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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O desenho é mais pobre e se enluta,Bahia e Brasil -Angelo Roberto

A obra Cavalos e Sol, 2006, Bico de Pena | Reprodução / Instagran

O Professor Florisvaldo Mattos é um dos intelectuais baianos que sempre acompanhamos via Facebook, abaixo sua postagem colhida de Juarez Paraíso.Tal notícia nos deixa mais pobre,Bahia e Brasil pela perda de uma excelência no desenho,lamentamos.Paulo Vasconcelos.
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O professor, historiador de arte e artista plástico Juarez Paraíso postou hoje no WhatsApp este texto em tributo à memória do saudoso artista plástico Ângelo Roberto, que ontem nos deixou. Enviado por e-mail pelo fotógrafo e também artista plástico Humberto Rocha, reproduzo-o abaixo.
DESENHOS DE ANGELO ROBERTO
Angelo Roberto é conhecido na Bahia como um Mestre do Desenho. São mais de cinqüenta anos de pratica intensiva na área do desenho de bico de pena, da ilustração e da caricatura. Embora tenha domínio da programação visual e da técnica de murais, pode-se dizer que Angelo Roberto é essencialmente um desenhista, pela dedicação quase exclusiva e constante. Pertence à segunda geração de artistas modernos da Bahia, década de 1960. Realizou o curso oficial de pintura e os cursos livres de gravura, cerâmica e escultura da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, tendo convivido com Riolan Coutinho, Helio Oliveira, José Maria, Henrique Oswald, Udo Knoff, Mendonça Filho, Mario Cravo Junior, Rescala, e muitos outros notáveis artistas, responsáveis, como ele mesmo, pela internacionalização da arte moderna na Bahia.

O desenho é linguagem artística basilar, utilizada pelos artistas através dos tempos e em todas as áreas da realização plástico-visual. Como forma independente de linguagem plástica, emancipa-se a partir do Renascimento e, com pontas de metal, grafites, tintas, luz, materiais tridimensionais, incisões, técnicas as mais diversas, tradicionais ou ultramodernas, realiza com os suportes apropriados a forma concebida pelo artista. Vencidos os preconceitos impostos pela ausência da cor e características do desenho acadêmico como expressão da forma sobre o suporte bidimensional, desenho linear, (do desenhista), de manchas (do pintor), de contrastes volumétricos, (do escultor), Picasso desenha com a luz e, na arte contemporânea, incluindo a fantástica contribuição do computador, vale qualquer recurso, vinculado ou não ao hibridismo reinante. Mas no momento em que são inventadas e disputadas as técnicas mais sofisticadas como desejo e marca de atualização técnica, o que mais seduz nos Desenhos de Angelo Roberto é justamente a simplicidade dos meios, dos recursos técnicos. Prevalece a inteligência e a sensibilidade das soluções formais, transcendendo os limites do desenho tradicional para uma concepção comprometida com o conceito de design, pela presença constante da estruturação da forma, no sentido mais amplo do dualismo figura-fundo e da criatividade plástica.

Depois de desenhar os mais variados temas, Angelo Roberto concentra-se no desenho de cavalos. São 30 desenhos de excepcional qualidade plástica, formando um indivisível conjunto pela atração mutua de suas unidades. É como uma seqüência cinematográfica, onde cada fotograma tem a sua autonomia e independência estética. Elegância, agilidade, força, beleza e expressividade plástica é o que simboliza o cavalo, tema que desde a pré-história tem sido constante na historia da arte. Em perfeita sincronização com a natureza, o artista transcende a beleza do animal, eternizando-a através dos processos da abstração plástica.

Angelo Roberto é, precipuamete, um artista da linha e do tracejado, das impressionantes tramas de bico de pena. O contraste elegido é simples, mas eficaz. O completo domínio artesanal do artista tece uma incrível tessitura gráfica, um incrível trabeculado, estrutura linear composta por traços pacientemente superpostos, com mais ou menos transparência, jamais obstruindo a passagem da luz que emana do papel. A volumetria é reduzida e controlada com sutileza e o segredo está no controle da transparência e da natureza da textura visual, na dependência da acumulação e posição espacial do tracejado retilíneo, sendo notável as passagens da luz entre as figuras e o fundo. Mestre do bico de pena, Angelo Roberto já produziu centenas de desenhos de grande beleza plástica (gráfica). Com os atuais desenhos demonstra uma prodigiosa imaginação e memória visual no desafio de um só tema e com o máximo de economia dos recursos materiais. Um sensível e intenso sentimento de harmonia emana da conjugação de linhas, atraindo o movimento do olhar, seduzido pela suavidade do rítimo criado pelo artista. A expressividade plástica sobrepõe-se à simples configuração temática, graças ao desenho despojado e contemplado pelo talento do artista, pela depurada percepção seletiva e notável poder de síntese, próprio dos grandes desenhistas figurativos.

A anatomia natural é substituída pela anatomia artística. Assumindo a posição de frontalidade para as imagens naturais, o artista concebe a redução da cabeça conferindo mais força e elegância corporal. Com magistral interpretação, Angelo Roberto utiliza-se do movimento continuo para a configuração básica da imagem virtual do cavalo, representando a sua energia incontida, e, mesmo em posicionamento estático, o movimento dirigido cria as tensões visuais necessárias para a estruturação rítmica do conjunto. A dimensão do desenho torna-se espaço-temporal. O artista alcança a síntese dos movimentos pela constante modulação da linha, com dimensões e intensidades precisas e, ao contrario do congelamento da reprodução fotográfica do movimento, Angelo Roberto pratica com talento e maestria os processos de abstração da forma natural, através da linha, das deformações dimensionais e da abstração monocromática.

Nos atuais desenhos, o artista introduz suavemente a cor em alguns desenhos, mas também como forte contraponto à estrutura gráfica, quando o círculo de cor intensa cria um novo e poderoso fulcro de atração visual, com tendência a monopolizar a atenção do perceptor, não fosse a atração irresistível da riqueza formal dos cavalos. Ao contrario, contribui para intensificar o jogo de tensões visuais, enfatizando as distensões e contrações do movimento dirigido, do rítimo criado pelo artista. O circulo também cria o espaço cenográfico e de integralização temática, definindo a concepção espacial dos desenhos em termos de dupla composição, pois a visualização plástica imediata realiza-se no bidimensional pela frontalidade das imagens e pelo suporte branco do papel, branco que também pode ser percebido como profundidade espacial expandida para os limites da imaginação, quando interpretado o círculo como o Sol.
Juarez Paraíso

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A dissolução do campo cultural ... Nestor Garcia Canclini






Nestor  Garcia Canclini, argentino, há muito tempo na Universidade Autônoma do Mexico, além de um a referência como antropólogo no mundo ocidental, tornou-se um marco na área dos Estudos Culturais, entre nós no Brasil. Ele é de excelência no questionamento da cultura e políticas culturais, destacadamente na América Latina, sem jamais perder de vistas a cultura popular.Aponta as políticas culturais  na A.Latina e seus jogos de submissão aos meios corporativos midiáticos diretos e suas empresas camufladas do mundo capitalista.

Nestor é visitante constante ao Brasil possuindo uma crítica sobre nosso panorama cultural e as nossas relações com os demais países irmãos.Fala de nossa história cultural como poucos Antropólogos brasileiros   fazendo as correlações com as políticas externas

Questionador no campo das artes dentro dos meios urbanos, os movimentos migratórios, em que faz referência a hibridez da cultura. Sublinha o poder da cibercultura  dentro deste emaranhado cultural e étnico. Umas das suas  perguntas frequentes: onde estamos, que caminhos temos entre o caminho  da  cultura de suporte do papel pelo mundo virtual? Qual o nosso lugar como Latinos neste mundo de poder das grandes corporações? O que lemos e como lemos e quais suportes, e como se caracteriza as novas formas de leituras e que se implica na compreensão do mundo e sua implicação com o mundo da democracia, do voto.

Canclini sempre leva em conta nossa sociedade do consumo, suas sutilezas em  manipular a cultura ou até mesmo seu cinismo, aponta para a construção de imaginários que tentam justificar um mundo pleno globalizado como se fora algo manso pacifico.

Sua escrita é de uma clareza fatal além de seus jogos de linguagem e as atualidades políticas que ele aponta e que se disseminam como estratégias de manipulação das grandes corporações dos  variados meios midiáticos. 

. Abaixo entrevista do Jornal Clarin -Revista Ñ:

El antropólogo argentino analiza cómo la cultura libresca fue colonizada por la industrial y las ciberculturas.
 http://clar.in/2Fh5D6D






Lo que diferencia a algunos mensajes hoy son los modos de acceso y los modos en que son leídos. FOTO Gustavo Garello
Desde México
El centro de México D.F. es zona de culturas superpuestas, reino privilegiado para la aplicación de la Teoría de la Hibridez que en los años 90 colocó a Néstor García Canclini en el centro de la escena internacional. A la intersección entre lo precolombino y lo colonial, cifrada en el subterráneo Templo Mayor que tiene a la Catedral encima, se agrega el Palacio Nacional, edificio que representa la centralidad del Poder Moderno en México. Y todo eso envuelto por los logos de la globalización: Subway, Sanborns, Café Tacuba. ¿La globalización es una interfaz, el proceso que sintetiza lo precolombino con lo colonial? La hibridez también puede verse en los discursos políticos y televisivos. ¿No es el lector contemporáneo un DJ de fragmentos?: “Las redes han acentuado el pastiche, la hibridación, la mezcla de recursos tomados de fuentes muy diversas: textos, imágenes y sonidos revueltos aparecen para producir otras cosas. Es un procedimiento de acceso múltiple que hacemos saltando hipertextualmente en Internet”.
Sus ideas sobre la Teoría Cultural en los 90 anticiparon las mezclas de la era digital: “Pero lo que me interesa ahora es ver cuando la estratificación de las culturas ya no tiene la nitidez que existía hace treinta años. Antes hablábamos de cultura popular y de cultura de élite. Y la cultura de masas era un mediador entre ambas. Eso sigue existiendo pero la cibercultura ha generado una interacción más dinámica que no permite estratificaciones durables. Eso cambió la estrategia mercadológica de las grandes corporaciones. Antes dirigían ciertos libros, imágenes y narrativas para la clase media y otros para las clases populares. Ahora todo eso está entremezclado. Lo que diferencia algunos mensajes son los modos de acceso y los modos de leerlos”.
Las subjetividades del presente fueron formadas por la cultura libresca, luego colonizadas por la cultura industrial y finalmente recalaron en la cibercultura. ¿Cómo las atraviesa esa estratificación? ¿Los lugares de enunciación y de recepción de discursos son muchos a la vez?: “Me ha interesado estudiar la tensión entre distintas generaciones de productores culturales, de críticos y curadores para diferenciarse en esa interconexión obligada entre imágenes, textos y saberes. Hace algunos años veíamos, cuando estudiamos a los jóvenes creativos en la Ciudad de México, que de los 18 a los 35 años había tres generaciones de productores y usuarios de la música y uno podía distinguir entre los jóvenes ‘más viejos’, de 30 a 35 años, que eran llamados ‘los compilados’ porque todavía les importaban los discos que se compraban físicamente.
A diferencia de la generación siguiente a la que ya no le interesaba editar CDs sino que hacían circular sus composiciones digitalmente. En muy corto tiempo se dan modificaciones de uso que crean nuevas estructuras de diferenciación y distinción social muy lejanas de aquellas de la que hablaba Bourdieu. Él veía en el campo cultural disputas generacionales pero con mayor capacidad de consolidación del poder que tenían los propietarios, los que habían llegado primero al campo y que controlaban la circulación. Esa circulación cayó y aquella noción de campo se ha disuelto. Las empresas transnacionales han ido cerrando o perdiendo dinero, reconvirtiendo su negocio en relación con la circulación digital y con los festivales en vivo. No es sustitución del papel por la pantalla, o del disco por la música digital y la descarga libre. Algo análogo vemos en una investigación que hemos llevado a cabo con los lectores. Mientras que las librerías, que son un lugar de consumo individual, están decayendo, sin desaparecer, al mismo tiempo Amazon está construyendo almacenes físicos. Los pdfs, los blogs, los textos digitalizados expanden su resonancia en la Web.
–Lo que hace que los consumos a través de Internet no produzcan el abandono de los objetos analógicos sino más bien su redistribución...
–Y las tensiones no ocurren sólo entre el papel y la pantalla sino por ejemplo en las ferias del libro, que crecen en asistencia cada año. ¿Y qué pasa en las ferias? Es el lugar donde vemos la lectura como sociabilidad ligada al goce compartido de los textos. De ahí la importancia de los booktubers como invitados que tienen más público que un Premio Nobel. En la Feria de Guadalajara hace dos años dos booktubers, uno chileno y otro mexicano, tuvieron más asistentes que Vargas Llosa.
El lugar de los datos en la estructura. Entre sus últimas investigaciones sobresalen trabajos en equipo realizados en México y en Madrid y que dieron lugar a dos libros: Hacia una antropología de los lectores, 2015; y ¿Cómo leemos en la sociedad digital? Lectores, booktubers y prosumidores, 2017: “Una preocupación en esta ecología de la comunicación es ver cómo se combinan posibilidades de accesos, formas de dependencia y sustracción de información. Tenemos un acceso a contenidos muy diversos en muchas lenguas y en descarga libre. Y al mismo tiempo nos roban información que algorítmicamente relacionan para dirigirnos ofertas. En la disputa electoral encontramos que orientan los mensajes en Facebook o Twitter a aquellos que van a pensar de la misma manera. La capacidad de combinar algoritmos que tienen las máquinas no la posee ningún individuo. Pero la pregunta es ¿qué es lo que puede organizar el algoritmo de la vida social? Los ciudadanos estamos siendo reemplazados por algoritmos, pero a los algoritmos ¿quiénes los manejan?”.
La pregunta recuerda aquel debate que mantuvo el estructuralismo y que puede retomarse en la cibercultura. La discusión entre Lévi-Strauss y Paul Ricoeur: “Lévi-Strauss decía que la estructura captaba todo, y si uno sabía leer la estructura se daba cuenta de que el sujeto estaba condicionado por la estructura. Lévi-Strauss lo hizo de un modo rudimentario, porque él trabajó en el momento alto del estructuralismo cuando apenas comenzaba la computación. Pero la pregunta de cuánto sentido puede captar la estructura –¿puede estar atrapado el sentido dentro de una estructura, y puede esa estructura ser leída científicamente?– le suscitó a Ricoeur la observación de que está bien, la estructura establece el sentido del conjunto de variables que están expresadas dentro de esa estructura, pero ¿quién es el sujeto que va a usar esa estructura?¿También eso debemos subordinarlo a la estructura? ‘¿Cuál es el sentido del sentido?’, decía Ricoeur. Una cosa es el sentido de la estructura y otra cosa es el sentido que generamos al interpretar esa estructura. Incluso la misma estructura puede ser leída de modo diferenciado y contradictorio por sujetos sociales, individuales y colectivos muy diferentes”.
–Después del Mayo del 68 a Lacan lo interpelaba uno de los aforismos que los estudiantes habían grafiteado: “Las estructuras no bajan a la calle”. A propósito de ello, como asistente a una conferencia de Foucault, llegó a decir: “si hay algo que demuestran los acontecimientos de Mayo es precisamente que las estructuras bajan a la calle”. ¿Podría aplicarse esta reflexión de Lacan a propósito de la relación entre datos y estructuras en la era digital?
–La pregunta para mí sería qué les pasa a las estructuras cuando bajan a la calle. Las estructuras no están ausentes en los movimientos disruptivos que trastocan el orden de lo urbano o desestabilizan los poderes institucionales. ¿Qué genera que la gente salga a la calle?
–Las movilizaciones políticas del presente, con sus reprimidos y muertos reales, ¿promueven acaso transformaciones de la estructura o es la estructura misma la que provoca esas movilizaciones? Como si en la gama que va de la construcción del espectáculo político a la posverdad se restituyera, aun con movilizaciones políticas mediante, aquella inexorabilidad del neoliberalismo de los años 90.
–Son preguntas abiertas. Mi impresión es que en la disputa que hay en el pasaje del kirchnerismo a la constitución del Pro como una fuerza nacional, que es muy reciente, estamos en un juego de tensiones en el que no se sabe hasta dónde se puede tirar de la cuerda. Y eso de un lado y de otro. Y no es un juego político sino más bien económico, como lo podemos ver en Brasil y México. Quienes no pensamos que el neoliberalismo sea una fatalidad, y quienes vemos que tiene contradicciones muy graves que no puede resolver, podemos pensar que hay espacio para contrarrestar ese carácter fatalista que el neoliberalismo viene mostrando desde los 80. De hecho esto ha ocurrido en América Latina. En la primera década del siglo XXI hubo algunos gobiernos en los que creció un proceso que contravenía la lógica internacional del neoliberalismo. Y en este momento lo podemos ver levemente en algunos países europeos. Portugal es el país más disidente de la lógica económica impuesta por la Unión Europea. No está en el Brexit, pero está atendiendo las agendas sociales de un modo que no se hace ni en Francia ni en Alemania... Entonces no hay un solo modo de comportarse respecto del neoliberalismo, ni el neoliberalismo tiene resuelto para siempre cómo organizar la sociedad.
Una muralla al sur de México. En el apéndice a La globalización imaginada (1999), en el capítulo “Hacia una antropología de los malentendidos”, García Canclini retomaba la historia de ese lugar de enunciación desde el cual ha erigido su voz: el de los argenmex. Argenmex nombra “la tensión entre dos puntos de enunciación. Siempre hablamos del neoliberalismo o la globalización desde lugares específicos. A mí me condicionó pertenecer a Argentina y México. Efectivamente, fui exiliado entre el 76 y el 83. Y desde el 83 he regresado todos los años a hacer cosas a la Argentina: dar seminarios, conferencias. Entonces he mantenido una relación con el país”.
–¿Pensó en volver?
–Hubo dos momentos en que uno tuvo que decidir si se quedaba en México o si regresaba. Una parte importante de la comunidad “argenmex” comenzó a volver desde el 82 y 83. Yo dudé mucho. Porque había que llevarse a hijos que habían nacido en México y que eran mexicanos. En mi caso hubo otros elementos. El haber trabajado sobre México durante el exilio y el haber hecho trabajo de campo en el país del exilio. Eso arraiga. Otro momento en el que dudé fue en el 89. Alfonsín estuvo aquí un año antes de terminar su mandato. Unos diez “argenmex” nos reunimos con él y le dijimos que había algunas sugerencias para crear condiciones de retorno de científicos argentinos. Él se interesó e impulsó la figura del Investigador Correspondiente en el Extranjero.
Varios fuimos en nuestro siguiente viaje con la mitad de la valija llena de publicaciones para inscribirnos a la Carrera de Investigador de Conicet. A mí me pareció una medida muy inteligente. Pero llegó Menem y eliminó ese programa. Entonces esa fantasía fue muy corta. No hay relaciones bien estructuradas y durables. Hay investigadores y equipos que mantienen una interacción frecuente pero no se trata de relaciones más allá de las inquietudes que mantenemos quienes las animamos. Creo que se podría hacer mucho más. Han crecido redes de museos, redes de instituciones privadas; pero muy poco entre Conicet y Conacyt, por ejemplo. Y en los países latinoamericanos, en Argentina y en Brasil gravemente, hay una reducción de los presupuestos científicos y culturales, con una falta de visión geopolítica grave en todos los casos. En EE.UU., donde sabemos los efectos devastadores que está teniendo la política de Trump contra las comunidades latinas, sin embargo hay instituciones fuertes que están promoviendo el intercambio científico. Mientras en EE.UU. hay una conciencia mayor de la importancia de la relación de las artes y la cultura latinoamericana y española, en España y en los países latinoamericanos hay una pérdida de claridad sobre cómo se está reorganizando la geopolítica y sobre la potencialidad global que tiene Iberoamérica en ese contexto.


El Mundo entero como un lugar extraño. Néstor García Canclini Gedisa 141 págs.$203
Hacia una antropología de los lectores. Néstor García Canclini, entre otros Ariel - Fundación Telefónica 305 págs.
¿Cómo leemos en la sociedad digital?. Néstor García Canclini y otros. Francisco Cruces (Dir.) Ariel - Fundación Telefónica 285 págs.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

A rua e a via legal se completam e não devem ser abandonadas. Nenhuma delas. CAPTURAS DO FACE

EUGÊNIO ARAGÃO



NÃO HÁ MUITO QUE FALAR O TEXTO FALA POR SI, MAS A ELITE E MÍDIA NÃO LEEM SÃO GAGAS, AUTOCENTRADAS NA IGNOMÍNIA E PODER. Paulo Vasconcelos
VIA
André Luiz Barros

DCM Do Diário do Centro do Mundo

Nove horas de revirar o estômago. Assim pode ser descrito o julgamento da apelação de Lula contra a sentença condenatória de um juiz vaidoso e exibicionista do grau de piso. A cena era digna de ópera bufa, se não fosse mais um momento dramático do conturbado cenário político nacional. Três julgadores aparentemente sem estatura para a responsabilidade que lhes foi confiada a se manifestarem raivosos, truculentos contra o apelante e se perdendo completamente do contexto fático posto na acusação. Arrogantes, primários e infantis.
“Autodefesa do judiciário”, no melhor jargão corporativista: não negavam que se viam na condição de “vítimas” de ofensiva popular, sem qualquer capacidade de guardarem imparcialidade. Portavam-se mais como advogados de Sérgio Moro do que como magistrados. E, rábulas do colega que eram, tinham infinitamente mais tempo para promover sua defesa do que a defesa propriamente dita, à qual o regimento só reserva quinze minutos.
Entristecemo-nos, chocados, com indivíduos a influenciarem decisivamente nosso destino sem qualquer apego às regras do jogo consensuadas na constituição de 1988. Querem mostrar que são eles que mandam. Ponto. E quem se colocar no seu caminho será atropelado, esteja com o direito ou não. Juízes que mais parecem militantes do MBL do que autoridades da república.
Depois da violência consumada, em desafio a multidões que, de véspera, se expressaram em defesa de Lula no país inteiro, cabe-nos um esforço de reflexão sobre os caminhos a trilhar.
Muitos de nós, apegados ao jogo da democracia liberal, ainda acreditavam que, em Porto Alegre, haveria juízes capazes de colocar a mão na consciência e de desfazer a enorme injustiça praticado pelo lambão Sérgio Moro em Curitiba. Não nego que também assim pensei. Enganamo-nos. Tivemos a mais crua confirmação de que o TRF da 4ª Região é parte do mecanismo institucional do golpe, preocupado em não permitir que Lula concorra à reeleição para presidente da república.
Temos que entender que esse movimento da classe burguesa tem uma lógica cristalina. As instituições, o direito, a mídia e até as forças armadas do estado têm como missão precípua garantir que os trabalhadores e os despossuídos não cheguem ao poder. A democracia, como lembrou Lênin, não é uma categoria abstrata, mas, assumindo concretude, é sempre uma democracia de classe.
A democracia burguesa e seu liberalismo vendem a ilusão de direitos para todos, todos os humanos, como seu houvesse o humano formal, genérico, titular abstrato de “ direitos humanos para todos, sem discriminação”. Mas, no fundo, ela disfarça forma truculenta de opressão, para garantir a prevalência dos interesses da economia financista sobre as necessidades mínimas da maioria da sociedade.
A reversão dessa ilusão por movimentos populares que desmascaram a hipocrisia do falso “consenso democrático”, pondo a nu a discriminação dos sem-terra, dos negros, dos povos indígenas, dos sem-teto e moradores de rua, encontra a mais brutal resposta da expressão do poder burguês. Desqualificam-nos como atores da desordem, como fora-da-lei, criminosos, a merecerem dura repressão. E se, dentro de suas contradições, a democracia burguesa acaba por abrir a porta, pelo sufrágio universal, a um representante da massa despossuída, deserdada e desempoderada que chega ao poder e abraça agendas que possam vir a interferir com os interesses hegemônicos burgueses, sua destituição passa a ser o objetivo maior das forças políticas dominantes.
Fazem-no ao dificultar a governabilidade com chantagens congressuais; ao movimentar o judiciário e o poder repressivo contra os atores populares e, em último caso, ao romper com a própria ordem estabelecida e promover um golpe de estado, seja por meios suaves (uso fraudulento de mecanismos constitucionais de destituição), seja por meios contundentes (golpes militares).
Sim, a “autodefesa” de classe se impõe como “autodefesa das instituições”, no discurso de dominação. A crítica ao atuar dos órgãos do estado burguês é vista como descompromisso com o “jogo democrático” e, assim, os golpistas invertem a realidade e transformam os golpeados, eles sim, em “golpistas”. A insubmissão à truculência institucional, promovida na mais cínica teratologia jurisdicional, é vista como risco à ordem e implica resposta repressiva.
As manifestações de rua em todo o país que antecederam o julgamento da apelação de rua foi retratada pela mídia e pelos julgadores nas entrelinhas de seus votos como baderna intolerável. Como disse um certo Marcelo Bretas, juiz de piso do Rio de Janeiro, a justiça tem que ser “por todos” reverenciada é temida “pelos bandidos”. Pobres que querem chegar ao poder contra “a ordem natural das coisas” só podem ser bandidos. Eles devem temer a justiça. E ai daqueles que ousam se manifestar nas ruas contra suas arbitrariedades!
Juízes e seus irmãos siameses do ministério público estão a fazer de tudo para nos incutir medo. Agravaram a pena de Lula e, depois, outro pretor federal, determinou, sem qualquer causa concreta e qualquer relação com o caso sob sua competência, o confisco de seu passaporte, como se fosse “óbvio” que um ex-presidente da república, candidato aclamado à reeleição, se escafedesse da “aplicação da lei penal”. O judiciário, diante do que entende por “risco iminente” de eleição dos “atores da desordem” para o governo do país, reage histrionicamente. Usa vocabulário de moleques fascistas, no desespero pela diluição das chances de manutenção do poder burguês com mero uso dos mecanismos constitucionais.
A Constituição, porque agora se revela disfuncional, precisa ser violada. Às favas com as garantias processuais, às favas com o devido processo legal, às favas com a presunção de inocência, às favas com os direitos do réu, com os “direitos humanos para todos”! O que vale para Aécio, Temer, Padilha, Moreira Franco evidentemente não pode valer para Lula! Porque se valer, a hegemonia de classe da burguesia corre perigo.
Titubeia todo o judiciário, da base até o STF. As manobras de jurisprudência inconsistente de Gilmar Mendes, por exemplo, encontram absoluta coerência dentro dessa lógica do poder. A publicidade criminosa de interceptação ilegal por Sérgio Moro se presta a impedir que Lula venha a ser nomeado chefe da Casa Civil para impedir o golpe parlamentar. A condução coercitiva de Lula sem qualquer fundamento legal é recebida por Gilmar com ironia e piadinhas bobas.
Mas, agora que, pela incoerência da militância corporativa dos atores da repressão, os representantes do poder burguês estão ameaçados, Gilmar se torna um “garantista penal” para desmontar o punitivismo que também pende sobre os pescoços dos golpistas. E, se numa dada situação, se revela generoso com José Dirceu, apenas o faz para constituir “ativo jurisprudencial” na forma de precedente para beneficiar os seus. Mas isso também está dentro da lógica da “autodefesa” das instituições e da democracia burguesa.
Essa constatação dramática, tornada evidente com o julgamento do dia 24 passado, pode levar muitos de nós a pensar que toda e qualquer ação defensiva por meio do judiciário passa a ser inútil, improdutiva. “É claro que vamos perder em todas as instâncias”. As alternativas, por isso, só poderiam ser estas: ou se submeter, arrumar “um plano B”, ou, então, romper com as instituições e passar para a ação direta de resistência nas ruas.
É compreensível que cresça a desconfiança nas vias legais, no melhor sentido das guerrilhas urbanas das décadas de setenta e oitenta do século passado na Itália e na Alemanha: “macht kaputt was uns kaputt macht“ – “destruam o que nos destrói”. É a lógica do desespero.
Mas há razões para não jogar para o alto a via institucional, mesmo com todas as suas limitações e sua hipocrisia.
Em primeiro lugar, temos que levar em conta que o nível de organização dos despossuídos é ainda frágil. Há incompreensão extensa sobre o papel do estado burguês e, em especial, de seu poder judiciário e do ministério público no golpe contra a própria democracia burguesa que ajudaram a construir. Ainda nutrem esperança na reversão do processo de destituição de direitos. Os próprios representantes intelectuais dos despossuídos têm aplaudido a democracia civil pós-1988 e têm feito uso reiterado de seus mecanismos para garantir direitos.
Algumas vezes, até com a sorte do sucesso. O ministério público recorrentemente se apresentou como defensor de vulneráveis, cuidando de seus interesses com sinceridade de propósito, ainda que, hoje, muito de seus agentes mais pareçam verdugos do que protetores de oprimidos. É natural que tudo isso cause confusão, cause desestímulo na reação fora da vias legais. O resultado é que muito trabalho de esclarecimento e de organização será preciso para possibilitar a mobilização das massas contra a opressão de classe. Antecipar a luta será, com certeza, a tragédia de mortes, torturas e desaparecimentos de preciosos companheiros, que mais podem contribuir vivos do que mortos ao avanço do poder popular.
Em segundo lugar, a democracia burguesa tem mostrado, no Brasil, enorme fragilidade, fragmentação e inconsistência. Não é à toa que nos qualificam mundo afora como “democracia de baixíssima intensidade”. Ela se desmascara como a mais crua das ditaduras de classe a cada vez que o “poder constituído” é desafiado. Mas, precisamente por isso, ela se perde em contradições. O só fato de Lula estar à frente de todos outros candidatos na corrida presidencial é demonstração dessas contradições. Esse é um ativo que não pode ser desperdiçado. É importante expor as entranhas da ditadura de classe, fazê-la supurar em suas chagas visíveis. Ela vai se desgastando com seus conflitos internos enquanto o trabalho de organização da resistência dos despossuídos progride.
Claro que o desmascaramento das contradições tem que se fazer tanto pela via das próprias instituições e, também, pela exibição de força das massas. A rua e a via legal se completam e não devem ser abandonadas. Nenhuma delas. Por essa razão, manter a candidatura de Lula, mesmo com a pífia manutenção da condenação do TRF, é a síntese dessa luta, em que insistimos em participar da via institucional, mas nos mobilizamos para demonstrar que quem quer romper a institucionalidade é o judiciário com apoio da mídia. No seu esquema formal, nós é que nos afirmamos como democratas e eles como golpistas! Essa sua desmoralização os aproxima cada vez mais de seu abismo.
Não devemos alimentar nem ilusões e nem desesperança, entendendo o processo de luta de classes e tendo claro que a história não pára com os golpes de tiro curto dos atores da repressão. Ela está inexoravelmente a nosso favor, pois golpes não são capazes de fazer desaparecer as contradições que enfraquecem o que é e abrem o caminho para o que será, muito melhor amanhã do que hoje. Somos muitos e eles poucos.
Eugênio Aragão foi Ministro da Justiça do Governo da Presidenta Dilma Rousseff
Do Diário do Centro do Mundo

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

QUANDO O POETA TEM INDIGNICAÇÃO E ECLODE O VERSO : CHICO CESAR



O Poeta tem em sua fúria e toma a voz pelo povo e na língua do povo
"Aos idiotas
Antipatriotas
Vendilhões do templo-nação
Digo não
Aos canalhas
E à toda tralha
Que odeia quem trabalha
Digo: Vês, chegará vossa vez
E a vocês restará o lixo da história
Ao juiz
Magistrado pau-mandado
Atolado na toga alugado
Te digo: infeliz meretriz algoz voraz
Tua alma sem paz
Tua casa sem calma
Tua palma à palmatória
Tua fala fina alegrando a escória
Teus dias de triste glória
Tudo finda e ainda tua gala espúria
Aos donos das tvs e dos jornais aliás não digo
Grito: inimigo!
Teu castigo com vigor virá e vigorará
A falência
A concordata
O preço da cocaína
A fuga de anunciantes
E as empresas claudicantes mediante e mendicantes à ruim ruína
Ao construtor do novo e seu motor
Digo amor amante avatar avante
Irrradia radiante a ira que doravante empinarás pelas ruas
Que todo pelego em desassossego se torne assustado
Para dormir um olho aberto e outro fechado
Para comer temer o veneno
Para trepar temer o punhal
Em todo pipoco esperar a bomba a bala o terror
Que a cruviana do tempo sopre e alopre até arrancar os telhados de vidro"
24.01.2018 (entre Porto Alegre e São Paulo)

ODE DE CHICO CÉSAR AOS CAPAS-PRETAS, OS DITADORES TOGADOS

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

CARTA ABERTA AO JUDICIÁRIO BRASILEIRO CAPTURAS DO FACEBOOK




NESTA CAPTURA NÃO Há NADA MAIS A FALAR SENÃO DIVULGAR A  IGNOMÍNIA, O TERROR DA DITADURA TOGADA.P.Vasconcelos
via posta Cida Le Dort Facebook
CARTA ABERTA AO JUDICIÁRIO BRASILEIRO
Excelências, e dirijo-me a todos os magistrados brasileiros, do juiz de primeira instância, no menor, mais pobre e longínquo município, aos Ministros do Superior Tribunal Federal – STF.
A minha posição político-ideológica é pública e notória, e aqui declino dela, tentando a neutralidade.
Vou além: aqui e só aqui, circunstancialmente, admitirei a culpabilidade do ex Presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Ouvi atentamente cada minuto do julgamento do recurso impetrado pelas defesas de réus da Lava Jato, entre eles, o ex Presidente, já aludido.
Em mais de uma oportunidade ouvi dos Senhores Desembargadores coisas tais como: “juízes não julgam pessoas, mas fatos, punindo os que participaram dos fatos, se ilícitos ou criminosos”, “todos os homens são iguais perante a lei, do mais humilde ao Presidente da República”, chegando à citação do escritor russo Fiodor Dostoievsky: “não existem homens de bronze, são todos de carne e osso”.
Concordo com todas essas afirmações e, a partir delas, indago sobre algumas dúvidas, minhas, suscitadas a partir do que ouvi hoje.
O ex Presidente Fernando Henrique Cardoso é proprietário de um apartamento de luxo no mais luxuoso bairro de Paris, na Avenue Foch, ao lado dos Príncipes de Mônaco e sheiks árabes, avaliado em 11 milhões de euros, mais um apartamento em Nova Iorque, dois em bairros nobres de São Paulo, um na Zona Sul do Rio de Janeiro, área nobre, e mais um fazenda de 1 046 hectares, no município de Buritis(MG), com um aeroporto dentro, com pista maior que a do Aeroporto Santos Dumont, que serve à ponte aérea Rio-São Paulo, graciosamente construído pela empreiteira Camargo Correa, que no governo FHC ganhou praticamente todas as licitações para as obras públicas em Brasília.
Cálculos modestos apontaram que para ter este patrimônio de maneira lícita, FHC teria que ter presidido este país, acumulando os salários de presidente e de professor, por mais de 200 anos, e me ative ao registrado e assumido pelo ex presidente, sem considerar as contas e empresas offshore descobertas pela PF e Banco Central, em paraísos fiscais, a partir de denúncias vindas do exterior.
Estamos diante de fatos, ou por haver um homem de bronze por trás não são fatos?
O ex governador e atual senador Aécio Neves construiu dois aeroportos em fazendas de sua família, com dinheiro público, fora da rota dos vôos comerciais, mas na rota do narcotráfico, fez aportes enormes de dinheiro público para as suas empresas, a começar pelas suas emissoras de rádio, detém, de maneira obscura, a quase totalidade das reservas de nióbio, minério nobre, do planeta, foi gravado pedindo propinas e citado na Lava Jato dezenas de vezes.
Estamos diante de fatos ou não são fatos, porque há um homem de bronze por trás?
O ex governador, ex ministro e senador José Serra, filho de imigrantes, nascido em uma quitinete, no subúrbio paulistano, é hoje detentor de uma enorme fortuna, com a PF tendo descoberto contas suas em paraísos fiscais, tendo sido acusado de ser chefe de uma quadrilha internacional, pelo Ministério Público espanhol, com a sua filha tendo uma variação patrimonial de mais de 60 000% em menos de um ano, partindo de uma pequena sorveteria para ser sócia do dono da AMBEV, a segunda fortuna brasileira.
I
sto nos faz estar diante de fatos ou não são fatos, porque com um homem de bronze por trás?
A Polícia Federal apreendeu um helicóptero com quase meia tonelada de pasta de cocaína, helicóptero de um deputado, apreendido na fazenda de um senador. Isto é um fato ou não é um fato, porque há homens de bronze por trás?
Um jatinho executivo foi interceptado com 647 kg de pasta de cocaína, tendo levantado vôo de uma fazenda de propriedade de um ministro. Isto é um fato, ou não é um fato, porque há homens de bronze por trás?
Eu poderia continuar citando nomes, e daria um livro com centenas de páginas, mas se os senhores repararem, só citei fatos relacionados com nomes da elite do PSDB.
Hoje, no julgamento de Lula, ouvi os nomes de diversos partidos serem citados, mas não ouvi a citação do PSDB.
Por fim, Excelências, um advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán, em depoimento a uma CPI do Congressos Nacional, em depoimento de quatro horas, acusou o Juiz que condenou Lula em primeira instância, de ser um vendedor de sentenças e acordos com réus, para delações premiadas.
Mais que acusar, provou, com provas robustas, a começar por e-mails de negociatas, emitidos de computadores da 13a Vara Federal, de Curitiba, a ele.
São fatos ou há um homem de bronze por trás?
Temos uma esquerda de carne e osso e uma direita de bronze? Um povo de carne e osso e uma elite de bronze, com os seus interesses defendidos por homens de bronze?
O Judiciário brasileiro é de carne e osso? De bronze? Ou, pior, está rachado, o que nos aponta o caos, adiante?
Perdoem-me a impertinência, Excelências. É que sou fã do escritor russo, tendo devorado quase todos os seus livros na juventude, com “Crime e Castigo” me marcando sobremaneira, onde ele afirma não haver homens de bronze.
Nesta altura da vida ter a decepção de perceber que ele estava errado, dói.
Assim sendo solicito que na ata dos trabalhos de hoje, em Porto Alegre, em todas as vezes em que aparecer que o Judiciário julga fatos, substituam para o Judiciário julga homens, pelo menos o brasileiro, preservando Dostoievsky..
Decepcionadamente
Francisco Costa
Rio, 24/01/2018.

sábado, 20 de janeiro de 2018

REUBEN DA ROCHA - A POESIA DE NOVO ENXAME LEXICAL




A poesia é feito cobra mansa, braba, bico de ema, sapato furado ou papel de seda em desmonte — assim o poeta que lambe o mundo de verdade trata (quase) tudo, destrata, seleciona, diz, rediz; não agrada-me adjetivos a qualificar o poeta. Prefiro ler, sentir, gostar ou não gostar da rede de palavras que ele tece, morder e tirar meu sentir. Chama-me atenção em qualquer poeta sua teia de palavras, seu mundo lexical, seus adornos, seus investimentos político-sociais, a pintura do seu imaginário, a saída dos lugares comuns, o modo de entortar palavras, a escrita, e lá vai.

Esses agrupamentos de características, sublinho-os, faz-me abrir mais as pestanas e entrar dentro do poema — foi o caso de Reuben Rocha. Aliás, há uma afirmação dele para o estar e ser poeta quando diz: "A tarefa do poeta é o trânsito. É você conseguir fazer a tradução e a passagem de um mundo para outro." 

É sempre difícil nos definirmos, ás vezes só apelando para uma prosa poética quando escapa talvez algo de si. Aqui nesta afirmação quiçá ele se diga um pouco: "Eu sou um bicho do mato vivendo em uma megalópole do terceiro mundo. Eu nasci numa ilha, gosto de conversar com o vento, com o movimento das marés, com a gradação da luz do sol. Quando eu penso em tecnologia, me parece um monte de sucata que já passou..."

Reuben teve destaque merecido em um dos números do Suplemento Cultural do Diário Oficial de Pernambuco, que considero um dos bons meios da Literatura e Arte neste país, ainda que pouco conhecido. Tendo como mediadora da matéria/entrevista Giani de Paula de Melo, da área de Letras.

Paulo Vasconcelos





LOGO ACIMA DO SILÊNCIO DO ÍNDIO Q SE SUICIDA

o enforcado sonha em disparada desta atmosfera pesada p/ outros mistérios + esferas
logo acima
dos abacates suspensos podres 1tupi akira
vara a febre do mosquito galopa aflito p/1lugar longínquo + escapa
às tentativas de assassinato
vista multidimensional do universo
amplo ataque do enxame sobre o exército
...
.....http://bit.ly/2Bhihzt
Abaixo segue  matéria do referido suplemento e seu link:




 http://bit.ly/2mUv2L2
Escrito por Gianni Paula de Melo (imagem: Beatriz Sano/ Divulgação)



Enquanto preparava o texto desta entrevista, a mais canceriana de tantas que já realizei, me vi em algumas conversas com pessoas que não conheciam o Reuben da Rocha e que me perguntaram como era a sua escrita. Eu dizia: é algo entre os índios e os astronautas, é sobre tornar inteligível a nave espacial para um lagarto. Nascido em São Luís (MA), mas morador de São Paulo, o poeta, também conhecido por cavalodadá, é das potências mais estranhas e fascinantes da poesia contemporânea brasileira. Por não ter publicado por selos comerciais, ainda escapa a muitos leitores.
Em tempos de abismo e histeria coletiva, não é em toda esquina que alguém te diz que “a evasão pode ser um direito que as pessoas estão exercendo muito pouco”. É preciso coragem para bancar um projeto poético que ressoe alegria e saúde, uma vez que existe um preço em ser um sujeito deslocado que recusa os discursos do medo e da melancolia da época. Escaldante, seu livro mais recente, realizado a convite do selo Livros Fantasma e disponível para download (no site livros-fantasma.com/catalogo), traduz bem esse projeto.
No tocante às publicações, seu trabalho de mais visibilidade até hoje talvez seja a série Siga os sinais na brasa longa do haxixe, espécie de distopia que o autor designa como “epopeia do terceiro mundo”. Nesta conversa com o Pernambuco, Reuben explica a contribuição que lhe é possível dar como artista, fala sobre seu gesto de preservação do entusiasmo e indica os poetas e experiências que se comunicam com a sua produção.

Quem é cavalodadá?
É uma tentativa de criar uma poética a partir da degradação linguística deste século. É uma “personagem semiótica”, que apareceu em uma música que fiz e já nem lembro, um “cavalo dado” em versão travesti. E é aquele que incorpora de maneira onívora, um cavalo com o “dial” girando solto. Mas um nome vai ganhando sentidos que você não espera. Nos últimos anos, acabei descobrindo que Dadá é um nome de Xangô na Bahia, e Xangô é um orixá que é muito próximo de mim. Cavalodadá é um aspecto da minha poética, e eu sei que ainda vou ter muitos nomes na vida.
A poeta Júlia de Carvalho Hansen, certa vez, me disse que te considerava um poeta-xamânico-cognitivo. Por que ela te define assim? 
Porque ela é gentil. Eu desconfio um pouco de um poeta que se coloque nesse lugar, nesta época de autoimagens hiperconstruídas do autoengano instantâneo. Para ser xamã, você tem que passar por uma iniciação de vida ou morte, você precisa curar a si mesmo. Eu não diria isso de mim.
Escaldante conecta o cósmico com o extremamente palpável e mundano. Como este livro foi gestado?
Este é o livro que eu levei mais tempo para fazer, porque em todos os outros eu me coloquei numa certa urgência, numa rota até o limite físico do escrever. Escaldante são aqueles poemas que eu fui fazendo na beira da estrada ao longo de tantos anos que eu nem sei dizer. E também traz uma série de imagens, que chamo de “ambientais” e assino como Ambos, que é “coautor” do livro. São intervenções gráficas que fiz numa série de pedras de tamanho médio, descartadas pela construção civil, e que depois fotografei ao longo de várias derivas pela cidade, criando colagens gráfico-espaciais por meio da fotografia. Existe mesmo isso que você disse, uma ligação entre o cósmico e o chão. Eu ando muito a pé, ao mesmo tempo tenho uma relação forte com a atividade da contemplação, então eu tento transformar a observação em beleza. A origem do sentimento espiritual é a contemplação, você se deparar com o absurdo da beleza que está disponível. E é nesse estado de percepção que consigo criar. Na cidade, isso acaba se ligando muito com a calçada, com o meio-fio, com a sarjeta, a sujeira. É uma forma de olhar para cima olhando para baixo.
E existe uma ambivalência temporal, como diz aquele verso: arcos futuros alçados mil anos atrás. Tua escrita concilia muito elementos científicos e tecnológicos com elementos ancestrais e primitivos. 
É uma percepção de que os tempos convivem, e o que vai acontecer já aconteceu. Gosto de me colocar em situações nas quais me vejo fora do tempo, como no caso da experiência psicodélica, ou do ato físico de amar. Eu sou um bicho do mato vivendo em uma megalópole do terceiro mundo. Eu nasci numa ilha, gosto de conversar com o vento, com o movimento das marés, com a gradação da luz do sol. Quando eu penso em tecnologia, me parece um monte de sucata que já passou. E ao mesmo tempo isso tudo é a pedra lascada, é o mecanismo da expansão humana, porque o caminho da espécie é parecido com o caminho dos signos, né? “Os signos crescem”. Tudo caminha para a expansão, e tudo é só um brinquedo para mamíferos. E já que estou aqui, como mais um mamífero experimental no planeta, eu me ocupo com a tecnologia em busca da contemplação possível neste mundo de sucata.

Você transita confortavelmente no meio dessa sucata?
Eu me sinto estranho, mas ao mesmo tempo confortável, porque a tarefa do poeta é o trânsito. É você conseguir fazer a tradução e a passagem de um mundo para outro.
Tarso de Melo definiu a série Siga os sinais na brasa longa do haxixe como “libretos de uma ópera dos tempos convulsivos em que tudo tem donos cruéis e nada faz muito sentido”, mas ele também diz que, diante da tua forma de composição, parece que “tudo rui – e nasce mais bonito”.  Você se reconhece nessa afirmação? 
Haxixe foi um projeto bem desesperado. Eu tinha o núcleo do roteiro e me propus a escrever os seis volumes em um ano, seriam dois meses para cada livro. Às vezes, eu releio e me surpreendo, porque eu tinha uma visão mais dura, achava que era um livro terrível. É um poema distópico onde as personagens estão vivendo uma utopia de sexo, carinho e revolta. É uma epopeia do terceiro mundo.
É como se interessasse também as brechas por onde a utopia ainda escapa. 
Eu tenho uma atração pela experiência da beleza; um querer porque quero cortejar a beleza e me alimentar disso. Eu quero ver e estar sempre em busca de uma possibilidade de gozo.
Teu posicionamento coincide com uma visão otimista do mundo?
Não gosto de cultivar estados mentais de baixa frequência. Talvez meu papel na luta seja criar alguma coisa mais arejada. Existe uma reserva de alegria que eu sempre encontrei na arte. Eu quero escrever coisas que façam contrair o coração. E ao mesmo tempo você tem que morrer todos os dias e aprender a nascer de novo. Não é bem um otimismo, mas um entusiasmo.
Mas a sua perspectiva pode ser facilmente tomada como evasão? É o risco que se corre?
Talvez. Walter Benjamin dizia que a fofoca só existe porque as pessoas têm medo de ser malcompreendidas. E tem aquela história da Nise da Silveira, de que existem mil maneiras de pertencer à sua época. Eu não sei se cultivar a beleza é a pior delas. Eu tenho lido muito Brecht, tenho buscado essas pessoas que tiveram grande fôlego em momentos de ruína, que tiveram fôlego e estômago. E, ao mesmo tempo, por mais que eu me situe como um sujeito histórico, inserido em um processo de transformação socialmente doloroso, tenho uma atração pelas “ilhas desertas”, pelas experiências de solidão social e integração vital com o vazio. A evasão pode ser um direito que as pessoas estão exercendo pouco.
Parece meio perigoso dizer algo assim nos dias de hoje.
Eu fiquei pensando muito nisso quando a gente começou a falar sobre a possibilidade dessa entrevista. Será que eu deveria dar uma entrevista?
E a arte tem estado a serviço de outros discursos?
As pessoas perdem de vista que o prazer que a arte pode gerar tem um caráter desviante muito grande, que você cria novas realidades, e se energiza para as broncas do cotidiano normativo. Isso é uma questão de saúde mental, que ao mesmo tempo não resolve a vida de ninguém, mas você cria uma centelha de rebeldia instintiva. Politicamente me interessa muito saber como meu livro pode chegar ao máximo possível de adolescentes, que vão entrar em contato com um discurso perigoso que não é pra ser entendido de cara, é pra se relacionar de uma forma que não é intelectual apenas, mas é física, sensual, sensível. Chama a atenção que a gente esteja vivendo novamente um momento autoritário, mas que desta vez não tenha a experiência do desbunde. Não tem a experiência social e coletiva daquilo que pode ser visto como escapismo, mas é produção de novas formas de vida.
Quais poetas se comunicam com a sua escrita? 
William Blake é um grande contemporâneo meu; Maiakovski; José Agrippino de Paula, o multiartista importantíssimo; os cineastas Rogério Sganzerla e David Cronenberg. Khlébnikov, Walter Benjamin, Lao Tsé, o poeta místico que não conheceu a morte. Rumi, Gregory Corso, Katsuhiro Otomo, Décio Pignatari. Júlia de Carvalho Hansen, Carla Diacov, Tazio Zambi. Ricardo Aleixo, que é um grande diálogo, todos temos muita sorte de conviver neste momento com Ricardo Aleixo. Sebastião Nunes, Waly Salomão, Valêncio Xavier. Vasko Popa, Hakim Bey, Walt Whitman. Com certeza tem vários de que eu não estou conseguindo lembrar.
Que outras experiências entram no seu processo compositivo?
Eu tenho uma relação muito forte com a psicodelia e as plantas de poder, com a ayahuasca e os cogumelos, com o LSD também, com a maconha. Para mim, sempre foi uma busca espiritual decisiva e uma busca de linguagem decisiva. Todas as experiências de alteração da consciência e do corpo foram também transformações de linguagem, foram chegar a escrever diferentemente. Existe também a relação intermídia com o fazer, ao buscar me contaminar por materiais de naturezas diferentes, códigos plurais, e não fixar a poesia num suporte dado. O dub reggae, o free jazz, as histórias em quadrinho. E o hábito de andar na rua e ouvir as pessoas.