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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O VELÓRIO DE JORGE AMADO OU JORGE BERRO D’ÁGUA….Capturas do face

Temos que ler os vários lado da história, ainda mais dito por um nome da literatura brasileira e que reverbera fora do Brasil,  vamos ler...Paulo Vasconcelos
Narlan Matos ...acervo do autor

O VELÓRIO DE JORGE AMADO OU JORGE BERRO D’ÁGUA….
Por Narlan Matos*


Anunciaram, por fim, o falecimento do grande mestre Jorge Amado.

Eu já vinha acompanhando tudo, triste, via TV e jornais há semanas. E seu funeral estava ali, justamente naquele dia, na véspera de uma tenebrosa prova final de Morfossintaxe, no Instituto de Letras da UFBA, onde estava para me formar, em 2001. Olhei a quantidade de livros para estudar e a foto do mestre querido no jornal. Pensei… Eu já vinha estudando há semanas para enfrentar a assustadora prova, mas quem já estudou Morfossintaxe sabe bem do que estou falando. Precisava de mais um dia, pelo menos, para me sentir menos inseguro. Olhava a foto sorridente do mestre. Seu sorriso tímido e terno. 

Havia trabalhado, por vários anos, organizando os discursos políticos de Jorge Amado, quando fora deputado federal, em 1946, sob a orientação da Dra. Ana Rosa Ramos, doutorada pela Sorbonne e uma das maiores especialistas no Amado do Brasil. Ana me ensinou como o resto do mundo vê Jorge Amado, sobretudo os franceses e russos. Era como perder o funeral de Mark Twain ou Charles Dickens. Me arrumei e fui. “A prova que espere”, pensei. No rádio anunciaram que o funeral seria no Palácio da Aclamação, perto do Campo Grande. No caminho, ia caminhando triste e cabisbaixo.

Olhava os ultimos dos casarões antigos da Vitória, comentado por ele em seus livros. Sabia do tamanho daquela perda, não para a Bahia, mais para o mundo. Jorge Amado, ali, não era um autor brasileiro, mas um homem que, no distante Leste Europeu – e em todos os países comunistas - , faziam-se filas quilométricas para comprarem seus livros. O autor estrangeiro mais bem pago no selvagem mercado editorial dos USA. 

Caminhava e pensava em tudo que Ana havia me ensinado e que eu mesmo descobrira nos anos em que pesquisei sua obra, como bolsista do CNPQ. Eu o havia encontrado apenas uma vez de perto, no Museu Carlos Costa Pinto, quando do curso sobre a culinária de Dona Flor, organizado pela poeta e amiga Myriam Fraga. Nunca vou esquecer aquele momento. Eu estava no auditório do Museu, um dos primeiros, lá na frente. De repente, Myriam parou o curso e falou “Jorge Amado já está aquí”. Me virei de súbito e o vi, sentado, na última fila, com aquela cabeleira vasta e branca como uma nuvem, grande, sob a qual um par de olhos muito, muito vivos se moviam. Parecia mais um menino no corpo de um velho. 

Durante todo aquele evento, nunca tive nem tempo e nem a coragem para ir lá falar com ele. Tinha sempre alguém ao redor. Dona Zélia, sempre. 
Até que, já no final – porque e usó saí dali no cisco - ele veio vindo, veio vindo, na minha direção. Passaram quase raspando em meu braço directo ele e dona Zélia. Passaram sorrindo e sorriram para mim, olhando-me nos olhos. Eu não me contentei e dei-lhe um tapinha no ombro esquerdo. Que simpatia! Havia tocado em Jorge Amado! Era ele, um herói do Brasil. Preso tantas e tantas vezes. Exilado tantas vezes. Era ele! O que tinha escrito Tenda dos Milagres, transformado em série pela Globo, em 1985, e eu, fascinado, com apenas dez anos de idade, ficava acordado até terminar, tarde da noite, nas frias noites da subestação da COELBA onde nós morávamos, em Itaquara. O tema de abertura, de Caetano Veloso, era tão lindo quanto o romance. 

Caminhava e pensava em tudo isso. 

Cheguei triste ao palácio. Dois guardas estavam de prontidão na gigantesca porta principal, ambos com armas. A entrada era controlada pois já era noite. Será que eu não conseguiria entrar? Encontrei com meu amigo Carlos Pronzato, o lendário cineasta argentino. Não caçamos conversa – entramos sem pedir licença. Lá dentro, ainda poucas pessoas. E vi o caixão. Me aproximei, triste. De repente, vi o rosto de Jorge Amado. Parecia estar dormindo. Sereno. No rosto, o mesmo sorriso que havia sorrido para mim no Museu Carlos Costa Pinto. Foi aí que minha tristeza foi se convertendo, pouco a pouco, numa extranha alegria: lembrei que Jorge Amado era um verdadeiro mestre dos funerais em seus romances e ali estava ele, no seu próprio, com um sorriso no rosto que lembrava Quincas Berro D’Água! Olhei pela janela do palácio e vi a lua cheia, grande, branca, no céu azul, brilhando por entre as gigantescas palmeiras. 

Uma noite calma. De repente, ao meu lado, chegaram dois políticos, de terno e gravata, e começaram a fingir que choravam! Choravam e soltavam frases de efeito. “Ele era um mestre”, bradavam. Me aproximei. Puxei conversa. “O que vocês acham da literatura dele?”, perguntei. “Ele era um mestre”, bradaram sem me responder, olhando o caixão. A partir daí, eu fazia um esforço cada vez maior para não cair na gargalhada. O funeral de Jorge Amado começou a ser converter numa página escrita por ele mesmo. E, de repente, encheu. 

Chegaram madames, socialites, escritores, poetas, professores, acadêmicos – tudo que ele adorava em seus funerais! Um burburinho imenso se fez, parecia uma feira. Algumas madames, ao meu lado, usando óculos escuros, à noite, cenograficamente, limpavam as lágrimas e os óculos – embaçados pelo frígido choro. Começaram a servir bebidas e petiscos finos. Uma pequena gang de poetas do submundo se aproximava dos garçons e o cercavam educadamente. As frases eruditas, elegantes, piegas, ouviam-se, e todo tipo de vocabulário que só me lembrava os funerais de Amado. Um poeta, conhecido, recitava versos célebres, já cheio de cachaça. 

Ouvi pessoas falando em espanhol, francês. E a pequena gang de poetas do submundo cercava os garçons, educadamente. De repente, todos pararam: uma atriz bastante famosa adentrou, lentamente, o salão. Uma entrada triunfal que parou o funeral. Veio caminhando lenta, com flores nas mãos. Chorava intensamente mas, ao adentrar o enorme salão, se contuve., amparada pelo irmão. Chegou até o caixão, depositou as flores, e ficou lá por quase meia hora, conversando com Jorge. 

Ao redor, todos os tipos de cenas acontecendo. À essa altura eu sorria e sorria. Nunca pensei que, em minha vida, seria, um dia, mais um personagem no funeral de Jorge Amado. Jorge, no meio de tudo, sorria, continuava com seu sorriso tímido no rosto sereno, como se, ele mesmo, estivesse se divertindo ao máximo em seu último velório. Parecia que queria sair, como Quincas, pelas ruas da Bahia, pela última vez… Eu tive vontade de tira-lo do caixão e conduzi-lo pelas ruas da Bahia pela última vez, pelos submundos que ele eternizou. 

A lua da Bahia continuava brilhando no céu, cheia, branca, e as palmeiras imensas balançavam ao vento da noite quente e tropical. Tarde da noite, voltei para casa, sorrindo…afinal, nunca havia pensado que seria o menino de Itaquara iria estar presente ao funeral do grande mestre, aquele menino que adorava Jorge Amado; aquele que ficava acordado até tarde, aos 10 anos de idade, nas frias noites de Itaquara, para assistir Tenda dos Milagres e ficava fascinado com as igrejas do Pelourinho, de Salvador, com o povo africano; aquele menino que se tornaria, um dia, poeta, e iria pelo mundo, para o Leste Europeu, recitando versos vindos da Bahia. O menino de Itaquara, um dia, teria seu primeiro livro de poemas publicado justamente pela Fundação Casa de Jorge Amado e receberia, também, uma carta de Jorge saudando-o pela estréia.
O menino de Itaquara escreveria, um dia, seu testemunho da hilária – invisível - estória do velório de Jorge Amado…

Narlan Matos Teixeira nasceu em Itaquara, Bahia, a 15 de Julho de 1975. Bacharel em Letras pela Universidade Federal da Bahia e Mestre em Artes, pela Universidade do Novo México, e Ph.D pela University of Illinois at Urbana Champaign, nos Estados Unidos, onde também lecionou...vide..http://www.elfikurten.com.br/2016/02/narlan-matos.html

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

QUEM É UM COXINHA? (OU: VAI PRA CUBA!) ROBERTO NUMERIANO -RECIFE capturas do face


QUEM É UM COXINHA? (OU: VAI PRA CUBA!)
Não sei quem inventou esse apelido perfeito. Daqueles que "pegam", pois o sujeito ou a sujeita "pega um ar" toda vez que alguém lhe aponta nas ruas e diz" "Sai pra lá, coxinha"... Mas, afinal, o que é ou quem é um coxinha? Pelo que pude reunir nestes quase dois anos que conheço a palavra, um coxinha carrega um monte de significados, normalmente reunidos numa pessoa pelo fato de que o ser coxinha é uma condição sociológica, político-ideológica e filosófica. Em geral, é um tipo ideologicamente reaça, com pretensões de perfeito cidadão "pagador de impostos". Suas palavras e atos são conservadoramente previsíveis, desde o sorrizinho social no elevador ao comentário reacionário sobre as agendas sociais de esquerda. Um coxinha é quase sempre hipócrita: grita publicamente contra a corrupção dos políticos, mas comete contravenções cotidianas e crimes continuados: reveste os vidros do carro com película numa porcentagem ilegal (os mesmos carros com adesivos de "Tchau, querida") ou, toda vez que pode, sonega recolhimento de impostos à Receita Federal (alegando "carga tributária extorsiva"). Um coxinha também se mete a bom cristão. Adora aplacar seu egoísmo social fazendo caridade de quermesse, embora, no dia a dia, olhe atravessado para os pobres e miseráveis que sobrevivem nas ruas e ficam esmolando. O coxinha gosta de cuidar do corpo e de contar futilidades típicas de viagens ao exterior. Gasta muitas horas de academia por semana e adora se olhar narcisicamente nos espelhos (quase num gozo masturbatório com a própria imagem), lê pouco ou nada de assuntos culturais (literatura ou ensaios culturais, nem pensar), faz do carro comprado em trocentas vezes templo e altar do seu "sucesso" e realização pessoal, conversa sempre com as verdades prontas da ideologia do "Deus mercado", se diz gente praticante de alguma religião (mas desconhece o que é religiosidade), vive a detonar os servidores públicos (até um dos seus filhos passar num concurso e entrar numa carreira), acredita que a universidade pública deveria ser privatizada (porque, é claro, seus filhos poderão pagar), não sabe o que é socialismo ou comunismo (mas é capaz de babar de ódio por horas "falando" desses assuntos), e, em geral, é misógino (tem aversão às mulheres), homofóbico, racista, além de fatal eleitor de Bolsonaro. Por fim, quando alguns argumentos básicos desmontam suas ideias tolas e sem base sobre questões ideológicas, sociais, culturais e políticas, ele incha igual um sapo cururu e diz: "Vai pra Cuba".
Bom dia, aquele abraço, saúde e paz.
Recife/PE, 30/11/2017
PS: Boa notícia: o meu projeto de publicação do ensaio "Gilberto Freyre: Imaginários da Casa-Grande à Favela", foi selecionado pelo Funcultura / Fundarpe. O livro já está pronto. Ano que vem será lançado.

* Doutor em Ciência Política, jornalista, militante do PSOL e pesquisador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas e da Criminalidade da Univeridade Federal do Pernanbuco (NICC/UFPE). 

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

49 ANOS- O LIVRO É O MESMO ? capturas do face Regina Dalcastagnè

  Fonte: Shutterstock.com

A moda atual nas redes ditas sociais e da mídia, escondida por trás de marketing das grandes editoras é elevar o o livro, mas que rede social é essa? Da classe média, média alta que nos cercamos? Tudo depende do roll de pessoas que te cerca, certo?
Mas o fato é que o livro anda em moda em alguns cubículos destas esferas digitais, todavia ele não entrou no salário do povo brasileiro, não entrou nas escolas, nas universidades - sobretudo as privadas, que pouco  tem interesse em Literatura. As bibliotecas aqui neste país não têm a grande função de democratizar a leitura, nem o público as usam como deveriam. Pra que serve a Literatura?, perguntam eles.
O livro virou moda, nas classes ditas emergentes que hoje se solapam face o golpe, a crise e com elas as editoras independentes, alternativas vão na embolada.
As feiras de livros se propagam pelo país, o que de certa forma é bom, mas são mais festinhas para batismo literário. Não há uma política para o livro no brasil, a não ser uma mediana para o livro didático - claro, dá  grana ao bolso das grandes poderosas e seus conchavos e olhe, olhe! O livro é mercadoria como outra qualquer. O e-book não foi reconhecido ainda como livro para gozar de privilégios tributários, e assim vai. Damos as costas à literatura hispânica que nos rodeia e os editores pintam e bordam e faturam. Capto via Regina Dalcastagné a postagem que me levou ao link principal.
Paulo Vasconcelos

Uma pesquisa realizada na Universidade de Brasília (UnB) traz um relato desanimador sobre a literatura nacional: as grandes editoras seguem publicando obras de escritores brasileiros com o mesmo perfil há 49 anos. O trabalho compreende livros nacionais lançados entre 1965 e 2014. Mais de 70% deles foram escritos por homens, 90% são brancos e pelo menos a metade veio do Rio de Janeiro e de São Paulo.
A análise também entrou no enredo da literatura nacional e chegou à conclusão de que os personagens retratados se aproximam da realidade dos escritores. Cerca de 60% são protagonizados por homens, sendo 80% deles brancos e 90% heterossexuais.
leia mais em  http://bit.ly/2Aev9dt

sábado, 18 de novembro de 2017

Poesia...e goles decadentes ..Camilo Soares, recifense

Camilo Soares


Camilo Soares, recifense, jornalista, professor Universitário da UFPE, mora em Paris,  onde  faz doutoramento Paris 1 Panthéon-Sorbonne, é fotógrafo, um poeta ainda a se descobrir. Seu livro: Poesia, Mesa de Bar e goles decadentes, Nektar,Ufpe, 2103, reúne poetas da velha cidade do recife, dando vez a chamada poesia marginal.  
Camilo conheceu-os, por suas caminhadas em espaços becos, vielas mercados onde os mesmo se reúnem entre um gole ou outro, conversas jogadas ao leo. São eles os poetas: Miró da MuribecaZizo e Erikson Luna. Todos com obras publicadas, por edicões próprias ou editoras ou mesmo em fanzines.. 

Camilo  tem um faro social para Língua e Literatura, e ,claro, inebriado pelo  cenário do espaço em que os poetas se encontram, ele trabalha com cinema. Afora isto  sua imersão  nos movimentos literários como :Interário Zero(com André Telles) e  no grupo Terrorismo poético Recefalia. 

Diz Camilo : Recife é vária em poetas, mas foi necessário escolher. Miró me chamou aos olhos pela  crítica urbana ácida,  Zizo, me saltava pelo  grafismo poético, sua habilidade no desenho e na junção com as palabvras. Erickson Luna busca uma poesía, trabalhada e que apresenta um contradito face o modo de  vida ,mas a poesía asume sua forma inteiriça, grave, contudente.” 
Fazendo um breve recorte desses poetas: 

Miró- João Flávio Cordeiro :Sua obra foi objeto de estudo do mestrado em letras pela UFPE e foco de documentarios premiados como: Miró: Preto, Pobre, Poeta e Periférico, de W.Freire. Afirma ele: Estou agora escrevendo sobre a solidão, sobre as menininhas novinhas que são da bundinha dura e cérebro mole... ..Eu não tenho trabalhoentão  faço escreverEscrevo minha paranoia. Vivo de pensar. ..Mais nada. O resto me desconfortaNão acredito em mais nada.” http://bit.ly/1oBHBHy 
Sua poesía..Vício/sonhos de guerra/ontem fui bem louco/hoje fujo da chuva/abri meus olhos mo espaçocinzento/metais.. apud Soares,2013 

 Zizo  -José Maria de Lima Filho- foi inspiracão de Cláudio Assis, cineasta pernambucano  em Febre do Rato, cujo protagonista tem seu nome.Fez o  o fanzine Caos,conhece do negócio e transitou pela música, videoclipe pela MTV.Faz críticas ao livro que saiu de evidencia, segundo ele, indo para outras linguagens, como as imagéticas.Cultoentende e discute litertura, transita entre clássicos e contemporáneos  
seu poema :..confino-me em meu deserto:/um quarto farto do monge alerto/quando o  paraíso é comigo..apud Soares,2013 

Erikson Luna, ja falecido em 2007, foi figura do bairro da Boa Vista e de seu mercado –em Recife, culto mestre na poesía e na literatura, este conheci e tomei alguns goles. Em"3 X Não", um de poemas, publicado no seu único livro, "Do moço e do bêbado", diz: "Não creia em mimNão  futuro. Não me deixo pra depois". http://bit.ly/1kcDQFB 
E vomita o grande poeta:”é que  mim/deu de ser/doido dado/a viver/rir ao vento/alhear/Deu de em mim/de me dar/deu de vir/ e pasar/doido enfim/ tal qual tal.. apud Soares,20