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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Vilma Arêas e seus espaços , ventos e terra



*Vilma Arêas por L.Travessa 





Não sou crítico literário, ao pÉ da expressão,nem tenho intenções para tal, escrevo sobre o que gosto, crítico sou , de mim e do mundo que me rodeia, mas não da Literatura, que mesmo sendo vida, é um tricô mais complicado. Enfim vamos ao que nos interessa aqui, e é o caso de Vilma Arêas Pouco ainda conhecida pelo grande público, o que é uma pena; a professora Vilma Arêas, me impressionou com seu livro de Contos-Vento Sul.-Cia das Letras, 2011-como que me trazendo uma nova onda de boa literatura madura, firme e densa.

Este livro me chega as mãos por Fábio S. Cardoso, o qual fez uma entrevista sobre a mesma, junto com o Rogerio Pereira na revista Rascunho-Curitiba-Pr. (http://bit.ly/zdvPAJ. Antes de ler o autor indicado especulo, cavo ,mexo, remexo busco informações , vou ao- senhor é meu pastor nada me faltará -nome dado pelos alunos- ao Google, enfim cato e dai me chegam informações importantes. A autora organizou poemas de uma diva minha- Sophia de Mello B.Andresen ,escreveu sobre Clarice Lispector e gosta de Graciliano Ramos. Em seguida, flagro no Suplemento do Diário oficial de Pernambuco uma matéria sobre a mesma, por Ronaldo Bressane (http://bit.ly/KjE63j) na qual ela despeja o verbo sobre a literatura como todo e sobre si. Muito bem, leio o livro numa tacada só, num dia de semana a noite. Impressiona-me.

Chama-me atenção seu imaginário, sua poesia embutida em sua escrita e seu jeito urbano-rural, coisa aliás afastadas dos temas da prosa, refiro-me ao meio rural. Há um não sei quê ,que me faz juntar-me a ela, celebro com ela suas estórias, chego a sentir cheiros, texturas em sua escrita. As vezes penso que estou lendo uma nordestina, das boas, qual o quê, ela é Fluminense-Rio de Janeiro de Campos dos Goytacazes.- ha um cheiro de interior brasileiro. Ai sim, fica mais claro para mim esta mulher, mesmo assim quero ve-la, ouví-la , apelo para o You tube. Num pequeno trecho, da entrevista , com Cadão Volpato-Metrópolis-TV Cultura,onde o mesmo alarmantemente titubeia, ante o simples de Vilma, mas diante do que ouço e vejo apaixono-me pela mesma, sou assim, há que me passar fascínio , como assim foi Clarice, é Nelida Pinon, Maria do Carmo Barreto Campelo,Sergio Santana, Joao Gilberto Noll,,João Cabral, Gulhermo Arriaga, o saudoso ,Carlos Funtes e tantos outros. Parto para ler outras obras suas , contos como: A Trouxa-2005 e A terceira Perna 1998, em que encontro uma mesma tessitura textual, mas com maturidade diferente. Mas desliza em toda sua escritura a poesia que ela tece opacamente, mas que risca seu bordado de sua escrita de ponta a ponta. Na terceira perna seu olhar lispectoriano é comprovado nas citações iniciais...uma nova terceira perna que em mim renasce fácil como o capim..(C Lispector), mas Vilma vai além ela convulsiona em destreza nos contos –Dó de peito e Seda Pura. Mas, no todo dela admiro seu jeito de falar, suas opiniões face aos grandes da Literatura, ela os traça de modo inteligente direto e reta, mas denso, passando por Clarice Lispector , sobre a qual tem uma obra, e faz criticas pertinentes ao B. Moser , indo a P..Roth, Coetzee etc. Suas imagens esculpidas nas palavras, no meu imaginário, me passam uma serenidade de gente que tem bom faro, que esfrega-se ao solo para retirar fermento para sua escrita e existência.Ela confessa isto nas entrevistas, sua história , seu caminhar como pessoa de bom tato e olho fino. Seus contos tem um ar de terra, vindo destes ventos que se espalham em nossas vidas e não nos damos conta, o seu tal Vento Sul.

Vilma, corre manso e largo na sua escrita, sem rcocós maiores, mais com estupefaciente exatidão do léxico, do ambiente ao qual pinta e põe seus personagens e enredo. A estrutura do seu conto é breve, como gosto, e no entanto ao final pensamos que lemos um romance, ela dá látex para isto na sua textualidade avantajada. As vozes polifônicas perfilam -se em amontoados de um brilho memorável Seus contos tem um quê do conto tradicional, na estrutura temporal, mas sem grandes delongas, na verdade seu conto é uma pintura com bordas de arte abstrata,o que me lembra Sophia de M.Bryner Andressen, que ela tão bem conhece.

O livro –Vento Sul-encontra-se divido em 4 partes- que aliás não compreendo o porquê, mas enfim percebo que nele se misturam contos e quase ensaios, ou poemas como que tendo um ar lispectoriano, ja que a memória nossa é associativa, mas confesso que não gosto de tais comparativos, enfim saiu, ta aí. De cara deparo-me com dois contos seus-Thereza e República Velha, são contos que deixam-me embeiçado ,pelo estilo, propriedade léxicas e concisão. Há uma poética do rompante que me eletriza na descrição do feminino do lugar da mulher historicamente neste país, do ideal de amor e companheirismo, e mesmo em passagens alucinantes a autora tece filigranas poéticas com uma malha estética muito poderosa e de fauna inusitada, por sois, ventos, bichos, gritos. Se em Thereza tais fatos exalam as relações maritais , no segundo, República Velha, ela retorna para mais poetar, ela enverga o macho e torce-lhe pelo amor e companhia. A puta não é uma qualquer, é aquela mulher eleita, que tantos querem como a verdadeira puta da vivência, do chamego do objeto do desejo, da mulher, do homem puto que necessita de outro de sua laia, e que por vezes não enxergamos ou não queremos, ou não podemos. Sei, lá o quê?

Vilma insinua-me estas questões para o convier entre companheiros é necessário nada e tudo. O macho atende a si e depois que desmascara a mulher com outro e passado algum tempo conclui: “...Dentro do silêncio que se fez, só quebrado por uns latidos de cachorro ao longe, completou já de pé: Puta por puta fico com ela que já estou acostumado. “ Não posso deixar de ler o silêncio cortado por latidos de cachorros, sim cachorros , que a autora nos oferece leiam como quiserem, e a decisão do outro. Em- Habitar – outro conto a autora é bachelardiana, lembrei-me da Poética do Espaço- de Gaston Bachelard -1977 ...”este é o ponto frágil da fantasia, que funda o absurdo, porque no íntimo ele sabe que a vida não vive. Negando a verdade cristalina, fingindo que não vê, parece que respira por um garagalo.. Mas não esta está só aqui, neste conto, se perfila em todos os contos da obra , como antes já anunciei. E isto faz uma trilha com-outros contos como: Encontro- Canto noturno de peixes, Zeca e Dedeco e por fim um grande conto poema –O vivo o morto: anotações de uma etnógrafa – “ .... A seta está cravada no vazio....neste ponto se esboça o gesto, abrindo espaço ä poesia... “ Vilma é uma poeta e tanto,e lembrando minha saudosa Sophia de M.B Adressen- “ Perfeito é não quebrar A imaginária linha Exacta é a recusa E puro é o nojo “-Mar Novo 1958.

*VILMA ARÊAS -Fluminense, estreou na ficção com Partidas(contos, Francisco Alves, 1976). Aos trancos e relâmpagos (literatura infantil, Scipione, 1988) e A terceira perna (contos, Brasiliense, 1992) mereceram o prêmio Jabuti. Em 2002,Trouxa frouxa (contos) recebeu o prêmio Alejandro José Cabassa (44o. aniversário da União Brasileira de Escritores), e em 2005Clarice Lispector com a ponta dos dedos(ensaio) recebeu o prêmio APCA categoria literatura. Professora titular de literatura brasileira na Unicamp, Vilma Arêas vive há muitos anos em São Paulo.(Por Cia das Letras) .