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sábado, 21 de abril de 2018

Um Gosto farto de Elizabeth Veiga Morais Mendes









Capa Livro Maria Meiysseen
              


       
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          ...   Meu pão é o verso e força
            na mão que amassa e acorda
            a forma da palavra oca.....





Revolver sua biblioteca é um ato de viagem em que aparecem autores, autores, que nunca mais você os tinha lido, remexido. Ao faze-lo o tempo retorna, mas especificadamente quando entramos nas entranhas da obra, caso de O Gôsto de fábula-*Elizabeth Veiga.**

Este livro, recomendado por um grande amigo à época dos anos 70, foi um deslumbre para mim, especialmente pelo saber tratar a palavra, foco que me persegue. Quero dizer sou um leitor que gosta de saborear a palavra e seus inversos, suas companhia antes e depois da mesma e como o entorno muda.
A poeta se destaca pela dureza e exatidão da palavra, que as vezes lembra Orides Fontela:
...
Na mina boca ficou
Engolida a minha voz.
Ris brusco despetala
Silêncios ermos fontes
Feitos de amor e de palha
Acorrentados ao vento


Descobri esta poetisa no Recife, onde ainda morava; Veiga carioca nascida em 1944 e estreou jovem aos 31 anos com O Gôsto de Fábula* (-adotarei aqui o acordo ortográfico vigente a época 1972, para citar os versos)

Depois sucedeu-se em A paixão em claro (1992 Sonata para pandemônio (2002 antologia Pontes/Puentes, que reúne 20 poetas brasileiros e 20 poetas argentinos do pós-guerra, publicada em 2003


Elizabeth  na sua estética ,sua forma de escrever é como quem escreve duro mas faz mel nas colmeias suas lexicais.

Mesmo na estréia ela causou impacto, ao menos no meio intelectual do Recife e do Rio, naquela época.  O gôsto de fábula de capa simples  mas  de estética visual limpa também chamou-me atenção era da artista   Maria Minyssen.

A obra  foi dedicada a Carlos Drummond de Andrade e Alvaro Mendes e teve edição independente  Dai supor sua amizade ao grande poeta e do segundo- outro  poeta, fantástico e que se observa o cheiro de sua estética na obra de Veiga.

...no calor das cascas cruas
crepita um coral de cascas.
a pele da cobra adere-se
às pedras ferve.Alvaro Mendes( Cascas Duras)



O Gôsto de Fabula está dividida em seis partes, traz nos uma variação de sentidos, mas a textura lexical é a mesma bem como seu foco. Entretanto os poemas da primeira parte destaco -Poema dos objetos, em que a autora desliza fácil  sua poética vibrante adensando os sentidos poemáticos para dizer  das coisas-objetos. Tarefa difícil, quase que uma arqueologia do sentido da palavra a ida ao objeto e seu conceito.
Vejamos:

..A luz não e derrete tôda
e vai ver as coisas de perto..
...
a  madeira empertigada
e fidalga
dissimula a desconfiança
das frinchas...
...
O ar é cego,
Derruba as coisas
...
Vidros espontâneos
Concordam com tudo
...
A voz rouca dos ralos..
 ....


E a vida é mortal
como a pedra
absorvida em se negar concreta


Diria que esta poetisa foi uma das poucas que me chamou atenção para poemar sobre as os objetos, duvidando do seu sentido, mas acalmando a dúvida com o espichar palavra para orgia do poema sempre e ternamente inexato duvidoso como a vida.
Elisabeth sumiu, não se tem noticias dela, mas ficaram estas palavras poemadas que marcaram sempre no hall dos grandes poetas.










*mantenho aqui a escrita original antes do acordo ortográfico

**Elisabeth Veiga  Rio de Janeiro, em 1941. Estreou em livro em 1972, com o volume Gôsto de fábula, A paixão em claro (1992 Sonata para pandemônio (2002 antologia Pontes/Puentes, que reúne 20 poetas brasileiros e 20 poetas argentinos do pós-guerra, publicada em 2003