilíngüe em português e k’iche’, com 72 poemas selecionados por Affonso Romano de Sant’Anna, lançado no Brasil em novembro pela Editora Melhoramentos.

Um bandana rodeando a testa e a cabeleira, camisa colorida e um ar de xamã. Foi desta maneira que o poeta-índio da Guatemala, Humbero Ak’abal, fascinou Affonso Romano de Sant’Anna e outros poetas brasileiros, franceses, alemães etc. durante a Feira de Frankfurt de 2004 ao entoar seus poemas imitando animais, fazendo ruídos sugestivos com a boca e expondo teluricamente seus sentimentos e raízes milenares.

“Para lê-lo temos que mudar nossa perspectiva de recepção. Ele vem de outra tradição. Nada de Mallarmé, Baudelaire e outros ícones que marcaram tantos poetas ocidentais. É até um descanso encontrar um poeta com outra dicção, vindo de outra tradição, da poesia pré-colombiana, que confere seus sentimentos com os elementos da natureza e não da cultura”, afirma Sant’anna.

Rios, pássaros, flores compõem a referência anímica do poeta. Segundo Sant’anna, se alguém dissesse que a simplicidade desses versos lembra os haikais não estaria de todo longe da verdade, pois o Oriente e o Ocidente se encontram em sua simplificada complexidade. “O fato é que Humberto Ak’abal nos reensina a ver as coisas com palavras cotidianas. Às vezes surge um tom irônico e mordaz, mas em geral ressalta a delicadeza que lembra certas pinturas e desenhos primitivos.”

“Cruzei a ponte. Senti sede. Comecei a abrir um buraco com minhas mãos; a medida que tirava terra fui encontrando umidade; logo minhas mãos removeram a lama, até que finalmente me dei com uma nascente de água. O filete pareceu um vermezinho que movia-se entre a terra removida. Deixei descansar. A água turva começou a clarear, a lama foi se assentando no fundo do pequeno poço. Juntei minhas mãos, peguei a água e bebi.” Ak’abal conta que esse sonho marcou sua vida com a poesia, “ou melhor, acordou a poesia em mim. Andar, escavar, esperar. É exatamente o processo que me leva a escrever um poema. Buscar as palavras necessárias. E aquelas palavras desejadas são as mais cotidianas, as de uso comum. “

O silêncio das pedras
Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Humberto Ak’Abal fala de sua origem xamânica e da tradição de seu povo, de sua língua, de sua poesia e da penúria em seu país, onde mais de 60% da população é analfabeta.

Carta Maior - O senhor é filho e neto de xamã de uma comunidade maia de idioma k’iché. Como se dá, hoje na Guatemala, a preservação da cultura de seus ancestrais?
Humberto Ak’abal - Depois da chegada dos espanhóis às nossas terras, há mais de 500 anos, começou a imposição de outras culturas através da religião e, obviamente, do idioma. Contudo, uma das forças de resistência tem sido a conservação das nossas línguas e, nelas, de toda uma cosmovisão. Apesar do tempo transcorrido, não conseguiram apagar os calendários da lua e do sol, o Calendário Cerimonial da lua consta de 260 dias e continua vigente ainda hoje em nossas comunidades, como era antes da chegada dos castelhanos; e o calendário solar, de 365 dias, também continua vigente e seu início e fim não coincide com a mesma data do calendário ocidental. Cada um destes calendários está ligado à espiritualidade, ao sacro-mitológico, que é a base das nossas culturas. Mas também é preciso acrescentar às formas de resistência a nossa forma tradicional de alimentação, cuja base central é o milho, e as vestimentas tradicionais, com caráter e brilho próprios. 

CM - Haroldo de Campos, um importante poeta e teórico da poesia no Brasil, diz que o senhor "pratica uma arte poética da contraconquista". O que acha desta afirmação?
HA - Meu saudoso amigo Haroldo de Campos lançou um olhar fundo dentro da minha poesia, porque, todo aquele que ler meu trabalho, ou que o escute da minha própria voz, descobrirá que o que faço é contemplar "os valores" da nossa vida cotidiana, aquilo que não morreu, aquilo que ainda respira sob a avalanche da invasão constante de alienações provenientes das culturas estrangeiras. Ou seja, em um sentido metafórico, Haroldo de Campos tem razão.

CM - Outro poeta brasileiro, Afonso Romano de Sant'anna, diz que a sua obra vem despida da tradição poética européia, e que, por isso, pode conferir seus sentimentos com os elementos da natureza e não da cultura. Tal distanciamento é algo intencional, é um rompimento ou realmente uma ausência de vínculos?
HA - Preciso dividir a minha resposta em três partes: 1 - A partir do momento em que a nossa comunicação é cibernética, isto descarta uma ausência de vínculos com o mundo ocidental, portanto tenho perfeita consciência daquilo que está ao meu redor e da evolução da humanidade. 2 - Não é intencional, porque isso apresentaria meu trabalho como algo forçado e isso seria equivalente a um comportamento hipócrita. 3 - Tenho dito e tenho afirmado que a minha formação, mesmo sendo autodidata, aconteceu de duas maneiras: pelo que mamei diretamente dos meus pais, dos meus avôs, do comportamento natural da minha gente no povoado onde nasci e onde continuo vivendo, do que obtenho com a minha língua originária k'iche' e o que tenho aprendido dos livros, porque a minha formação e meu conhecimento da literatura universal tem sido por meio dos livros. 

Por tudo isso, o caráter da minha poesia é natural, é honesto, apresento minha poesia como vivo e tenho vivido, ela é sustentada pelo que conheço e pelo que minha experiência tem me ensinado. Se esta poesia tem mesmo algum valor é o da sinceridade. Não tenho a pretensão de apresentar uma obra desvinculada do século XXI, e também não pretendo apresentar um trabalho como se eu vivesse em uma ilha.

CM - Como é possível a transcrição da poesia em sua língua paterna, o k'iché, para o espanhol?
HA - De sobra, é sabido que a poesia é uma das artes mais difíceis de traduzir de uma língua para outra e os problemas que são enfrentados com as línguas orientais, ao traduzi-las para as línguas ocidentais e vice-versa, são os mesmos problemas do k'iche' para o espanhol. No meu caso pessoal, devo dizer que o conhecimento que tenho do castelhano me permite jogar com o idioma na hora de autotraduzir-me, acho que sou dois poetas em uma só pessoa, porque faço a modelagem dos meus poemas nas duas línguas, mas essencialmente me preocupo de que o sentido do que digo em maya-k'iche seja mantido na hora de traduzir para o castelhano; não é nada fácil, mas acredito que consigo uma alta percentagem de fidelidade graças ao domínio dos dois idiomas.

CM - Gostaríamos de saber mais sobre seu país em termos de identidade cultural. Há impregnação da indústria cultural americana, ou a Guatemala resiste à dominação cultural?
HA - Não tem sido fácil manter nossas identidades porque, tristemente, na área rural chega primeiro aos nossos povos a televisão do que as escolas, o militarismo chega primeiro que os professores. A exploração e a injustiça, a perseguição dos povos indígenas têm feito com que ocorram êxodos de povos e de aldeias na tentativa de resguardar sua integridade física. Tudo isto, de um jeito ou de outro, tem provocado muito desgaste nos nossos valores. Contudo, apesar da repressão e da imposição de valores externos, ainda nos mantemos de pé, graças às nossas línguas e à força do sangue que nos remete constantemente aos nossos antepassados e a compreender que a única arma que temos contra a discriminação e contra o racismo é o sentimento de que pertencemos à terra e à irmandade que mantemos com a natureza.


LEIA  TODA  MATÉRIA EM:  http://bit.ly/2HhDf7c

terça-feira, 20 de agosto de 2019

AMAZÔNIA EM CHAMAS E BOLSONARO RIR


Wagner Moura no Chile e fala sobre ditadura no Brasil









http://bit.ly/33K8pO7


Chile sedia 15º Festival Internacional de Cinema de Santiago 18 a 25 de agosto-,com participações de vários países Latinos e não latinos.O Brasil estará representado por Wagner Moura com o seu filme "Marighella". O mesmo ator/diretor será homenageado.

"Depois de ver "Marighella" abrir a 15º Festival Internacional de Cinema de Santiago (Sanfic), o ator e diretor Wagner Moura concedeu entrevista coletiva nesta segunda-feira no Chile e disse que no Brasil há uma "guerra de narrativas" sobre a ditadura que governou o país entre 1964 e 1985.
Para o ator, que estreia na direção com "Marighella", há aqueles que querem contar o que ocorreu durante os anos de regime de exceção no Brasil, caso do próprio autor ao contar no filme o caso do escritor, político e guerrilheiro Carlos Marighella, e os que querem negar os fatos ocorridos sob o governo militar, caso do presidente Jair Bolsonaro."-EFE-

....vou começar a me intitular como “Joana das Cabras, a poeta da seca”. ONÇA VERUNSCHK

arquivo da autora M VERUNSCHK in facebook
seguindo seu estilo escrevo no mesmo, ela sempre exata como o sim ou recusa.
abaixo seu post do facebook




em 2003 eu publiquei meu primeiro livro, um livro de poesia chamado Geografia Íntima do Deserto. um livro com uma influência cabralina, é claro, mas com algo para além da influência. este livro, como a maioria aqui sabe, foi finalista de um prêmio importante e teve uma certa projeção nacional a partir daí. as matérias dos jornais da época realçaram esse fato cabralino a partir do belíssimo prefácio que João Alexandre Barbosa escreveu para o livro e isso se tornou como que um carimbo que justificasse a minha inclusão entre os outros nove finalistas do prêmio, grandes nomes como Augusto de Campos, Manoel de Barros, Chico Buarque de Holanda, Décio Pignatari, entre outros. 
era menos a minha poesia e mais Cabral quem ali estava, tenho essa noção. de lá pra cá são 9 livros publicados, livros de ficção entre eles, alguns finalistas de prêmios nacionais, um romance vencedor, mas vira e mexe preciso lidar com assessorias de comunicação de eventos que pararam naquele 2004 em que o Geografia Íntima do Deserto foi finalista. então generalizam: a poeta (quando não “a poetisa”) é influenciada por João Cabral de Melo Neto e usa metáforas que remetem ao deserto, à secura, à escassez. para alguns inclusive continuo sendo professora de História em Arcoverde. 
é muita preguiça, muita falta de orientação de como se pesquisa e muita falta de bom senso mesmo, já que basta pedir uma minibio atualizada. 
desde 2004 que, aproveitando o gancho de uma brincadeira de uma amiga ironizando essa tara sobre as metáforas do deserto, vira e mexe me intitulo “A poeta da seca”. em 2019 com essa fixação por Cabral vou começar a me intitular como “Joana das Cabras, a poeta da seca”.