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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Bartolomeu Campos de Queirós - UM ESCRITOR DE FARO LONGO



Anteriormente fizemos matéria sobre o mesmo: No voo da palavra entre bichos e gente

Bartolomeu Campos de Queirós

Bartolomeu Campos de Queirós viveu sua infância em Papagaio, cidade pequena com gosto de “laranja-serra-d’água” no interior de Minas Gerais. Posteriormente, instalou-se em Belo Horizonte, onde residiu e trabalhou. Seu interesse pela literatura e pelo ensino de arte o fez viajar muito pelo Brasil.
Bartolomeu conheceu as cidades apreciando azulejos e casas pacientemente; um andarilho atento a cores, cheiros, sabores e sentidos que rodeiam as pessoas de um lugar. Com o mesmo encanto na alma, observava os rios da Amazônia, dos quais costumava sentir saudades quando estava em Minas. Só fazia o que gostava; não cumpria compromissos sociais e nem tarefas que não lhe pareciam substanciais. Dizia ter fôlego de gato, o que lhe permitiu nascer e morrer várias vezes.
“Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o suficiente para uma palavra me ressuscitar.”
Em 1974, publicou seu primeiro livro, O Peixe e o Pássaro. Desde então, firmou seu estilo de escrita com uma prosa poética da mais alta qualidade. Ao longo da carreira, recebeu diversos prêmios, dentre os quais o Jabuti, uma das maiores condecorações literárias do país. Faleceu em janeiro de 2012, aos 67 anos, em decorrência de insuficiência renal, deixando sua obra como maior legado.
Pela Global Editora, Bartolomeu publicou os seguintes títulos: Cavaleiros das Sete LuasCiganosFloraIndezLer, Escrever e Fazer Conta de CabeçaPara Criar PassarinhoRosa dos Ventos Vermelho Amargo.
Além dos livros, a Global disponibiliza diversos conteúdos exclusivos em seu blog: entrevistas, críticas literárias, resenhas, vídeos, notícias e muito mais..
por GLOBAL  EDITORA.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

No voo da palavra entre bichos e gente

BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS (1944-2013)
No voo da palavra entre bichos e gente
publicado pela Revista Brasileiros SP 
foto.Carta Capital





…A gente só fantasia o que não temos. Não fantasiamos o que temos. Então, a literatura é feita de falta. O que escrevo é o que me falta. É isso que a literatura faz. A literatura é o lugar da falta. Bartolomeu Campos  de Queirós
Dra.Ebe Maria de Lima Siqueira UFG/UEG
Paulo Vasconcelos

Principiamos com Ebe Maria de Lima Siqueira[i], professora, que já publicou livro sobre Bartolomeu Campos de Queirós e, na sua tese de doutorado volta ao escritor mineiro, situando-o entre autores canônicos da literatura brasileira, independente do público para quem escrevem. dentre outros autores de literatura infanto juvenil.

Conheci o Bartolomeu por intermédio da sua literatura, ainda na década de 90 e, de lá para cá, vivi na sua companhia, seja  pela literatura, seja em carne e osso pelo convívio com o poeta.
No princípio, eu cuidava de separar autor e sujeito empírico, por considerar o princípio aprendido na academia, que é claro em afirmar que não se pode confundir o homem com o autor. Entretanto, quanto mais eu me aproximava de sua obra, mais eu reconhecia nela o homem Bartolomeu. Os meninos, todos espalhados no tecido de seus  textos, reverberavam o menino Queirós: o que nasceu em Papagaio e que, desde cedo, descobriu que estava predestinado a revelar nas suas dores as dores de todos os meninos-homens do interior de Minas, do interior do Brasil, do interior de todos os lugares e de todos os tempo; o que foi, o de agora, e o que ainda virá.
O fato de ver a sua obra como exemplo de uma literatura sem fronteira foi o que me motivou a tomá-lo como objeto de estudo também na pesquisa de doutoramento. Nesse estudo, tive a oportunidade de situá-lo entre outros grandes da literatura nacional como Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Manoel de Barros. Estes escritores se aproximam, porque suas obras estão no entre lugar dos gêneros literários, têm como linha de força a experiência vivida e possibilitam a leitura de público bem diversificado independente da idade que tenham. Vermelho amargo, por exemplo, que a crítica especializada define como livro escrito para adulto, é um livro que pode ser lido por todas as idades. A diferença é que para que ele chegue até o público infantil será necessário a presença de um bom mediador, que não esteja guiado apenas pelos manuais das editoras.
O que podemos dizer de Vermelho amargo é que, em 40 anos de produção, o círculo de memórias se fecha com uma narrativa altamente biográfica. Mas se a linha do verso é longa e o seu teor se adensa em simbologias e metáforas, o livro aponta para a necessidade de uma mediação acurada, cuidadosa, capaz de escolher melhores estratégias, o melhor momento de iniciar e de interromper a leitura para que o texto se torne uma realidade acessível ao leitor, que precisa desejá-lo, para, só nessa condição, fazê-lo seu.Vermelho Amargo coloca o poeta mineiro em sintonia com Fernando Pessoa, ambos a fingirem a dor que deveras sentem: “Dói. Dói muito. Dói pelo corpo inteiro”, Uma “dor que vem de afastadas distancias” (QUEIRÓS, 2011, p. 7-8) 
Embora tenha escrito também narrativas despretensiosas, como se estivesse apenas recordando seu percurso de alfabetização, que são, por exemplo, Diário de Classe (2003), Raul (1986), As patas da vaca (1989), O guarda chuva do guarda (2010), sua grandeza como escritor se concentra nas narrativas de caráter autobiográfico, que têm início com a publicação do livro Indez, em 1989. Indez inaugura um pacto autobiográfico que autoriza o leitor a perceber que o discurso literário é lugar de acolhimento de muitas vozes, entre elas a do autor empírico, homem como todos os outros, marcado por muitos medos, e entre eles o medo do esquecimento, que o leva a ficcionalizar-se. 
O mesmo procedimento se repete em Ciganos (1994), Por parte de Pai (1996), Ler escrever e fazer conta de cabeça (1996) O olho de vidro do meu avô (2004), Antes do Depois (2006). Em todos esses livros o que se percebe, de imediato, é uma disposição anímica que pressupõe uma projeção do estado de alma, uma vez que os sentimentos, todos os estados mais recônditos e profundos do íntimo, estão entrelaçados com a paisagem, com uma estação do ano, com um estado da atmosfera. Não há uma exigência de que a narrativa seja filtrada por uma primeira pessoa, mas o que se mantém é sempre a escolha de uma retórica intimista, diminuindo a distância entre quem escreve e quem lê.
Bartolomeu concentra o cerne de sua narrativa no fato de narrar a sua própria experiência, por fiar a memória da família, melhor alternativa para guardá-la do esquecimento, porque sua escritura, além de ter a memória como fulcro, como já lembramos, tem suas fontes na infância.
O autor escreve a contrapelo de alguns princípios da modernidade, ao trazer a experiência novamente para dentro do homem. Quer devolver ao homem aquilo de que foi expropriado pela crença de que tudo seria explicado pela ciência moderna.
Vislumbrar em sua obra a expressão do literário, que é o mesmo que lhe atribuir “esplendor estético” (BLOOM, 2005, p. 13), com a função de “revelar que habitamos a terra, não só prosaicamente – sujeitos à utilidade e à funcionalidade -, mas também poeticamente, destinados ao deslumbramento, ao amor, ao êxtase. (MORIN, 2010, p. 45)

                                         Foto por Abril.Cultural

Barto foi um pássaro bigudo catando palavras sobre o tempo e, assim, buscando um reino do letrável, como ele próprio disse. Aprendeu em casa a ler e escrever antes de entrar na Escola através de seu avó paterno, este escrevinhava pelas paredes da casa toda, notícias do cotidiano e outras, as mais curiosas ou para adultos, eram escritas  no alto da parede para evitar que os netos e outros vissem, lessem. Esse fato levou o menino a ter um gosto inusitado, como por pelo avesso a palavra, ou não dar destino certo. O avó era uma figura e tanto que lhe desbocou para não ter medo de enfinhar-se pelos meandros, meios, nas canelas das palavras. Era escutador da avó que lhe contava histórias senta da num penico, arrodeada dos netos. Esse modo de vida, desprovido, e ligado à terra e a família lhe permitiu transportar para a literatura, toda uma brasilidade mineira, e que se confunde com muitas outras, dizendo de modo simples e terno a vida.
De suas entrevistas, dentre elas, destacamos uma das últimas conhecida sem 2011 ao jornalista Rogério Pereira no Teatro Paiol, Curitiba (PR), http://bit.ly/HQaEVN

Assim temos:
“Literatura – o grande patrimônio que temos é a memória. A memória guarda o que vivemos e o que sonhamos. E a literatura é esse espaço onde o quê sonhamos encontra o diálogo. Com a literatura, esse mundo sonhado consegue falar…




O texto literário é um texto que também dá voz ao leitor. Quando escrevo, por exemplo: “A casa é bonita”, coloco um ponto final. Quando você lê para uma criança “A casa é bonita”, para ela pode significar que tem pai e mãe. Para outra criança, “casa bonita” é a que tem comida. Para outra, a que tem colchão. Eu não sei o que é casa bonita, quem sabe é o leitor. A importância para mim da literatura é também acreditar que o cidadão possui a palavra. O texto literário dá a palavra ao leitor. O texto literário convida o leitor a se dizer diante dele. Isso é o que há de mais importante para mim na literatura…”

Iniciou-se à toa, pelo fantástico da palavra e imaginação, de repente, sai O peixe e  pássaro-1971-prêmio literatura Infantil.Com o livro ele desmitifica a literatura chamada Infantojuvenil. A obra é uma grande poesia, literatura para todos, sempre, como assim o apresentou Henriqueta Lisboa, que em contracapa do livro nos diz: “Sem resposta definitiva, algumas vezes me fiz esta pergunta: Como reconhecer a poesia? Muitas vezes pude identificá-la, respirá-la tocá-la, guarda-la nos olhos, nos ouvidos e coração....” Henriqueta, a grande poetisa mineira já via o futuro de Bartolomeu, a poesia. Mesmo entrando pela prosa, ele a enxertou-a de poesia, como só os bons fazem.
Com uma obra que ultrapassa 40 livros, Bartolomeu foi premiado, trabalhou com o eixo da leitura, para difusão do livro, premiado nacional e internacionalmente, nos marcou recentemente, o ano passado com sua obra Vermelho Amargo. Post mortem aparece O elefante, obra curta, mas sempre nos seu moldes do bicho e da prosa poética.












Bartolomeu Campos de Queirós  ou Bartô nasceu em Papagaios MG (1944-2013)
Aos  seis anos perde a mãe, passa por Divinopolis, Juiz de Fora. Em seguida Belo horizonte, onde faz Filosofia e inicia suas atividades ligadas a Educação. Será na França que escreverá seu primeiro livro O peixe e o pássaro.
Foi presidente da Fundação Clóvis Salgado/Palácio
das Artes e membro do Conselho Estadual de Cultura, ambos em Minas Gerais. Idealizou o Movimento por um Brasil Literário.
Recebeu condecorações como Chevalier de l’Ordredes Arts et des Lettres (França), Medalha Rosa Branca (Cuba), Grande Medalha da InconfidênciaMineira e Medalha Santos Dumont (Governo do estado de Minas Gerais). Ganhou ainda o Grande Prêmio da Crítica em LiteraturaInfantil/Juvenil da
AssociaçãoPaulista de Críticos de Arte (APCA), Jabuti e Academia Brasileira de Letras.











































[i]Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Goiás. Professora da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária da Cidade de Goiás