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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

7 de Setembro ...Não por acaso, excluíram 5 estrelas, todas de estados pobres.. capturas do Facebook

Leiam o que nos diz Elton:

Elton L.L.Souza
Facebook




O discurso não verbal das imagens e cores às vezes revela o que o discurso verbal tenta escamotear, como exemplifica esta logomarca : o “Brasil” está escrito todo em branco , sem o colorido multicultural e étnico de nosso povo , revelando a visão elitista dessa mentalidade “Casagrande”, a mesma de certos candidatos à presidência. Tiraram a abóbada azul celeste do céu que nos cobre e horizonta , no lugar colocaram uma esfera de pesado azul metálico a representar uma Ordem e Progresso passando por cima como um rolo compressor autoritário . 

Além de projetar uma sinistra sombra, tal esfera tem um lado que não se mostra ,uma face oculta: “Ordem e Progresso” parece ser só uma fachada para esconder o que está atrás e se dissimula. 
O corpo esférico azul-masculino, a serviço também do machismo, coloca-se acima da vogal que tem o som mais aberto e colorido que existe no alfabeto, a vogal “a”, a mais feminina das letras, pois indica o feminino na terminação das palavras. 

O Brasil não está de pé, ele está meio derrubado, parecendo a esfera sinistra uma bola de ferro que o mantém aprisionado. Excluíram o verde de tal logomarca , fato que revela o que essa mentalidade genocida pensa acerca da floresta onde vivem os índios. Surrupiaram ainda o amarelo, a cor do ouro, símbolo da riqueza comum de todos.

Outro fato revela o discurso antipovo desta logomarca: a bandeira brasileira tem 27 estrelas, cada uma simbolizando um estado e o Distrito Federal. Mas nesta logomarca há apenas 22 estrelas! Não por acaso, excluíram 5 estrelas, todas de estados pobres...

Neste 7 de setembro lembrei de Manoel de Barros e Espinosa quando o poeta e o filósofo dizem quase a mesma coisa: não é livre uma independência que tem algemas. Algemas não são feitas apenas de ferro, algumas são feitas de ódio.

O Brasil que eu não quero Hildegard Angel por Forum


Hildegarde Angel é uma dessas jornalistas de safra rara. Carioca, filha da famosa  Zuzu Angel vítima da ditadura dos anos 60. Perdeu irmão - Stuart Angel,  face ao carniçamento dos militares e depois sua mãe - assassinada , que denunciou ao mundo via seu trabalho como estilista (moda).
Zuzu foi filiada ao MR8-RJ. Incansável na denúncia das atrocidades que naquela época esfolou o Brasil .Usou para isto sua fama internacional e bradou, cuspiu aos 1000 cantos do mundo, sem temor.
Jornalista inquieta, Hildegard é clara na sua narrativa, trabalhou para a grande imprensa brasileira e hoje em algumas poucas, face ao emporcalhamento das mesmas, sem cansar de pronunciar a crítica, a denúncia do que ora vivemos. Neste artigo, colhido via Forum ( https://bit.ly/2wDst5f) ela nos relembra a nossa história,  o terror vivido e  que hoje voltamos a passar apenas repaginado pela perversão de um golpe que tem o judiciário como Farol, guia sangrento da ditadura de hoje .
Ela nos pergunta, face aos históricos argumentos que país e este que queremos tendo em vista as eleições e atrocidades de cinismo que presenciamos





Hildegard Angel: O Brasil que eu não quero
https://bit.ly/2wDst5f

No início dos anos 60, a campanha urdida pelos udenistas, liderados por Carlos Lacerda, assombrava o país com o medo do “comunismo” e denúncias de desvios e corrupção. João Goulart seria um corrupto insaciável e Juscelino Kubitschek, que morreu pobre, teria ficado milionário com a construção de Brasília, beneficiando seus amigos. Com ressonância na mídia, essa campanha martelava ininterruptamente na cabeça dos brasileiros. Eu, menina, com 11, 12 anos, lembro-me do medo que se tinha do tal “comunismo”. Os comunistas viriam para interromper nossos sonhos individuais de prosperidade e casa própria. Eles entrariam em nossas casas, nos destituiriam de nossos bens, e os pobres “ficariam com tudo nosso”. Era assim que os golpistas de então botavam terror no povo brasileiro. Eleito, o udenista Jânio Quadros – um descompensado que deu provas disso desde o período eleitoral – quis dar o golpe, não conseguiu, renunciou, jogando o Brasil em 20 anos de ditadura militar. E a UDN? E Lacerda? Foram jogados pra escanteio, tiveram que se comportar como sabujos lambe-botas para sobreviver.



"Em véspera de eleição, momento crucial em que a preocupação geral é a segurança, os telejornais a enfatizam, como agentes provocadores de intimidação dos brasileiros. Uma sociedade manipulada, não só pelos fatos, mas sobretudo pelo noticiário, que potencializa os temores de cada um. É esse o projeto político da grande mídia? Incendiar o país? Plantar a discórdia? A insegurança generalizada?", questiona Hildegard Angel





Hildegard Angel, no Jornal do Brasil



Lacerda foi cassado. Os políticos, alijados dos cargos e da vida pública. Assim acontece quando há uma ruptura constitucional, quando as leis passam a, em vez de serem cumpridas, obedecer a “interpretações” subjetivas, a serviço de conveniências outras. Perde-se o controle, e quem se impõe não são os agentes da desestabilização. Estes, golpeiam, mas não levam. No Brasil, prevaleceram os que melhor interpretaram o medo coletivo do “comunismo”, oferecendo como alternativa a repressão violenta. Os militares.

E não havia, naqueles anos, uma empresa no Brasil, um negócio, uma portinha, que não precisasse ter em seus quadros um militar para poder se manter aberta. Caso contrário, eram só dificuldades. Fiscais multavam indevidamente, burocratas emperrava os processos. E se o empresário em questão tivesse algum tipo de ligação com governos anteriores, de Getúlio, Goulart e JK, estava fadado à perseguição e à falência.

A comunidade rejeitava qualquer pessoa ligada, mesmo que remotamente, a partidos políticos demonizados, como o PTB e o PSD. Muitas delas foram presas e perseguidas. Os partidários do PCB – Partido Comunista Brasileiro – foram presos e eliminados. Como Alberto Aleixo, irmão de Pedro Aleixo, vice-presidente de Artur da Costa e Silva. Alberto era um idealista, editava o jornal de esquerda Voz Operária. Em 1975, foi preso e morreu em consequência das torturas. Pedro soube de sua prisão, mas, mesmo com tantas credenciais, nada pode fazer pelo irmão.


No país, estabeleceu-se o terror. Hoje, os revelados documentos de Estado norte-americanos da época acusam o Brasil de ter praticado o “terrorismo de Estado”. A contrapropaganda era usada à exaustão e com sucesso. Então, terroristas não eram os que sumiam com as pessoas, as encarceravam, torturavam e matavam. Eram os jovens idealistas, que, quando muito, se defendiam com “coquetéis molotov” – uma garrafa e um pavio. “Subversivo” era todo aquele que pensasse diferente do poder. A qualquer denúncia anônima, agentes do Dops invadiam residências, vasculhavam tudo, e bastava encontrarem um livro de economia de Celso Furtado para a família inteira ser presa como agitadora. E as consequências, imprevisíveis. Não se sabe se sairiam vivos. Quem duvidar que duvide, mas era assim.

O terror de Estado, as violências, torturas com crueldades inimagináveis, ensinadas por especialistas importados dos EUA e até da França – estes últimos financiados por empresários de extrema direita, dos quais alguns se compraziam em assistir às sessões de tortura. Uns doentes.


Todos tinham medo de todos. A filha de um síndico da Base Aérea do Galeão relata o medo que os próprios oficiais tinham do comandante, brigadeiro Bournier, considerado um descontrolado, com sangue nos olhos e o poder nas mãos. O brigadeiro dos “voos da morte”, em que pessoas eram jogadas ao mar, e com o requinte das pernas quebradas. Caso sobrevivessem, não poderiam nadar.

Este era o Brasil. Sobreviviam os que baixassem a cabeça, não vissem, não escutassem, não comentassem, num perpétuo “jogo do contente”, que durou duas décadas. Mesmo em casa, ninguém podia conversar com franqueza, com o risco de algum empregado ou visitante escutar e denunciar. “Dedurava-se”, delatava-se, caluniava-se a três por dois, qualquer desafeto que atravessasse o caminho. O marido ciumento entregava como “subversivo” o vizinho, de quem desconfiava estar cortejando sua mulher. Sei de um caso em que o vizinho foi levado para averiguação e nunca retornou. Este era o cotidiano brasileiro.


Eram as pessoas soturnas, com seus coturnos, que oprimiam a liberdade de todos. Quem as desagradasse era “excomungado”, tornava-se um “degradado social”, mesmo se não fosse preso. Ninguém queria lhe falar, atender seu telefonema. Atravessavam a calçada. Ser covarde era um mérito.

Estudantes foram impedidos de frequentar escolas e universidades. A censura veio rigorosa e extremamente ignorante. Hoje, fazem piada dos exageros dos censores. Peças de teatro tiradas de cartaz. Novelas da TV tinham vários capítulos inteiros reescritos. Livros, como “Capitães de areia”, de Jorge Amado, e “Tarzan”, de Edgard Burroughs – aquele mesmo, o Tarzan da Chita – eram proibidos com a pecha de “comunista”. Em sua sanha perseguidora, os censores viam cabelo em ovo. As canções falavam por metáforas, para refletir o sentimento do artista e as angústias do povo.

O lema “Ame-o ou deixe-o” estava em plásticos colado às janelas dos automóveis, como um salvo-conduto para os motoristas. E tantos “deixaram”, forçados ao exílio como mecanismo de sobrevivência. Essas memórias são feridas que nunca param de sangrar.

Hoje, em véspera de eleição, momento crucial em que a preocupação geral é a segurança, os telejornais a enfatizam, como agentes provocadores de intimidação dos brasileiros. Apavorados, os cidadãos só enxergam seu pânico, alheios a qualquer perspectiva positiva. E ações extremas passam a ser única opção. Uma sociedade manipulada, não só pelos fatos, mas sobretudo pelo noticiário, que potencializa os temores de cada um. Nenhuma brecha para fatos construtivos. É esse o projeto político da grande mídia? Incendiar o país? Plantar a discórdia? A insegurança generalizada?


Esse medo coletivo fortalece a posição de candidatos sem qualquer capacidade ou preparo para exercer as funções de Presidente da República Federativa do Brasil, em que a segurança é fator importante, mas não único. E a educação? E a habitação? E o saneamento básico? E a retomada do desenvolvimento estagnado da Nação brasileira? E a engenharia brasileira, fundamental para o desenvolvimento e a multiplicação de empregos, desde a mão de obra não especializada ao engenheiro? Onde se quer chegar? Entregar a Nação a um despreparado? Ou a outro que já tenha mostrado competência? Qual o Brasil que queremos

terça-feira, 4 de setembro de 2018

“Não ajoelho diante de quem é igual a mim”. Capturas do Facebook Elton Luiz de Souza






Elton e suas histórias diretas e retas, por demais bacanas. Essa mostra o poder de pensar quando estamos atentos a Filosofia e , portanto, como faz falta entre os jovens o ensino da mesma.
E ainda se diz que a Filosofia assim  como a arte são inúteis, bendita seja a desutilidade de algo abstrato que nos faz  ser e pensar .Paulo Vasconcelos

Elton Luiz Leite de Souza
"O homem seria metafisicamente grande
se a criança fosse seu mestre."(Kierkegaard )
"Quem anda no trilho é trem de ferro.
Sou água que corre entre pedras - liberdade caça jeito".(Manoel de Barros).




o pai pediu para o menino mais velho me narrar o que acontecera em Londres, mas o menino saiu correndo, como se tivesse feito uma arte, uma “peraltagem”, diria Manoel de Barros

Eles foram ver, entre outras coisas, a cerimônia na qual a Rainha da Inglaterra passa à frente do público, e todos se ajoelham em reverência, olhos no chão. Então , o pai mesmo me contou o que aconteceu: quando a Rainha , cheia de pompa e ouro, passou diante deles, todos se ajoelharam, exceto o menino de 10 anos. Ele ficou em pé, de braços cruzados, firme, olhando diretamente para a Rainha, que virou a cabeça para olhar , espantada, o pequeno insubmisso. Quando a mãe indagou ao menino porque ele não se ajoelhou como todo mundo, ele respondeu : “Não ajoelho diante de quem é igual a mim”. Ao ouvir isso, a mãe disse ao pai: “acho que já está na hora de nosso filho parar de ter aulas de filosofia com o Elton...”. Nesse mesmo dia em que ouvi o relato, dei minha última aula aos garotos. No fim, o menino da peraltagem me perguntou: “Vai ter prova?”. Respondi: “Não , você já está aprovado. Com dez.”

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O Golpe: A Ópera do fim do mundo-Flávio Tavares

O Golpe: A Ópera do fim do mundo”, a pintura faz referências à Lula, Dilma e Marielle Franco e também ao judiciário, além de Temer e outros políticos.O painel foi exposto ao público na noite desta segunda-feira (27.08.18) no Sesc Cabo Branco, em João Pessoa (PB).(Por Forum)
Flávio Tavares por  https://bit.ly/2PdtyrM


Conheci Flavio Tavares nos anos 70, via Marcos Siqueira, dramaturgo ator. Flávio é um artista impar. Nascido em J.Pessoa, PB,1950, sua obra esparramou-se pelo Brasil e o  mundo ocidental, principalmente.

Sua origens de dedicação às artes visuais vem de seu avô- fotografo e pai- desenhista.
Flávio inicialmente conta  com  orientações do Pai, Dr.Arnaldo, médico; inicia-se na pintura e daí segue com uma formação com Raul Córdula, da UFPB e com as orientações do mestre Hermano José.

Iniciou o curso de Sociologia, UFPB o que talvez tenha contribuído para expansão de seu pensamento político, mas não chegou a concluir para dedicar-se   as artes plásticas.

Ziraldo foi um dos incentivadores de sua obra,  no eixo poderoso sudestino, quando da exposição -1976- O pavão sem mistério. Nos anos seguintes  viaja para Eua e Europa, com destaque na Alemanha , onde sua obra é bem recebida e elogiada.

Flávio é um artista antropólogo, sua obra tem um comprometimento com seu tempo, com a cultura do seu povo e me faz recordar João Câmara, PE, sem que com isto tenha grandes semelhanças estéticas e cromáticas, mas sim suas denúncias /relato do Brasil.

Sua sobreposição de planos , pessoas, do mítico são constantes em sua obra e com um cromatismo apurado como  espelho de sua terra ensolarada e das cores como uma flora que encaderna a vida e o homem.

Sua recente oba aqui apontada necessita ser microscopiada, face as interseções de personagens  do Golpe. Ele é minucioso.





Eudes Rocha que acompanha o trabalho do artista diz :

Artista sintonizado com seu tempo, Flávio Tavares iria produzir uma série de desenhos criticando a ditadura militar nos “anos de chumbo” no Brasil (1964-1984), e ainda hoje produz charges que aludem aos problemas políticos e sociais da Paraíba, do Brasil e do mundo, sem perder a verve e sempre com um traço irrepreensível. É bem verdade que nos desenhos preto no branco essas mensagens ficam mais evidentes, mas em suas pinturas, por vezes, detectamos numa mesma tela dois planos aparentemente dissociados e cuja simbiose resultará num discurso pictórico cheio de crítica social, política ou ainda de denúncias que o sistema muitas vezes se recusa a tomar conhecimento, por mera comodidade, de tal maneira é sofisticada e misteriosa a ilustração na arte de Flávio Tavares que, algumas vezes, ficamos a nos indagar se seriam mais eloquentes as mensagens em seus trabalhos com muitos personagens e elementos compositivos ou o “silêncio” das suas obras mais despojadas, com uma trajetória desse quilate, constatamos tratar-se, sem dúvida, de um artista ímpar que certamente ainda tem muito a nos mostrar, graças à sua criatividade e ao seu pródigo vocabulário imagético. Eudes da Rochav- https://bit.ly/2PdtyrM


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

LANÇAMENTO AMANHÃ -SÁBADO 01.09.2018 17HS Livraria Tapera Taperá - Galeria Metrópole. AV SÃO LUIS 187 SÃO PAULO

Empresariamento da Vida:A Função do Discurso Gerencialista nos Processos de Subjetivação Inerentes à Governamentalidade Neoliberal

Datas de Lançamento: 
23/08/2018 - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP). Convidado para apresentação e discussão Dr. Tony Hara. Horário: das 16 hs às 19hs. Entrada franca.

01/09/2018 - Livraria Tapera Taperá - Galeria Metrópole. Av São Luis 187, Praça da República, Centro. São Paulo – SP. Convidados para discussão: Profª Dra. Margareth Rago (IFCH/UNICAMP) e Prof. Dr. Edson Passetti (PUC/SP). Horário: das 17 hs às 20 hs. Entrada franca.

03/10/2018 - Auditório do Instituto Sedes Sapientiae - Rua Mistro Godoy, 1484, Perdizes. São Paulo-SP.
Breve novos locais de lançamento em São Paulo e em alguns estados do Brasil.



O livro Empresariamento da vida: a função do discurso gerencialista nos processos de subjetivação inerentes à governamentalidade neoliberal (Appris, 2018) busca realizar uma arqueologia do discurso gerencialista e uma cartografia dos dispositivos de poder que sustentaram sua implicação no campo social. O autor, já na epígrafe, deixa claro o que sente e compreende como sendo o processo da escritura movida no sentido de uma máquina de guerra, citando Deleuze e Guattarri no livro Kafka: por uma literatura menor, diz ele:
Escrever como um cão que faz um buraco, um rato que faz a toca. E, por isso, encontrar o seu próprio ponto de subdesenvolvimento, o seu patoá, o seu próprio terceiro mundo, o seu próprio deserto [...] e com isso (grifo nosso) agarrar o mundo para o fazer fugir, em vez de fugir dele, ou de o acarinhar.  


A busca, neste livro, do como é forjado o sujeito dentro do campo social, transversa vários campos, entre eles e, talvez, o mais apreciado neste livro, que Ambrózio nos entrega como refinamento de sua tese de doutoramento em Psicologia Clínica na PUC/SP sob orientação do Prof. Dr. Luiz Benedicto Lacerda Orlandi, trata-se dos restos que as inscrições das modalidades de governo, em uma certa época, deixam em cada um de nós como resquícios das modalidades de resistência no sentido da sobrevivência em um mundo cada vez mais engolfado nas tramas do funcionamento do Capital. Ambrózio é Psicanalista e com atuação no passado na área da Administração, com esta formação multidisciplinar, recolhe seu campo empírico transvasando-o, assim, no campo teórico, com isso, constroe uma obra de valor para um mundo acobertado pelo rentismo político do capital, na égide do Neoliberalismo dos últimos dois séculos e, em especial, na contemporaneidade deste nosso século XXI.
Para tanto, seus recursos são amplos, do ponto de vista teórico, se alicerça em Foucault, Deleuze, Hardt & Negri, Freud e, bem timidamente, Lacan. Deste modo, ele tece uma malha extensa de argumentações que nos dão pistas para compreender o processo de subjetivação no qual se encontra imerso o sujeito contemporâneo, preso a esta malha que por vezes o sufoca, desampara, ou o torna, como diria Peter Pál Pelbart, quanto às tentativas de construção da subjetividade: um equilibrista!
A professora e historiadora Margareth Rago, ao apresentar a obra, nos fala de modo certeiro um dos focos do livro de modo claro e contundente ao afirmar:
"A leitura deste livro nos informa, com muita acuidade, sobre os processos assujeitadores que vivemos a cada dia, muitas vezes, de maneira imperceptível ou até mesmo valorizada, já que somos bombardeados, de ponta a ponta, por uma gama de informações ambivalentes que, no entanto, afinam no mesmo diapasão da sujeição e da obediência, produzindo o que o autor denuncia como “jaula subjetiva”. Seremos capazes de resistir?"

Ambrózio, com uma tessitura lexical clara, nos alumia, no seu trajeto textual, que embora com as devidas amarras do campo teórico, vislumbra uma clareira quanto ao assujeitamento do homem. Dada a sua clareza, utiliza-se também da poética de um Manoel de Barros, (um filósofo poeta) redimensionando, ainda, um campo de possiblidades de luta a este homem preso, atado e enjaulado.

Em suas palavras finais nos diz:
"É importante, no entanto, destacar a aposta no posicionamento de pensar que foi no sentido de responder a uma dinâmica primeira de liberdade e luta destes fluxos que se ergueram tanto os Estados em suas intervenções neoliberais organizados por meio de uma arquitetura imperial quanto se diluiu no corpo social uma lógica de competição acirrada orquestrada pelo discurso gerencialista num processo de empresariamento da vida que captura os fluxos no sentido de enjaulá-los na forma de acumulação do capital humano"

Recomendo a obra aos leitores, já afiados ou não, dentro das diversidades dos campos epistêmicos pelos quais o autor transversa, com destaque para a Filosofia, a Psicanálise e, quem sabe, a Administração. Quem dera um sopro de ar fresco poderia adentrar este ambiente mofado que a competição acirrada, mote da governamentalidade neoliberal, deixa com ares de pulsão de morte. Parafraseando o Freud na introdução da Interpretação dos SonhosAcheronta Movebo!

Paulo Vasconcelos.


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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Aos saudosistas da crítica nos jornais, aviso que ela acabou faz décadas ...Captura do Face -Regina Dalcastagnè


Regina Dalcastagnè (UnB) é uma jovem  acadêmica sem ranço das togas universitárias e com larga produção de 20 anos. Conheci-a, digo sua obra, via Antonio Eduardo Laranjeira e Lívia Natália (UFBA-Letras). Ambos são meus amigos e têm pela mesma profunda admiração e respeito  Dalcastagnè, como pesquisadora da Literatura Brasileira Contemporânea, mapeia a nossa produção de modo sistêmico. Há nela, além disso, algo que julgo importante: sua exposição nas redes  sem esconder seu posicionamento político. Isto a torna uma intelectual comprometida com o seu tempo, com o seu país. A literatura e seu corpus teórico não bastam para nos alimentar  nos nossos devires. Sua exposição nas rede sociais é uma aposta no todo da palavra, em suas diversas interfaces, formas e, portanto, na política, nas suas nervuras, atalhos, pregas e cantos de nossa existência. Ela não se distancia do cotidiano em suas diversidade e incongruências. Seu post - abaixo reproduzido - aponta para uma nova fase da Crítica Literária e declara a forma de condução do seu trabalho. Aproveitei para atá-lo a outro post, de Luciana Hidalgo - outra mulher lúcida e comprometida com o que faz, que respalda o trabalho de Dalcastagné, em comentários ao seu post do Facebook.
*Regina Dalcastagnè-https://bit.ly/2MIGfxw
Regina Dalcastagnè

Luciana Hidalgo É isso mesmo, Regina. Há um esforço constante de professores e teóricos na universidade, que eu acompanho de perto. E vou lembrar aqui algo muito importante: a sua pesquisa sobre literatura brasileira contemporânea mudou a forma como se via a literatura brasileira contemporânea. Apontou os vícios e abriu novos caminhos.



Após ser aventado que booktubers podem estar cobrando para elogiar livros sem que isso esteja muito claro para seus seguidores, diversas vozes se levantaram para defendê-los, dizendo, especialmente, que eles não se pretendem críticos, mas divulgadores. Até aí tudo bem. Mas agora começou um ataque à própria crítica literária: ela não existiria mais no Brasil, é só compadrio, é só elogio mútuo, aqueles que a praticam são todos uns esnobes etc. etc.
Aos saudosistas da crítica nos jornais, aviso que ela acabou faz décadas e, com exceção de raríssimos suplementos culturais que insistem em sobreviver e alguns espaços virtuais corajosos, hoje ela se abriga basicamente dentro do ambiente acadêmico.
Como editora de uma revista especializada na crítica da literatura brasileira contemporânea, que circula, sem atraso e sem interrupções, há quase 20 anos, acho esses comentários ofensivos. E, em respeito às autoras e autores que publicaram na revista, quero dizer que estamos, sim, lendo o que se produz hoje e pensando livre e criticamente sobre essas obras. Que escrevemos nossos textos e editamos nossas revistas e fazemos a divulgação desse trabalho nas madrugadas, finais de semana e feriados, não por “amor” à literatura, mas por entender que conhecimento precisa ser compartilhado.
https://bit.ly/2Mwnxde
https://bit.ly/2MIGfxw

Nessas duas décadas a revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea publicou 489 artigos, 86 resenhas e umas tantas entrevistas com escritoras/escritores. Mais algumas centenas de bons trabalhos foram recusados por falta de espaço e devem estar circulando agora em outras excelentes revistas – não são poucas.
Como somos docentes e pesquisadores, também damos aulas sobre a literatura brasileira recente, formamos professores preocupados com essa produção, orientamos jovens pesquisadores, organizamos eventos e tentamos intervir, na medida do possível, nos debates públicos sobre o tema.
Se vocês não têm interesse, tempo, vontade de acompanhar a nossa produção, podem ir ver o que os booktubers têm a dizer, mas não venham nos acusar de que não estamos fazendo o nosso trabalho, e muito menos de que não o estamos fazendo de forma honesta e ética.

* É professora titular livre de literatura brasileira da Universidade de Brasília e pesquisadora do CNPq. Coordena o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea e edita as revistas Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea e Veredas, da Associação Internacional de Lusitanistas. Publicou os livros Literatura e exclusão (organização com Laeticia Jensen Eble; Zouk, 2017); Sérgio Sant’Anna: um autor em cena (organização com Ângela Maria Dias; Editora UFF, 2016); Representación y resistencia en la literatura brasileña contemporánea (tradução de Lucía Tennina e Adrián Dubinsky; Editorial Biblos, 2015); Espaços possíveis na literatura brasileira contemporânea (organização com Luciene Azevedo; Zouk, 2015); Espaço e gênero na literatura brasileira contemporânea (organização com Virgínia Maria Vasconcelos Leal; Zouk, 2015); Do trauma à trama: o espaço urbano na literatura brasileira contemporânea (organização com Ricardo Barberena; Luminara, 2015); Fora do retrato: estudos de literatura brasileira contemporânea (organização com Anderson Luís Nunes da Mata; Horizonte, 2012); Literatura brasileira contemporânea: um território contestado (Editora da UERJ/Horizonte, 2012); História em quadrinhos: diante da experiência dos outros (organização, Horizonte, 2012); Pelas margens: representação na narrativa brasileira contemporânea (organização com Paulo C. Thomaz; Horizonte, 2011); Deslocamentos de gênero na narrativa brasileira contemporânea (organização com Virgínia Maria Vasconcelos Leal; Vinhedo: Horizonte, 2010); Melhores contos: Salim Miguel (organização; Global, 2009); Ver e imaginar o outro: alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporânea (organização; Horizonte, 2008); Entre fronteiras e cercado de armadilhas: problemas da representação na narrativa brasileira contemporânea (Editora Universidade de Brasília, 2005); A garganta das coisas: movimentos de Avalovara, de Osman Lins (Editora Universidade de Brasília/Imprensa Oficial, 2000); Tramóia: histórias de rendeiras (Insular, 1998); e O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro (Editora Universidade de Brasília, 1996). 


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sábado, 25 de agosto de 2018

Cada ser pode ser...o meio ou instrumento que auxilie um outro - Capturas do Face Elton L.L.Souza


Manoel de Barros



...A poesia não existe para comunicar, mas para comungar. 
A palavra é o nascedouro que acaba compondo a gente...
Manoel de Barros 

....O verdadeiro charme das pessoas é aquele em que elas perdem as estribeiras, é quando elas não sabem muito bem em que ponto estão. Não que elas desmoronem, pois são pessoas que não desmoronam. Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não pode amá-la. Não pode amá-la. É aquele lado em que a pessoa está completamente... Aliás, todos nós somos um pouco dementes. Se não captar o ponto de demência de alguém... Ele pode assustar, mas, a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme.Trecho de entrevista dada por Gilles Deleuze à Claire Parnet, em 1988.


Sempre está no meu olhar as palavras do Filósofo, Poeta Elton Luiz L. de Souza. Neste seu texto, abaixo, vejo o seu perfume spinozano e deleuziano. 

Em tempos como os de hoje o texto  dele é da hora mesmo!!!. É uma aula- um assovio para nos polir, nos fortalecer, para os bons encontros, sobretudo, em tempos de encontros políticos.

O texto é poético, ( conjugando metáforas claras) afinal  os filósofos nos quais  ele se perfuma foram poetas/filósofos ( e olha um bem distante do outro-no tempo-Spinoza e Deleuze )

Afora isto, Elton pertence a casa dos marimbondos poéticos, não 
só pelo mel que destila , mas pelo trabalho de pensar e aludir ao outro sempre.
Paulo Vasconcelos




Elton Luiz Leite de Souza

O sol não existe com a finalidade de fazer a planta crescer, porém a planta cresce ao compor-se com o sol. A planta não existe com a finalidade de nos alimentar, porém nos alimentamos cultivando as plantas. 
Nenhum ser existe para ser a finalidade do outro. Cada ser pode ser, no entanto, o meio ou instrumento que auxilie um outro ser a afirmar aquilo que ele já é. Basta o sol ser o sol, tal como ele é, para ele ser o que de melhor existe para a planta ser a planta. O mesmo vale para as pessoas: é sendo cada um o que já é que poderá ser para o outro um bom encontro . Também é cada um sendo o que já é que poderá ser para o outro um mau encontro. 
O bom encontro , inclusive, nunca é uma promessa, mas uma relação real nascida de cada um já ser o que é, e não da promessa de cada um virar, em palavras, outro. 

A diferença entre o bom e o mau encontro não está em cada ser singular , mas no que cada ser pode aumentar ou diminuir de si mesmo na relação com o outro. E isso que já somos não precisa ser do mesmo nível que o outro em termos de potência: o sol tem mais potência que a planta, porém a potência da planta somente é um “menos” quando comparada com a potência do sol. Nela mesma, a potência da planta é como toda potência, inclusive a nossa: aumentará se tiver um bom encontro, diminuirá se sofrer um mau encontro.

 Não é o outro ser o responsável exclusivo pelo bom ou mau encontro: nós também somos corresponsáveis pelos amores e alegrias que nos acontecem e mesmo dos ódios e tristezas que imaginamos vir apenas do outro. 

O sol não envia as flores que a planta fabrica, mas com a energia que o sol envia a planta fabrica flores. Uma pessoa não envia a amizade inteira à outra, é esta que a fabrica tornando-se da amizade parte, aumentando suas energias. 
Uma pessoa não envia o ódio inteiro à outra, é esta que o fabrica fazendo-se do ódio parte , diminuindo ela própria suas energias, enquanto potência de agir, sentir e pensar.