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sábado, 15 de julho de 2017

O troco

 Maria Lucia Dahl por facebook
O troco

Engraxate, flanelinha, menino de rua, pivete.
Versão moderna do Negrinho do Pastoreio
Zumbi dos Palmares do asfalto,
Rebento do ventre livre
O saldo da escravidão.
Mas que bandeira é esta que imprudente
Na gávea tripudia
Na porta do Hotel Othon
Negociando comida por comportamento bom?
Pivete
Tripulante, vingativo do antigo Navio Negreiro.
Mas que bandeira é esta de colorido berrante,
Vestidos de cobertores, descalços no calçadão?
Vendedores de limão, pivetes.
Sem código, sem lei, sem diálogo
Passa a bolsa aí, tia
Copacabana, de dia.
Frutos de fraudes, licitações, falcatruas,
Bandos de meninos de rua
Aprendendo um beabá:
Dá um trocado dá, dá.
Produto da História do Brasil
Eterna guerra civil.
Pivete: a inversão de papéis.
O troco. Me dá um trocado?
Trocando o roubo do seu futuro
Pela morte de presente
Crianças armadas de verdade por falta de
Revólver de brinquedo
Tentando vencer o medo.
O troco. Me dá um trocado?
Escadinhas de bandidos neste país sem mocinhos
Onde todos são maninhos em progressivo arrastão,
Vendedores de limão, pivetes.
Sem cara nem coração.
Meninos de vida curta, opostos de Peter Pan
Colados aos companheiros
Na porta da catedral
Vergonha e dor nacional.
Crônica de Maria Lucia Dahl.