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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Explicação Para Certos Paradoxos

Explicação Para Certos Paradoxos da História Nacional Contemporânea. ..capturas do face

Braulio Tavares é um artista inquieto, grande e largo, fomos colegas de ginásio em Campina Grande, apesar do tempo ter nos separado ,um para um lado outro ,para outro, acompanho sua trajetória como escritor tradutor, sigo seu face, aqui vai uma dessas capturas, em que pela tradução digamos intersemiótica ele diz mais e mais face o que ora passamos...
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terça-feira, 1 de agosto de 2017

.....perguntaram dos rituais Flip 2017 ...captura do Face

PERGUNTARAM

perguntaram dos rituais
a única resposta possível
na cor das horas 
é o poema.
*-L.Chioda-

apud ZUNAi  
http://bit.ly/2u2CKcM


O poeta é um ativista, Leonardo Chioda  é um deles, afora uma escrita fina, ele reinventa, dubla a palavra poemando, tonteando o leitor e diz, diz mais. Assim, como na letra, ele poema pelas ruas como fez em Paraty  num exercício de cidadania, flagro-o no face e passo aqui para vocês, leitores.Paulo Vasconcelos



Quem se rendeu à #Flip2017, sabe que era comum ver escritores de todas as idades vendendo seus livros e plaquettes — quase todos de editoras independentes ou seleções de poemas feitas à mão, em folhas sulfite, impressos em rascunho, em poucas cores.

Quem se rendia às mesas dos bares, pode ter visto o que vi: gente caçoando, ignorando friamente, diminuindo ou mesmo tirando sarro de quem oferecia o trabalho por qualquer quantia que o cliente-leitor julgasse oportuno ao material. Vi esse tipo de recepção a jovens poetas que vivem muito longe de Paraty e chegam lá com o dinheiro contado para comer quando dá tempo. Ouvi reclamações burras de quem sentava com as sacolas da Travessa abarrotadas [de livros que nem vão ler]. Gente que chorou com a imensa Diva Guimarães e gritou #foratemer mas torcia a cara a quem interrompia o gole da cerveja. Caramba.

Claro que ninguém é obrigado a comprar nada. Mas o descaso com quem escreve — só porque a pessoa não tem editora ou porque aborda oferecendo o trabalho em meios simples — chega a ser revoltante. E tão comum ao longo do maior evento literário deste país desgovernado.

Quem escreve é de carne, sonho e osso. Me desculpem, mas quem transita no frio trabalhando, aberto à chacota, ao silêncio e ao 'não' ríspido de quem se acha mais e melhor, é tão importante quanto os convidados do auditório principal. Mais que pensar na fogueira das vaidades, creio na Literatura como o melhor pretexto para conhecer a grandeza dos outros. Assim o incômodo de presenciar o olhar reprovador a quem dá a cara aos tapas da vida, com o mundo inteiro no coração. A quem sangra e continua andando.

Ou estou bem louco ainda — depois de tantas emoções ao lado de gente que eu amo e outras que conheci e passei a amar — ou parece, mesmo, que muitos não estão entendendo nada. Deve ser as duas coisas. Me anima o fato de que alguns muitos, dentre eles escritores, não só contribuíram com esse povo corajoso [e bem bom no que faz], como abraçaram e desejaram boa sorte e boa editora. Nem tudo se perde quando a poesia está envolvida. Mas não me rendo a nenhum conformismo. Quem escreve é de carne, osso e sonho de chegar no fim da festa sem nenhum exemplar na mochila.
A ignorância de alguns resiste. Assim como resiste a literatura independente, que é o esforço de tantos — esse braço estendido nas noites frias entre tantas luzes.

*Leonardo Chioda nasceu em Jaboticabal, interior de São Paulo. 
 Graduado em Letras pela Universidade Estadual Paulista e pela Università degli Studi di Perugia. Sua estreia foi com Tempestardes [Editora Patuá, 2013], premiado pelo ProAC [Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo.Seu mais novo livro, POTNIΛ [Selo Demônio Negro], foi apresentado durante a Flip na Casa Paratodos. Além de ensaios sobre Literatura e Simbologia, tem poemas em diversas revistas virtuais e impressas. Devido à sua densidade e ao rigor com a palavra escrita, Chioda se afirma como uma voz destoante — e, por isso mesmo, necessária — da poesia contemporânea brasileira.

Aí.. Flip 2017- .... divisora de águas....Capturas do Face


Na minha constante pesquisa nas chamadas Redes Sociais, nome que não curto, deparo-me com o jovem escritor-sério e de talento que escreve também no seu Face, no seu post de modo simples; como uma flecha exata, no ponto, Rafael faz um apanhado enxuto do que foi a Flip sem se deter nos intelectualismos que, em geral, se usa para descrever este tipo de evento, passo a palavra ao escritor, que muito admiro. Paulo Vasconcelos




Rafale Gallo*





Dizem que as crises servem para repensar o modo como lidamos com as coisas, para buscarmos novas soluções e ficarmos mais fortes ou sábios. No Brasil, isso quase nunca acontece, porque as crises sempre parecem apontar para um buraco ainda mais fundo e não haver amadurecimento, mas sim sublimação pelo humor e catarse pela violência (não lidamos com nossos traumas). Mas a Flip deste ano foi uma belíssima exceção. 

A curadoria da Joselia Aguiar, as propostas das programações paralelas e as relações entre toda a teia que formou os últimos dias em Paraty mostraram que há, sim, maneiras criativas, saudáveis e afetivas de lidarmos com todo esse imbróglio chamado Brasil. Foi muito falado - e eu não poderia concordar mais - que a educação e a cultura têm que se tornar centrais na formação do país. É até um alívio ouvir esses tipos de sinais, em um contexto em que só se vê a pregação dos mercantilismo mais vis, como se a salvação fosse o dinheiro, os investidores, etc. 

A salvação vem da educação, das oportunidades de igualdade, de se dar importância real à vida das pessoas. Não à toa, a presença mais marcante dessa Flip veio de uma professora, de uma pessoa que não estava lá nos holofotes, mas no público. Era aí que essa Flip - que foi divisora de águas, como muitos falaram - estava mais potente: no rés-do-chão. Com tudo que essa expressão tem de mais bonito.

Ah, e o vídeo da Diva é imperdível. Essa história da lagoa eu ouvia quando era pequeno - também de pessoas da igreja (oh, coincidência!) - e o que ela tem de horrível e absurdo continua em outras "historinhas" até hoje. Acho que qualquer discussão sobre racismo ou aspectos sociais do Brasil deveria passar por esse vídeo, e ele contém tanta coisa, que eu nem saberia por onde começar.
(video aqui já exibido.... (http://bit.ly/2u1fhZa  )

Enfim, que bom que a Flip tomou esse rumo, que bom que podemos vislumbrar esses rumos. Porque reparem em uma das coisas importantes: as falas são duras, refletem sobre a violência, mas elas não são violentas em si. E é nisso que eu também acredito, cada vez mais.


* Rafael Gallo

Escritor paulistano, autor do romance Rebentar (Record, 2015) 
livro vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 
e de Réveillon e outros dias (Record, 2012), 
livro vencedor do Prêmio Sesc de Literatura.
..http://www.rafaelgallo.com.br/

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Não dá pra dizer que Maduro está morto nem que a Oposição esteja enterrada... Capturas do Face

Mara Telles brinca no seu Face, mas quando se arma de verdade como professora /pesquisadora da área de Ciência Política,UFMG, que é, sai tiro certeiro!
Ela comentou sobre os últimos fatos da Venezuela, e temos uma posição equilibrada, tomei seu post emprestado .Paulo Vasconcelos
.....





7,5 milhões participaram no plebiscito contra a Constituinte, convocado pela oposição. Júlio Borges, Presidente da Assembléia Nacional Venezuelana, veio a público interpretar estes resultados que, segundo ele, demonstravam que o governo de Maduro estava revogado. 




Ontem, cerca de 8 milhões de pessoas votaram a favor da Constituinte convocado por Maduro. Maduro agora interpreta os resultados: foi a maior votação da Revolução Bolivariana. Até agora, empate técnico, tipo 49,5% para Oposição e 50,5% pro - Maduro. Números robustos de lado a lado. 



Não dá pra dizer que Maduro está morto nem que a Oposição esteja enterrada. Não dá também para simplificar a interpretação entre Autoritários x Democráticos, porque muito embora Maduro tenha apresentado atitudes convenientes com regimes duros, como a violência contra os protestos, a Oposição venezuelana também está bem distante de ser exemplo de democratas.
 Isso vai acabar em guerra civil e, dificilmente qualquer que seja o grupo que venha assumir um novo governo pós -Maduro conseguirá no curto prazo pacificar o país. 



Polarização neste nível costuma ter única resposta: regimes fechados que, usualmente, são fechados em nome da Democracia - esta velha senhora sempre chamada para justificar períodos de exceção.

domingo, 30 de julho de 2017

BOM DIA CHICO....capturas do Facebook

Cida Moreira, sempre doce e um poema ambulante, ela é um ser que vomita a doçura dos que são humanos, tem a leveza dos que querem vida, ela é um sopro de ternura, coisa tão rara hoje em dia,além de uma musicista uma pessoa inavaliável que no mundo da canção nos põe cor; capturei esta postagem do Facebook que bem confirma isto:










...a canção nova de Chico é um bálsamo poético sem tempo.....apenas e tão somente uma suspensão artística que me coloca num lugar de onde cada vez mais não quero sair..um sopro....uma eternidade que honra a glória da música brasileira....e as palavras..tão simplesmente colocadas....suspensas nesse tempo bruto e tosco.....já tive que ler várias opiniões contrárias aqui.....começa o patrulhamento vazio dos tempos atuais, onde seu gosto pessoal tem que ser o melhor nesse vácuo humano .......respeito...não gostem.....mas por favor não entrem na minha TL......nao defenderei toscamente quem nunca precisará de qualquer defesa..a obra, senhores...a obra.....façam as suas e silenciem se puderem.....bom dia Chico, que além de tudo tem no Buarque o nome da rua onde moro........boa tarde.....meu luxo.....

sábado, 29 de julho de 2017

FLIP DESTE ANO SURPREENDE COM DIVA GUIMARÃES

A FLIP

São momentos como este que transformam o evento, sobretudo na atual situação do país.
Josélia  Aguiar está de parabéns, é um rompimento que se faz, há algo novo!!!!!!!!!!

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Os engajados, os ‘isentões’ e os hedonistas... Por Sidney Rocha e Paulo Vasconcelos

Publicado pela Sao Paulo Review
http://bit.ly/2uyOVL5
Em tempos de tantas fagulhas, de dilaceramento de propósitos, insegurança de futuro, refleti com Sidney Rocha sobre a relação entre politica e literatura no incendiar de novos cenários em nosso País. A literatura, se não é o espelho, é um encontro de propósitos cujas demandas necessariamente são políticas, e isto em todos os gêneros, seja na crônica, na poesia, no conto ou no romance. Escrever, mesmo em estados ficcionais, é do homem e suas circunstâncias.
Literatura e política são, pois, binômios fundantes da escritura, ou uma etopoiética se não de engajamentos políticos, acentuados ou não como foram João Cabral de Melo Neto, Thiago de Melo, Joaquim Cardozo, Verissimo, Jorge Amado, Graciliano, Jose Lins do Rego, Ruffato, entre tantos, afora os latinos como Neruda, Benedetti, Cortázar, Garcia Márquez Otavio Paz , Soler…..
Para tanto, buscamos escutar alguns nomes de nossa literatura, de modo que possamos nos aproximar do tema e visualizarmos esse par que atravessa nossa história e compõe na contemporaneidade seu tecido do devir.
No último dia 31 de março, subia ao pequeno púlpito, ao lado da presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, um dos maiores escritores brasileiros vivos: Raduan Nassar. Sem nenhuma filiação partidária, e longe dos holofotes literários, o autor de Lavoura arcaica se juntava a outros intelectuais como Chico Buarque e Eric Nepomuceno, por exemplo, para deixar pública sua atuação contra o impedimento da presidente, e acendia luzes também sobre a função ou imagem do escritor brasileiro em momentos como esses.
Será um romance proletário?” A pergunta vem da epígrafe de Cacau, de Jorge Amado (na foto, 1912-2001), publicado em 1933. Nesse mesmo ano, Pagu, pseudônimo da poeta comunista Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), lançava seu romance Parque industrial, onde apontava dois universos de trabalhadores nas cidades: os militantes-conscientes e os alienados. Sem meios-tons.
Daquela década não faltam exemplos de escritores engajados, de quem já não se falava à época — e hoje muito menos — como Ranulfo Prata (Navios iluminados, 1937) ou, antes, Juvêncio Campos (Gororoba, 1931). Assim, “literatura proletária” e “realismo socialista” (como entende G. Struve: “criação de obras de elevado nível artístico, marcadas pela heroica luta do proletariado”) eram termos de uso corrente entre escritores do Brasil.
Para discutir a relação entre literatura e (ou versus) política, falamos com Cristhiano Aguiar, autor de Recortes de Hannah, vencedor do Osman Lins de Literatura;Demetrios Galvão, poeta, editor da revista Acrobata e professor universitário; o poeta Lau Siqueira, autor de Poesia sem pele; Micheliny Verunschk, autora de Nossa Teresavida e morte de uma santa suicida, vencedora do São Paulo de Literatura, e o critico e escritor Nelson de Oliveira, autor de Fábulas, ganhador do Prêmio Casa de Las Américas.
Outros autores e autoras, de direita ou esquerda, foram convidados, mas preferiram não participar da enquete. Um deles se justificou assim: “Escritores têm opinado demais sobre tudo.”
Outros simplesmente reforçaram a ideia antiga de que escritores-devem-somente-escrever. E com isto, sem saber, confirmaram a velha declaração do russo Mikhail Bulgákov (1891-1940): “Peço ao governo soviético levar em consideração que não sou um político, mas um escritor.” Sem deixar clara a linha que separa um do outro.
Toda arte é engajada? O assunto não tem fim. Mas seria toda arte propaganda? Assim pensava George Orwell (1903-1950). Demetrios Galvão discorda: “A arte é um espaço que produz visibilidade. Aí o artista escolhe aquilo que pretende mostrar.”
Antonio Moura também considera Orwell reducionista nesse ponto. “É como cortar as seis cabeças da hidra, deixando-lhe apenas uma. Quando isso acontece, geralmente vem a serviço de um Estado totalitário, tirando da literatura o que lhe é mais precioso: a liberdade de expressão.”
Mais contundente foi Gueórgui Plekhánov (1856-1910): “Se um escritor emprega argumentos lógicos em lugar de imagens, ou se as imagens que criou servem-lhe para demonstrar tal ou qual assunto, não se trata de um artista, mas de um publicista, mesmo que escreva, em vez de ensaios e artigos, romances, novelas ou peças de teatro.”
Então, até onde cabe, se é que cabe, o envolvimento das artes literárias no gamepolítico?
Para Micheliny Verunschk, “o capitalismo tem medo da literatura, da grande literatura, porque ela é libertadora.” Sem esquecermos de a história ter comprovado, com uma quantidade enorme de exemplos, o quanto o comunismo teve e tem mais medo ainda.
“Quem gostaria de viver no mundo criado pelas obras do Marquês de Sade? Eu mesmo, não.” Pergunta e responde Aguiar. “Não concordo com muitas das ideias políticas de Balzac, Borges ou Bioy Casares. E, mesmo assim, estes autores me influenciaram bastante.”
Lau Siqueira, “cidadão assumidamente de esquerda”, como se define, com atuação política também como gestor público, defende ideia bem clara quanto à sua própria obra e os laços com a política: “Acho que Brecht cuidava bem disso. Mário de Andrade foi o primeiro gestor de política do Brasil, Drummond foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Neruda e Maiakovski eram do PC. Mas, quanto a minha obra (…) não guardo nem procuro guardar nenhuma identidade política. Faço meus passeios minimalistas e neobarrocos, às vezes, lirismos radicais, mas sem laços com a política.”
Contudo, se nota atualmente militância por certo “deboísmo” literário ou militância do não-engajamento?
— Você está falando dos isentões? — pergunta Micheliny.
— Vivemos a ditadura do hedonismo — reflete Nelson de Oliveira.
— Ora, ninguém se retira da História, ninguém se coloca acima do seu tempo — acrescenta Verunschk. — Interessam-me as lutas do povo do qual sou parte, suas narrativas e os modos pelos quais se colocam de pé frente às injustiças.
— Esse debate é profundo e é preciso muito esforço para ser resolvido, não dá pra ficar ‘de boa’ diante desse quadro social — espichou Demetrios.
 Pois é — acrescentou Moura — o deboísmo é simpático nas relações sociais, mas a arte e a cultura precisam ser constantemente debatidas. Num País patético e injusto como o nosso, deve-se lutar por cidadania, e a cidadania também implica em falar por si por aquilo que defende.
Aguiar vai buscar na sua obra as relações mais aparentes:
— Observando meu livro, ainda inédito, vejo uma série de alegorias sobre ditadura militar, a desocupação do Pinheirinho, tensões raciais, regionais, e política (…) há sempre um fundo de discussão a respeito do sagrado, por exemplo, e isso se mistura a uma já citada alegoria sobre violência do Estado, certos radicalismos, temas de urgente discussão hoje em nosso País.
— Quando a vida radicaliza, precisamos saber de que lado estamos — afirma Siqueira.
— Esse posicionamento de modo direto é necessário a qualquer um, independentemente de ser escritor ou não — emendou Moura.
— Minha militância é com a cultura, a literatura. Minha bandeira é a da tolerância e dos afetos — reafirma Galvão.
— Quanto a mim, não creio no Estado, nem no governo, seja de direita ou esquerda — diz Nelson de Oliveira, desconfiado até da própria sombra da individualidade, no conjunto de sua fantasia ficcional, por isso atende por outros nomes como Luiz Bras.
Micheliny Verunschk argumenta que “toda obra literária é política, no sentido de que todo romance ou conto ou poema se filia a valores e compreensões de mundo bem marcados. Não há obra neutra, portanto.”
Certa vez, num amplo debate de escritores latino-americanos, o escritor mexicano Pablo Soler Frost resumiu muito bem o assunto: “Literatura política quer dizer literatura comprometida. Durante todo o século XIX e XX até a queda do Muro de Berlim, a literatura política tomou partido dentro do terreno das ideias. Mas hoje, tudo é política: o corpo, nossa atitude com os animais etc.”
No texto “Os escritores e o poder”, Octavio Paz abordou o tema por outro ângulo:
“A política encheu de fumaça o cérebro de Malraux, envenenou as insônias de César Vallejo, matou García Lorca, abandonou o velho Machado num povoado dos Pirineus, prendeu Pound num manicômio, desonrou Neruda e Aragón, expôs ao ridículo Sartre, deu razão tarde demais a Breton… Mas não podemos renegar a política; seria pior que cuspir contra o céu: cuspir contra nós mesmos.”
Em entrevista à célebre The Paris Review (que inspirou o projeto da São Paulo Review), Ernest Hemingway respondeu à questão “em que medida considera que o escritor deve envolver-se nos problemas sociopolíticos de sua época?” desta maneira:
“Cada um tem sua própria consciência, e não deveria haver regras para o funcionamento da consciência. A única coisa de que podemos estar seguros a respeito de um escritor politizado é que, se sua obra perdura, alguém terá de passar ao largo da política quando o leia. Muitos dos escritores chamados politicamente comprometidos mudam suas ideias políticas frequentemente. Isto é muito excitante, para eles e os resenhistas político-literários. Às vezes até devem reescrever seus pontos de vista… e apressadamente. Talvez tudo isso pode respeitar-se considerando que é uma forma de busca da felicidade.”
Uns mais para um lado, outros para o outro, companheiros de viagem, aqui, engajados ou não, têm um centro em comum: a obra literária deve pensar e refletir o mundo e o humano. A pauta política surge de modo natural, do compromisso com a linguagem.
Há uma linguagem, na literatura, de esquerda, e outra, de direita, no Brasil? A literatura de direita é a mesma que produzia Guimarães Rosa, ou Jorge Luis Borges, ou Ezra Pound, ou Céline? E da literatura brasileira, quem tem medo, hoje? Talvez a literatura tenha se cansado de ser bela, decorativa, recatada e “do lar” e queira reivindicar um pouco mais das vísceras do mundo e menos dos intestinos dos seus autores. Sem recorrermos a detestáveis infográficos, o que pensa mesmo o escritor deste século e o quanto fazem pensar suas obras? Será que estamos diante do tipo de artista de Hoffmann — mencionado pelo crítico francês Sainte-Beuve (1804-1869): “com o gênio inquieto, os olhos assombrados – místicos sem fé, gênios sem obra, almas sem órgãos?”
Talvez, ainda recatados e do lar, alguns escritores brasileiros se sintam bem à vontade nos salões e feiras, com literatura tipo exportação, porém se melindrem com palavras tais como produto, mercadoria, política, mercado, indústria da literatura. Talvez saturados de si mesmos, dessa (com permissão da palavra) “arte” individualizada — remem melhor em direção a uma “arte” contextualizada.  Ou, como diz Nelson de Oliveira, que anda pregando nas suas oficinas Brasil afora nova literatura ou novíssima indústria bélica  — e com ele talvez estejamos melhor: “Que meus livros sejam disparos à queima-roupa. Essa é a única argumentação política na qual acredito, neste momento nojento. Livros-revólveres.”
Nada como pensar e tecer a fibra densa do hoje e do amanhã com fachos de sobriedade e consciência política: isso a literatura pode nos doar, sugerir. Ela é capaz de promover o entendimento do homem e suas idiossincrasias, sobretudo no âmbito da política e neste momento atormentado em que o País mergulha. Um período em que, muitas vezes, o jornalismo consagrado não nos salva, como uma literatura do cotidiano contingenciada por interesses dos grandes grupos de mídia e a serviço de uma elite desnutrida de face não ilustrada, submetida aos desígnios do capital.
*
Sidney Rocha é escritor. Vencedor do Prêmio Jabuti com O destino das metáforas (contos, Iluminuras, 2011). Autor de Matriuska (contos, Iluminuras, 2009) e dos romances Sofia(Prêmio Osman Lins) e  Fernanflor (Iluminuras, 2015). Este ano publica Guerra de ninguém (contos), também pela Iluminuras
Paulo Vasconcelos é escritor, crítico literário e colaborador da São Paulo Review