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terça-feira, 28 de maio de 2019

Foi assim: após aprender a contar de zero a dez, descobri que o zero nem sempre é zero, isto é , nada.


por pixabay

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Nada mais a dizer quando Elton escreve, é certeiro, sem vírgulas,sem ponto,vai direto ao alvo!

Elton Luiz Leite de Souza
Quando eu era bem criança, antes mesmo de saber ler e escrever , fiz uma rica descoberta que não cabe no que ensinam cartilhas e tabuadas: aprendi que se podia brincar também com o pensamento. Foi assim: após aprender a contar de zero a dez, descobri que o zero nem sempre é zero, isto é , nada. 
Ele é nada quando é visto sozinho, isolado, como se fosse um ego ensimesmado. Mas se engana quem acha que o zero é só isso. Pois quando o zero é colocado para fazer companhia ao 1, e este aceita a companhia do zero, o 1 vira 10. Como pode o zero fazer o mero 1 se tornar dez “uns”, isto é, dez unidades dele mesmo? E essa interrogação levava a outras: colocando dois zeros , o 1 cresce ainda mais, sem deixar de ser 1, mas ao mesmo tempo já não sendo : ele se torna 100! Colocando mais um zero, nasce o 1.000! 
Descobri então que o zero não é um “nada”, a não ser que se o reduza a isso. Mas se a gente coloca o zero na companhia de outro número dele diferente, do encontro nascem outros números, como se dentro dele existissem potencialidades que a gente só conhece quando ele “desabre” ( “desabrir” é prática que nos ensina o poeta Manoel de Barros) . 
O zero precisa do 1 para se saber mais do que zero. É a diferença, o outro, que o enriquece. Quando o zero conhece a si próprio, ele vê então o que ele é de verdade: não um nada , mas um “ovo”, uma realidade cheia de potencialidades. 
Depois de fazer essa descoberta, ainda bem criança, sempre que alguém perguntava minha idade eu respondia: “Tenho mais de 1.000 anos!”, e os adultos riam achando que eu não sabia contar os anos. Mas na verdade eu queria dizer , brincando, que o pensar faz a alma aumentar em mil seu tamanho. 
Depois aprendi com poetas e filósofos libertários que o pensar só é autêntico quando faz a gente agir para sair do ovo . E quanto mais gente sair ( mil, milhares, milhões...) , mas difícil fica para o poder nos reduzir a nada.
"A zeroidade é o plano de imanência do pensamento" (Deleuze)

( imagem: livros como escudos, lápis como lanças. Foto compartilhada da página A Casa de Vidro)