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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Leo Cunha : "Cresci em cima, debaixo e dentro dos livros ..."



Leo Cunha



Um escritor que é bastante singular  não só da escrita, mas sobretudo na compreensão da  infância e do mundo juvenil, melhor abrangendo. Conversamos faz muito tempo, só agora pude publicar nossa conversa, sua obras cresceram, todavia segue abaixo a conversa que tem mais de dois ou três anos:




-Era uma vez acabou ou modificou para...

Era uma vez não foi, ainda é. É nos contos encantados de Marina Colasanti. É nas paródias de Sylvia Orthof. É no caldeirão televisivo de Once upon a time.
Eu mesmo já meti minha colher (e cara) de pau nessa sopa, quando escrevi os Contos De Grin Golados, que fazem bem isso: degringolam os contos de Grimm. E também na peça O Reino Adormecido.

-O que te contaram  na infância ...autores livros

Cresci em cima, debaixo e dentro dos livros. Cheguei a nadar numa piscina de livros, na minha infância. E, felizmente, me atiraram pra todo lado: pros contos de fada, pras aventuras de Tom Sawyer, Gulliver e Robinson Crusoé, pras viagens de Júlio Verne, pras turmas alucinadas de Monteiro Lobato e João Carlos Marinho, pros versos de Cecília, Quintana, Vinícius e Sidónio, pras crônicas de Drummond, Braga, Sabino. Tudo para gostar de ler. E gostei.

-Tudo tem um começo e como se deu...e este olhar infantojuvenil

Como quase falei acima, cresci numa livraria infantojuvenil, que minha mãe fundou no final da década de 1970. Eram ali as minhas tardes e sábados, lendo tudo (mesmo) o que existia no mercado, ajudando a vender livro, fazendo oficinas, pedindo autógrafos para os autores. Vem dali o fascínio pela literatura infantil e sua riqueza, sua pluralidade, sua leveza, sua esperança, seus espantos.
Nunca parei de ler os infantojuvenis, mesmo quando já lia Dostoievski, García Marquez, Borges, Calvino, Machado, Guimarães Rosa, Millôr Fernandes. De alguma maneira essas leituras todas foram se misturando em minha imaginação, mas o que eu sentava pra escrever sempre me parecia mais próximo do universo infantil, daquele olhar de descoberta do mundo, da linguagem, do jogo e do humor. Acabei seguindo por aí.

-Trabalhar a palavra na  produção para esta área exige um certo olhar para um campo linguístico de pertenças discursivas e como abarcar um pais tão grande com diversidades – considere  o lugar da prosa poética-

Sou viciado em escutar conversas, em prestar atenção no jeito como as crianças falam, gesticulam, olham e sorriem. Procuro quase sempre a coloquialidade, a fala solta, mas ao mesmo tempo poética e divertida. O desafio da prosa (e da prosa poética) me parece este. Sem deixar de contar uma história e construir personagens, construir um texto gostoso de ser lido em voz alta, de ser saboreado como linguagem.

-O contato frequente, a pesquisa junto as crianças e jovens se faz em sua vida e (ou ) você costuma fazer assim..

Meu contato com as crianças aumentou muito depois que nasceram meus filhos e sempre compartilhei com eles muitas histórias, canções, piadas, parlendas. Estou sempre atento e anotando frases divertidas, analogias inusitadas, erros criativos.

-Os  autores nacionais e de fora te dão guias na escrita ...

Acredito que tudo o que eu já li e leio me dão caminhos sim. Tanto  autores de livros adultos, quanto autores chamados infantojuvenis. Não sei se eu conseguiria apontar um autor específico cujas pegadas eu segui. Em boa parte a Sylvia Orthof, em boa parte o Zé Paulo Paes, mas muitos outros também, mesmo que meu texto seja bem diferente do deles.

-Quais livros da literatura nacional, como todo, de alguma forma se destina também ao publico infantojuvenil e quem você destacaria (autores e obras)

Poderia falar o resto da vida sobre isso. Vou destacar 10 livros que me vêm à cabeça neste  instante, aos quais estou sempre retornando.
- Os bichos que tive, da Sylvia Orthof
- Fábulas fabulosas, do Millôr Fernandes
- O gênio do crime, do João Carlos Marinho
- Corda bamba, da Lygia Bojunga
- Viviam como gato e cachorro, da Elvira Vigna
- História em 3 atos, do Bartolomeu Campos de Queirós
- Poemas para brincar, do José Paulo Paes
- Classificados poéticos, da Roseana Murray
- Camilão, o comilão, da Ana Maria Machado
- A vaca voadora, da Edy Lima

Putz, quanta injustiça: nem falei de Lobato, Cecília Meireles, Sérgio Capparelli, Elias José, Ruth Rocha, Ronaldo Simões Coelho, Mirna Pinsky, André Neves, Roger Mello, Claudio Martins, Tino Freitas, Caio Riter... ufa!
Em outro dia que você me perguntasse, certamente a lista seria outra.

-Na construção da narrativa a imagem te guia (ou não)  e depois  na edição se impõe, como é isto

Dependendo do livro, alguma ideia visual já nasce com a história e é fundamental para ela, mas, na maioria das vezes não.
Acabei de escrever um livro em parceria com o Tino Freitas, no qual a questão da imagem é fundamental.

-O imaginário dos jovens difere ou pode-se conjuminar ao imaginário adulto

Acredito numa ideia que alguns consideram meio piegas e inocente, mas que me parece muito verdadeira: toda criança é criativa, imaginativa, sonhadora, meio maluca, meio poeta, meio palhaça, e a vida vai tratando de apagar essas qualidades, que no mundo real podem até ser vistos como defeitos. Eu tento diariamente na literatura (e quase sempre na vida) dar espaço para essas coisas aflorarem.

-Destaque algumas de suas obras ( escolha )   faça algumas para considerações

São quase 50 livros, então me sinto cruel fazendo isso, mas vamos lá....

Ninguém me entende nessa casa! (ed. FTD) - Costumo chamar essa obra de um livro de memórias disfarçado de livro de crônicas. Sou eu pescando (com poesia, humor e alguma melancolia) passagens soltas da minha vida, que eu quis compartilhar com os leitores, principalmente os jovens.

Pela estrada afora (ed. Atual) - Não só porque me rendeu o prêmio de Autor Revelação no Jabuti e na FNLIJ,  mas principalmente porque considero que alcancei ali um ritmo bem dosado de memória e imaginação, de humor e emoção, de trama e jogo de linguagem. E também porque é uma homenagem aos meus avós e todas as histórias, causos, parlendas, charadas e poemas que me contaram na infância.

Haicais para filhos e pais (ed. Record) - Livro que levei anos e anos escrevendo, embora tenha apenas 51 haicais. Para cada um que usei, descartei muitos outros. É um livro de poemas soltos, instantâneos da vida, mas ao mesmo tempo carrega uma quase narrativa ali por trás, do momento da gravidez até o momento em que o filho sai de casa. Venceu o Prêmio Biblioteca Nacional, como melhor livro infantil do ano.

Clave de lua (ed. Paulinas, livro-Cd) - Os maiores méritos desse livro lindo são dos meus parceiros. Eliardo França, que usou na ilustração telas imensas, pintadas a óleo, transformando o livro numa exposição. Renato Lemos, André Abujamra e Luiz Macedo, que musicaram os poemas. E principalmente o editor Edmir Perrotti, que teve a grande sacada de reunir a turma toda neste projeto que me deu muitas alegrias.

Biografia resumida

- Nasceu em Bocaiúva (MG), em 1966, mas mora em BH desde muito pequeno. Casado com Valéria desde 1996. Pai de Sofia (15 anos) e André (7 anos)

- Autor de mais de 50 livros de literatura infanto-juvenil e de
crônica

- Autor de contos e poemas publicados em mais de 20 coletâneas e antologias

- Tradutor de 30 livros de literatura infanto-juvenil

- Autor de 35 artigos científicos ou capítulos de livros em obras teóricas sobre literatura, jornalismo e cinema

- Vencedor do Prêmio Jabuti, Nestlé, FNLIJ, Biblioteca Nacional e outros prêmios de literatura infantil

- Pesquisador e autor de diversos artigos e capítulos
de livros teóricos sobre literatura infanto-juvenil e jornalismo

- Palestrista, debatedor e oficineiro em diversos eventos

- Doutor em Artes/Cinema

- Mestre em Ciência da Informação

- Graduado em Jornalismo e Publicidade  

- Professor universitário desde 1997


Livros atualmente no mercado (sem incluir coletâneas e antologias)

1.      Pela estrada afora - Atual Editora, 1993.
2.      O sabiá e a girafa - Nova Fronteira, 1993. (atualmente na ed. FTD)
3.      Em boca fechada não entra estrela - Ediouro, 1994. (atualmente na Nova Fronteira)
4.      As pilhas fracas do tempo - Atual Editora, 1994.
5.      O menino que não mascava chiclê - Paulinas, 1994.
6.      Conversa pra boy dormir - Dimensão, 1995.
7.      Sonho passado a limpo - Ática, 1995.
8.      Joselito e seu esporte favorito - Nova Fronteira, 1996. (atualmente na Rovelle)
9.      O inventor de brincadeiras - Dimensão, 1996.
10.   Cantigamente - Ediouro, 1998. (atualmente na Nova Fronteira)
11.   Na marca do pênalti - Atual, 1999.
12.   Poemas lambuzados - Saraiva, 1999.
13.   A menina da varanda - Record, 2001.
14.   Clave de lua e outros poemas - Paulinas, 2001.
15.   Pão e Circo  (com André Salles-Coelho) - Atual, 2002.
16.   XXII!! - 22 brincadeiras de linhas e letras - Paulinas, 2003.
17.   Manual de Desculpas Esfarrapadas - FTD, 2004.
18.   Poemas avoados - Saraiva, 2004.
19.   Era uma vez um reino de mentira (com Ricardo Benevides) - Record, 2005.
20.   Contos De Grin Golados - Dimensão, 2005.
21.   Lápis encantado - Quinteto, 2006.
22.   Era uma vez um reino sonolento (com Ricardo Benevides) - Record, 2007.
23.   Três terrores - Atual, 2007.Cast
24.   Tela plana - crônicas de um país telemaníaco - Planeta, 2007.
25.   Profissonhos - um guia poético - Planeta, 2007.
26.   Viva-Voz - Positivo, 2008.
27.   Turmas do Prédio, da Rua e do Bairro (com Ricardo Benevides) - Dimensão, 2008.
28.   Vendo poesia - FTD, 2010.
29.   Castelos, princesas e babás - Dimensão, 2011.
30.   Ninguém me entende nessa casa! - FTD, 2011 
31.   Num mundo perfeito –­ Paulinas, 2012.
32.   O reino adormecido (teatro) – Record, 2012.
33.   Videntes – e outros pitacos no cotidiano – Melhoramentos, 2012.
34.   A menina e o céu – Ed. FTD, 2013.
35.   Haicais para filhos e pais – Ed. Record, 2013.
36.   Piolho na Rapunzel – Ed. Projeto, 2013.
37.   Um aventura no sonho  Ed. Edelbra, 2013.
38.   Dedé e os tubarões (com Alessandra Roscoe) – Ed. Escarlate, 2013.
39.   Língua de sobra – Ed. Cortez, 2014.
40.   ABCenário – Ed. Autêntica, 2014.
41.   Arca de Noé: uma história de amor – Ed. Nova Fronteira, 2014.
42.   Vira-lata (com Luiz Magalhães) – Ed. FTD, 2015.







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