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quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

COMUNIDADE ESCOLA HERMILO BORBA FILHO RECIFE -PE -Um exemplo do NÃO- A ESCOLA SEM PARTIDO

Comunidade Escola Hermilo Borba Filho 1981 -Arquivo particular





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COMUNIDADE ESCOLA HERMILO BORBA FILHO RECIFE - PE
Um exemplo do Não a ESCOLA SEM PARTIDO

Em tempos tão difíceis é bom relembrar: Estamos vivendo na atualidade um paroxismo sobre o valor da Educação. A Escola sem Partido vem de longe. Mas seu auge vem se dando de modo intenso em 2004, ganha corpo como projeto de lei 7180/2014, do deputado Erivelton Santana do Patri mas, que tem como seu maior marqueteiro o advogado Miguel Nagib, paulista, com cargo na Procuradoria do Estado de São Paulo.

O que nos chama atenção é a idiossincrasia da proposta, pois em termos, digamos, semióticos ou filológicos, não existe Escola sem Partido, pois na verdade o que se quer é implantar uma partidarização da direita e o solapar do pensamento crítico face um tsunami que se desdobra mundo afora, chegando às alturas com a turma do Sr. Bolsonaro.

O que se pretende é punir, castrar o acesso ao conhecimento nas suas amplitudes históricas e filosóficas, é manipular a escola e seus professores, e pior - o aluno. É uma demanda punitiva quanto ao crescimento das esquerdas no Brasil e, sobretudo, uma perseguição ao Partido dos Trabalhadores, maior partido com militantes no Brasil, reconhecido mundialmente. É a tentativa de um fascismo dos anos XXI.

Isto posto, gostaria de relembrar a Comunidade Escola Hermilo Borba Filho, em Recife - Rua do Espinheiro, 730 (1980/1987), que mesmo nos fins da ditadura, foi uma Escola que militava por uma educação crítica, para um igual pensamento crítico. Tal escola, do qual fiz parte, nasceu de um sonho de intelectuais que tornou-se realidade, mas teve uma vida curta face às questões econômicas da época.

Na verdade, ela tomou como mote a Escola Comunitária de Campinas, SP, mas foi muito mais além em sua proposta pedagógica, driblando inclusive a famosa LDB 5.692, repropondo de modo bem particular a grade de disciplinas, destacadamente Moral e Cívica e trabalhando com o Materialismo Dialético, ou seja, adentrando pela história da selvageria do Capitalismo.

Propunha a escola uma leitura crítica das mídias, releitura da história, dita oficial, por autores diversos, não comprometidos com partidarização política portuguesa, o início de nossa história e seus falsos mitos e genocidas de nossos povos legítimos - os indígenas e de negros solapados de suas terras para erguer um país às custas de uma escravatura.
Buscávamos desmitificar os Colombos, Cabrais, opressores de nossos nativos e a selvageria dos Bandeirantes, como milícias de carnificina.

Objetivava-nos olhar a língua - falada e escrita - na sua multiplicidade de contextos léxicos. Apontar autores populares como contadores de uma história da língua paralela a hegemônica. Observar fatos na história e geografia do Brasil e que se interligavam com o capital dominante europeu, como a Inglaterra, França e Alemanha. Entender a história da América Latina, desprezada em nossos livros de história. Desvendar a manipulação de guerras suicidas como a chamada guerra do Paraguai, onde o Brasil Império foi um opressor junto com a Províncias Unidas do Prata-Argentina, provocando um genocídio do povo Paraguaio, e mais naquele momento as ações intervencionistas - Operação Condor, dos EUA, GOLPE MILITAR, entre muitos outros fatos de nossa história.

A escola era uma iniciativa privada, de um grupo de intelectuais e educadores, se propunha a criar uma alternativa emancipativa ao jovem, a criança, desde a alfabetização à 8ª série.

Tínhamos como pano de fundo de inspiração teórico da Argentina Maria Teresa Nidelcoff - Uma Escola para o Povo e Escola e compreensão da realidade (ambos pela Editora Brasiliense). Outros autores deram sua contribuição como: Paulo Freire, aliás amigo de Maria Teresa, Alicia Fernandez, afora pensadores da epistemologia genética como Piaget e da Sociogenética em Lev Vygotsky, Wallon, entre outros.

A escola tomou corpo no meio intelectual à época, em Recife, e foi prestigiada pela classe média, embora uma parte de seus alunos fossem bolsistas (crianças e adolescentes pobres) do Morro da Conceição. Tal mesclagem era proposital no sentido de apresentar ao alunado as diferenças de classe, e nem por isso foi rejeitada pelos pais.

O brinquedo, o brincar, foi um dos motes para formular uma metodologia interdisciplinar, em que o objeto, brinquedo ou o brincar era motivador de aportes das Ciências, Matemática, L. Portuguesa, História, Geografia, etc. A partir do objeto e sua ação se discutia conceitos, por exemplo, em Ciências: caso da Pipa, em que se vislumbrava os conceitos de corpo, peso, volume, movimento, deslocamento, espaço, à medida em que se confeccionava e punha-a a voar. Outras disciplinas faziam adentramentos, como Ed. Artística - estética, Matemática - cálculo, geometria, etc.

As disciplinas eram coligadas de modo a fazer um todo epistêmico, mostrando o conhecer como algo interligado pleno, afim de se produzir um sujeito crítico e cidadão.

Estamos em preparo de uma obra sobre a mesma que deverá estar pronta no próximo ano - 2019. Assim esperamos.

Mas faremos alguns aportes por aqui vislumbrando aspectos da obra, momentos da escola, e com isto fazermos uma contrapartida a estes tempos que pretendem nos vestir de máscaras fascistas.

Aguardem em breve novos posts!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

POR QUE BRASILEIROS FROUXOS E ANALFABETOS TÊM TANTO MEDO DE CUBA?- Cap Face

Precisa falar algo?

Sim.

Poucos conhecem a ilha, seu povo , sua cultura humanitária, mas fala-se asneiras aqui no Brasil, que só reflete a ignorância do nosso país ,já  reconhecida pelo mundo inteiro. Nos dias atuais  o conhecimento daquele pais tornou-se   melhor acessível e assim amenizados os estereótipos nas classes populares, através da ação do Mais  Médicos.Todavia, a mídia, as elites e a classe média permanece com estereotipos maldosos, estúpidos que só denigre nossa imagem de um  país quer ser civilizado.

É natural, talvez, que a cegueira , da cabeça dos escravos do capitalismo. não permite, não consegue se aproximar de um modelo democrático popular de Cuba.O mesmo se ocorre com a Venezuela, mesmo com seus passos desviantes em algum momentos.Mas isso se deve ao baixo conhecimento da História e a escravidão do Capital. Outro detalhe quem conhece a história do Paraguay? Muitíssimo poucos.Em séculos passados esse pais,  no governo do El Supremo Dr.Francia,foi ma grande republica, naquela época aquele o pais teve alto desenvolvimento  e foi uma espécie de Cuba, tendo sofrido um bloquei ferrenho sangrento por parte da Argentina e do Governo Imperial Brasileiro, face aos intereses  capitalistas e mediados pelas ações da bravata do capital inglês..

Conheço Cuba, seu povo. Não se ganha para enriquecer, mas para tornar-se um povo estável dentro do círculo de humanidade.A profissionalização é para garantir ao país, sua força e a independência . Estive em Cuba, algumas vezes, por ocasião de congressos, onde tive a oportunidade de conhecer  Fidel ao vivo e também  contatar ,  dialogar com algumas de suas instituições ligadas  a Educação e a Cultura .Deixo aqui esta captura do Facebook  por Rodolfo Vasconcelos que falará um poco mais .Paulo Vasconcelos







Facebook Rodolfo Vasconcellos



POR QUE BRASILEIROS FROUXOS E ANALFABETOS TÊM TANTO MEDO DE CUBA?
Morei em Cuba por 7 anos da minha vida, estudei lá, lá tenho pessoas que considero meus familiares. Cuba é um país pequeno, sem recursos naturais (como minério, petróleo) nenhum rio caudaloso (não pode ter hidroelétrica que é a energia mais barata), tem somente 25% do solo fértil (o Brasil tem 85%), vive um bloqueio econômico cruel onde não pode comercializar com os EUA nem com ninguém que comercializa com eles, ou seja TODO O MUNDO, teve que se militarizar pois já foi invadido, teve mais de 2000 bombas em locais vitais colocadas pelos EUA, teve ataques biológicos (confirmados por organismos internacionais) contra a suas plantações, implantação de doenças contra animais de criação e contra humanos. Sobrepassando todas estas coisas, Cuba tem uma saúde pública muito melhor que a nossa, sua educação é de excelência, é um país super seguro onde as pessoas andam pela madrugada na capital sem NENHUM medo, é o único país das Américas onde a droga já não é um problema (quase não existe), o povo participa muito mais das decisões do estado, sejam nas assembleias dos bairros, quanto nas eleições (SIM EM CUBA EXISTE ELEIÇÕES), e inclusive agora na constituinte onde existe debate e propostas em cada escola, fábrica, universidade e em cada bairro. O maior problema de longe de Cuba é o econômico, que o único responsável é os Estados Unidos, tendo muitos papagaios de pirata que repetem o mesmo discurso do opressor, que a culpa é de Cuba, seria como você colocar concreto no pé de alguém e jogar-lo ao mar e culpar aquele por não saber nadar, para estes repito o desafio que Cuba sempre fez aos EUA, retirem o Bloqueio por um ano, e se Cuba não avançar economicamente a culpa será toda de Cuba. Porque será que os EUA nunca o fez? Compare Cuba com os países próximos: Honduras, Jamaica, Guatemala, Rep. Dominicana, Haiti, México e veja quem manda mais imigrantes aos EUA e que pais tem melhor qualidade de vida e Índice de Desenvolvimento Humano.
Cuba tem em sua constituição a solidariedade internacional, que além de ser lei é um valor moral, e isso fez que há mais de 50 anos, Cuba, mesmo sendo um país pobre, enviasse contingentes numerosos de médicos aos países que sofriam com catástrofes naturais ou guerras, somando já mais de 120 países e estando neste momento em mais de 60 países. A maior parte destas missões não tem custo aos países que as recebem, porém a menos de duas décadas Cuba iniciou a troca de médicos por recursos que não podia ter acesso pelo bloqueio, e percebeu como poderia ser uma saída econômica importante, a exportação de serviços de saúde já que Cuba não é bem industrializada e não tem minérios exportáveis.
É importante que se entenda que cada ministério em Cuba tenta ser autônomo, ou seja dispor dos recursos que necessita, no caso a maior parte do recurso recebidos pelo Programa Mais Médicos vão direto à saúde pública, que é 100% gratuita, universal e de qualidade, e ao contrário do Brasil, percebe-se que a corrupção não o desfacela. Prova disso é que ao iniciar o Programa Mais Médicos o governo cubano aumentou os salários de mais de 300.000 profissionais de saúde na ilha.
Sempre no início de cada ciclo do Programa Mais Médicos são convocados os médicos brasileiros, as vagas sobrantes, são disponibilizadas aos brasileiros formados no exterior, as próximas sobrantes aos estrangeiros de outras nacionalidades e ao final para ocupar o espaço que nenhum médico quis, chegam os cubanos, por isso que eles atendem a 90% das comunidades indígenas, os 700 municípios que antes do programa não tinham sequer nenhum médico e as periferias mais perigosas e intrínsecas. Na maioria destes lugares, as pessoas viram um médico pela primeira vez na sua vida, e estes falavam portunhol e tinham a mesma cor que os que ali moravam. E para confirmar de forma científica dezenas de universidades do Brasil e do Exterior estudaram os efeitos deste programa e constataram que estes médicos reduziram a mortalidade infantil e materna, e salvaram milhares de vidas em todo nosso país.
O médico cubano que vem ao Brasil ele é funcionário do Ministério de Saúde Pública de Cuba, o qual conheceu os termos do contrato, e decidiu por o aceitar antes de vir ao Brasil, com isso estes recebem o salário que recebiam em Cuba de forma integral (são repassados para suas famílias), assim como as garantias previdenciárias, e no Brasil recebem quase R$4.000 de salário, mais ajuda de custo de moradia e alimentação que em geral superam os R$2.000, junto com uma passagem aérea anual, e a garantia de que não gastará NADA com a educação, saúde e segurança de toda a sua família, qual seria a porcentagem de brasileiros que dispõem destas condições??
Bolsonaro que desde a criação do Programa vem fazendo diuturnamente ataques ao mesmo, dizendo que não são médicos, que são espiões, com ataques ao governo cubano e que se ganhasse os mandaria de volta. Todas estas opiniões são irresponsáveis e irrespeitosas, e vindo de um futuro chefe de estado, pior ainda. Sua avalanche de ataques fio contra as 63 milhões de pessoas que foram atendidos por este programa e contra os quase 10 mil médicos cubanos que aqui se encontram e contra todo o povo cubano, que tem uma dignidade poucas vezes vista na história da humanidade, os cubanos lutaram por 100 anos contra a Espanha armados de facões contra canhões, e lutam a mais de 50 anos contra o império mais poderoso da história da humanidade. Cuba nunca se ajoelhará ante ninguém, tenha o poder que tiver. Não digo que o Brasil não tenha a soberania de rediscutir um contrato internacional, porém isso deve ser feito com respeito e respeitando a soberania dos povos, como reza a carta das Nações Unidas o documento mais importante da diplomacia mundial que Bolsonaro vem pisando a cada dia.
Eu como médico do Programa Mais Médicos, formado em Cuba e já revalidado e especializado aqui, vi como este programa melhorou a vida do nosso povo pobre ao aplicar o que aprendemos na formação em Cuba, a solidariedade, o humanismo, o compartilhar a dor do outro, pois somos iguais e não superiores.
Escravos são aqueles mercadores da saúde que se vendem por dinheiro, nós somos médicos de ciência e consciência, que priorizamos a vida do próximo antes de qualquer coisa.
Agradeço de coração a Cuba e aos seus médicos por trazer a esperança a muitos que já a haviam perdido. O que poderá substituir o cuidado e amor que estes médicos deram ao nosso povo??
Leandro Nascimento Bertoldi

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

A gulodice das grande livrarias e sua decapitação


Não há crise do livro, e sim do mercado editorial
A República -Thales Guaracy ( https://bit.ly/2DSfX76 ) publica uma matéria  sobre o livro x mercado editorial, que abre os olhos de muitos que compram livros, mas não compreendem a engenharia capitalista das grandes livrarias do país e quiça do mundo oriental .Thales nos esclarece o engendramento do capital feito  pelos livreiros e que recai no autor e editor. O livro nada ou quase rende aos pequenos e iniciantes escritores.Os de alto porte sim, ganham algo,mas não tão admiravelmente como se pensa.O livro vende,que o diga a Amazon e até mesmo média e pequenas livrarias.A web atrapalhou um pouco o mercado, isto é evidente,mas não fez tombar o leitor.

Ruy, que criou a megastore: o mercado mudou, as livrarias, não
Por Thales Guaracy
Tem circulado pelo Whast App um texto atribuído ao editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, incentivando as pessoas a comprarem livros neste Natal, por "amor ao livro", e para ajudar o mercado a reerguer-se, após o pedido de concordata das livrarias Cultura e Saraiva. Responsáveis por quase metade do faturamento do mercado, sua inadimplência ameaça agora levar de roldão também as editoras brasileiras.
Schwarcz, que deu uma grande contribuição para a qualidade editorial no Brasil, recentemente vendeu sua participação na editora que fundou, para sua antiga sócia, a americana Penguin Randon House. Ficou ainda no comando executivo da empresa, mas livrou-se diretamente da responsabilidade pela encrenca financeira. No texto, lamentou ter que demitir funcionários, segundo ele, pela primeira vez na história da empresa. 
O problema com o livro, porém, não é falta de amor. Nem mesmo há um problema com o livro. Apesar da crise econômica em geral, e do varejo em particular, as vendas de livros vão relativamente bem. De acordo com a pesquisa Nielsen/SNEL, as vendas de livro cresceram este ano 3,6% em volume até outubro, em relação o mesmo período do ano passado, e 5,4% em valor. "Não há uma crise de demanda", afirma Antonio Cestaro, editor dos selos  Alaúde e Tordesilhas.
A culpa pela crise das livrarias não é do livro, ou do cliente - o leitor. É das próprias grandes empresas que, sem visão de mercado, do leitor e dos negócios, tomaram as piores decisões possíveis nos últimos anos.
É difícil de acreditar, porque na realidade vender livro no Brasil é o melhor negócio do mundo. Em grande parte, as livrarias pegam o produto em consignação. Isso significa que só pagam as editoras quando o livro foi vendido, isto é, quando já receberam o dinheiro do cliente. E o que não foi vendido é devolvido. Todo o risco e qualquer prejuízo cai na conta do editor.
Mais: o desconto das livrarias (a margem de lucro sobre o livro) é de 40% a 50% sobre o preço de venda. E as livrarias costumavam pagar as editoras em 60 a 90 dias.
Nenhum outro mercado concorrencial em todo o planeta oferece essas condições comerciais, draconianas para clientes e fornecedores. Como, então, em condições tão favoráveis, a livrarias conseguiram quebrar?
Por uma grande razão: nos últimos anos, as maiores redes de livrarias simplesmente deixaram de vender livros.
A era das megastores começou no Brasil com a Saraiva, que se inspirou no modelo da FNAC, adotado por seu principal executivo, Ruy Mendes Gonçalves, falecido em 2011, como ele mesmo assumidamente contou em seu livro de memórias, "O Serelepe". A empresa francesa abrira grandes lojas que vendiam não apenas livros, como um mix de produtos de maior valor agregado: CDs, DVDs e aparelhos eletrônicos.
Na França, foram aprovadas leis para limitar os descontos na internet e assim proteger a venda de livros em livrarias. O modelo da FNAC, porém, se desgastou. Ela foi a primeira das grandes redes de livrarias do mundo a entrar em parafuso, antes mesmo da crise nas livrarias americanas, que sofreram forte impacto com a entrada da Amazon no mercado.
A razão não foi o livro, produto que sofreu pequena mudança de hábito de consumo, já que muitos leitores continuam preferindo o papel. Já o DVD e o CD desapareceram, com seu conteúdo vendido no formato digital. Os produtos eletrônicos, se têm um preço mais alto, são um negócio com uma margem de lucro muito menor. E aí as livrarias enfrentam não apenas a concorrência de outras lojas de varejo como das próprias fabricantes, como a Samsung e a Apple, que fazem a venda vertical ou direta.
Dessa forma, o que era um bom negócio, como foi para a Saraiva no início das megastores, deixou de ser tão bom assim. Enquanto o cliente entrava na loja e não achava o livro que queria - uma venda perdida-, as livrarias mantiveram um grande espaço físico para produtos que pouco ou nada vendiam e davam margem de lucro muito baixa - CDs, DVDs e eletrônicos.
Por conta do modelo FNAC, a Saraiva nos últimos anos vinha com uma margem de cerca de 5% - menos que uma caderneta de poupança. É algo ruim para uma empresa aberta no mercado de capitais, onde é preciso estimular o interesse do investidor, que procura um retorno maior que o do mercado financeiro. Embora gerasse mais de um bilhão de reais de faturamento, espremendo tudo, no final a Saraiva saía com um lucro operacional de menos de 50 milhões ao ano, quando saía.
Ofuscada pelas desafiadoras mudanças do mercado digital, a empresa se perdeu de vez. Endividou-se, para pagar dívidas vendeu por cerca de 700 milhões de reais a editora - sua empresa lucrativa, que fazia, ora vejam, livros - mas nada resolveu, porque continuou sem lucro. E a dívida voltou a crescer, até chegar aos declarados 600 milhões de hoje que a puseram na lona.
A Cultura, também apegada à fórmula da megastore, fez um programa de expansão que lhe custou caro. Abriu novas superlojas, planejando fazer um IPO - abertura de capital - justo num momento de dúvida sobre o futuro do livro. Não conseguiu abrir o capital e ficou sem o dinheiro para cobrir os investimentos realizados, dando um passo em falso.
No mundo inteiro, o mercado do livro passou por uma crise. Muita gente começou a comprar livros pela Amazon, um negócio muito eficiente, apenas pela internet. Aos poucos, porém, as livrarias físicas se recuperaram. A Amazon não foi o fim do livro, nem das livrarias, muito menos o motivo para a queda da Cultura e da Saraiva, duas empresas que estavam na liderança da venda de livros impressos e digitais também no meio virtual.
Hoje, pode-se ver o Magazine Luiza como um exemplo de empresa de varejo que deu certo na era digital e cresce a olhos vistos. A Luiza consegue vender seus produtos a preço baixo tanto na internet quanto na loja física e se aproveita da existência das lojas da rede em todo o país como vantagem, usando-as como centros de distribuição para a entrega rápida do produto comprado no meio digital.
* leia toda matéria no endereço-  https://bit.ly/2DSfX76

sábado, 1 de dezembro de 2018

MÉXICO - POSSE DO PRESIDENTE OBRADOR -AMLO recibe el "Bastón de Mando" en un acto indígena

Emocionante  a posse de Andre Manuel  Lopez Obrador (e sua esposa) - no Zocalo-centro da cidade do México.Ele é o primeiro presidente a receber o bastão de Mandatário por representante  de 68 nações  indígenas.O ritual é a cara de nosso povo Latino Americano, sofrido, com horrores de seu      vizinho Americano EUA.Jamais um ritual assim ocorreu antes é demasiado humano !       









Leiam o que diz jornal Público PT
https://bit.ly/2U6cuHv

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O voto com livro na mão-captura do Facebook- Regina Dalcastagnè

Quase sempre replico postagens de |Regina Dalcastagnè, e não se faz necessário maiores comentários.Este segue o mesmo princípio-leiam...abs Regina-Paulo Vasconcelos




Escrito por Regina Dalcastagnè e Rosilene Silva da Costa (imagem: Karina Freitas)

Regina replicou ,do Suplemento Cultural de Pernambuco matéria sua  e Rosilene Silva  Costa(https://bit.ly/2DUX7wG) para o seu face, aqui capturo,leiam abaixo-Paulo Vasconcelos.
O segundo turno das eleições presidenciais de 2018 no Brasil movimentou um material de campanha inusitado: os livros. Levados às urnas por eleitores de Fernando Haddad, não só expressavam apoio ao candidato, mas também serviam de protesto silencioso contra a campanha difamatória – encampada por Jair Bolsonaro, mas crescente no país nos últimos anos – em relação aos professores, aos artistas e aos intelectuais.
Essa eleição foi marcada pela disseminação de notícias, verdadeiras e falsas, pelas redes sociais. Muitas ações e reações dos eleitores também surgiram das redes, como o movimento Ele Não! – que nasceu de um grupo fechado, mas tomou as ruas do país. Foi neste contexto que a ideia de levar um livro para votar surgiu e se propagou rapidamente.
Como uma espécie de resposta às fotos e vídeos postados por eleitores de Jair Bolsonaro no primeiro turno, nos quais apareciam votando com armas, o movimento foi uma iniciativa espontânea, isto é, não partiu de marqueteiros, mas de eleitores comuns. Como ação de campanha, com certeza tinha potencial muito limitado, pois ocorreu no momento já da votação e apresentava um caráter talvez enigmático para quem não participava dele, seja por não acessar as redes sociais, seja por não entender o contexto político em que isso se deu. Assim, a ideia não era conquistar eleitores, já que dificilmente se viraria algum voto dessa forma. Seu sentido parecia ser mais estabelecer uma identidade e marcar, para aqueles que a compartilhavam, um compromisso de resistência. Porque, mesmo no caso da improvável vitória do candidato do PT, a resistência seria necessária – e o livro simboliza a resistência contra o anti-intelectualismo, a ignorância militante, a incultura, a barbárie e o silenciamento daqueles que pensam ou agem de forma diferente.
O livro tornou-se um emblema do candidato professor, assim como a arma era o de seu adversário. Livro versus arma, cultura versus violência, vida versus morte: o simbolismo é quase óbvio demais.
No dia da eleição, as pessoas postavam suas fotos com o título eleitoral e a obra escolhida nas mãos. Em seguida, alguns começaram a juntar as fotografias e elas já davam uma dimensão do alcance do movimento. Com o intuito de entender melhor a mensagem que se queria passar, organizamos uma espécie de levantamento dos livros selecionados, utilizando, também, as redes sociais como espaço para sua divulgação. Um questionário bastante simplificado foi preparado no Google Docs e disponibilizado em nossas páginas do Facebook, ficando aberto para respostas durante cinco dias.
A ideia nunca foi realizar uma pesquisa com base científica. Feito no calor do momento, o questionário tem fragilidades que logo se tornaram evidentes. Os respondentes não são uma amostra estatisticamente significativa; de fato, quanto mais próxima a pessoa estivesse de uma de nós nas redes sociais, maior a chance de tomar conhecimento do levantamento e dele participar. Em suma, é um divertimento interessado, motivado pela curiosidade e pelo desejo de produzir um registro um pouco mais estruturado deste movimento tão singular.
O alcance do levantamento foi maior do que esperávamos. No total, recebemos 8314 respostas. Conseguimos respostas de todas as unidades da federação e também de eleitores que votaram no exterior. Mas, uma vez que a amostragem não é científica, não dá para saber se de fato as porcentagens correspondem à adesão ao movimento pelo país. Foram 22% de respostas vindas de São Paulo, 17% do Rio de Janeiro, 10% do Rio Grande do Sul, 9% do Distrito Federal, 8% de Minas Gerais. Certamente a presença do DF em meio aos grandes colégios eleitorais é um viés da pesquisa, dado que é o local de moradia e trabalho das organizadoras. Cabe destacar que para responder ao questionário, a pessoa precisava estar autenticada ("logada") em sua conta no Google, assim, em tese, as respostas foram singulares, pois a mesma conta só poderia acessar o documento uma única vez.
O questionário foi respondido majoritariamente por mulheres (72%). As idades dos respondentes são muito variadas, incluindo de jovens de 16 anos a idosos. A maioria (85%) possui formação superior – incluindo aqui os 19% com doutorado. Outros 12% ainda estão na universidade. No entanto, nove pessoas com nível fundamental, completo ou incompleto também responderam ao questionário, bem como 288 pessoas com nível médio, concluído ou incompleto.
As profissões, como não poderia deixar de ser, tendo em vista não só os dados anteriores, mas também a natureza do movimento, estão especialmente vinculadas ao mundo acadêmico. Foram 2.913 respostas vindas de professoras/es, isto é, 35% do total, além de 1.021 de estudantes e outras 303 de outros profissionais ligados à educação. Profissionais da cultura somaram 617, da comunicação, 379, e da saúde, 287. Os servidores públicos, que estão sendo ameaçados e coagidos cotidianamente, somaram 845 respondentes.
Se entendemos esse gesto como algo que mobilizou especialmente pessoas vinculadas à educação, não é de se estranhar que o autor que mais frequentou as urnas tenha sido Paulo Freire. O educador pernambucano, que é com certeza o intelectual brasileiro mais admirado no mundo, tornou-se alvo preferencial do projeto ultraconservador Escola Sem Partido, que combate ostensivamente sua pedagogia crítica e emancipatória. Pois nada menos do que 700 respondentes disseram que levaram um livro de Paulo Freire consigo na hora de votar.
Outro nome importante da educação brasileira, Darcy Ribeiro, também apareceu bastante – 91 vezes – nas respostas ao questionário.
O segundo autor mais citado foi o sociólogo Jessé Souza, presente 246 vezes. Com forte atuação na denúncia do golpe de 2016 e do atual avanço da extrema-direita, Souza publicou nos últimos anos uma série de livros de intervenção no debate público. O título do mais citado pelos respondentes é, em si mesmo, um manifesto sobre a situação nacional e aquilo que a candidatura de Bolsonaro representava: A elite do atraso.
Em seguida, surgem os primeiros autores de ficção, ambos estrangeiros: José Saramago (176 citações) e George Orwell (167 citações). Não por acaso, a lista de livros destaca obras de ficção distópica. Além de Ensaio sobre a cegueira, de Saramago, e de 1984 e A revolução dos bichos, de Orwell, aparecem, entre os mais citados, Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, e O conto da aia, de Margaret Atwood, por exemplo.
O romance de Atwood se encaixa também em outro destaque do levantamento: a presença expressiva de livros que discutem a condição feminina. Muitos focando em especial as mulheres negras, como as obras de Angela Davis, Chimamanda Ngozi Adichie, Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus – mas também foram bem citadas a autobiografia de Malala Yousafzai, a biografia de Olga Benário e os diários de Anne Frank.
Eduardo Galeano, o quinto autor mais citado (158 menções), sinaliza outro aspecto da resistência literária nas urnas: a reivindicação de nossa identidade latino-americana. Em seguida, aparece o Projeto Brasil Nunca Mais, isto é, a autoria coletiva do primeiro grande mapeamento sobre as violações dos direitos humanos durante a ditadura militar, feito clandestinamente, ainda sob a vigência dela, sob a coordenação de líderes religiosos como o cardeal Paulo Evaristo Arns, o pastor Paulo Wright e o rabino Henry Sobel. As 140 citações ao livro Brasil: nunca mais se endereçam a um dos desdobramentos mais chocantes da campanha eleitoral: a entronização de um torturador, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, como “ídolo” do presidente eleito e de seus seguidores. Quando candidato, Bolsonaro chegou a dizer, em meio a gargalhadas, que as memórias do torturador eram seu livro de cabeceira.
Outras obras muito lembradas nas respostas ao levantamento também reagem, de maneira bastante evidente, à conjuntura imediata. A Bíblia marca uma oposição à instrumentalização da religião pela extrema-direita e a afirmação de uma compreensão diversa do que pode significar o cristianismo. A Constituição Federal é o texto produzido após o final da ditadura que consubstancia o pacto democrático, hoje em processo de dissolução. A verdade vencerá é a entrevista do ex-presidente Lula, cuja prisão, pelo futuro ministro da Justiça de Bolsonaro, foi determinante para o resultado eleitoral.
Marx frequenta a lista como representante máximo do projeto transformador e do pensamento crítico que a direita brasileira busca erradicar. Já autores cuja posição diante dos retrocessos atuais são no mínimo ambígua, como Elio Gaspari ou Zuenir Ventura, devem ter sido lembrados por posições anteriores ou pelo título de suas obras (o livro mais citado de Gaspari foi A ditadura envergonhada).
Vale ressaltar que a motivação dos leitores foi assunto de uma das perguntas do questionário e que 5014 pessoas responderam que o livro levado foi escolhido pelo que significava para elas, mas também para passar uma mensagem a quem via a obra em suas mãos.
Em suma: as listas com os autores e os livros mais citados, que seguem abaixo, trazem uma mistura interessante de obras que refletem sobre o país, mais especificamente sobre educação, autoritarismo, feminismo, racismo, direitos humanos e democracia. Mas não poderíamos deixar de citar aquelas obras que parecem ter sido levadas como uma declaração de afeto à literatura, como Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, A menina que roubava livros, de Markus Zusak, ou Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.
Nem sempre o livro, louvado como objeto de cultura, de civilização, do que a humanidade é capaz de produzir de melhor, realmente emana tantas virtudes. O livresco pode ser também um mecanismo de elitismo e de exclusão. Mas, no dia 28 de outubro de 2018, no vasto e infeliz país chamado Brasil, o livro encarnou suas melhores qualidades e foi o símbolo vivo da inteligência, da diversidade, da educação, do pacto de resistência e, até, do amor que, esperamos, um dia realmente há de vencer o ódio.

AUTORES 
(a partir de 40 citações)
Paulo Freire – 700
Jessé Souza – 246
José Saramago – 176
George Orwell – 167
Eduardo Galeano – 158
Projeto Brasil Nunca Mais (Brasil: nunca mais) – 140
Hannah Arendt – 115
Angela Davis – 105
Machado de Assis – 97
Darcy Ribeiro – 91
Bíblia – 83
Margaret Atwood – 87
Karl Marx – 72
Djamila Ribeiro – 71
Gabriel García Márquez – 66
Chimamanda Ngozi Adichie – 65
Constituição Federal – 65
Márcia Tiburi - 65
Carolina Maria de Jesus – 62
Guimarães Rosa – 59
Graciliano Ramos – 56
Conceição Evaristo – 53
Elio Gaspari – 50
Carlos Drummond de Andrade – 49
Clarice Lispector – 49
Zuenir Ventura – 46
Anne Frank – 45

LIVROS 
(a partir de 20 citações)
Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire – 256
Pedagogia da autonomia, de Paulo Freire – 213
A elite do atraso, de Jessé Souza – 192
Brasil: nunca mais, de Projeto Brasil Nunca Mais – 140
Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago – 124
As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano – 107
1984, de George Orwell – 103
Bíblia – 83
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis – 68
O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro – 66
Constituição Federal – 65
O conto da aia, de Margaret Atwood – 64
A revolução dos bichos, de George Orwell – 58
Pedagogia da esperança, de Paulo Freire – 56
Mulheres, raça e classe, de Angela Davis – 54
Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus – 48
O diário de Anne Frank – 46
Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa – 45
1968: o ano que não terminou, de Zuenir Ventura – 42
Como conversar com um fascista, de Márcia Tiburi – 38
Origens do totalitarismo, de Hannah Arendt – 38
Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago – 32
Fahrenheit 451, de Ray Bradbury – 32
O livro dos abraços, de Eduardo Galeano – 32
Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt – 31
Quem tem medo do feminismo negro?, de Djamila Ribeiro – 31
Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt – 30
O que é lugar de fala?, de Djamila Ribeiro – 29
A verdade vencerá, de Lula – 29
Vidas secas, de Graciliano Ramos – 29
A hora da estrela, de Clarice Lispector – 28
A tolice da inteligência brasileira, Jessé Souza – 28
Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro – 27
Eu sou Malala, de Malala Yousafzai – 26
Olga, de Fernando Moraes – 26
Admirável mundo novo, de Aldous Huxley – 25
Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez – 24
Educação como prática da liberdade, de Paulo Freire – 24
A ditadura envergonhada, de Elio Gaspari – 24
Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda – 24
A resistência, de Julián Fuks – 24
Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre – 23
A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade – 23
O capital, de Karl Marx – 22
A condição humana, de Hannah Arendt – 21
Educação e mudança, de Paulo Freire – 21
A menina que roubava livros, de Markus Zusak – 21
Dom Quixote, de Miguel de Cervantes – 20

>> Regina Dalcastagnè é pesquisadora e professora (UnB), autora de Literatura brasileira contemporânea: um território contestado.
>> Rosilene Silva da Costa é pesquisadora (UnB). Possui experiência na área de Educação – trabalha com literatura, formação de professores e direitos humanos.

domingo, 25 de novembro de 2018

Carta aberta de um juiz federal à juíza substituta de Sergio Moro








A ditadura togada  manifesta-se na leitura do comportamento da Juíza substituta do Sr.Sérgio

Moro.Lembra-nos o Sr. Juiz da Bahia diante da empáfia da senhora juíza e que contamina,

ou tenta contaminar o povo com o viés de autoritarismo e que vem se expandindo no país.

O pragmatismo político trás a matéria abaixo. Paulo Vasconcelos (https://bit.ly/2RdiX1I)

Carta aberta juiz federal juíza substituta de Sergio Moro Lava Jato Lula
Gabriela Hardt (reprodução)
João Batista de Castro Júnior*
Antes da Lei 11.719/2008, que introduziu alteração no Código de Processo Penal, o réu era 
citado ordinariamente para ser interrogado por um magistrado acompanhado de um 
escrivão que digitava todas as frases começando sempre com “que”. Não raro um 
lapso condenatório do juiz e/ou do digitador escapava: “que, mesmo sendo verdade, 
insiste em dizer que não é verdade” etc.
Ainda nessa época, todo cuidado era pouco por parte do acusado, pois a recepção 
Judiciária ainda estava presa a intenso formalismo, quase que se assemelhando 
àquele antigo exemplo encontrável em Gaio (jurista romano que morreu em 180 da era 
cristã), nas suas famosas Institutas, de um indivíduo “agindo por causa de videiras 
cortadas”, o qual, ao dizer, perante o juiz, a palavra vites em vez de arbor, terminou por
 perder a ação, uma vez que a Lei de XII Tábuas falava de árvores cortadas em geral.

A Lei 11.719/2008 surgiu, então, para ser e reafirmar-se ser um marco miliário da teoria 
do processo penal: o interrogatório é primacialmente meio de defesa do réu 
e, secundariamente, meio de prova.

Dez anos já se foram, mas ainda tem juiz(íza) preso(a) ao passado, o que, tratando-se 
das práticas jurídico-judiciárias, não é novidade, pois as roupas continuam inadequadas 
ao climas dos trópicos, a linguagem insiste em imitar (mal, saliente-se) uma norma 
padrão própria do modelo gramatical do início do século XX, quando começou a 
parábola descendente do bacharelismo oco e retórico, os padrões litúrgicos teimam em 
ser fortemente rococó etc.

No ambiente virtual contemporâneo, esperava-se a adaptação dos magistrados a um 
novo modelo. Mas o que se viu no interrogatório de Lula hoje, dia 14 de novembro, 
foi o passadismo mostrando sua força na cena jurídica, ou seja, um acusado sendo 
tratado como condenado, não como réu que tem em seu favor a presunção de inocência.
Se Moro nunca esteve à altura de um cargo que exige imparcialidade, e isso se tornou
 mais que evidente ao aflorarem suas dissimuladas ambições políticas nos últimos dias, 
muito menos parece merecê-lo sua sucessora, a juíza federal substituta Gabriela Hardt, 
que, na audiência de interrogatório, mostrou toda sua inabilidade para pelo menos posar
 de imparcial ao vociferar: “senhor ex-presidente, esse é um interrogatório. E se 
o senhor começar nesse tom comigo, a gente vai ter um problema”.
]
Que problema, que problema, Gabriela? Se ao réu é dado até ficar em silêncio sem que 
-isso arranhe sua defesa, como assegura o Código de Processo Penal (art. 186, 
parágrafo único), como admitir que deva ter um tom para falar e um barema lexical do 
que possa dizer?

Pelo que se vê, está faltando mais esforço de credibilidade no caráter imparcial 
dos julgadores de Lula, porque, quando um juiz não é imparcial, mas tem que fingir 
sê-lo, deve ao menos fazer um melhor esforço teatral de demonstrar que o é.
Costuma-se ensinar em Análise do Discurso que o que se diz nem sempre é tão 
importante quanto a circunstância que envolve o não dito.

Ao declarar “se o senhor se sente desconfortável, o senhor pode ficar em silêncio”,
 a magistrada incriminou-se mais do que seguramente tentará fazer com Lula na 
sentença condenatória que está por vir, pois juiz algum pode induzir um acusado 
a ficar em silêncio, a não ser que tema que o depoimento constranja não só 
os acusadores como a mais recente e bizarra criação jurídica do direito 
brasileiro, nascida em Curitiba,o juiz-acusador.

Convenhamos: na encenação judiciária de baixo estofo que se instalou no caso Lula, 
morre-se de medo da paixão oratória dele, até no STF, que cometeu a atrocidade de 
vetar sua entrevista. Goste-se ou não, o ex-presidente humilhou Moro, que, perdido na 
sua ruminação de desforço vingativo, se deixava alimentar ainda mais pelo desejo 
de condenar a cada lance eloquente do interrogatório no caso do tríplex.

Agora, a juíza, temerosa de que a eloquência de Lula passasse também por cima 
dela,logo denunciou sua limitação intelectual: “se ele fugir do assunto e começar 
com discurso político, doutor, infelizmente, eu estou comandando a audiência e vou 
ter que cortar”.

O que você sabe, Gabriela, de discurso político? Sabe ao menos o significado dado 
pela Ciência Política? Não, né, não sabe, pois os manuais recheados de macetes 
com que se consegue aprovação em concursos da magistratura e do ministério 
público passam longe desse tipo de incursão.

Portanto, um réu pode falar o que quiser em seu interrogatório, desde que não 
produza ofensas, pois não se sabe qual é a estratégia de defesa. Portanto, a juiz algum 
é dado interferir nessa configuração defensiva, a menos que não disfarce seu 
propósito condenatório.

Mas vou ainda, Gabriela, lhe puxar a orelha com uma última lição sobre sua aberração 
de incitar o réu a ficar em silêncio. 
É bem provável que isso nunca chegue a seu conhecimento. Mas, vá lá, não vou me furtar 
de fazê-lo: quando, em um interrogatório,se induz ILEGALMENTE um réu a ficar em 
silêncio, quer-se no fundo produzir o que se conhece como argumentum ex silentio,
 ou seja, uma evidência presuntiva de que a pessoa deixou de mencionar algo 
embora estivesse em condições de fazê-lo.

Dou-lhe um exemplo clássico, porque conheço bem as limitações intelectuais da 
formação jurídica: nos seus diários, Marco Polo diz ter visitado a China, mas não 
cita a Grande Muralha, o que abriu uma enorme controvérsia historiográfica se teria 
mesmo estado naquela região.
Mas, antes de qualquer coisa, fique advertida da lição dada por Sven Bernecker e 
Duncan Pritchard: “argumentos pelo silêncio são, invariavelmente, bem fracos; há 
muitos exemplos onde este tipo de argumentação nos levaria a lugar nenhum” 
(The Routledge Companion to Epistemology, Routledge, 2012, p. 64-5).

Mas nós sabemos aonde as imputações contra Lula querem chegar, não é mesmo? 
Afinal, até o presidente eleito, que não detém qualquer poder legal sobre o assunto, 
mas é chefe de fato do juiz que encarcerou o ex-presidente, já declarou que este
 irá “apodrecer na cadeia”.

Em arremate: não é segredo como isso terminará e só me darei mesmo em breve ao 
trabalho de criticar os aspectos técnicos da anunciada futura sentença condenatória
 porque tenho muitos alunos e alunas interessados em conhecer as vísceras da
 estupidez jurídica que se abateu sobre o País.

*
João Batista de Castro Júnior é juiz federal e professor doutor do Curso de Direito ]
da Universidade do Estado da Bahia.
*NEGRITO EM NOSSA EDIÇÃO!