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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

LANÇAMENTO AMANHÃ -SÁBADO 01.09.2018 17HS Livraria Tapera Taperá - Galeria Metrópole. AV SÃO LUIS 187 SÃO PAULO

Empresariamento da Vida:A Função do Discurso Gerencialista nos Processos de Subjetivação Inerentes à Governamentalidade Neoliberal

Datas de Lançamento: 
23/08/2018 - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP). Convidado para apresentação e discussão Dr. Tony Hara. Horário: das 16 hs às 19hs. Entrada franca.

01/09/2018 - Livraria Tapera Taperá - Galeria Metrópole. Av São Luis 187, Praça da República, Centro. São Paulo – SP. Convidados para discussão: Profª Dra. Margareth Rago (IFCH/UNICAMP) e Prof. Dr. Edson Passetti (PUC/SP). Horário: das 17 hs às 20 hs. Entrada franca.

03/10/2018 - Auditório do Instituto Sedes Sapientiae - Rua Mistro Godoy, 1484, Perdizes. São Paulo-SP.
Breve novos locais de lançamento em São Paulo e em alguns estados do Brasil.



O livro Empresariamento da vida: a função do discurso gerencialista nos processos de subjetivação inerentes à governamentalidade neoliberal (Appris, 2018) busca realizar uma arqueologia do discurso gerencialista e uma cartografia dos dispositivos de poder que sustentaram sua implicação no campo social. O autor, já na epígrafe, deixa claro o que sente e compreende como sendo o processo da escritura movida no sentido de uma máquina de guerra, citando Deleuze e Guattarri no livro Kafka: por uma literatura menor, diz ele:
Escrever como um cão que faz um buraco, um rato que faz a toca. E, por isso, encontrar o seu próprio ponto de subdesenvolvimento, o seu patoá, o seu próprio terceiro mundo, o seu próprio deserto [...] e com isso (grifo nosso) agarrar o mundo para o fazer fugir, em vez de fugir dele, ou de o acarinhar.  


A busca, neste livro, do como é forjado o sujeito dentro do campo social, transversa vários campos, entre eles e, talvez, o mais apreciado neste livro, que Ambrózio nos entrega como refinamento de sua tese de doutoramento em Psicologia Clínica na PUC/SP sob orientação do Prof. Dr. Luiz Benedicto Lacerda Orlandi, trata-se dos restos que as inscrições das modalidades de governo, em uma certa época, deixam em cada um de nós como resquícios das modalidades de resistência no sentido da sobrevivência em um mundo cada vez mais engolfado nas tramas do funcionamento do Capital. Ambrózio é Psicanalista e com atuação no passado na área da Administração, com esta formação multidisciplinar, recolhe seu campo empírico transvasando-o, assim, no campo teórico, com isso, constroe uma obra de valor para um mundo acobertado pelo rentismo político do capital, na égide do Neoliberalismo dos últimos dois séculos e, em especial, na contemporaneidade deste nosso século XXI.
Para tanto, seus recursos são amplos, do ponto de vista teórico, se alicerça em Foucault, Deleuze, Hardt & Negri, Freud e, bem timidamente, Lacan. Deste modo, ele tece uma malha extensa de argumentações que nos dão pistas para compreender o processo de subjetivação no qual se encontra imerso o sujeito contemporâneo, preso a esta malha que por vezes o sufoca, desampara, ou o torna, como diria Peter Pál Pelbart, quanto às tentativas de construção da subjetividade: um equilibrista!
A professora e historiadora Margareth Rago, ao apresentar a obra, nos fala de modo certeiro um dos focos do livro de modo claro e contundente ao afirmar:
"A leitura deste livro nos informa, com muita acuidade, sobre os processos assujeitadores que vivemos a cada dia, muitas vezes, de maneira imperceptível ou até mesmo valorizada, já que somos bombardeados, de ponta a ponta, por uma gama de informações ambivalentes que, no entanto, afinam no mesmo diapasão da sujeição e da obediência, produzindo o que o autor denuncia como “jaula subjetiva”. Seremos capazes de resistir?"

Ambrózio, com uma tessitura lexical clara, nos alumia, no seu trajeto textual, que embora com as devidas amarras do campo teórico, vislumbra uma clareira quanto ao assujeitamento do homem. Dada a sua clareza, utiliza-se também da poética de um Manoel de Barros, (um filósofo poeta) redimensionando, ainda, um campo de possiblidades de luta a este homem preso, atado e enjaulado.

Em suas palavras finais nos diz:
"É importante, no entanto, destacar a aposta no posicionamento de pensar que foi no sentido de responder a uma dinâmica primeira de liberdade e luta destes fluxos que se ergueram tanto os Estados em suas intervenções neoliberais organizados por meio de uma arquitetura imperial quanto se diluiu no corpo social uma lógica de competição acirrada orquestrada pelo discurso gerencialista num processo de empresariamento da vida que captura os fluxos no sentido de enjaulá-los na forma de acumulação do capital humano"

Recomendo a obra aos leitores, já afiados ou não, dentro das diversidades dos campos epistêmicos pelos quais o autor transversa, com destaque para a Filosofia, a Psicanálise e, quem sabe, a Administração. Quem dera um sopro de ar fresco poderia adentrar este ambiente mofado que a competição acirrada, mote da governamentalidade neoliberal, deixa com ares de pulsão de morte. Parafraseando o Freud na introdução da Interpretação dos SonhosAcheronta Movebo!

Paulo Vasconcelos.


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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Aos saudosistas da crítica nos jornais, aviso que ela acabou faz décadas ...Captura do Face -Regina Dalcastagnè


Regina Dalcastagnè (UnB) é uma jovem  acadêmica sem ranço das togas universitárias e com larga produção de 20 anos. Conheci-a, digo sua obra, via Antonio Eduardo Laranjeira e Lívia Natália (UFBA-Letras). Ambos são meus amigos e têm pela mesma profunda admiração e respeito  Dalcastagnè, como pesquisadora da Literatura Brasileira Contemporânea, mapeia a nossa produção de modo sistêmico. Há nela, além disso, algo que julgo importante: sua exposição nas redes  sem esconder seu posicionamento político. Isto a torna uma intelectual comprometida com o seu tempo, com o seu país. A literatura e seu corpus teórico não bastam para nos alimentar  nos nossos devires. Sua exposição nas rede sociais é uma aposta no todo da palavra, em suas diversas interfaces, formas e, portanto, na política, nas suas nervuras, atalhos, pregas e cantos de nossa existência. Ela não se distancia do cotidiano em suas diversidade e incongruências. Seu post - abaixo reproduzido - aponta para uma nova fase da Crítica Literária e declara a forma de condução do seu trabalho. Aproveitei para atá-lo a outro post, de Luciana Hidalgo - outra mulher lúcida e comprometida com o que faz, que respalda o trabalho de Dalcastagné, em comentários ao seu post do Facebook.
*Regina Dalcastagnè-https://bit.ly/2MIGfxw
Regina Dalcastagnè

Luciana Hidalgo É isso mesmo, Regina. Há um esforço constante de professores e teóricos na universidade, que eu acompanho de perto. E vou lembrar aqui algo muito importante: a sua pesquisa sobre literatura brasileira contemporânea mudou a forma como se via a literatura brasileira contemporânea. Apontou os vícios e abriu novos caminhos.



Após ser aventado que booktubers podem estar cobrando para elogiar livros sem que isso esteja muito claro para seus seguidores, diversas vozes se levantaram para defendê-los, dizendo, especialmente, que eles não se pretendem críticos, mas divulgadores. Até aí tudo bem. Mas agora começou um ataque à própria crítica literária: ela não existiria mais no Brasil, é só compadrio, é só elogio mútuo, aqueles que a praticam são todos uns esnobes etc. etc.
Aos saudosistas da crítica nos jornais, aviso que ela acabou faz décadas e, com exceção de raríssimos suplementos culturais que insistem em sobreviver e alguns espaços virtuais corajosos, hoje ela se abriga basicamente dentro do ambiente acadêmico.
Como editora de uma revista especializada na crítica da literatura brasileira contemporânea, que circula, sem atraso e sem interrupções, há quase 20 anos, acho esses comentários ofensivos. E, em respeito às autoras e autores que publicaram na revista, quero dizer que estamos, sim, lendo o que se produz hoje e pensando livre e criticamente sobre essas obras. Que escrevemos nossos textos e editamos nossas revistas e fazemos a divulgação desse trabalho nas madrugadas, finais de semana e feriados, não por “amor” à literatura, mas por entender que conhecimento precisa ser compartilhado.
https://bit.ly/2Mwnxde
https://bit.ly/2MIGfxw

Nessas duas décadas a revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea publicou 489 artigos, 86 resenhas e umas tantas entrevistas com escritoras/escritores. Mais algumas centenas de bons trabalhos foram recusados por falta de espaço e devem estar circulando agora em outras excelentes revistas – não são poucas.
Como somos docentes e pesquisadores, também damos aulas sobre a literatura brasileira recente, formamos professores preocupados com essa produção, orientamos jovens pesquisadores, organizamos eventos e tentamos intervir, na medida do possível, nos debates públicos sobre o tema.
Se vocês não têm interesse, tempo, vontade de acompanhar a nossa produção, podem ir ver o que os booktubers têm a dizer, mas não venham nos acusar de que não estamos fazendo o nosso trabalho, e muito menos de que não o estamos fazendo de forma honesta e ética.

* É professora titular livre de literatura brasileira da Universidade de Brasília e pesquisadora do CNPq. Coordena o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea e edita as revistas Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea e Veredas, da Associação Internacional de Lusitanistas. Publicou os livros Literatura e exclusão (organização com Laeticia Jensen Eble; Zouk, 2017); Sérgio Sant’Anna: um autor em cena (organização com Ângela Maria Dias; Editora UFF, 2016); Representación y resistencia en la literatura brasileña contemporánea (tradução de Lucía Tennina e Adrián Dubinsky; Editorial Biblos, 2015); Espaços possíveis na literatura brasileira contemporânea (organização com Luciene Azevedo; Zouk, 2015); Espaço e gênero na literatura brasileira contemporânea (organização com Virgínia Maria Vasconcelos Leal; Zouk, 2015); Do trauma à trama: o espaço urbano na literatura brasileira contemporânea (organização com Ricardo Barberena; Luminara, 2015); Fora do retrato: estudos de literatura brasileira contemporânea (organização com Anderson Luís Nunes da Mata; Horizonte, 2012); Literatura brasileira contemporânea: um território contestado (Editora da UERJ/Horizonte, 2012); História em quadrinhos: diante da experiência dos outros (organização, Horizonte, 2012); Pelas margens: representação na narrativa brasileira contemporânea (organização com Paulo C. Thomaz; Horizonte, 2011); Deslocamentos de gênero na narrativa brasileira contemporânea (organização com Virgínia Maria Vasconcelos Leal; Vinhedo: Horizonte, 2010); Melhores contos: Salim Miguel (organização; Global, 2009); Ver e imaginar o outro: alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporânea (organização; Horizonte, 2008); Entre fronteiras e cercado de armadilhas: problemas da representação na narrativa brasileira contemporânea (Editora Universidade de Brasília, 2005); A garganta das coisas: movimentos de Avalovara, de Osman Lins (Editora Universidade de Brasília/Imprensa Oficial, 2000); Tramóia: histórias de rendeiras (Insular, 1998); e O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro (Editora Universidade de Brasília, 1996). 


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sábado, 25 de agosto de 2018

Cada ser pode ser...o meio ou instrumento que auxilie um outro - Capturas do Face Elton L.L.Souza


Manoel de Barros



...A poesia não existe para comunicar, mas para comungar. 
A palavra é o nascedouro que acaba compondo a gente...
Manoel de Barros 

....O verdadeiro charme das pessoas é aquele em que elas perdem as estribeiras, é quando elas não sabem muito bem em que ponto estão. Não que elas desmoronem, pois são pessoas que não desmoronam. Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não pode amá-la. Não pode amá-la. É aquele lado em que a pessoa está completamente... Aliás, todos nós somos um pouco dementes. Se não captar o ponto de demência de alguém... Ele pode assustar, mas, a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme.Trecho de entrevista dada por Gilles Deleuze à Claire Parnet, em 1988.


Sempre está no meu olhar as palavras do Filósofo, Poeta Elton Luiz L. de Souza. Neste seu texto, abaixo, vejo o seu perfume spinozano e deleuziano. 

Em tempos como os de hoje o texto  dele é da hora mesmo!!!. É uma aula- um assovio para nos polir, nos fortalecer, para os bons encontros, sobretudo, em tempos de encontros políticos.

O texto é poético, ( conjugando metáforas claras) afinal  os filósofos nos quais  ele se perfuma foram poetas/filósofos ( e olha um bem distante do outro-no tempo-Spinoza e Deleuze )

Afora isto, Elton pertence a casa dos marimbondos poéticos, não 
só pelo mel que destila , mas pelo trabalho de pensar e aludir ao outro sempre.
Paulo Vasconcelos




Elton Luiz Leite de Souza

O sol não existe com a finalidade de fazer a planta crescer, porém a planta cresce ao compor-se com o sol. A planta não existe com a finalidade de nos alimentar, porém nos alimentamos cultivando as plantas. 
Nenhum ser existe para ser a finalidade do outro. Cada ser pode ser, no entanto, o meio ou instrumento que auxilie um outro ser a afirmar aquilo que ele já é. Basta o sol ser o sol, tal como ele é, para ele ser o que de melhor existe para a planta ser a planta. O mesmo vale para as pessoas: é sendo cada um o que já é que poderá ser para o outro um bom encontro . Também é cada um sendo o que já é que poderá ser para o outro um mau encontro. 
O bom encontro , inclusive, nunca é uma promessa, mas uma relação real nascida de cada um já ser o que é, e não da promessa de cada um virar, em palavras, outro. 

A diferença entre o bom e o mau encontro não está em cada ser singular , mas no que cada ser pode aumentar ou diminuir de si mesmo na relação com o outro. E isso que já somos não precisa ser do mesmo nível que o outro em termos de potência: o sol tem mais potência que a planta, porém a potência da planta somente é um “menos” quando comparada com a potência do sol. Nela mesma, a potência da planta é como toda potência, inclusive a nossa: aumentará se tiver um bom encontro, diminuirá se sofrer um mau encontro.

 Não é o outro ser o responsável exclusivo pelo bom ou mau encontro: nós também somos corresponsáveis pelos amores e alegrias que nos acontecem e mesmo dos ódios e tristezas que imaginamos vir apenas do outro. 

O sol não envia as flores que a planta fabrica, mas com a energia que o sol envia a planta fabrica flores. Uma pessoa não envia a amizade inteira à outra, é esta que a fabrica tornando-se da amizade parte, aumentando suas energias. 
Uma pessoa não envia o ódio inteiro à outra, é esta que o fabrica fazendo-se do ódio parte , diminuindo ela própria suas energias, enquanto potência de agir, sentir e pensar.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

JOAQUIM CARDOZO - UM ENGENHEIRO/ARQUITETO DO VERSO -Um poeta não mais lembrado


Joaquim Cardoso por  https://bit.ly/2wgSiHZ









"Alguns dos escritos de Joaquim Cardozo o levam a ser considerado pela crítica como o “poeta que melhor executou um projeto urgente à época, ou seja, o aparecimento do signo não verbal”. Tais inventos não se reduzem a meras acrobacias semióticas. Sua inquietação quanto ao uso do poema como elemento de transformação justifica-se também pelo seu engajamento social, ele que se afirma homem marcado em país ocupado pelo estrangeiro, mas que traz “das águas/A substância/Da claridade".  EVERARDO NORÕES -(https://bit.ly/2LaHP6h)



Conheci a obra de Joaquim Cardozo por este poema, nele me via como morador do Recife (anos 70 )  seus ventos, uma de suas marcas, me diziam da terra em sua geografia poética.

                                           
                                          Congresso dos ventos

Na várzea extensa do Capibaribe, em pleno mês de agosto
Reuniram-se em congresso todos os ventos do mundo;
Àquela planície clara, feita de luz aberta na luz e de amplidão
[cingida,
Onde o grande céu se encurva sobre verdes e verdes, sobre lentos
[telhados,
Chegaram os mais famosos, os mais ilustres ventos da Terra:
– Mistral, com seus cabelos de agulha, e os seus frios de dedos
[finos,
– Simum, com arrepiadas, severas e longas barbas de areia
[quente,
– Harmatã, em fúrias gloriosas e torvelinhos, trazidos da Costa
[da Guiné,
Representante das margens do Nilo credenciou-se Cansim,
E Garbino, enviado das praias catalãs.
Vieram as Monções das margens do Oceano Índico,
Os ventos da Tundra siberiana vieram. . .
E os Alísios desceram do Equador, clandestinos,
Num grande transatlântico.
Chegaram ainda os ventos da América:
– Barinez, respirando doçuras de rios azuis, afluentes do
[Orenoco,
– Pampeiro, eremita e solidão de horizontes sub-andinos,
– Minuano, assobiando longamente a tristeza ritmada das
[coxilhas..
Também os ventos nordestinos se acharam presentes:
O Nordeste e o Sudeste; os ventos Banzeiros,
O Aracati das praias cearenses,
O vento Terral, velho boêmio das madrugadas.
Ventos, muitos e todos, ventos de todos os desertos,
De tempestades selvagens, de escuramente outonos. . .
Nesse congresso em tantas veemências se afirmaram
Quanto em glória e rebeldia se exprimiram. . .
Com açoites e eloqüentes rajadas falou Harmatã;
Com citações de Esopo e de La Fontaine
Comparou as vantagens da energia do sol e a do vento,
Descreveu com minúcia os modernos fornos solares
E admitiu o emprego futuro de ventos magnéticos.
Depois que Cansim relembrou o seu feito guerreiro
Envolvendo em altas nuvens de areia as legiões do rei Cambises
– Isto, há mais de dois mil anos –
Garbino repetiu com sopros noturnos e vagarosos
A velha história do abandono e desprezo dos ventos
Agora, solitários, vagando por todos os quadrantes.
A assembléia inteira levantou-se amotinada;
Um vendaval sem freio, um furacão,
Percorreu aquelas instâncias de planície tranqüila;
Uma onda de revolta se ergueu contra os motores,
Contra os ventiladores e os túneis de vento.
Mas apesar daquele tumultuoso debater de línguas meteóricas
Podia-se ouvir muito bem a voz lamentosa do Nordeste:
– Eu que, há trezentos anos, desembarquei das velas do almirante
[Loncq
Na praia de Pau Amarelo,
Que tremulei nas flâmulas e nas bandeiras das naus de D. Antônio
[de Oquendo
Aqui estou, nesta várzea, reduzido a professor de meninos:
Hoje vivo ensinando a empinar papagaios. . .
Voltando a calma, em alentos de aragens murmuradas,
Terral contou como ajudava as plantas nos amores:
– Levando nas dobras do seu manto o pólen das anteras,
Velivolvendo e suspirando entre ramagens.
Por fim, sucederam-se festas, danças de roda. . .
Músicas e cantos de longes mares tempestuosos,
Rodopios, volteios, caprichos, remoinhos, piões e parafusos. . .
– Com sestros de capoeira exibiram-se o vento Banzeiro e o
[Sulão.
Barinez leu uma mensagem de Romulo Gallegos,
Minuano disse um poema de Augusto Meyer.
E já pelos dias finais daquele mês todos partiram. . .
Erguendo o seu vôo sobre as nuvens varzinas
Regressaram, um após outro,
Para as noites e as tormentas das suas terras natais.
O último que se pôs a caminho foi o vento Aracati:
– Cortou uns talos de chuva
Com eles fez uma flauta
E se foi, tocando e dançando,
E se foi pela estrada de Goiana.
                                                         ( Poesias Completas-Joaquim Cardozo-Civilização Brasileira s/d)

Joaquim Cardozo, engenheiro,matemático, dramaturgo, dominador de vários idiomas, nasceu em Recife e faleceu em Olinda -1897-1978.Amigo de João Cabral, sendo este último o responsável pela publicação dos seus primeiros poemas 1947 (Pequena Antologia pernambucana). Cardozo tem leves marcas de João Cabral,  esse aproximar da existência humana ,  temática da morte e sua forma de por um homem em sua terra como estrangeiro. Homem de engajamento político o que  custou -lhe perseguições e mudança de domicílio.

Foi um dos tantos poetas pernambucanos inseridos dentro da chamada poesia modernista ao inserir-se dentro de uma nova lexicografia e valorização do regional, mesmo que ultrapassando-a. Sua participação como engenheiro lhe insere  ao mesmo tempo  na arquitetura modernista:

Arquitetura Nascente

Planos de sombra e sol. Colmeias.
Hexágonos.Prismas de cera.
Um ovo.Um fruto.Uma semente
...
 ( Poesias Completas-Joaquim Cardozo-Civilização Brasileira s/d)

Como podemos ver Joaquim poetou com as formas, fez a tradução semiótica do volume, espaço para sua  poética fonemática. .Em Arquitetura Nascente & e Outros poemas ele delineia essas traduções e oferece  a : "Oscar Niemeyer arquiteto-poeta-a Manuel Bandeira.João Cabral de Melo Neto e Thiago de Melo  arquitetos da poesia
 
O poeta transitou  entre o rural e urbano, pois guardava intimidade entre estes dois meios ( como engenheiro, calculista e  topógrafo). Adentrou , como engenheiro, o nordeste e Brasil . Criou um espécie de Geopolítica poética  do Nordeste e  destacadamente do Recife

Tarde no Recife. 
Da ponte Maurício o céu e a cidade.
Fachada verde do Café Maxime,
 Cais do Abacaxi. Gameleiras.
Da torre do Telégrafo Ótico
A voz colorida das bandeiras anuncia
Que vapores entraram no horizonte.
Tanta gente apressada, tanta mulher bonita;
A tagarelice dos bondes e dos automóveis.
Um camelô gritando: – alerta!
Algazarra. Seis horas. Os sinos.
Recife romântico dos crepúsculos das pontes,
Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem dos fidalgos holandeses,
Que assistem agora ao movimento das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem dos aviões para as costas do Pacífico;
Recife romântico dos crepúsculos das pontes
E da beleza católica do rio.
( Poesias Completas-Joaquim Cardozo-Civilização Brasileira s/d)

Joaquim Cardozo foi também um poeta escultor na sua ação de engenheiro e deixou suas marcas  a quatro mãos com Niemeyer, junto a este tem as obras : do Conjunto Pampulha, em Minas e, em Brasília, o Palácio da Alvorada, a Catedral, a cúpula do Congresso Nacional e o Itamarati, entre outras.

Ao me debruçar para a escritura  deste texto, entre outros , consultei a obra de Raquel Brandão Serro, sua dissertação de Mestrado na UNB. Lá, ela finaliza nas conclusões com o parágrafo abaixo que passo aqui a expor:
Enfim, é necessário comentar que não há fracasso do poeta na luta contra a reificação. A poesia de Joaquim Cardozo consegue realizar a missão desfetichizadora da arte, pois reelabora os conteúdos extraídos da vida, dando-lhes uma configuração que supera o imediatismo e o pragmatismo da cotidianidade. Ao ler uma poesia, o leitor se coloca esteticamente em confronto com a realidade e, por meio da superação, ainda que momentânea da heterogeneidade superficial da vida cotidiana, faz questionamentos acerca do núcleo humano e de sua individualidade. Raquel Brandão Serro( https://bit.ly/2nTtdPH)
Bibliografia do Poeta:
Publicou os seguintes livros: Poemas (1947); Pequena antologia pernambucana (1948); Signo Estrelado (1960); Coronel de Macambira (1963); De uma noite de festa (1971); Poesias Completas (1971); Os anjos e os demônios de Deus (1973 );O capataz de Salema, Antonio Conselheiro, Marechal, boi de carro (1975); O interior da matéria (1976); Um livro aceso e nove canções sombrias (1981, póstumo). Recentemente- 2017 a CEPE-Pe, lançou Teatro de Joaquim Cardozo:Obra Completa.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

"A Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates Lançamento livro Florisvaldo Mattos

Em bom momento, o Prof Florisvaldo nos aponta o valor da Comunicação ( especificamente quanto as ações na Revolução dos Alfaiates,BA) .Hoje a comunicação, mesmo ampliada tecnologicamente, ainda é confinada à algumas classes sociais-redes sociais.Ainda somos  uma bolha fechada. da comunicação. A rua, a palavra,o grito entre o povo deve ecoar nas ruas.Agir com os braços, e as pernas, circular é fundamental. Lembro do poeta João Cabral -" muita diferença faz entre lutar com as mãos e abandoná-las para trás ..."A revolução dos Alfaiates foi a única e verdadeira  revolução ao pé da letra,entre nós,face o conceito em política de- Revolução.A palavra nas ruas,sua ação, nos panfletos, a discussão fez-se presencialmente. Leiam o post do professor abaixo. 
Paulo Vasconcelos







https://bit.ly/2nKcChf

Assembleia Legislativa da Bahia lançará no próximo dia 24, às 18 horas, em segunda edição, no Instituto Geográfico da Bahia, o livro intitulado A comunicação social na Revolução dos Alfaiates, de Florisvaldo Mattos


SALVE, SALVE, POVO BAHIENSE!
Jornal "Tribuna da Bahia", hoje caderno CIDADE, página 10, publica matéria cujo conteúdo realça o lançamento no próximo dia 24, às 18 horas, no IGHB (Piedade), de meu livro intitulado "A Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates" sobre episódio famoso da história da Bahia, também chamado de Revolta dos Búzios, cujos 220 anos transcorreram precisamente no último domingo, dia 12.
Abaixo, o texto, o poema "Décimas da Liberdade e Igualdade", declamado pelos revoltosos de 1798, a reprodução da página da TB, ilustração do enforcamento de revoltosos, capa do livro e cópia do convite distribuído pela ALBA para o lançamento do livro.
Texto do jornal:
Pelos 220 anos da também chamada Revolta dos Búzios, que abalou o morno cenário colonial-urbano da então Cidade da Bahia, em agosto de 1798, a Assembleia Legislativa da Bahia lançará no próximo dia 24, às 18 horas, em segunda edição, no Instituto Geográfico da Bahia, o livro intitulado A comunicação social na Revolução dos Alfaiates, de Florisvaldo Mattos, em que, deixando aos historiadores a parte essencialmente histórica, o autor aborda o que considerou ponto crucial, o papel da comunicação social na dita insurreição, que visava libertar o Brasil-Colônia do jugo colonizador de Portugal sob o primado de múltiplas bandeiras, tais como independência da Capitania, implantação da república, abolição da escravatura, igualdade para todos, livre comércio com as nações do mundo, interrupção de vínculo com a Igreja do Vaticano, instituição do trabalho remunerado, melhoria do soldo militar e garantias para os plantadores de cana, fumo e mandioca, assim como para comerciantes.
Calcula-se que centenas de pessoas estivessem engajadas no pretendido levante, todos em sua maioria pertencentes à mais reduzida condição social, mas, segundo os estudiosos, apenas 33 deles foram processados, sendo 11 escravos, seis soldados da tropa paga, cinco alfaiates, três oficiais militares, dois ourives, um pequeno negociante, um bordador, um pedreiro, um professor, um cirurgião e um carpinteiro, e, desses, desbaratado o movimento, como exemplo máximo de sofrimento, crueldade e tragédia, somente sobre quatro recaíram as penas de enforcamento, seguido de esquartejamento e exposição de despojos fixados em postes e espalhados por vários pontos da cidade, dois deles soldados (Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas do Amorim Torres) e dois artesãos (João de Deus do Nascimento, mestre alfaiate, e Manoel Faustino dos Santos Lira, então oficial alfaiate, mas ex-escravo), livrando-se da punição severa um quinto personagem, Luiz Pires, também artesão, porque desaparecera, sem deixar rastros, numa Bahia colonial, cuja estrutura social se assentava no patriarcalismo e na economia escrava, com uma população estimada em menos de 200 mil habitantes, sendo 50 mil para o Recôncavo, menos de 60 mil para a Capital e menos de 100 mil para o resto da Capitania.
Baseado em fontes primárias e secundárias, em seu livro, o autor preferiu focar as suas lentes nas relações de comunicação que permitiram, seja no nível interpessoal, pela via oral, com predominância da conversa e do recado, seja no da comunicação manuscrita, com cartas, bilhetes e avisos, os revoltosos atuarem em dois planos: o da formação da consciência política e revolucionária e o da preparação para o levante, praticamente se esgotando nelas toda a engrenagem conspiratória, havendo, no entanto, um momento determinante que levou à frustração e ao fim trágico do movimento.
Foi quando, superando repentinamente as limitações da comunicação em círculo privado, na madrugada de 12 de agosto de 1798, a população foi surpreendida com uma série de textos manuscritos, em número de dez, afixados em locais públicos, para onde convergia grande número de pessoas, tais como portas de igreja, os chamados cantos do peixe, açougues, feiras de frutas e legumes, cais do porto, portas de quartéis, tendas de alfaiates e oficinas de artesãos, veiculando mensagens de conteúdo basicamente político-ideológico, em prol de uma reforma social. Deveu-se ao uso de um búzio de Angola, às vezes até preso na lapela, como uma das formas de identificação de conjurados, no trânsito diário por esses pontos, a opção posterior de se dar ao movimento a designação de Revolta dos Búzios, a preferida na atualidade.
A partir daí, deflagrada a perseguição, instalaram-se dois processos regidos por dois desembargadores fiéis à Corte de Portugal, um para investigação do que se passou a chamar "boletins sediciosos", espalhados pela cidade, e outro voltado para a reunião de preparação para o levante, que fora convocada para o dia 25 seguinte, no então chamado Dique do Desterro, naquele tempo um lugar afastado e ermo.
Foi sobre tal nova forma de comunicação que Florisvaldo Mattos centrou a sua análise, considerando que esses dez “boletins sediciosos”, apesar de manuscritos, foram para os revolucionários e para o movimento “o seu jornal, seu instrumento de divulgação de ideias e definições para um público mais amplo, que extrapolava o circuito da conspiração até aquele momento” e assim, tendo em vista esse aspecto, tomou-os como a mais expressiva e inovadora forma de comunicação indireta utilizada pelos participantes da conjuração, desempenhando, para a época, o legítimo papel de jornal manuscrito, por meio do qual os conjurados difundiram as suas ideias e projetos de reforma social, com sublevação da ordem constituída, para um público indeterminado - chamado por eles de Povo Bahiense -, com características de comunicação pública, unilateral e indeterminada, como seriam alguns anos depois - no Brasil e na Bahia - os jornais impressos, a Gazeta do Rio de Janeiro, em 1908, autorizada por carta-régia de dom João VI, e Idade D´Ouro do Brazil, em 1811, na Bahia.
Motivos de uma das devassas que apuraram a conspiração, segundo ele, esses dez boletins sediciosos visavam, em essência, alcançar um público, uma coletividade de pessoas, em apoio do movimento. Dirigidos ao Povo Bahiense, cinco eram encabeçados como Aviso, um como Nota e quatro como Prelo, palavra que sintomaticamente fazia ressoar a técnica de impressão inaugurada por Gutenberg, que deu origem a toda a uma consagrada cultura editorial e gráfica no Ocidente. Sob o título de Aviso ao Povo Bahiense, eis uma dessas conclamações:

Ó vós Homens Cidadãos, ó vós Povos curvados e abandonados pelo Rei, pelos seus ministros.
Ó vós Povos que estais para serdes Livres, e para gozardes dos bons efeitos da Liberdade; Ó vós Povos que viveis flagelados com o pleno poder do Indigno coroado, esse mesmo Rei que vós criastes; esse mesmo rei tirano é quem se firma no trono para vos vexar, para vos roubar e para vos maltratar.
Homens, o tempo é chegado para a vossa Ressurreição, sim para ressuscitardes do abismo da escravidão, para levantardes a Sagrada Bandeira da Liberdade.
A liberdade consiste no estado feliz, no estado livre do abatimento; a liberdade é a doçura da vida, o descanso do homem com igual paralelo de uns para outros, finalmente a liberdade é o repouso, e bem-aventurança do mundo.
A França está cada vez mais exaltada, a Alemanha já lhe dobrou o joelho, Castela só aspira a sua aliança, Roma já vive anexa, o Pontífice já está abandonado, e desterrado; o rei da Prússia está preso pelo seu próprio povo: as nações do mundo todas têm seus olhos fixos na França, a liberdade é agradável para vós defenderdes a vossa Liberdade, o dia da nossa revolução, da nossa Liberdade e da nossa felicidade está para chegar, animai-vos que sereis felizes para sempre.
Na verdade, para o autor, esses boletins constituíram-se no mais vigoroso instrumento de divulgação dos revolucionários de 1798, como nítida compensação à inexistência de meios impressos, sustentando que, em face das precariedades técnicas da época, devem ser comemorados, senão como ato legítimo de imprensa, como seu alvissareiro embrião e prova coletiva de vontade redentora e modernizadora da Colônia do Brasil, 220 anos depois.
LIVRO
A Comunicação na Revolução dos Alfaiates
Florisvaldo Mattos
2ª Edição. Salvador: ALBA, 2018, 208, p.

FLORISVALDO MATTOS - Dados biográficos sucintos
Nascido em Uruçuca, antiga Água Preta do Mocambo, na Região do Cacau da Bahia, quando ainda distrito de Ilhéus, residindo depois em Itabuna, onde cursou no Ginásio da Divina Providência, e transferindo-se depois para Salvador, Florisvaldo Mattos diplomou-se em Direito, em 1958, mas optou pelo exercício do jornalismo, no mesmo ano, integrando inicialmente a equipe fundadora do Jornal da Bahia, como extensão da militância cultural de parcela do grupo nuclear da Geração Mapa, atuante, nos anos 1960, sob a liderança do cineasta Glauber Rocha. Foi professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde ministrou disciplinas e ocupou cargos na Faculdade de Comunicação, e foi presidente da Fundação Cultural do Estado da Bahia, de 1987 a 1989; jornalista, escritor e poeta, desde 1995 ocupa a Cadeira 31, da Academia de Letras da Bahia. Atuação em jornais: Jornal da Bahia, Estado da Bahia, Diário de Notícias, Jornal do Brasil (RJ); afastou-se do jornalismo em 2011, no cargo de Diretor de Redação do jornal A Tarde, de Salvador, onde antes editou por quase 14 anos o caderno “A Tarde Cultural”, premiado em 1995 pela Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA, na categoria de Divulgação Cultural. É autor dos seguintes livros: Reverdor, 1965, Fábula Civil, 1975, A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior, 1996 (Prêmio Ribeiro Couto, da União Brasileira de Escritores), Mares Anoitecidos, 2000, Galope Amarelo e outros poemas, 2001, Poesia Reunida e Inéditos, 2011, Sonetos elementais, 2012, Estuário dos dias e outros poemas, 2016, e Antologia Poética e Inéditos, 2017 (todos de poesia); Estação de Prosa & Diversos, (coletânea de ensaios, ficção e teatro, 1997); A Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates, 1998 (1ª edição), e Travessia de oásis - A sensualidade na poesia de Sosígenes Costa, 2004, ambos de ensaio.
DÉCIMAS SOBRE A LIBERDADE E IGUALDADE
Mote
Igualdade e Liberdade
No Sacrário da Razão
Ao lado da sã Justiça
Preenchem meu coração.
Décimas
Se a causa motriz dos entes
Tem as mesmas sensações
Mesmos órgãos, e precisões,
Dados a todos os viventes,
Se a qualquer suficientes
Meios da necessidade
Remir com equidade;
Logo são imperecíveis
E de Deus Leis infalíveis,
Igualdade e Liberdade.
Se este dogma for seguido,
E de todos respeitado,
Fará bem aventurado
Ao povo rude, e polido,
E assim que florescido
Tem da América a Nação
Assim flutue o Pendão
Dos franceses que a imitaram
Depois que afoitas entraram
No Sacrário da Razão.
Estes povos venturosos
Levantando soltos os braços
Desfeitos em mil pedaços
Feros grilhões vergonhosos,
Juraram viver ditosos,
Isentos da vil cobiça,
Da impostura, e da preguiça,
Respeitando os seus Direitos,
Alegres, e satisfeitos,
Ao lado da sã Justiça.
Quando os olhos dos Baianos
Estes quadros divisarem,
E longe de si lançarem
Mil despóticos Tiranos
Quão felizes, e soberanos,
Nas suas terras serão!
Oh! Que doce comoção
Experimentam estas venturas,
Só elas, bem que futuras,
Preenchem o meu coração.