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terça-feira, 20 de novembro de 2018

Primeiro Forum Mundial do Pensamento Crítico da esquerda discute vitória de Bolsonaro





Aqui uma prévia com Nicolás Trotta -reitor da Uni Metropolitana BA-um dos promotores do evento (e da CLACSO) e Pablo Gentili,argentino há  muito tempo  radicado no Brasil professor da UERJ. 

Aqui Dilma Roussef



Com depoimentos já acontecidos, neste fórum , gostaria de destacar os de :Christina Kirchner- Juan Grabois-AR Joana Mortágua,PT,Gustavo Pedro-COL, Dilma Rousseff, Gutemberg Farias-Br e  da chilena-Beatriz Sanchez- Chl,esta última denunciando a morte  de Camilo Catrillanca, afora os gritos de LULA LIVRE.




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Deixo com vocês a matéria -abaixo da RFI -de Márcio Rezende.
https://bit.ly/2DPkGqX
Diante do avanço da direita no mundo e particularmente na América do Sul, acontece a partir desta segunda-feira (20) em Buenos Aires o primeiro Foro Mundial do Pensamento Crítico. Um dos principais tópicos será o impacto da vitória de Jair Bolsonaro no Brasil que causou surpresa generalizada na região.

Marcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Os ex-presidentes Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e José Mujica são as estrelas do encontro que terá ainda os ex-candidatos Fernando Haddad, Manuela D'ávila e Guilherme Boulos. O Foro Mundial do Pensamento Crítico terá mais de 200 convidados expositores entre ex-presidentes de esquerda, intelectuais progressistas internacionais e líderes de movimentos sociais.
Os debates incluem o futuro da democracia, ameaçada pela desigualdade social e pelo surgimento de líderes da extrema direita, o mais ilustrativo de todos é o presidente eleito, Jair Bolsonaro. O Foro pode ser uma oportunidade para a autocrítica da esquerda que soma derrotas eleitorais desde 2015. A reunião é também uma espécie de resposta antecipada à Cúpula de líderes do G20 que vai acontecer na capital argentina dentro de 10 dias.
O evento é organizado pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, a CLACSO, e vai até sexta-feira, mas os dois primeiros dias são os que concentram os principais expositores. A ex-presidente Dilma Rousseff abre o encontro com o painel "Democracia, cidadania e estado de exceção".
Também terão destaque os ex-presidentes do Uruguai, José Mujica; da Argentina, Cristina Kirchner; e da Colômbia, Ernesto Samper. Estarão ainda acadêmicos de diversos países e referentes da esquerda mundial como o líder espanhol do Podemos, Pablo Iglesias. O Foro acontece em um pequeno estádio com capacidade para dez mil pessoas, mas são mais de 50 mil inscritos. Muita gente vai acompanhar através de telões do lado de fora.
Vitória de Bolsonaro no Brasil é um dos pontos centrais
A recente vitória de Jair Bolsonaro no Brasil é um dos pontos centrais do evento. As lideranças políticas vão debater o assunto em diversos painéis. Por exemplo, o ex-presidente uruguaio, José Mujica, vai protagonizar o debate "América Latina: medo, esperança e utopia".
Já os candidatos brasileiros derrotados nas últimas eleições, Fernando Haddad, Manuela D'ávila e Guilherme Boulos vão apresentar o painel "Brasil, a esperança vencerá o medo". Há três anos exatamente, desde a vitória de Mauricio Macri aqui na Argentina em 2015, todas as eleições na América do Sul foram ganhas pela direita, mas nenhuma foi tão surpreendente quanto a de Jair Bolsonaro no Brasil.
O Foro do Pensamento Crítico é também apelidado de "Contra-Cúpula" porque nos próximos dias 30 de novembro e 1 de dezembro haverá aqui em Buenos Aires a reunião dos líderes do G20. O evento é uma oportunidade para a esquerda reagir ao crescimento das forças conservadoras e apresentar estratégias que invertam essa tendência. O Foro não é necessariamente uma crítica aos adversários, mas critica as próprias práticas da esquerda. Nesse reconhecimento de erros, aparece a corrupção estrutural, o financiamento ilegal de campanhas e a falta de reformas estruturais depois de mais de 12 anos de governos de esquerda.
O objetivo dos palestrantes será contribuir com soluções aos problemas globais. O evento também pode ajudar a canalizar as propostas de reconstrução e servir como um âmbito para a troca de ideias entre políticos, líderes sociais e acadêmicos. Mais do que o Foro em si, é a vitória da extrema direita que pode ter um efeito de unificação da esquerda, hoje fragmentada. Uma unificação contra o mal maior. Nesse sentido, Jair Bolsonaro aparece como o inimigo favorito para os líderes de esquerda da região porque representa o estereótipo da direita autoritária contra a qual esses líderes de esquerda construíram as suas carreiras políticas.

Nobel alternativo de literatura

Não creio  muito nestes tipos de prêmios, mas aqui vai.Na verdade estas premiações alternativas nada mais são estratégias de marketing dos editores para vender....vender.Não vai aqui críticas aos autores.Paulo Vasconcelos







Patti Smith, emocionada em sua atuação na cerimônia de entrega do Prêmios Nobel.  AFP

Nobel alternativo de literatura: muitas mulheres e nenhum autor de língua portuguesa na lista

https://bit.ly/2PGB1o7

J.K. Rowling, Margaret Atwood, Patti Smith, Chimamanda Ngozi Adichie e Don DeLillo estão entre os 46 indicados ao prêmio, que será decidido em outubro



 Patti Smith, Margaret Atwood, Chimamanda Ngozi Adichie, Don DeLillo, Neil Gaiman e Louis Édouard estão entre os 46 candidatos que disputarão o Prêmio Nobel Alternativo, uma iniciativa concebida por uma centena de escritores, atores, jornalistas e outras figuras culturais depois da inédita decisão da Academia Sueca de não entregar o Prêmio Nobel de Literatura em 2018, por causa do escândalo de abusos sexuais que envolveram o dramaturgo Jean-Claude Arnault, vinculado à instituição através de seu clube literário e marido de uma de suas integrantes, Katarina Frostenson. O prêmio deixou de ser concedido em sete ocasiões: 1914, 1918, 1935, e entre 1940 e 43.
Uma nova instituição, chamada New Academy, entregará o seu próprio prêmio em 14 de outubro, seguindo o mesmo cronograma do Nobel oficial. “Fundamos a New Academy para recordar que a literatura e a cultura, em geral, deveriam promover a democracia, a transparência, a empatia e o respeito, sem privilégios, preconceitos por arrogância ou sexismo”, disseram seus membros ao jornal britânico The Guardian em julho do ano passado.
Entre os indicados também estão Paul Auster, Haruki Murakami e Oz Amos, embora mais de metade seja de mulheres. E nenhum escritor em língua portuguesa. O objetivo da New Academy é procurar escritores que tenham contado a história “dos seres humanos no mundo”, em contraste com o Nobel, que tem a intenção de honrar o autor que tiver escrito, nas palavras do testamento de Alfred Nobel, “a obra mais destacada em uma direção ideal”.
A New Academy lançou nesta quinta-feira a votação pública, e os quatro autores mais populares serão submetidos ao escrutínio de um júri dirigido por Ann Pålsson (editora), Lisbeth Larsson (professora da Universidade de Gotemburgo) e Gunilla Sandín (bibliotecária). O ganhador será anunciado em outubro, o mesmo mês em que tradicionalmente se concede o Nobel.



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domingo, 18 de novembro de 2018

Brasileiros que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil!


 



'O Brasil foi o ultimo país do Ocidente a abolir a escravidão. Fonte-BBC-Museu Paulista USP



Nos dias  que ora atravessamos, é importante a Leitura desta matéria da BBC. BR.Apesar de sermos um dos países de maior população negra e com milhões de descendentes,  mesmo amorenados e ou branqueados pela miscigenação, não nos reconhecemos como tal. Poucos sabemos de nós, de nossa história, mas a genética é fatal.O país esconde ser um dos mais preconceituosos do mundo e persegue, prende e mata. Fomos atrasados na Abolição e firmamos leis hipócritas que não se cumprem. Escondemos líderes que lutaram pelo fim da escravatura, como estes apontados aqui, na reportagem abaixo.Poucas homenagens são feitas a Zumbi dos Palmares.Não temos memória e, portanto, não exercemos nossa democracia cidadã.Muito se falou dos negros na economia do nordeste, entretanto,  nada, quase nada se alude a participação de nós negros na economia sudestina especialmente em São Paulo, na economia cafeeira, açucareira e dos laranjais.O mesmo ocorrendo no Rio de Janeiro, e de igual modo no Paraná,Santa Catarina e Rio Grande do sul.Depois do nordeste o sudeste tem a maior população negra, mas não nos enxergamos como tal.vide-https://bit.ly/2Gze2lk.



Muito além da princesa Isabel, 6 brasileiros que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil






Ilustração brasileiros que lutaram contra a aboliçãoDireito de imagemANDRÉ VALENTE | BBC BRASIL
Image captionBatalha pela abolição já ocorria nas províncias brasileiras anos antes da assinatura da Lei Áurea, e reunia escravos, negros libertos, pessoas da classe média e da alta sociedade

O fim da escravidão no Brasil completa 130 anos em 13 de maio deste ano. Em 1888, a princesa Isabel, filha do imperador do Brasil Pedro 2º, assinou a Lei Áurea, decretando a abolição - sem nenhuma medida de compensação ou apoio aos ex-escravos.
A decisão veio após mais de três séculos de escravidão, que resultaram em 4,9 milhões de africanos traficados para o Brasil, sendo que mais de 600 mil morreram no caminho.
Mas a abolição no Brasil está longe de ter sido uma benevolência da monarquia. Na verdade, foi resultado de diversos fatores, entre eles, o crescimento do movimento abolicionista na década de 1880, cuja força não podia mais ser contida.
Entre as formas de resistência, estavam grandes embates parlamentares, manifestações artísticas, até revoltas e fugas massivas de escravos, que a polícia e o Exército não conseguiam - e, a partir de certo ponto, não queriam - reprimir. Em 1884, quatro anos antes do Brasil, os Estados do Ceará e do Amazonas acabaram com a escravidão, dando ainda mais força para o movimento.
A disputa continuou no pós-libertação, para que novas políticas fossem criadas destinando terras e indenizações aos ex-escravos - o que nunca ocorreu.




Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 1830, em Salvador, filho de mãe africana livre e pai branco de origem portuguesa. Quando o menino tinha quatro anos, sua mãe, Luísa, teria participado revolta dos Malês, na Bahia, pelo fim da escravidão.
Uma reviravolta ocorreu quando Gama tinha dez anos: ficou sob cuidados de um amigo do pai, que o vendeu como escravo. O menino "embarcou livre em Salvador e desembarcou escravo no Rio de Janeiro", escreve a socióloga Angela Alonso no livro Flores, Votos e Balas, sobre o movimento abolicionista. Depois, foi levado para São Paulo, onde trabalhou como escravo doméstico. "Aprendi a copeiro, sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar", escreveu o baiano.




Retrato de Luís Gama, o ex-escravo que se tornou advogado de escravosDireito de imagemACERVO BIBLIOTECA NACIONAL - BRASIL
Image captionCalcula-se que Luís Gama tenha ajudado a libertar cerca de 500 escravos

Aos 17 anos, Gama aprendeu a ler e escrever com um estudante de direito. E reivindicou sua liberdade ao seu proprietário, afinal, nascera livre, livre era.
Em São Paulo, Gama se tornou rábula (advogado autodidata, sem diploma) e criou uma nova forma de ativismo abolicionista: entrava com ações na Justiça para libertar escravos. Calcula-se que tenha ajudado a conseguir a liberdade de cerca de 500 pessoas.
Gama usava diversos argumentos para obter a alforria. O principal deles era que os africanos trazidos ao Brasil depois de 1831 tinham sido escravizados ilegalmente. Isso porque naquele ano foi assinado um tratado de proibição do tráfico de escravos. Mais de 700 mil pessoas tinham entrado no país nessas condições. Apenas em 1850 o tráfico de escravos foi abolido definitivamente.
"As vozes dos abolicionistas têm posto em relevo um fato altamente criminoso e assaz defendido pelas nossas indignas autoridades. A maior parte dos escravos africanos (...) foram importados depois da lei proibitiva do tráfico promulgada em 1831", disse Gama na época.
O advogado ainda entrou com diversos pedidos de habeas corpus para soltar escravos que estavam presos, acusados, sobretudo, de fuga. Ainda trabalhou em ações de liberdade, quando o escravo fazia um pedido judicial para comprar sua própria alforria - o que passou a ser permitido em 1871, em um dos artigos da Lei do Ventre Livre.
Luís Gama morreu em 1882, sem ver a abolição. Seu funeral, em São Paulo, foi seguido por uma multidão. "Quanto galgara Luís Gama, de ex-escravo a morto ilustre, em cujo funeral todas as classes representavam-se. Comércio de porta fechada, bandeira a meio mastro, de tempos em tempos, um discurso; nas sacadas, debruçavam-se tapeçarias, como nas procissões da Semana Santa", relata Alonso.
Na hora do enterro, alguém gritou pedindo que a multidão jurasse sobre o corpo de Gama que não deixaria morrer a ideia pela qual ele combatera. E juraram todos.

Maria Tomásia Figueira Lima, a aristocrata que lutou para adiantar a abolição no Ceará

Filha de uma família tradicional de Sobral (CE), Maria Tomásia foi para Fortaleza depois de se casar com o abolicionista Francisco de Paula de Oliveira Lima. Na capital, tornou-se uma das principais articuladoras do movimento que levou o Estado a decretar a libertação dos escravos quatro anos antes da Lei Áurea.
Segundo o Dicionário de Mulheres do Brasil, ela foi cofundadora e a primeira presidente da Sociedade das Cearenses Libertadoras que, em 1882, reunia 22 mulheres de famílias influentes para argumentar a favor da abolição.
Ao fim de sua primeira reunião, elas mesmas assinaram 12 cartas de alforria e, em seguida, conseguiram que senhores de engenho assinassem mais 72.
As mulheres conseguiram, inclusive, o apoio financeiro do imperador Pedro 2º para a iniciativa. Juntamente com outras sociedades abolicionistas da época, elas organizaram reuniões abertas com a população, promoviam a libertação de escravos em municípios do interior do Ceará e publicavam textos nos jornais pedindo a abolição em toda a província.
Maria Tomásia estava presente na Assembleia Legislativa no dia 25 de março de 1884, quando foi realizado o ato oficial de libertação dos escravos do Ceará, que deu força à campanha abolicionista no país.




Pintura da sessão parlamentar que aboliu a escravidão no Ceará, em 1884; há homens e mulheres dentro do ParlamentoDireito de imagemACERVO BIBLIOTECA NACIONAL - BRASIL
Image captionNessa pintura da sessão parlamentar que aboliu a escravidão no Ceará, em 1884, é possível ver diversas mulheres entre os homens

André Rebouças, o engenheiro que queria dar terras aos libertos

André Rebouças nasceu na Bahia, em 1838, em uma família negra, livre, e incluída na sociedade imperial. Quando jovem, estudou engenharia e começou a trabalhar na área. Foi responsável por diversas obras de engenharia importantes no país, como a estrada de ferro que liga Curitiba ao porto de Paranaguá. Conquistou posição social e respeito na corte. A Avenida Rebouças, importante via em São Paulo, é uma homenagem a André e a seu irmão Antonio, também engenheiro.
Em uma das obras de que participou, outro engenheiro pediu que Rebouças libertasse o escravo Chico, que era operário e tinha sido responsável pelos trabalhos hidráulicos. "Foi quando sua atenção recaiu sobre o assunto", escreve Angela Alonso, também em Flores, Votos e Balas. Chico foi, então, libertado.
"Sou abolicionista de coração. Não me acusa a consciência ter deixado uma só ocasião de fazer propaganda para a abolição dos escravos, e espero em Deus não morrer sem ter dado ao meu país as mais exuberantes provas da minha dedicação à santa causa da emancipação", discursou certa vez Rebouças, na presença do imperador Pedro 2º.




Retrato de André RebouçasDireito de imagemMUSEU AFRO BRASIL
Image captionAndré Rebouças era adepto de uma reforma agrária que concedesse terras para os ex-escravos

Na década de 1870, Rebouças se engajou na campanha pelo fim da escravidão. Participou de diversas sociedades abolicionistas e acabou se tornando um dos principais articuladores do movimento. Um de seus papéis foi fazer lobby - uma ponte entre os abolicionistas da elite e as instituições políticas, para quem executava obras de engenharia.
As ideias de Rebouças incluíam não apenas o fim da escravidão. Ele propunha que os libertos tivessem acesso à terra e a direitos, para serem integrados, não marginalizados. "É preciso dar terra ao negro. A escravidão é um crime. O latifúndio é uma atrocidade. (...) Não há comunismo na minha nacionalização do solo. É pura e simplesmente democracia rural", proclamou Rebouças.
O engenheiro também se opunha ao pagamento de indenização para os senhores de escravos em troca da liberdade - para Rebouças, isso seria uma forma de validar que uma pessoa fosse propriedade da outra.
Apoiador da monarquia e da família real brasileira, Rebouças foi ainda um dos responsáveis pela exaltação da Princesa Isabel como patrona da abolição.

Adelina, a charuteira que atuava como 'espiã'

Filha bastarda e escrava do próprio pai, Adelina passou a vender charutos que ele produzia nas ruas e estabelecimentos comerciais de São Luís (MA). Suas datas de nascimento e morte não são conhecidas. Seu sobrenome, também não.
Como escrava criada na casa grande, Adelina aprendeu a ler e escrever. Trabalhando nas ruas, assistia a discursos de abolicionistas e decidiu se envolver na causa.




Ilustração AdelinaDireito de imagemANDRÉ VALENTE | BBC BRASIL
Image captionComo não há registros fotográficos de Adelina, a charuteira, ilustração foi baseada em fotografias de escravas minas que viviam no Maranhão na época

De acordo com o Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, de Clóvis Moura (Edusp), Adelina enviava à associação Clube dos Mortos - que escondia escravos e promovia sua fuga - informações que conseguia sobre ações policiais e estratégias dos escravistas.
Aos 17 anos, Adelina seria alforriada, segundo a promessa que seu senhor fez a sua mãe. Mas, segundo o Dicionário, isso não aconteceu.

Dragão do Mar, o jangadeiro que se recusou a transportar escravos para os navios

O jangadeiro e prático (condutor de embarcações) Francisco José do Nascimento (1839-1914), um homem pardo conhecido como Dragão do Mar, foi membro do Movimento Abolicionista Cearense, um dos principais da província, a primeira do Brasil a abolir a escravidão.
Em 1881, o Dragão do Mar comandou, em Fortaleza, uma greve de jangadeiros que transportavam os negros e negras escravizados para navios que iriam para outros Estados do Nordeste e para o Sul do Brasil. O movimento conseguiu paralisar o tráfico negreiro por alguns dias.




Ilustração Dragão do MarDireito de imagemANDRÉ VALENTE | BBC BRASIL
Image captionFrancisco José do Nascimento se recusou a transportar escravos das praias de Fortaleza para navios negreiros

Com o comércio de escravizados impedido nas praias do Ceará, Nascimento foi exonerado do cargo, segundo o registro de Clóvis Moura. E se tornou símbolo da batalha pela libertação dos escravos.
Depois da abolição, ele tornou-se Major Ajudante de Ordens do Secretário Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará e morreu como primeiro-tenente honorário da Armada, em 1914.

Maria Firmina dos Reis, a primeira escritora abolicionista

A maranhense Maria Firmina (1825-1917) era negra e livre, "filha bastarda", mas formou-se professora primária e publicou, em 1859, o que é considerado por alguns historiadores o primeiro romance abolicionista do Brasil, Úrsula. O livro conta a história de um triângulo amoroso, mas três dos principais personagens são negros que questionam o sistema escravocrata.
A escritora assinava o livro apenas como "Uma maranhense", um expediente comum entre mulheres da época que se aventuravam no mercado editorial, e só agora começa a ser descoberto pelas universidades, segundo a professora de literatura brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Constância Lima Duarte.




Ilustração Maria FirminaDireito de imagemANDRÉ VALENTE | BBC BRASIL
Image captionRomance de Maria Firmina dos Reis é considerado o primeiro a trazer o ponto de vista de personagens negros no Brasil escravocrata

Maria Firmina também publicava contos, poemas e artigos sobre a escravidão em revistas de denúncia no Maranhão.
De acordo com o Dicionário de Mulheres do Brasil: de 1500 Até a Atualidade (Ed. Zahar), ela criou, aos 55 anos de idade, uma escola gratuita e mista para crianças pobres, na qual lecionava. Maria Firmina morreu aos 92 anos, na casa de uma amiga que havia sido escrava.