REDES

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Lá vai ELZA SOARES.sem lata mas com luminosos asteróides raros



ELZA SOARES POR FLICK -IN https://bit.ly/3G1bUBN
1930-2022


Lá vai ELZA,agora o braço é tumular,ja não toca o bastão da música, nem urra em canção o grito da carne negra.
Ela fez o poema na vida,sem rimas fáceis, escreveu o poema humano: lutar e denunciar o desumano que habita em nós.
A mulher que se colava a cantora politizada é uma dessas mulheres que continha dentro da ELZA SOARES.Mas  havia muitas outras:amiga , amante,mãe avó. bisavó,e fazedora de milagres com sua imagem de força viva.

Não foi santa, mas jamais quis ser,seu canto e a denúncia foram seus lemas durante toda vida.
Parou questionou ser cantora.ELZA andou este Brasil todo,escondeu-se ,muitas vezes ,para pensar, como o fez um tempo em Pernambuco,mas sua terra, seu miolo era o Rio e para lá voltou e gritou. Em plena maturidade,voltou a cantare muitos amigos compositores a estimularam,dando não mais lata, mas poemas--canções para sua estirpe;ganhou mais ainda reconhecimento  aqui e internacionalmente.
E como um filme de Feliini teve um THE END.


Encerro com um trecho de um post do amigo Elton LL. de Souza in Facebook

"A voz de Elza é canto de Gaia, voz da Terra-Mãe que chora a dor da injustiça que violenta seus filhos . Ouvindo-a, revejo o guri de Ouro Preto caminhando ao meu lado, um pouquinho à frente, feliz por me ensinar. Quem ama o que faz sente alegria, a potência-alegria de que nos fala Espinosa. Com certeza, esse guri faria a Elza-Gaia sorrir , assim como me fez.

Biografia sugiro de modo resumido: Biografia de Elza Soares - eBiografia
Destaco matéria- em  A TERRA É REDONDA-Elza Soares - A TERRA É REDONDA (aterraeredonda.com.br)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

THIAGO DE MELLO -1926.2022- SOME UMA FLORESTA

 



foto por Youtube


"Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar."


Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, no Amazonas, em 1926. (1926-2022)

O sumiço  de um poeta, sua morte, é como um sumir constelações de estrelas,ou um conjunto de cérebros e pessoas num mesmo corpo.Com a morte de Thiago de Mello desaparecem  florestas.Lutador contra o sistema que esmaga o homem e o verde-a floresta Amazônica-sua grande mãe,partiu o poeta aos 95 anos.

Um ser humano de real grandeza, que o diga o finado ZÉLINS  DO REGO, que  o teve a sua cabeceira ,antes e nos momentos finais-sua morte.Mas este fato era comum em sua vida distribuindo empatias mundo afora com tatos outros poetas como Pablo Neruda ,Paulo Freire, (vide abaixo poema- Canções para os fonemas da Alegria) e outros tantos no Brasil e no mundo

Thiago exaltou o homem e fez seu decreto -Os Estatutos Do homem- seu poema mais conhecido, todavia sua obra é extensa, mais de 30 obras entre prosa e poesia, e sua morte deixa-nos órfãos,num momento em que a orfandade já se prolifera.Contudo seu verso será corrente que viralizará entre os mais jovens, mais ainda.O poeta jamais parte, fica sempre entre os tempos invisíveis mas a florescer como o verde entre o concreto e a lama.


Mas  como diz o poeta:

Faz escuro mas eu canto
Faz escuro mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.

.....




“Canção para os Fonemas da Alegria”,

Peço licença para algumas coisas.

Primeiramente, para desfraldar

este canto de amor publicamente.

Sucede que só sei dizer amor

quando reparto o ramo azul de estrelas

que em meu peito floresce de menino.

Peço licença para soletrar,

no alfabeto do sol pernambucano

a palavra ti-jo-lo, por exemplo,

e poder ver que dentro dela vivem

paredes, aconchegos e janelas,

e descobrir que todos os fonemas

são mágicos sinais que vão se abrindo

constelação de girassóis girando

em círculos de amor que de repente

estalam como flor no chão da casa.

Às vezes nem há casa: é só o chão.

Mas sobre o chão quem reina agora é um homem

diferente, que acaba de nascer:

porque unindo pedaços de palavras

aos poucos vai unindo argila e orvalho,

tristeza e pão, cambão e beija-flor,

e acaba por unir a própria vida

no seu peito partida e repartida

quando afinal descobre num clarão

que o mundo é seu também, que o seu trabalho

não é a pena que paga por ser homem,

mas um modo de amar – e de ajudar

o mundo a ser melhor. Peço licença

para avisar que, ao gosto de Jesus,

este homem renascido é um homem novo:

ele atravessa os campos espalhando

a boa-nova, e chama os companheiros

a pelejar no limpo, fronte a fronte,

contra o bicho de quatrocentos anos,

mas cujo fel espesso não resiste

a quarenta horas de total ternura.

Peço licença para terminar

soletrando a canção de rebeldia

que existe nos fonemas da alegria:

canção de amor geral que eu vi crescer

nos olhos do homem que aprendeu a ler.

Santiago do Chile, verão de 1964.

Vide reportagem do sepultamento do poeta: https://www.manaus.am.gov.br/noticia/artistas-e-amigos-prestam-as-ultimas-homenagens-ao-poeta-thiago-de-mello/

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

2022 O QUE SERÁ? MAIS RESPEITO AO OUTRO , SOBRETUDO ,A MÃE TERRA E AO PAI UNIVERSO

 


                                           https://bit.ly/3FR0fGr

OS POETAS FALAM COMO O AR QUE CIRCULA:


A partir de um poeta que se ampara na Filosofia, Elton  L.L.SOUZA  nos traz os cheiros de outros poetas que circulam no ar,entre eles, M.de Barros.


Há um poema de Manoel de Barros no qual ele diz: "Vi que tudo o que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião, automóvel ... Até nave espacial vira sucata." E completa: “O que é verdadeiramente novo nunca vira sucata.”
Não só automóveis e celulares viram sucata : doze meses atrás , 2021 foi chamado de ano novo , e 2020 virou sucata. Hoje, é 2022 que recebe a etiqueta de ano novo, enquanto 2021 está virando sucata.
Se olharmos para o tempo com os olhos do poeta, veremos que não se encontrava então em 2021 o tempo novo tão desejado, assim como não está em 2022 o tempo que não vira sucata.
Mas onde encontrar esse tempo-embrião, esse tempo de minadouros?
Segundo o poeta, não é no produto criado que se encontra o novo, e sim no ato de criação. O rio só mantém seu fluxo vivo e avança se estiver umbilicado à nascente da qual continua a fontanejar, sendo criado.
O novo nunca pode ser representado por abstrações , pois ele vive nas singularidades concretas.
“2022” é uma abstração , uma convenção do calendário hoje vigente. Ao longo da história, porém, povos diferentes tiveram outras formas de contar o tempo segundo outros calendários.
Os povos originários , por exemplo, vivem muito mais próximos do tempo que não vira sucata, pois os indígenas não vivem o tempo sob números abstratos, e sim a partir dos acontecimentos singulares da própria natureza, segundo os ritmos do sol e da lua.
Os números são abstrações porque conseguem representar somente as quantidades, nunca as qualidades , os ritmos e as intensidades. Somente um tempo concreto, singular, qualitativo e intenso tem força para resistir a virar sucata, pois um tempo assim tem a potência da vida e de seus ritmos.
Mas onde encontrar esse tempo singular? Onde fica sua nascente, seu nascedouro, sua natência?
O poeta assim responde: os dias, os anos, os séculos, os milênios...tudo isso vira sucata. Mas o que nuca vira sucata é a aurora. A aurora é a nascente da qual brota o autêntico tempo novo.
E nós mesmos nunca viraremos sucata, não importa a idade que tenhamos, enquanto nos horizontarmos afetados por uma aurora . Para que, juntando forças, possamos “fazer amanheceres”, como ensina o poeta, apesar dessa noite longa...
Não somente em 2022, mas sobretudo no hoje , no aqui e agora, desejo a todas e todos necessárias auroras!
Uma aurora sempre vem para nos lembrar que todo dia é dia novo, e não apenas o 1º de janeiro!
“Erguer-se...
Como se ergue a aurora do seio da noite.”
(Homero)
“Durante as viagens sem rumo dos andarilhos,
eles são instalados na natureza igual se fossem uma aurora.” (Manoel de Barros)

E segue outro poeta:


PASSAGEM DO ANO
 C. DRUMMOND DE ANDRADE

https://bit.ly/3FTmmvY


O último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
Farás viagens e tantas celebrações
De aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
E coral,
 
Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
Os irreparáveis uivos
Do lobo, na solidão.

 
O último dia do tempo
Não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
Onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
Uma mulher e seu pé,
Um corpo e sua memória,
Um olho e seu brilho,
Uma voz e seu eco.
E quem sabe até se Deus…
 
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
 
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa, já se expirou, outras espreitam a morte,
Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer.
 
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
O recurso da bola colorida,
O recurso de Kant e da poesia,
Todos eles… e nenhum resolve.
 
Surge a manhã de um novo ano.
 
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
Lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Desmond Tutu, arcebispo da África do Sul, morre aos 90- por DW

 


https://bit.ly/313uhrm


Tutu foi um aliado essencial de Mandela na luta contra o apartheid e presidiu a Comissão de Verdade e Reconciliação na era pós-apartheid. Fundação Nelson Mandela disse que Tutu "era um ser humano extraordinário".

O vencedor do Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu morreu na Cidade do Cabo aos 90 anos, anunciou neste domingo (26/12) o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

Ao lado de Nelson Mandela, Tutu foi uma das vozes mais importantes contra o antigo regime da minoria branca conhecido como apartheid. O clérigo anglicano também chefiou a Comissão de Verdade e Reconciliação do país na era pós-apartheid. Ele era visto por muitos como a consciência de uma nação conturbada.

"Desmond Tutu era um patriota sem paralelo; um líder de princípios e pragmatismo", disse Ramaphosa em um comunicado.

A Fundação Nelson Mandela disse em um comunicado: "Suas contribuições para a luta contra a injustiça, local e globalmente, estão no mesmo nível da profundidade de seu pensamento sobre a construção de futuros libertadores para as sociedades humanas. Ele era um ser humano extraordinário."

Tutu "morreu pacificamente no Oasis Frail Care Center na Cidade do Cabo nesta manhã", disse Ramphela Mamphele, presidente interina de uma fundação dedicada a arquivar os documentos de Tutu e coordenadora do seu escritório. O comunicado, emitido em nome da família de Tutu, não forneceu detalhes sobre a causa da morte.


Leia toda matéria em:https://bit.ly/313uhrm

domingo, 26 de dezembro de 2021

BAHIA -Há 58 cidades totalmente ou parcialmente submersas, diz governador , Rui Costa-por BRASIL 247- Google News

 

https://bit.ly/30ZxdoM


Governador cita “comunidades inteiras rurais e urbanas embaixo d’água”, numa “tragédia nunca vista pela extensão e pela dimensão”

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou em entrevista neste domingo (26) que há 58 cidades totalmente ou parcialmente submersas no Sul do Estado, devido às fortes chuvas ocorridas desde o início do mês de dezembro. 

Já chega a 72 o número de municípios em estado de emergência e ao menos 18 pessoas morreram em decorrência dos alagamentos. Mais de 4,2 mil pessoas estão desabrigadas e 11,2 mil foram desalojados pelas inundações. Neste vídeo, um homem é socorrido de dentro de sua casa com a água na altura do peito e consegue salvar apenas os documentos.

“Já tivemos tragédias muito severas, que levaram vidas de pessoas, mas localizadas em uma ou duas cidades. Estamos falando de 58 cidades que estavam parcialmente ou totalmente submersas, com comunidades inteiras rurais e urbanas embaixo d’água”, descreveu Rui Costa à CNN. 

“Vai desde a região sul, no Vale do Jequiriçá, até a região de Jequié. Hoje quatro cidades do Oeste da Bahia também tiveram alagamento de muitas casas e comunidades”, detalhou o governador.

“É uma tragédia nunca vista pela extensão e pela dimensão. Seja pela quantidade de casas, seja do número de cidades ou pela extensão territorial. Para se ter uma ideia, fechamos o dia operando com nove helicópteros”, continuou.

Neste sábado (25), foi instalada uma base de apoio em Ilhéus, fruto de ação conjunta de vários órgãos federais e estaduais, para socorro aos municípios afetados pelas enchentes. De acordo com Rui Costa, devido à distância, outros pontos serão criados em Itapetinga, Vitória da Conquista, Ipiaú e Santa Inês.

Uma força-tarefa com agentes de segurança pública está atuando na região. Ela é composta por bombeiros militares da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Norte, Maranhão, Paraíba, Sergipe, além das policias Militar da Bahia e da Rodoviária Federal (PRF). Vinte viaturas, 10 aeronaves, oito botes e um barco também foram mobilizados.

Ação federal

O governo federal também está mobilizando diversos órgãos e ministérios em ações de resposta ao desastre natural e reconstrução de infraestrutura danificada. Até o momento, mais de R$ 19 milhões já foram disponibilizados pela Defesa Civil Nacional.


sábado, 25 de dezembro de 2021

NATAL-PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE VIDA/ O ENGANO É ACONCHEGANTE, A POESIA REDIZ


 


 

 

Ilustração POLIDORO   WANSK

Este  corpo

é  terra alumiada em sangue como pedra diluída,

a saliva é esfrega de língua como  Água deserta  em órbitas  escuras,

nada tens senão um corpo advertido pelo outro corpo

e tuas escamas que te entortam  como margens secas

tangem tua fé, inútil, em outro, do além, desde aí negas  a ti o áspero ser que esfregas sobre o outro;

o outro és tu  e assim te derramas como um cão , um cacto, uma verruga, como uma bexiga de

tua pele  e lamentas sobre o altíssimo que transcende teu corpo ,e este deus permanece mudo

e inútil.” P. CAJA

 

 

 P.VASCO

 

 

AH!!!!

Nesta curta crônica falaremos das falácias,do desengano e do sem sentido da vida, e mesmo assim, um aconchego enganoso do existir,isto se tivermos a coragem de nos ver no outro e sermos o outro.Apelaremos à poesia ,aos filósofos/poetas, para auxiliar o tateio do que ansiamos dizer.

 

AQUI!

O homem é o seu próprio engano.Sim, via a linguagem do que liga o que não junta,mas  que o estampou como ser. A cilada foi a salvação para estar e ser pela e na linguagem/PENSAMENTO. Nela o ser adquiriu-se, mas perdeu-se, aliás, não se descobriu nem deu sentido ao que chamou de vida.

As pandemias  nos apontaram muito,mas entre outras coisas, o engano de viver sob a égide de muitos enganos que nos aconchegam, como  as  promessas do espectro político de fármacos que ocupam o poder, o mínimo ou máximo poder ou contra poderes.Na casa, na rua, no lixo econômicos,que flutuam na fartura dos esgotos, não há fora, há apenas O DENTRO, e nos misturamos entre ditos limpos e os sujos.

As técnicas fisgaram o homem, comunicando-se ao nada,, num êxtase inútil de praticidade lambuzada por sangue, descuido,anonimato,um jogo perverso de enganar-se como enforcado que vai aos céus, mas cegos por telas luminosas que deflagra a imagem  ,obtusa forma de estar e dizer ser.A imagem é ausência não presentifica o vulnerável.

O homem quis apartar-se da natureza, mas o engano foi desastroso, ele é e habita-se na pele- NATUREZA. Simulacramos  a todo tempo o que não se pode , a natureza, pois, seria obtuso, gago, sofisma ou idiossincrático .Mesmo  assim o fizemos e ganhamos o aconchego de ser, estar sob e sobre o engano.(Baudrillard)

 

A linguagem arrumou o mundo,(?) e submeteu a natureza humana ao deslize separatista,humanos aqui, não humanos lá.A destruição foi iniciada e a urb  dos bichos de outra estirpe, como assim se acham,pelou a mata,entupiu córregos,rios,poças, degolaram a floresta,com seus animais, plantas, minérios e os seus habitantes vários,plurais..

A religião, o engano dos enganos, escravizou o já escravizado, mas prometendo o contrário, inventou os céus, quando não sabemos da vida ,da terra , da natureza.Sacralizamos o não sacralizado e copiamos fábulas para conter o aconchego da mentira,do engano.O deus levou ao que não é natureza, e Deus é apenas a natureza e suas extensões(Espinoza).A religião criou o obsceno, negou o homem, prometeu o que não tem certeza nem nunca terá(Chico Buarque)

Obsceno não é o homem, é o engano, mas como ele o construiu, ele é o hiper obsceno.

...narciso acha feio o que não é espelho..Caetano V

 

A poesia como engano assumido, sendo LINGUAGEM PURA -arte que grunhe e por grunhir, diz, fala melhor do engano como por NATALIA CORREIA::



 

 

AUTOGÊNESE
N.CORREIA

 

Nascitura estava

sem faca nos dentes
cómoda e impura
de não ter vontade
de bater nas gentes.

Nasce-se em setúbal

nasce-se em pequim
eu sou do açores
(relativamente
naquilo que tenho
de basalto e flores)
mas não é assim:
a gente só nasce
quando somos nós
que temos as dores.

......

Nascitura estava

sorria e jantava
e um beijo me deste
tu Pedro ou Silvestre
turvo namorado
do verão ou de outono
hibernal afecto
casca azul do sono
sem unhas do feto.
 ......
 
nasci de me verem
sempre de soslaio
de eu dizer em junho
e eles em maio
de ser como eles
as vezes por fora
mas nunca por dentro
perfil de uma estátua
que não sou de frente.
 .....
 
Eu nasci de haver
os bairros da lata
do dedo que escapa
dos sapatos rotos
da fome que mata
o que quer nascer
e que o sábio guarda
em frascos de abortos
 
eu nasci de ver
cheirar e ouvir
dum odor a mortos
(judeus enlatados
para caberem mais
mas desinfectados)
pelas chaminés
nazis a sair
de te ver passar
de me despedir
de teus olhos tristes
como se existisses.
 
Nascitura estava
tom de rosa pulcra
eu me declinava
vésper em latim
impura de todos
gostarem de mim.
 

No soslaio,   entre ditos  e feitos  humanos, habitamos a natureza, sendo-a a mesma,e sem facas nos dentes , sob dores fomos enlatados, sem vontades a fazer e a dizer, senão pelo império dos que TEM e dizem que sabem ou são religiosos, mas possuem PODER.

Nascemos das dores,mas achamos que essa é a única forma de nascer,já diz a falsa religiosidade.Pragas e castigos são cognomes para o engano de ser, e nos aconchegamos mortalmente.O engano é que não nos vemos nem de perfil, que dirá de frente.

Cheiramos a morte e achamos o odor fragrância,cadáveres nem enlatados, mas expostos nas ruas,calçadas e becos são,como begonhas silvestres,rosas roxas, amarelas, azuis de fungos e mel.

Nascituro sou, estou?

Passa ao lado e dentro do todo o lixo que aconhega, a fome,  as gorduras  que se  metem em cadáveres vivos , monitorados VIVOS,em morros, condomínios, sepulcros de fantasmas, em praças,jardins,futebol, na mídia-deus da rosa pulcra,e a tudo isto chamamos VITÓRIA NOSSA DE CADA DIA- CLARICE LISPECTOR.

Somos apodrecidos e nos comemos como moscas, vermes,virus,somos religiosamente antropofágicos  sem urros ou canções, senão da peste de ser e estar no humano, cantando o que as canções gorjeiam  em catedrais ou templos de deus e do diabo, sob a égide de estereótipos de encantamentos e glórias do dinheiro declinado em novo latim para não ser sabido.

Somos muitos...mortos/vivos,iguais em tudo na vida/morte

....e que diferença faz que esse oceano esgoto/ vida num o vazio cresça ou não seus cabedais se nenhuma ponte mesmo é de vencê-lo capaz?

....é difícil defender,só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é
esta que vê ou desvê fervorosamente inútil,mas nascer engana.

 (parodiando) J C DE MELO NETO -

 

Somos o vértice do quadrado triangulado ao avesso,somos o oco da palavra silenciada ,cotovelo de carreteis de morte a que chamamos vida.

 

Narciso acha feio o que não é espelho...

CAETANO VELOSO




MAS QUE NATAL, QUEM NASCEU?

JÁ MORREU?