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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Literatura dos Arrabaldes: Rebeldia não engajada por OUTRAS PALAVRAS


Por Eleilson Leite, na coluna Literatura dos Arrabaldes


VALE A PENA LER, AVALIAR E TER CONCLUSÕES, SE ASSIM FOR POSSÍVEL.PAULO VASCONCELOS


Literatura dos Arrabaldes: Rebeldia não engajada-OUTRAS PALAVRAS                                               ( https://bit.ly/3iLrRAF)

Em três poetas da periferia, publicados na Era Lula, versos de quem labuta diariamente, mas extravasa as inquietações sem o formalismo literário — com bom-humor, xaveco e fino olhar para as opressões, mas sem os punhos erguidos

Publicado 14/08/2020 às 17:01 - Atualizado 14/08/2020 às 17:27 


Como fiz no artigo anterior, sigo analisando neste texto obras de autores publicadas no auge da literatura periférica que coincide com o segundo mandado do ex-presidente Lula, período em que a periferia teve uma redução da pobreza, embora não da desigualdade. Uma época de certa fartura e euforia na quebrada. Compartilho aqui a leitura de livros de três poetas da periferia da Zona Sul, nascidos nos anos 70 e frequentadores do Sarau da Cooperifa: Fuzzil (Levi de Souza); Casulo (Gilmar Ribeiro) e Lobão (Evandro).
Fuzzil publicou Um presente para o Gueto (2007). O livro do Casulo tem como título Dos olhos pra fora mora a liberdade (2009) e a obra do Lobão chama-se Fam da Rua (2010). Trata-se de literatura de trabalhador feita por quem está na labuta e encontra nos versos uma forma de extravasar suas inquietações e percepções da vida, porém, sem o formalismo literário classista.
Os autores não são operários de fábrica, trabalhadores de escritório ou funcionários públicos. São microempreendedores individuais, para usar uma terminologia burocrática. Fuzzil foi vendedor por muitos anos e continua exercendo o ofício, agora com sua própria confecção; Lobão faz bijuteria e as vende em feiras de artesanato e Casulo é dono de funilaria e exímio reparador de funilarias danificadas. Os três produzem uma poesia liberta de ditames de uma arte politizada e com isso criam sua própria estética e uma forma muito particular de discurso político. Na leitura conjunta das obras observei uma estrutura de sentimento1 que tem um impulso no incômodo com as injustiças, uma contensão que é a recusa da crítica ideologizada e um tom de rebeldia não engajada.
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Fuzzil

Um Presente Para O Gueto, publicado pela Edições Toró tem projeto gráfico e editorial totalmente fora do padrão. Os 61 poemas da obra estão dispostos em folhas separadamente, como se fosse um fichário e são acondicionadas num estojo de papel kraft, acompanhado de um giz branco. A concepção editorial é do editor da Toró, Allan da Rosa, e a capa e ilustrações são de South. Akins Kinté faz a apresentação que está publicada no final como se fosse um posfácio.
Levi de Souza nasceu em 1976 em São Paulo, cresceu no bairro do Capão Redondo. Foi manobrista, serralheiro, segurança, vendedor de água e refrigerante em porta de estádio até tornar-se rapper e educador em projetos sociais. Passou a frequentar o Sarau da Cooperifa por volta de 2005. Um Presente Para O Gueto, é seu primeiro livro. Posteriormente publicou mais três obras: Gaturra, em 2010 (Edições Elo da Corrente), Céu de Agosto, em 2013 e Um abrigo contra a Tempestade em 2017 (ambos com o selo da Academia Periférica das Letras). Ingressou no curso de Letras no ano em que lançou seu primeiro livro mas interrompeu os estudos.

Casulo

Gilmar Ribeiro nasceu na Bahia, em 1974, e se estabeleceu em São Paulo, em 1992. É funileiro e faz arte com sucata de automóveis. Frequentador assíduo da Cooperifa há 15 anos, Casulo participou do CD de 2006 lançado pelo Sarau. Dos Olhos Para Fora Mora A Liberdade foi publicado em 2009 com o apoio da ONG Ação Educativa e o carimbo da Cooperifa e segue sendo seu único livro, porém, a obra teve uma reedição em 2013, publicada pela Editora Filoczar acrescida de outros sete poemas. Nessa segunda edição, a poeta Maria Vilani fez um novo prefácio inspiradíssimo. Analiso aqui a primeira edição que reúne 107 textos entre poemas, prosa poética, crônicas, contos e vários aforismos. O livro tem formato 14 cm x 21 cm e 138 páginas. Sergio Vaz escreve uma orelha e na outra há um texto de apresentação do poeta. Há sete anos Casulo mantém o projeto Clamarte no Grajaú que tem um sarau mensal como uma das atividades. O recital é realizado na sua própria funilaria na qual expõe suas obras feitas em metal customizado.

Lobão

Evandro Lobão é hippie, produz e comercializa brincos, pulseiras e outros artesanatos que vende no Centro de São Paulo e no Litoral, especialmente em Ilha Bela. Morador do Capão Redondo, amigo de Ferréz, é frequentador do Sarau da Cooperifa há muitos anos. Sujeito carismático e despojado, atrai a simpatia de muita gente. Sua poesia despretensiosa é irônica e sarcástica seja qual for o tema abordado: uma mulher bonita ou a usura de um capitalista nefasto. Por essa razão, suas declamações geram muita gargalhada dos ouvintes e são sempre muito aguardadas no sarau. Em 2010, Lobão publicou Fam da Rua um pequeno livro com 20 poemas. Em formato de bolso (10 cm x 15 cm), projeto gráfico e diagramação simples, o livrinho teve edição sob responsabilidade do selo Círculo Contínuo. Essa obra continua sendo seu único livro publicado.

Um presente para o gueto

O livro é dedicado à memória do pai e da filha do autor. A dor da perda desses entes tão próximos justifica o traço melancólico presente em alguns de seus textos, fazendo-o destoar de Lobão e Casulo na forma, mas não no conteúdo. O tema da infância está presente em 11 poemas marcados pela indignação diante do abandono das crianças nas ruas e o saudosismo de uma infância feliz apesar da pobreza. A negritude e o ofício do poeta são outros dois temas recorrentes na obra.
Há um poema acróstico que serve de apresentação do poeta: “Feito/ Um/ Zangado que/ Zomba/ Inteligentemente do/ Labirinto”. Mas essa formulação poética não corresponde muito ao espírito de sua obra. Fuzzil não se mostra muito zangado, tampouco zomba das situações que aborda. São poemas simples, diretos, de fácil compreensão, como indicam os versos de Afoito: “Sigo em frente/Não sou louco/Sou poeta/Sou da rua/ Sou menino/ sou afoito/ sou Revel/ sou perigoso/ sou Fuzzil/ não fusível/sou eu/ que faço/ meu jogo. Aqui ele demonstra certa determinação e lucidez, elementos fundamentais de sua conduta como poeta e faz um trocadilho com a palavra fuzil e fusível, sugerindo que o primeiro tem poder de fogo, atira, ao passo que o segundo é apenas suporte para transmissão de energia elétrica.
Sobre o universo infantil, o poema Brincando de Giz é uma composição de tom lúdico: “Gosto de trovas/ infantis/ adoro brincar/ com giz/ risco a lousa/ faço arte/sou criança/sou feliz. Em História, Fuzzil relata sua infância pobre sem ressentimento: “Sei muito bem de minha história/O que fiz em outrora/As cabuladas de escola/rebeldia de menino/na garoa ou no sol ardente/empurrando meu carrinho/não de plástico, pequeno/falo de minha carrocinha. Já em Antonio, demonstra sua sensibilidade com as crianças abandonadas nas ruas: “Olha só quem vem ali/Descalço e sem camisa/ não é quem você pensou/é apenas um garoto de rua.
A negritude aparece com grande ênfase em dois poemas: De A a Z e Preto do Gueto. No primeiro, ele percorre o alfabeto catalogando palavras relacionadas ao negro: “Com A escrevo África/ Com B escrevo Bantos/ Com C escrevo Chibata/ Com D escrevo Dandara e assim por diante. O ofício do poeta está presente diretamente em dois poemas: Sou Eu e Poema. Neste último ele brinca: “Quando falam em poesia/ fico todo esfuziante, ressaltando o quanto o ato de fazer poesia é para ele estimulante.
Fuzzil destacou-se após a publicação desse livro que chamou a atenção tanto pela poesia quanto pelo projeto editorial. Vendeu rápido, esgotou e o poeta logo providenciou outro livro. Devido à projeção que adquiriu passou a frequentar outros saraus da cidade, tendo uma acolhida especial na zona noroeste junto aos saraus Elo da Corrente (Pirituba) e Poesia na Brasa (Brasilândia), embora tenha mantido residência na periferia da Zona Sul.

Dos olhos pra fora mora a liberdade

Casulo segue a tendência dos autores da Era Lula em termos de temática. Há pouquíssima referência à violência, às drogas e a outras mazelas que afligem a periferia. A própria palavra periferia aparece poucas vezes e de forma positiva quase sempre. Embora não esteja organizado por capítulos, os textos estão ordenados por assunto. O tema mais relevante é a natureza com cerca de 20 textos. As criações de inspiração amorosa aparecem também nesse autor com importante ênfase, seguindo a tendência dos demais autores masculinos com uma abordagem de reverência e exaltação à mulher.
Casulo também faz poemas satíricos com boa dose de escárnio, como Igualdade Absoluta, no qual divaga sobre a flatulência humana. A negritude e as desigualdades sociais completam o universo temático do autor que tem bom manejo das palavras, fazendo intenso uso de metáforas e trocadilhos, invertendo o sentido dos vocábulos, compondo textos fluentes de agradável leitura na maioria das vezes.
O primeiro bloco do livro aborda as relações afetivas entre homens e mulheres, pais e filhos, vida em família e amizade. Antes, porém, Casulo dedica dois textos ao ofício do poeta. Em um deles, O poeta e seu papel ecológico, afirma: “o mesmo texto indicado para as miopias cerebrais, que resulta em ignorância, age também nos corações como sensibilizador. Deve ser tragado pelos dedos, mas seu conteúdo vai direto para a cabeça. Seus efeitos colaterais são: exercício da cultura, sapiências, senso crítico…”.
Ao abordar o tema da família, o autor faz de sua vida pessoal um exemplo a ser seguido. Em textos próximos da crônica dá suas receitas de como ter uma família feliz: enaltece o casamento e a figura da “mãe guerreira” e progenitora como expressa no poema Dando a luz: “Quando a mãe contempla, beija com os olhos/ Pra cuidar da cria ela acorda cedo!/ Sempre madruga com o passaredo/ Assim como a lua tem fases e brilhos.
Quando o tema é relação homem e mulher, Casulo é irônico e assume o eu lírico de uma mulher no texto Minha mulher com papo de Amélia: “Não vale a pena viver trocando de marido, porque homem é tudo igual, só muda os documentos e o endereço… O meu, por exemplo: é homem até de baixo d´água! Por isso procuro dar uma assistência qualificada pra concorrência não criar asa”. Pelo título é possível deduzir que ele satiriza a abordagem da mulher submissa, porém o efeito é duvidoso e, talvez, só se efetive na entonação da leitura em voz alta, fazendo a caricatura. O autor aqui cai na armadilha de querer falar pela mulher, procedimento de alto risco de incidência machista.
Nos textos de humor e sarcasmo, Casulo abusa dos trocadilhos: “Pé-de-moleque quando cresce, deixa a bola de lado pra correr atrás dos rabos de saia empinando pipas com fio dental na areia da praia…”. A fim de discorrer sobre aspectos da fisiologia humana que iguala ricos e pobres, enxerga nos gases e nas fezes um denominador comum: “Os gases que soltamos são aromas do que comemos, para apodrecer dentro da gente se transformando em urina e excrementos. Todo animal, seja lá qual for é uma fábrica de estrumes. Perante à natureza, todos nós somos iguais, não importa o tamanho do seu tesouro, grande merda se você defeca numa privada de ouro”.
Mas é nos temas relativos à ecologia que Casulo apresenta suas composições mais elaboradas. Nessa temática ele tem dois textos que já são clássicos na Cooperifa. Um é Meu vizinho passarinheiro e o outro é TV Fábula. No primeiro, diz: “Meu vizinho passarinheiro, já sabia desde pequeno, que todas as outras espécies que ele trancafiava por curiosidade poderiam até ser alguns canários, mas nunca canalhas, para perder o direito de bem-te-ir e vir …”. Já no TV Fábula um papagaio repórter faz uma denúncia: “O tamanduá levantou a bandeira em defesa dos animais em extinção… Dizendo que as onças querem continuar vivas para que, futuramente, não sejam apenas pintadas!”.
E dessa forma Casulo articula seus pensamentos, críticas, denúncias, devaneios e delírios. De uma forma irônica, picaresca, um tanto traquinas atenuando assim uma tendência conservadora quando trata de mulher e família. Seu discurso não é ideologizado e é pouco politizado. Sua crítica social é intuitiva e se nutre de uma aguda sensibilidade para com o sofrimento humano e o descaso com a natureza. Consegue assim ser compreendido e sua mensagem acaba se expandindo com grande eficácia nos saraus e nos livros. “E ao me preocupar com os problemas do mundo, minha família fica imensa, mas meu coração há de crescer junto”. ....
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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Jean Baudrillard Do texto ao Pretexto

JEAN BAUDRILLARD por wikipedia

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Jean Baudrillard: Do Texto ao Pretexto por [Paulo Vasconcelos]

Baudrillard se constitui para algum de nos intelectuais do Brasil, um caso a parte – pensamento diferenciado- pensamento complexo do intelectual preocupado com uma contemporaneidade e, com a crise do paradigma do valor- sua preocupação mais genérica-.Valor aqui entendido em todos seus sentidos.

O meio acadêmico se depara com Baudrillard a partir dos anos 70 e mais intensamente nos anos 80, até porque é a partir de sua obra Sistema dos objetos(1968) – que nos aparece suas reflexões. Seu pensamento sociológico -apresenta um novo desenho epistemológico, dentro da ótica de analisar o social ,pelas filigranas da tessitura do consumo.

Partindo das influencias da Escola de Frankfurt, ele depura seu pensamento na macro estrutura marxista da economia política, todavia indo mais além com Mauss Weblen, Battaille.Seu discurso faz arte de um bloco novo dos anos 6o em que se conjuga o marxismo e a teoria psicanalítica- como foi o caso de Marcuse.

A sua sociologia dialoga assim com outras ciências para melhor entender o sujeito e seu social- na trama que ele coloca o consumo- universo amplo que também ultrapassa a visão apenas econômica , mas se estende numa bipolaridade tônica do real/ imaginário.

A teia em que o sistema produz e manipula os objetos – portanto passam por óticas – da sociologia- antropologia- economia – à psicanálise- esta entendida lacanianamente- sobretudo- o que permite seu exacerbar no uso da lingüística.
Em que pese caminhar de modo bipolar quanto a psicanálise no sentido de tentar desautorizá-la quando a uma série de categorias suas- como principio do prazer, principio da realidade, etc.. Baudrillard é dual ,contraditório, pois se há uma recusa sua recusa , e com isso uma derrubada da mesma, face seu pensamento, isso parece dar-lhe o direito de usufruir de algumas de suas categorias para outro fim, e assim se ajuntar para explicar o social. Aqui se finca seu estilo paratático/parafrásico, delineando seu estilo retórico provocador, as então linguagens intelectuais, sobretudo francesa.

Estudar Baudrillard é, portanto, se deparar com um pensamento novo, polêmico e por mais intricado que seja, desde seu estilo a sua forma de argumentação é interessante adentrarmos ao modo de pensar para observarmos como ele se coloca diante das implicadas querelas e contradições que no social residem. E que nos parece permitir a ele ser também controverso.

O que nos prendeu e prende em Baudrillard é um discurso,que permite pensar de modo interdisciplinar, por mais que isto implique em ruptura e reconstruções epistêmicas , e permita ver de modo amplo a nossa contemporaneidade, bem como, avançar ainda numa perspectiva marxista, sob um olhar novo, diante de um social diferenciado que emerge , e sacode a sociedade. Ao mesmo tempo um pensamento que tenta desestabilizar paradigmas postos , como alguns do marxismo, no uso do valor ligando-a semiologia e a psicanálise, no que concerne ao imaginário – real e o simbólico.

Ao mesmo tempo destaca-se no autor sua forma de envergar o consumo , não só numa perspectiva econômica, mas atrelada a uma visão – -digamos assim do imaginário social, em que o sujeito se enreda por uma trama que , sendo a que o suporta, entretanto , cerca o sujeito enredando-o numa trama mais ampla, em que a possibilidade de se desalienar desta trama, não passa por uma perspectiva do repensar-se isoladamente nem teoricamente apenas mas de retomar coletivamente, em todas a s nuances a ordem da vida e seus valor.

O que é mais interessante no autor, é como ele cerca o consumo, numa visão semiótica, em que os signos não apenas dizem os objetos mas colam- se ao sujeito formando uma segunda pele, o que sem isso não o faz se constituir como sujeito ativo da trama de identidade, mas que agora só se torna exeqüível no e pelo consumo.

Se a perspectiva do signo apreende esse sujeito na sua amplitude de representação , ele também esta retido na trama do seu imaginário num domínio, profundamente denso, em que a sua consciência se esfacela, na sedução das peripécias imaginarias que ao se tornar público , público- comunicável, na e pela linguagem, ou, ao se tornar visível , concomitantemente faz opaco o sujeito e credibilizando a linguagem, faz uma espécie de invisibilidade de si e manipulável na sombra e trama das mesmas visibilidades. Se estas dizem, dizem anonimamente, e sorrateiramente escraviza, na e pela sedução do que foi acreditado.
O corpo e a sexualidade em Baudrillard é um dos álibis, da sedução usadas pelas visibilidades do consumo, que ao atentar para o perceptível ,a fasta o deglutidor da imagem e , agora o sujeito é mais um tragado na visibilidade,.Agora sendo visível, é a anomia, um estereótipo. Na desculpa do ver –ser visível, de acreditar no visível, o sujeito perde sua identidade visível e torna-se uma mutação- numa freqüência repetidora do que não existe, senão estereotipadamente.
Baudrillard ao tomar a perspectiva do corpo e da sexualidade avança em sua obra, para o erótico , sedutor de nossa contemporaneidade , de modo a buscar , nas possíveis e supostas ações da psicanálise a contribuição para consumo exacerbado do erótico.Será?

O corpo, sempre foi cotejado pelas revoluções econômicas industriais ,e agora seria o mais belo objeto, para a sedução do projeto d e manipulação e sedução do sujeito, culminando com a tomada do sujeito pelo consumo, pela des-naturalização do mesmo e sua conseqüente derrocada de identidade.

A obra de Baudrillard , estréia então para nós brasileiros nas suas três grandes reflexões- sobre o objeto- o consumo- e a força do signo, o que na verdade corresponderiam respectivamente aos seus títulos- Sistema dos Objetos- Sociedade do Consumo- Por uma Crítica a Economia Política do Signo.
Estas obras já nos chamavam atenção por essa plêiade de tramas do consumo, e que ao mesmo tempo ele tenta re-argumentar trazendo de modo novo- a semiótica e a Psicanálise ao seu discurso, numa visão de envolvimento com corpo – e o erótico.
Por outro lado, ele não recusando o marxismo, busca uma nova contribuição partindo dos seus novos encaminhamentos reflexivos, e indo mais além em que, chama a psicanálise a semiologia- a falar - a contribuir sobre a exacerbação do consumo, face as estratégias da sexualidade e do imaginário sedutor expostas na visibilidade sígnica.

Para Baudrillard nesta primeira fase de sua obra falar do consumo é ter que falar dos discursos visíveis e neste aspecto não se furtaria a falar da publicidade.
Matéria sobre a qual soube Baudrillard investir com tanta força, de modo a trazer um perfil diferente, crítico sobre este tipo de comunicação, que com ele recebe um estudo crítico denso, e chega mesmo a fazer escola , de modo a que, quem depois de Sistema dos objetos , envereda pelo campo crítico da Publicidade E propaganda inegavelmente deixará de cita-lo, pois sua obra tangiversa a ação da publicidade, refletindo sobre sua ação combinada a outras ações sociais do consumo, ou entre outras pelo desataque que o autor concede para o esplendor social dos objetos industriais , e do poder de sedução das imagens e sua lógica combinada para o consumo e status

A combinatória de suas reflexões em o Sistema dos Objetos e A sociedade do Consumo, permitiu ao grande publico divisar com um autor que na sua densidade de pensar - ou numa reflexão macrocósmica do consumo adentrou para a mídia, a publicidade, e o lazer. A partir de então o autor é incluído no hall daqueles que discutem a mídia, o que a meu ver é estreitar a proposta baudrillardiana. A mídia e a publicidade , são fatos concorrentes para um fenômeno maior do seu pensamento que é a ordem do valor e o sujeito social.


Em que pese tais equívocos o que Baudrillard quer nos chamar atenção é da variantes formas de circulação do valor, e os meios pelos quais esses adentram, e em que medida a mídia não produz sua contribuição á ordem do valor humano, e em assim sendo , rediz valores que não são de outra ordem ,mas que para mais valorar o objeto cria armadilhas ao sujeito de modo que o seduz, e o recobre para indefiní-lo no social.

A indefinição do valor na ordem sócia, em Baudrillard, é algo que se presentifica de ponto a ponto em sua obra, chamando a tenção para a banalização de um pacto humano, que ora , na contemporaneidade opera de forma adversa ao pacto humanista e que com isso ascendemos a fenômenos estranhos, ou na sua linguagem a “fenômenos extremos “ , como o da banalização e entropia do sentido.
Pensar Baudrillard é degustar sentidos e interpretações que ele cuida em resgatar em minúncias colhidas no social, e em que se recusa a acreditar ,pois para acreditar teria que abrir mão da existência aguda que pede coerência e indagação permanente, e como hermeneuta seria desaparecer.

Chegamos ao êxtase da descredibilidade, ou ai reside uma outra ordem indevassada que não temos como aspira-la senão entrando na plena inconsciência do ser perdido, sujeito desmantelado no social.?

Refletir com Baudrillard é perpassar a ordem do exato, para se imiscuir numa outra perspectiva em que ele enxerga um sujeito fragilizado e agonizante.

Desde sua obra - As trocas simbólicas e a morte – 19....;- até a sua obra mais estruturada como corpus de indagação, e refiro-me a Transparência do mal –19.....= o autor explode em gritos para pedir uma definição deste homem contemporâneo, que na visão dele também grita nesta parafernália de proposições e verdades em que ele diz não encontrar coerência.
Por outro lado buscar uma compreensão da obra deste autor é produzir um
mergulho vasto de sua obra sem deixar de contemplar a sua poiesis nos escritos
tidos como não acadêmicos- em que pese o mesmo afirmar que não escreve para a academia- refiro-me aqui as suas obras – COLL MEMORIES I , II E III, ou mesmo seus artigos para o jornal Liberation nos anos-
Pensamos que sua obra poética- no conjunto de suas memórias tem o mesmo viço inquietante sobre a valorização da a condição humana, em que ele traz para um cotidiano mais chão suas indagações existenciais.
Este poeta às vezes se aparenta a poetas do absurdo, mas no que pese assim sê-lo, ele na verdade torna absurdo aquilo que lhe toca pela forma estranha, difícil de ser digerida, enfim, também absurda. Todavia há um Baudrillard claro, manso, no sentido da estética, na conjugação das formas literárias, imprevisível no aproveitamento da literatura , re-significador constante. Denso na verticalização das palavras e da meta estabelecida a poetar.

Baudrillard ascende a um discurso novo que, na verdade, já se prenunciava em suas instâncias teóricas em: A Transparência do Mal, As Estratégias Fatais, Da Sedução e mesmo em América, no entanto chega a tornar-se fatal em suas Coll Memories.

Em Coll Memories I(1992a), Baudrillard nos sacode não só nas entrelinhas mas numa nova figuração poética de seus contrapontos. Suas imagens chegam a uma figuração plástica imaginária como a de um escultor ou performático. Ele chega a ser metalingüístico ao se posicionar sobre a formalidade da obrigação da escritura teórica:

"... nada pior do que esta obrigação da pesquisa, da referencia e da documentação que se instalou no campo do pensamento, e que é o equivalente mental e obsessional da higiene ..." (Baudrillard:1992 a: 99)

Como literatura poética, a densidade da sua afirmativa não carece de contextos argumentativos, aliás fato comum em sua própria produção teórica . Na poesia não poderia deixar de ser mais ainda. A síntese do seu estilo, quer teórica ou poeticamente, faz vibrar um modo diferente de dizer. Sua busca sintética é como uma réplica da desmedida crítica midiática, ou como ele mesmo diz:

"A verdadeira alegria da escrita está na possibilidade de sacrificar um capítulo inteiro por uma única frase , uma frase inteira por uma única palavra; de tudo sacrificar por um efeito artificial ou uma aceleração do vazio." (Baudrillard:1992a: 30)

O poeta Baudrillard é brillhante na sua poiesis tecida na escritura dura, mas simultaneamente doce e densa. Sendo acasalado ao sensível é feitor também do mesmo e consegue poeticamente apontar nos outros, outros teóricos, este mesmo sensível quando assim os flagra. Se discorda deles na sua tessitura teórica, os critica, no entanto não lhes nega a poética ali desnuda. Ao poetar sobre os outros teóricos os enlaça pela estética fazendo alastrar sua sensibilidade e reconhecer as alter-poiesis. Deste modo diz de outros teóricos bramindo poeticamente:

SOBRE ADORNO E BENJAMIM

“-...há uma nostalgia da dialética, em Bejamim e Adorno por exemplo. A dialética mais sutil sempre acaba na nostalgia. Por outro lado, e mais profundamente (em Bejamim e Adorno mesmo_ , existe uma melancolia do sistema incurável e invulnerável à dialética. Ela é que hoje vem à tona por entre as formas ironicamente transparentes...”

SOBRE LACAN

“Lacan tem razão: a linguagem não indica o sentido; ela está no lugar do sentido. Mas o que daí resulta não são efeitos de estrutura, são efeitos da sedução. Não há uma lei que regula o jogo dos significantes, mas uma regra que ordena o jogo das aparências. Mas talvez tudo isso queira dizer a mesma coisa..."

SOBRE BATAILLE, ARTAUD E KLOSSOWSKI

"... há heresias mais paradoxais. A soberania( Bataille ), a crueldade (Artaud), o simulacro ( Klossowski). A sedução.”

SOBRE HEIDDEGGER

"...Se olharmos bem a essência ambígua da técnica, perceberemos a constelação, o movimento estelar do secreto...( heidegger)"

SOBRE FOUCAULT, BARTHES E SARTRE

"... Morte de Foucault. Perda da confiança em seu próprio gênio. Ser uma referência absoluta é o perigo da vida... Sartre ainda morre pomposamente. Barthes e Foucault desapareceram discretamente, prematuramente. A era dos grandes literatos e retóricos que suportavam alegremente a glória acabou...”

SOBRE BORGES

"...Borges e sua face cega de mulher asteca, de velho gatuno da metáfora, diante da qual passam sem comovê-lo, sobre seus olhos abertos, os clarões de magnésio. Os cegos parecem manter a cabeça fora d’água. Mas são dotados para a irrealidade e para a astúcia... Ponha um tigre dentro de sua biblioteca e retire-lhe a visão: é Borges...”

Baudrillard chega a um requinte poético ao tentar se dizer e o faz com o mesmo preciosismo com que sabe re-significar a palavra ou fazer uso astuciosamente, borgianamente, da metáfora, instrumento que ele não divisa poeticamente como simulacro, mas usando-a com o rigor do bom gourmet literário francês:

"...brinquei com a paixão, brinquei com a ternura, brinquei com a ruptura, brinquei com a tristeza. Fiz o máximo na expressão da tristeza, como antes fizera o máximo na aparência da sedução. Às vezes me parece que nada fiz senão dar a aparência das idéias. Mas é de fato a única saída que nos cabe num mundo especulativo sem saída: produzir os signos mais satisfatórios de uma idéia...." (Baudrillard:1992a:27)

Consegue assim, em sua poética, mais dizer e não pede coerência se toda ela é derrocada, se a verdade se relativiza, e aí temos o Baudrillard filósofo puro, nietzschiano, na credibilidade.

Assim pensando, não arredamos o pé de uma contemplação ao pensar baudrillardiano senão também pelo viés de sua poesia, e isto tem sido sua última sistemática literária e é com a poesia, mesmo com A Arte da Desaparição (1997 a), que esta obra é uma apologia a Warhol.

Mas, se então assim pensamos, por uma outra condição do nosso estudo, a metódica, poderemos pela poesia adentrar no universo amplo de seu pensamento.


Assim, pois, como poeta que é, e sobretudo por isso exclama, e não teme que sua retórica e ajustes teóricos se percam de entendimento, pois ele denuncia sua dor do mundo e das indagações:

“Não estou alienado.Sou definitivamente outro.Submisso na a lei do desejo mas ao artifício total da regra. Perdi todo o vestígio do desejo próprio.Só obedeço a algo desumano, que está inscrito não na interioridade mas nas únicas vicissitudes objetivas e arbitrárias do mundo......” o outro é o que me dá a possibilidade de não me reptir ao infinito.(T.do Mal 1990:185)

E assim como poeta, toma outra vez o texto para ser seu pretexto de inconformidade com a vida e até mesmo com o outro paradigma da psicanálise.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

A VIDA ,A TRANSITORIEDADE E A MELANCOLIA- ISABEL ALLENDE -JOKE HERMESEN -




Isabel Allende-https://bit.ly/34OZyOl

Apresentamos abaixo dois textos oriundos de autoras sem ligações teóricas nenhuma, ao meu ver, mas que nos fala e toca no momento atual, sobretudo.

1- Isabel.Allende- Chilena -via Facebook- 

2-Joke Hermesen ,Holandesa  -via El Pais(https://bit.ly/3gDTuui).

Embora como já afirmamos acima, da distinção entre ambas, flagramos aproximações íntimas entre as mesmas no que tange  a nossa vulnerabilidade e o transitório . Leiam abaixo.

 Para Abrir com odor poético tomemos o poeta Carlos Pena Filho. PE:

A solidão e sua porta
Quando mais nada resistir que valha
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha
A arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório
Carlos Pena Filho
Carlos Souto Pena Filho (Recife, 17 de maio de 1929 — Recife, 1 de julho de 1960) foi um advogado, jornalista e poeta brasileiro, considerado um dos mais importantes poetas pernambucanos da segunda metade do século XX depois de João Cabral de Melo Neto.



FLAGRA FACEBOOK
Hortelã Pimenta  https://bit.ly/2EGzoCe


Por Isabel Allende sobre a pandemia e o medo


“Desde que Paula (minha filha) morreu há 27 anos, perdi o medo da morte.


Em primeiro lugar, porque a vi morrer nos meus braços e compreendi que a morte é como o nascimento, é uma transição, um limiar e perdi pessoalmente o seu medo.
Agora, se o vírus me pegar, eu pertenço à população mais vulnerável, os idosos, tenho 77 anos e sei que se eu pegar, vou morrer. Portanto, a possibilidade de morte está muito clara para mim agora, vejo com curiosidade e sem medo.
O que a pandemia me ensinou é deixar as coisas passarem, perceber o quão pouco preciso.
Não preciso comprar, não preciso de mais roupas, não preciso ir a lugar nenhum nem viajar. Eu acho que tenho muito. Eu olho em volta e me pergunto por que tudo isso. Por que preciso de mais de dois pratos?
Portanto, descubra quem são os verdadeiros amigos e as pessoas com quem quero estar.
O que você acha que a pandemia ensina a todos nós?
Está nos ensinando prioridades e nos mostrando uma realidade. A realidade da desigualdade. Como algumas pessoas passam a pandemia em um iate no Caribe e outras passam fome.
Ele também nos ensinou que somos uma família.
O que acontece com um ser humano em Wuhan, acontece com o planeta, acontece com todos nós. Não existe essa ideia tribal de que estamos separados do grupo e que podemos defender o grupo enquanto o resto das pessoas não se importa. Não existem paredes, não existem paredes que possam separar as pessoas.
Criadores, artistas, cientistas, todos jovens, muitas mulheres, estão considerando um novo normal. Eles não querem voltar ao que era normal.
Eles se perguntam que mundo queremos. Esta é a questão mais importante agora.
Esse sonho de um mundo diferente: temos que ir para lá.
E reflito: a certa altura percebi que a gente vem ao mundo para perder tudo. Quanto mais você vive, mais você perde. Em primeiro lugar, você está perdendo seus pais, às vezes, entes queridos ao seu redor, seus animais de estimação, lugares e até mesmo suas faculdades.
Você não pode viver com medo, porque isso te faz imaginar coisas que não acontecem e você sofre o dobro.
Precisamos relaxar um pouco, tentar aproveitar o que temos e viver no presente. "






POR EL PAIS: 
https://bit.ly/3gDTuui


O FUTURO DEPOIS DO CORONAVÍRUS
Para a filósofa holandesa, além da dor e do medo de estar só, o isolamento social pode ser um momento criativo e traz novas possibilidades de nos conectarmos com nós mesmos e com os outros


A filósofa Joke J. Hermsen.
A filósofa Joke J. Hermsen.CLAUDIO ALVAREZ
Eu me lembro de estar em minha sacada em Amsterdã, olhando um céu de um azul pungente sobre as casas. Nunca havia sentido um contraste tão nítido entre esta primavera vital e florescente e mais uma série de estatísticas trágicas apresentadas nos noticiários. Lá estávamos nós, em pleno despontar de vida reluzente, cercados pelo anúncio de tantas mortes. Ficamos lá dentro e esperamos, às vezes nos perguntando o que estávamos esperando: o fim do confinamento? A próxima crise? Ou talvez a oportunidade de muda

Enquanto esperávamos, descobrimos uma forma de solidão nova e forma de solidão nova e ambivalente. Por um lado, essa solidão se assemelha a um isolamento forçado imposto por um poder invisível, o vírus, que nos atemoriza e nos faz sentir inseguros em relação à nossa vida, porque não sabemos quanto tempo durará nem como vencer seus perigos. Isso nos assusta, nos preocupa, nos impede de dormir e, o pior de tudo, poderia transformar nossa natureza melancólica em um estado depressivo crônico.

Porque somos seres melancólicos que em algum momento de nossa infância tomamos consciência da passagem do tempo e, com isso, da perda e da transitoriedade. Essa consciência pesa sobre nossos ombros e, ao longo dos anos, aprofunda nossa melancolia. Se muitos medos e inseguranças pairam sobre nós, nossa melancolia costuma se tornar tão escura como a “bile” grega que lhe dá nome: melan-chole, profunda e abatida. No entanto, por sorte, também sabemos como lidar com essa melancolia e “iluminá-la” com a música, por exemplo, ou com histórias, ou com uma expressão de amor. Em outras palavras, temos de torná-la “criativa” a fim de traduzi-la em “tristeza com um sorriso”, como disse Calvino, e não em depressão

Nos últimos meses, porém, enfrentamos enormes perdas e cenários aterrorizantes. Tem sido extremamente difícil encontrar alguma esperança. Portanto, existe o perigo de que grande parte da população fique deprimida, o que é um problema de saúde muito grave, sobretudo se combinado com a solidão, como demonstraram pesquisadores famosos como Trudy Dehue, da Holanda, e Stephen. Houghton, dos Estados Unidos. Como consequência, não temos escolha a não ser continuar a buscar novas fontes de esperança e inspiração.

A boa notícia é que no próprio isoladamente, ou no que costumamos chamar de solidão, há alguma esperança. A solidão é um estado em que uma pessoa pode centrar sua atenção no diálogo interior, como Hannah Arendt explicou em ‘A Vida do Espírito’ (1973). Mesmo quando estamos “sós com nós mesmos”, somos seres dialéticos porque podemos falar sozinhos, podemos pensar e refletir sobre nossas próprias ações. Somos “dois em um”, ou, nas palavras de Arendt, “todo pensamento, estritamente falando, é elaborado em solidão e é um diálogo entre mim e eu mesmo”. Se formos capazes de nos concentrarmos nesse diálogo interior, não só descobriremos as possibilidades desse frutífero aspecto da solidão para nós mesmos, como também encontraremos novas conexões com os outros: “Esse diálogo de dois em um não perde o contato com o mundo de meus semelhantes porque eles estão representados no eu com o qual mantenho o diálogo do pensamento”.

Se o isolamento expressa a dor e o medo de estar (obrigado a estar) só, a solidão expressa a “glória de estar só”, justamente porque revela novas possibilidades de nos conectarmos com nós mesmos e com os outros. Em consequência, o desafio diante de nós é transformar nosso isolamento em uma solidão compartilhada. Como? Pensando, sonhando, lendo, escrevendo e apresentando nossos pensamentos aos demais, como eu lhes estou apresentando os meus. Este intercâmbio é a única coisa que pode proporcionar um contrapeso suficiente à nossa melancolia e nos impedir de cair em depressão. Em todo o mundo, compartilhamos os mesmos medos e as mesmas ameaças, mas também a mesma esperança: de ser capazes de recomeçar depois do coronavírus, e nos comportar e agir de uma maneira muito mais responsável e solidária.



  1. A holandesa Joke J. Hermsen é doutora em Filosofia e especialista na vida e obra das filósofas Hannah Arendt e Lou Andreas-Salomé. Também é autora de ‘Melancholie’ (Não lançado no Brasil). Esse artigo é parte de uma série de textos de pensadores das mais diversas áreas sobre o futuro após o coronavírus.
" O neoliberalismo é quem as deixa doentes. O que é necessário para que a melancolia seja saudável? Descanso, e no capitalismo isso não existe. O sistema faz com que as pessoas fiquem deprimidas e, além disso, essas pessoas não são cuidadas. Ele as afasta. A terapia que proponho não custa dinheiro, mas tempo, entretanto o tempo se tornou o produto de luxo por excelência...."

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

QUEM CANTA HUMANIZA-SE- QUEM CAPTOU CONTAGIOU- ARTISTA E PLATÉIA .








10 h
Coisa mais linda isso Gente... um.morador de rua ao perceber q estava sendo filmado resolveu cantar p a jovem.. e uma música super linda do Legião urbana...👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

PARABÉNS CANTOR E
Ângela Maria Lula Fernandes
FLAGRA FACEBOOK
LICENÇA ANGELA...

A Maciez da empatia é simples, doce, mínima e nos faz bichos amáveis como pelos que nos roça.
O respeito é afeto, amor, identidade, convergência.
Vejam o vídeo - é poiesis-criação batismo humano ,é reza boa ,pois é verdadeira-amor ao outro.
Dito isto, é poesia  todo ato que vemos , O QUE OPERA NA CENA DRAMAÚRGICA SONORA à quem flagra o  outro,- o artista-, assim  são dois artistas que se integram e humanizam-se, celebrando o ser, estar. Isto é a arte anônima mais ilustre deste País.
Como dizia NATALIA CORREIA: OH !SUBALIMENNTADOS DO SONHO A POESIA É PARA COMER!( A defesa do poeta)
Paulo Vasconcelos

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

GESTÃO EMPRESARIAL DA VIDA: A CONDUTA NEOLIBERAL -VEJA VÍDEO INTEGRAL



3,94 mil inscritos
26.08-20hs
 Aldo Ambrózio é Pós-doutorando em História Cultural na linha de pesquisa Gênero, Subjetividades, Cultura Material e Cartografias no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) sob a Supervisão da Profª Drª Luzia Margareth Rago. Doutor em Psicologia Clínica (2011) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestre em Administração (2005), Especialista em Finanças Corporativas (2002) pela Universidade Federal do Espírito Santo onde também atuou como professor substituto entre os anos de 2003 e 2006. Também realizou, entre 2015 e 2018, a Formação em Psicanálise no Instituto Sedes Sapientiae. Em termos profissionais, é Professor Substituto na área de Psicologia Social e da Educação no Campus de Sorocaba da UFSCar e atua como Psicanalista na Clínica do Instituto SEDES Sapientiae e em consultório privado. É pesquisador do Grupo de Pesquisa Deleuze/Guattari e Foucault, elos e ressonâncias (UNESP-SP); colabora também, na categoria estudante, do Grupo de Pesquisa Psicanálise e Filosofia da Imanência: Desafios da Clínica na Contemporaneidade (PUC-SP). Tem experiência como docente na área da Educação, com ênfase em Teorias da Educação, Psicologia Social e da Educaão e Cultura das Instituições Educacionais e, na área de Administração, com ênfase em Teorias da Administração, Aspectos Metodológicos da Pesquisa em Administração e Administração Financeira. Sua pesquisa tem se posicionado na relação entre as atuais formas de reconhecimento do sofrimento humano e as políticas de subjetivação vigentes no momento contemporâneo dando relevância, para realizá-la, aos seguintes temas: processos de subjetivação; educação; poder; sociedades disciplinares; sociedades de controle; império e empresariamento da vida.
 LINK
https://www.youtube.com/watch?v=PJCeVuSZVL0&feature=share&fbclid=IwAR3HDTl0iTqBzaueULizLlLKN4DTemAr65sW1-AqlsIepT2jlUrOVw4BRsw

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

HOMENAGEM A WASHINGTON NOVAES- O Sábio da Tribo


Ver a imagem de origem
W NOVAES POR PINTREST

O texto e a entrevista a seguir são parte do catálogo da 3ª Mostra Ecofalante, que em 2014 homenageou Washington Novaes

O Sábio da Tribo


APUD https://bit.ly/34L71xV ECOFALANTE.ORG.BR


Quando Washington Novaes abandonou a péssima ideia de ser advogado – nada contra a profissão, mas é difícil imaginá-lo realizando tão bem outros ofícios que não aqueles relacionados à área da comunicação – e se aventurou no jornalismo, o Brasil tinha vergonha de sua exuberância ambiental (será que isso mudou?).
Desenvolvimento era sinônimo de fumaça, a Amazônia precisava ser ocupada e explorada sem trégua, acelerava-se o crescimento desordenado das cidades, e São Paulo “não podia parar”. Era uma época em que não se aprendia jornalismo em faculdades de comunicação – elas sequer existiam – e uma notável geração de jornalistas “criados nas redações” emprestava uma nova identidade à imprensa nacional, menos provinciana e mais ousada na busca de novas linguagens e pautas.
“Naqueles tempos a gente achava o Washington meio esquisito. Quando a maioria de nós só pensava em driblar a censura e denunciar as mazelas do regime militar, lá vinha ele com aquelas pautas de meio ambiente.
Com o tempo, a gente viu que o Washington foi um pioneiro, ao perceber primeiro esses problemas”, disse certa vez Zuenir Ventura, outro veterano desta geração de ouro do jornalismo, num depoimento resgatado aqui de memória durante um debate em Goiás.
Era uma época em que não havia licenciamento ambiental, ministério ou secretarias (estaduais ou municipais) de meio ambiente, ninguém falava em “ecologicamente correto” muito menos em “desenvolvimento sustentável”. Não havia ISO 14.000, produtos certificados ambientalmente, Partido Verde ou Greenpeace. Meio ambiente era assunto de “bicho grilo” ou “alienados” – para não mencionar outras denominações bem mais ofensivas, que tentavam desqualificar quem ousasse lhe dar um tratamento mais sério. Washington pertence ao seletíssimo grupo de jornalistas que pavimentou com coragem esse caminho na direção de uma nova consciência dentro das redações.
Por onde passou, “contaminou” os colegas de profissão com essa estranha determinação em denunciar as mazelas de um modelo de desenvolvimento predador, de curto prazo e condenado ao fracasso por destruir os recursos naturais não renováveis fundamentais à vida e à própria economia. Inteligência, credibilidade, boas fontes e um texto irretocável (direto, incisivo, recheado de dados invariavelmente contundentes) foram aliados preciosos para abrir, aos poucos, os merecidos espaços que conquistaria ao longo dessa jornada.
Com passagem pelos mais importantes veículos de comunicação do Brasil, exercendo as funções de repórter, editor, produtor, comentarista, articulista, diretor e consultor, Washington Novaes conquistou respeito e admiração pela farta produção multimídia num filão carente de especialistas. Desde 1997 seus artigos no jornal O Estado de São Paulo vêm inspirando o primeiro escalão da República, parlamentares e ONGs, despertando o senso de urgência onde havia desleixo e omissão. Não por acaso, foi ele o escolhido para estruturar as bases de discussão da Agenda 21 brasileira, um imenso receituário de como alcançar a utopia da sustentabilidade num país com o tamanho e a complexidade do Brasil.
De terno e gravata cobrindo diferentes Conferências da Organização das Nações Unidas (ONU), nas diversas incursões pelo tão castigado e querido Cerrado ou num furgão com uma numerosa equipe de TV num tour por vários países da Europa – para acompanhar a destinação final do lixo no velho continente – Washington sempre praticou a mais nobre de todas as ocupações possíveis dentro do jornalismo: a de repórter. Ser testemunha da História, estar perto dos acontecimentos, sentir o “cheiro da notícia” afere inquestionável credibilidade a quem tem a missão de registrar os fatos mais importantes do nosso tempo. Mas quando o assunto é meio ambiente, os profissionais de imprensa estão sujeitos a certos riscos. Foi o próprio Washington quem denunciou em 1996, num encontro com jornalistas em São Paulo, o que está em jogo nessa área do jornalismo: “Acho que a questão ambiental é ameaçadora para os jornalistas na medida em que os jornalistas têm uma vida pessoal muito pouco adequada em termos ambientais. O jornalista, em geral, bebe muito, fuma muito, leva uma vida extremamente competitiva, apressada, estressante, onde a disputa pelo poder está sempre muito presente dentro e fora do trabalho, mora em cidades com problemas ambientais gigantescos, todas essas coisas. Ele vai ter que se perguntar um pouco sobre sua vida. Será que é essa mesmo a vida que eu quero? Será que é essa a vida que eu devo levar?”.
Será que Washington sabia exatamente o “risco” que corria quando começou a registrar em reportagens premiadas a realidade das comunidades indígenas pelo Brasil? Foi no Xingu que algo diferente lhe aconteceu. Sua imersão em cinco diferentes aldeias consumiu dois meses de viagem, 70 horas de barco a motor ou canoas, 500 quilômetros a pé. A experiência o marcou profundamente. Num encontro casual com Washington num avião, o antropólogo Darcy Ribeiro percebeu um brilho diferente no olhar do amigo: “Agora você já sabe que não se passa incólume pela experiência de ver o mundo com os olhos dos índios”. E vaticinou: “Você nunca mais vai ser a mesma pessoa”.
A “maldição” de Darcy se confirmou na obstinação renovada desse homem, sempre aguerrido e disposto, em favor de um jornalismo comprometido com um mundo melhor e mais justo.
Devo a Washington Novaes escolhas importantes que fiz na minha carreira. Especialmente a de entender, como jornalista, a real dimensão dos assuntos ambientais na vida moderna e no meu ofício. É sinceramente um privilégio tê-lo como referência, amigo e, como diriam os índios, “o sábio da tribo”.
Por último, aqui vai uma dica importante: não o chamem de “jornalista ambiental”. Por mais de uma vez eu o vi declinar, com elegância, esta apresentação. Washington é simplesmente jornalista, daqueles que sabem “cutucar” com maestria os gigantescos interesses econômicos e políticos que se locupletam no que não seja “sustentável”. É dele a frase que aparece reiteradas vezes em artigos indignados com o descaso dos governos para com os assuntos de meio ambiente: “a questão ambiental deveria ser o centro e o princípio de todas as políticas”. Podemos ainda estar muito longe disso, mas é nessa direção, como já defendia Washington décadas atrás, que devemos caminhar.
–LEIA TODA MATÉRIA EM https://bit.ly/34L71xV