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segunda-feira, 27 de junho de 2022

FALECE GENINHA DA ROSA BORGES:Momentos da atriz pernambucana fala sobre vida, arte e memór...por JORNAL DO COMÉRCIO -RECIFE PE






A cremação do corpo deverá ser realizada neste sábado, em um momento reservado à família, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife.

Admiradores, familiares e amigos de Geninha da Rosa Borges se despediram da atriz em velório realizado neste sábado (25), no Teatro de Santa Isabel, no Centro do Recife.

Educadora e diretora teatral Geninha da Rosa Borges faleceu em casa, na capital pernambucana, na última quinta-feira (23), dois dias depois de completar 100 anos de idade.

Ana Maria da Rosa Borges, filha de Geninha, falou sobre os últimos momentos ao lado da mãe. "Fomos comemorar (o aniversário), cantamos parabéns no quarto com ela. Acho que ela raciocinou que não seria justo morrer quando comemoravam. Ela esperou eu me despedir e eu me despedi. Disse tudo que queria e, no meio do meu voo (para o Rio de Janeiro), ela se foi, como um passarinho, foi como ela determinou. Ela simplesmente parou", disse.

De acordo com a filha, Geninha tinha saúde plena, mas sentiu o impacto quando parou de se movimentar. "Mamãe não se permitia um segundo de ócio, acordava ligada em 220, realizava metas, sonhos, fazia tudo que ela queria fazer, ela fazia bem, até o fim, pelo outro, por ela. O vazio que a gente sente é tão grande, onde ela estava, ela era plena, a única cena que nunca imaginei foi ver ela quieta no meio do palco."

Administrador e produtor cultural, Roberto Carlos Gomes também destacou o "vazio" deixado por Geninha, a ‘Dama do Teatro Pernambucano'.

"Não tem como falar de teatro pernambucano e brasileiro sem falar de Geninha da Rosa Borges, uma pessoa dedicada ao teatro, ao que fazia, amava o teatro e você via isso, a dedicação, a entrega. Vi Geninha muitas vezes no palco e sempre se via a entrega ao ofício, o amor ao teatro. Então, fica um vazio, principalmente quando formos ver algo do TAP (Teatro de Amadores de Pernambuco), onde era certo ver Geninha".

 O iluminador Luiz Antônio Morais trabalhou em diversas peças com Geninha e destacou sua intelectualidade.

"Mulher de dignidade, culta, intelectual, com amor imenso pela língua portuguesa. Ela me pediu uma gramática quando houve reforma ortográfica, ela disse que não queria 'morrer analfabeta', amava a poesia, era uma atriz completa, declamadora também. Como ser humano, era uma maravilha".

Luiz disse ser um privilégio trabalhar com a atriz, mas lembra que era puxado o ritmo de Geninha. "Ela sempre buscava algo para melhorar, a visita guiada no teatro, por exemplo, foi ela que implementou. O ensinamento deixado por ela é o amor ao teatro, à arte, à cultura e à língua portuguesa. E ela também chamava a atenção pela maneira simples de se relacionar com qualquer um, do vice-presidente da República a quem fazia a conservação do teatro".

A trajetória de Geninha da Rosa Borges no teatro

ALEXANDRE BELÉM/ACERVO JC IMAGEM
Geninha da Rosa Borges - ALEXANDRE BELÉM/ACERVO JC IMAGEM

Maria Eugênia Franco de Sá da Rosa Borges, nascida no dia 21 de junho de 1922, se fez a dama do teatro pernambucano Geninha da Rosa Borges. A atriz estreou nos palcos em 1941, com 19 anos, na peça "Primeirose", de Robert de Flers e Gaston de Caillavet, em montagem do recém-criado Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), por convite de Valdemar de Oliveira. O teatrólogo a viu em cena no Colégio de São José, na Boa Vista, onde desde pequena representava e declamava poemas. Já na estreia, Geninha da Rosa Borges foi abraçada pela crítica teatral da época.

Desde então e até a sua saída da cena, tendo subido ao palco pela última vez em 2012, Geninha da Rosa Borges deu vida a 80 mulheres — a que mais a marcou, Yerma, personagem-título da peça de Federico García Loca, montada pelo TAP sob direção de Valdemar e depois dela mesma, atendendo a pedido dele feito no leito de morte. "Me dediquei, e deu tudo certo", comentou em entrevista ao Jornal do Commercio quando completou 90 anos.

Se Yerma marcou Geninha da Rosa Borges, o público mais recente gravou a atriz por uma das suas falas na peça "Um Sábado em 30": "Ô, minha filha, você ainda é moça?".

Do Teatro de Santa Isabel foi diretora por 18 anos. A vida da atriz se mistura à trajetória daquele lugar, a que ela dedicou o livro: "Teatro de Santa Isabel: Nascedouro & Permanência", lançado em 2000. "É um dos mais importantes da minha vida. É meu porto seguro. O Santa Isabel e o Teatro de Amadores de Pernambuco são meus portos seguros", disse na entrevista feita há dez anos.

Em montagens do TAP foi dirigida por grandes nomes, como o polonês Ziembinski e Bibi Ferreira. Entre as suas atuações destacam-se, ainda, em "A Promessa", de Luiz Marinho, de 1983, e "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant", de Rainer Fassbinder, 1987.

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