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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

HERMILO BORBA FILHO


FALAR DE HERMILO BORBA FILHO

POR MOBILE


FALAR DE HERMILO BORBA FILHO




FALAR DE HERMILO , SOBRE E SUA OBRA E AÇÕES É NOS DEBRUÇARMOS SOBRE UM INTELECTUAL RARO, DO BRASIL CONSTATANDO O SEU PODER INUSITADO COMO GESTOR E PRODUTOR CULTURAL QUE MUITAS VEZES, E QUASE SEMPRE, ESQUECIDO PELA MÍDIA EM GERAL E, MESMO, A PERNAMBUCANA.
HERMILO FOI UM HOMEM SÉRIO QUE NÃO SÓ ATUOU NO TEATRO,COM PASSAGENS POR ENCENAÇÕES MARCANTES EM RECIFE, NORDESTE EM GERAL, ASSIM COMO EM S PAULO, INCLUSIVE. TAMBÉM FOI EDITOR DA REVISTA VISÃO SP.
HERMILO DEU CONTRIBUIÇÕES INEFÁVEIS A LITERATURA, COM UAM OBRA FORTE,AO TEATRO,COM SUA PRODUÇÃO TEÓRICA E DRAMATÚRGICA,CONTRIBUIU COM O MUNDO EDITORIAL, LIVREIRO E DE REVISTAS, ASSIM COMO NA ÁREA DA MÚSICA.
PRECISAMOS REVER TODAS A S SUAS INTERVENÇÕES NO MUNDO DA CULTURA.
PAULO VASCONCELOS
EX-DIRETOR E FUNDADOR DA ESCOLA HERMILO BORBA FILHO -RECIFE PE; EX INTEGRANTE DO TEATRO HERMILO BORBA FILHO
EVELIN MONTEIRO CARVALHO- JORNALISTA E INTEGRANTE DO TEATRO HERMILO BORBA FILHO OLINDA PE 
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CADERNO 2


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Pensador original, renovou a cena artística no Recife
Hermilo fundiu identidade regional com o caráter universalista das vanguardas

Mariangela Alves de Lima

Estão quase sempre de acordo os historiadores da arte ao situar no fim dos anos 30 do século passado o marco inicial do modernismo teatral brasileiro. Até hoje faz-nos falta, contudo, um compêndio de intuito didático ligando os vários pontos geográficos em que o movimento teatral sincronizou-se e, inversamente, distinguindo as significativas diferenças regionais. No Estado de Pernambuco, uma hoste modernista numerosa e verdadeiramente genial - e aqui é preciso invocar a condescendência dos leitores para esse qualificativo anacrônico - começou no Recife uma renovação cultural, cujas irradiações ainda são sensíveis na linguagem da cena e no âmbito mais específico da dramaturgia televisiva. Hermilo Borba Filho (1917-1976) foi figura de proa da renovação artística da cena no Recife, mas foi também, além disso, autor de obras destinadas à difusão do conhecimento e pensador de um projeto estético onde se fundiram, de modo prático e teórico, a aparente dicotomia entre a identidade regional e a o ânimo universalista das vanguardas.

Em grande parte a gênese dessa síntese corporificada na ficção dramática está recontada em uma série de romances de formação enfeixada sob o título de Um Cavalheiro da Segunda Decadência. São livros de grande sucesso de estima que talvez ainda possam ser encontrados no Nordeste, mas que os leitores paulistanos amantes de literatura brasileira disputam a tapa nos sebos. Pode-se dizer o mesmo das preciosas contribuições historiográficas e ensaísticas em que o dramaturgo e o encenador abrem alas ao excelente (e nem por isso imparcial) professor. Para fundamentar sua prática como encenador e dramaturgo, para orientar os grupos e elencos com que trabalhou e, sobretudo, subsidiar a atividade didática informal e universitária, escreveu uma história do teatro tendo como perspectiva central a evolução do espetáculo.

Ângulo inovador entre nós nos anos 50 do século 20, uma vez que ainda estávamos em débito com a história da literatura dramática brasileira, a tese de Hermilo Borba Filho harmonizava as duas batidas pendulares da arte no seu Estado natal. Em Pernambuco, e também em outros Estados do Norte e Nordeste, os espetáculos populares, bem-sucedidos na medida em que seu público se renova há várias gerações, eram predominantemente cênicos e só 'literários' de modo secundário. Testemunhavam, portanto, o vigor da comunicação direta, da inteligência original do artista da cena, capaz de recriar e improvisar infinitamente as suas histórias. No contratempo dessa batida havia, e há ainda esse sintoma freqüente em culturas que preservam o fascínio pelo universo rural, um ímpeto metropolitano e universalista incitando à abertura para as novidades da vanguarda internacional.

Nas artes visuais, a contradição já estava resolvida havia duas décadas, mas, no teatro, a formulação aparece, primeiro insinuada e depois em diferentes graus de resolução, em uma seqüência de obras teóricas que se inicia com a História do Teatro, editada em 1950 pela Casa do Estudante do Brasil e ilustrada por Aloísio Magalhães, afina-se em Diálogos do Encenador, edição de 1964 pela Imprensa Universitária da Universidade do Recife e cristaliza-se nas páginas de Fisionomia e Espírito do Mamulengo. Este último título, publicado em 1966 na preciosa coleção Brasiliana, co-edição da Civilização Brasileira e da Edusp é, embora motivado pelo afeto localista, um trabalho exemplar de demonstração da plasticidade e do grau de abertura das formas espetaculares preservadas pela cultura iletrada.

Sem explicitar as referências às vanguardas européias que valorizaram a encenação e os atores situando-os em um patamar à altura da dramaturgia, o estudo dos mamulengos nordestinos destaca os procedimentos de composição da cena, as estruturas dramáticas, a vitalidade resultante da ênfase na potência icônica da personagem e, sobretudo, a independência de uma linguagem que se firma nas convenções puramente teatrais, sem ligar a mínima para a forma aparente do real. Esse 'realismo superior, porque poético' seria, na perspectiva do ensaio, um ponto de contato íntimo ou uma identificação metafísica entre o teatro contemporâneo e os espetáculos populares.

Porque estão, por circunstância de nascimento, livres da 'ilusão burguesa do teatro realista', as figuras e as tramas do mamulengo podem ser a fonte de inspiração para uma dramaturgia que vise o espetáculo antes da literatura. Móvel, abrigando-se em qualquer lugar onde haja público e misturando-se fisicamente a ele, mantendo uma relação dialógica que o obriga a atualizar-se, o diminuto teatro de mamulengo torna-se a antimetáfora da grandiosa cena italiana e do culto às obras-primas. É a articulação complexa e inteligente da arte popular, mais do que a preservação de uma arte arcaica, que interessa ao encenador e dramaturgo. E é o teórico sempre apaixonado pelo novo que conclui: 'Certos puristas do folclore abrem a boca escandalizados quando vêem, em qualquer divertimento popular, a intromissão de novos elementos. É uma besteira. Os artistas populares incorporam e absorvem qualquer fato novo que lhes fira a imaginação, sem que por isso abastardem sua arte. Vi, num mamulengo, uma figura de andarilho que carregava nas costas um saco - elemento próprio - e uma miniatura de garrafa de Coca-Cola.'

Para lembrar Hermilo Borba Filho
Parte da extensa obra do dramaturgo e teórico pernambucano chega ao público em novas edições

Beth Néspoli

Sem dúvida, entre intelectuais e gente de teatro, a importância do dramaturgo, escritor, diretor, professor e teórico Hermilo Borba Filho (1917-1976) é reconhecida em qualquer parte do Brasil. Porém, em Pernambuco, não só sua memória como sua obra se mantêm vivas e ao alcance de diferentes públicos. Ele foi o homenageado especial do 10º Festival Recife de Teatro Nacional e sua viúva, Leda Alves, subiu ao palco do Teatro Santa Isabel, em noite de abertura, para representá-lo.

No mesmo festival, que transcorreu entre os dias 7 e 19 de novembro e foi acompanhado pelo Estado, foi lançada oficialmente uma coletânea, em três volumes, com 12 peças do dramaturgo - Hermilo Borba Filho: Teatro Selecionado - em caprichada edição da Funarte, Fundação Nacional da Arte, ligada ao Ministério da Cultura. No palco, comovida, Leda Alves mostrou a condecoração da Ordem do Mérito Cultural, classe grã-cruz, homenagem póstuma ao homem de teatro por ela recebida na véspera das mãos do ministro da Cultura Gilberto Gil. 'Esta medalha pertence a todos nós. O teatro de Hermilo falava de sua gente, sua região, do Brasil.'

No saguão do Santa Isabel, teatro administrado por Leda Alves, é possível apreciar uma exposição com objetos pessoais, fotos do dramaturgo, antigas edições de suas obras ou de livros por ele traduzidos e imagens de sua região natal, a zona da mata do sul de Pernambuco, de onde pescou muitos dos tipos que iria retratar em contos realmente primorosos. Hermilo nasceu no Engenho Verde, município de Palmares. Em 1946, fundou com outros artistas e intelectuais, Ariano Suassuna entre eles, o Teatro do Estudante de Pernambuco. Atuou também em São Paulo, como diretor na companhia de Nydia Licia e Sérgio Cardoso, entre outras, e também escreveu para jornais como Última Hora e Correio Paulistano. Mas voltou para o Recife em 1958 e passou a exercer importante atividade intelectual na capital de seu Estado natal. Que parece jamais tê-lo esquecido.

Textos teóricos como Espetáculos Populares do Nordeste vêm sendo publicados pela Editora Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco, e podem ser encontrados nas livrarias. Sem contar análises sobre sua obra, entre elas O Diálogo como Método: Cinco Reflexões sobre Hermilo Borba Filho, organizada por Lúcia Machado, que traz artigos de diferentes especialistas, editado pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife. É possível comprar nas livrarias coletâneas de seus contos, como O Peixe, cuja linguagem tem pontuação e ritmo surpreendentes, e está publicado em Os Melhores Contos, Hermilo Borba Filho, também da Fundação Cultura.

Ainda na programação do festival, duas montagens foram criadas a partir de seus textos. Mucurana, o Peixe, espetáculo da Cia. Construtores de História dirigida por Carlos Carvalho, transpunha com as ferramentas do teatro épico o conto já citado. Em três sucintas páginas, o autor narra uma história de cruel exercício de poder, e também de poética resistência, entre o poderoso major e um pobre andarilho que ousa pescar um peixe em suas terras. O teatro épico é boa escolha para reproduzir o olhar crítico do autor e a trupe alcança esse objetivo em cenas como o almoço grotesco dos poderosos. Pena que o ritmo ralentado, pelo menos na sessão acompanhada pelo Estado, tenha impedido outra meta, a potencialização da contundência do embate desigual.

Uma das peças publicadas pela Funarte, O Bom Samaritano, também subiu ao palco no festival e, não por acaso, traz também um jogo entre opressor e oprimido. Escrita em 1965, em linguagem de cordel, conta a história de Manuel da Redenção, que foi colocado amarrado em praça pública como castigo exemplar. Dirigida por Samuel Santos - mesmo criador do ótimo espetáculo infantil O Amor do Galo pela Galinha d'Água -, a montagem nasceu dentro do projeto O Aprendiz em Cena, que une artistas iniciantes e consagrados. Iniciativa louvável, cujos resultados vão bem além da exibição de um espetáculo. Para quem não pode ir até Pernambuco conferir essa memória viva, vale ler a obra desse pensador, em grande parte reeditada graças ao apoio do poder público, é preciso reconhecer.