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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Pablo Neruda para os jovens na ditadura



No mais recente 12de julho, o mundo inteiro comemorou o dia do nascimento de Pablo Neruda. No Brasil, passamos ao largo e fundo em nossa ignorância. O que é mais um sintoma dos tempos bárbaros que atravessamos. Para que poesia? Para que lembrar um poeta comunista, ainda que dos maiores da civilização? Então recuperemos o que sempre nos falou a poesia de Pablo Neruda a seguir.
A primeira vez em que lemos o poeta, ele nos chegou no livro Vinte poemas de amor e uma canção desesperada. Destaco o que mais sentíamos:
"Poema 20
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.
Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo".
Mais adiante, iríamos conhecer o Canto Geral, o Confesso que Vivi, o Cem Sonetos de Amor, do qual é impossível não citar este magnífico:
"Poema XLIV
Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.
Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.
Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo".
Mas não conhecíamos tal beleza de Neruda sob o ditador Médici, quando a poesia era ao mesmo tempo resistência e luxo. Que luta íntima atravessávamos, meu Deus. No romance "A mais longa duração da juventude", me refiro ao pensamento do narrador, num aceso de discussão no Pátio de São Pedro, no Recife:
"Pregar a revolução com palavras e música é uma coisa. Fazer a revolução é outra coisa, eu diria, se soubesse em 1972 os acontecimentos de 1973. Mas ainda ali, percebo agora, eu seria injusto até a estreiteza e maledicência. Então os artistas não podem expressar o sentimento que corre na gente? Então é justo acusar de leviano, de traidor da revolução, quem escrever como homem poético o homem prático? Só a raiva, no que tem de embrutecedora, verá a canção da luta armada no Brasil dessa maneira. Se assim fosse justo e real, o que dizer de Lorca, de Víctor Jara, até mesmo de Neruda?"
Páginas depois, na praia de Porto de Galinhas, o romance narra um diálogo impossível de sensibilidades, quando o personagem Zacarelli faz a corte à musa do coração, que não o deseja:
"- Posso escrever os versos mais tristes esta noite – cito o verso.
- Mas é dia de sol, rapaz. – Alberto fala. – Pra que tristeza?
- Eu sei – respondo. – Eu me lembrei do poeta Neruda.
- Neruda é alegre mesmo quando fala de tristeza – Zacarelli fala. E olha para Iza: - Ninguém fala melhor sobre o amor que Neruda.
- Eu gosto mais de Vinícius de Moraes – Iza responde.
- Sim, ele também – Zacarelli se corrige rápido. – Aliás, em muitos poemas Vinícius é melhor que Neruda.
Iza sorri para a corte. O arqueiro incansável parece ter acertado uma flecha entre a defesa do castelo. No centro da ameia, o sorriso indica que foi alcançada, parece. Mas aparência, ar de bem-aventurança não significa aceitação do amor, como o julga a carência masculina. Quem está defendido para o engano? Zacarelli bem menos, pelo que começa, sentado na areia da praia. Cruza os braços, descruza-os, quer se sentir em uma cadeira imaginária, e só lhe resta apoiar os dois braços atrás de si. Mas assim posto ele perde eloquência, insubstituível para assaltar a pretendida, a que foi atingida no coração, na ameia do castelo. Então ele se curva para a frente e cruza as pernas como um iogue, numa acrobacia. E com as mãos de auxílio, fala:
- Vinícius tem uma qualidade a mais que Neruda: compõe música. Neruda não é compositor, é só poeta.
- Só? – pergunto.
- Entenda. Eu não estou dizendo que ser poeta é uma coisa menor. Mas o fato é que Vinícius joga bem em duas posições.
- Mas na poesia esquerda não joga como Neruda – volto.
- Você está certo – Alberto me apoia, embora não tenha lido uma só linha de Neruda. Mas conhece a fama do poeta comunista. Zacarelli sente a cisão. Ainda assim, não vai perder o coração de Iza. E rápido, avança:
- Eu acho que os poemas de ambos são em essência revolucionários.
Terrível, a reação feminina. Iza, Anita, Luísa, até mesmo Nelinha, adiantam os rostos como felinas a se dizerem "não me diz respeito". E o nosso amigo perde o cerco à fêmea. Então vai mais certeiro, o combatente cortejador:
- Quem fala bem sobre o amor, fala bem da revolução. É claro, mesmo que não queira, todo poeta é comunista. Mas quando expressa bem o amor, ele é um revolucionário em essência. Vinícius de Moraes tem uma composição que é sublime. Aquela que fala "ó minha amada de olhos ateus, teus olhos são cais noturnos cheios de adeus". Todo grande poeta socialista assinaria. Você não acha?
As estudantes de medicina assentem, mudas aprovativas. Ah, para quê? Não vá o artista acreditar no sucesso, nem vá o toureiro acreditar no olé do público da arena. Volta Zacarelli:
- Todos nós somos poetas. Quando estamos sob o fogo da paixão... – e ousado olha intenso para Iza - Todos nós no amor somos poetas. Por exemplo, – o louco avança mais – eu próprio seria capaz de escrever poesia agora. – E olha de novo somente para Iza, à beira do suicídio completo: - Você não acha?
- Eu não entendo de poesia – Iza responde. – Os meus poetas podem cantar em vão.
E sorri, desta vez em outro tom, num prenúncio de gargalhada. Zacarelli me falou, muitos anos depois, que ela sorriu como as vilãs de telenovelas gargalham. Que sorriso estúpido para uma imersão poética.
- Ali, ela mostrou o próprio nível – ele me falou, 30 anos depois. Mas não agora, enquanto ela sorri, no que é acompanhada por Luísa e Anita. Em mim se levanta uma nuvem de solidariedade ao amigo, de empatia, por ver nele uma condição que também podia ser minha. E falo, nada diplomático, agredido também pela quase zombaria:
- É uma falta grave não gostar de poesia.
- Eu não disse que não gosto – Iza responde. – Eu disse que não entendo.
- Mas a gente entende a poesia com o coração – respondo. – Não é preciso fazer uma análise científica.
Luísa levanta as suas coxas morenas, impudica, adepta do claro futuro dos medíocres:
- Iza está certa. Ela não tem obrigação de entender poesia. Ela tem outras preocupações.
- Mais poéticas? – pergunto.
- Sim, Ela deseja ser uma boa médica. Essa é a sua poesia.
- Entendo – Zacarelli murmura. Ele pode atacar, mas não sabe a medida. Pressente que a sua resposta seria a confissão de um talvez amante derrotado. – Entendo –e olha para nós. O olhar é um pedido de socorro, deseja 'uma pequena ajuda dos meus amigos', e nos diz sem fala: elas não fazem parte do nosso clube.
- Ela é uma médica consciente da sua poesia – eu digo.
- Isso mesmo – Iza responde, sem entender a ironia. – As pessoas são diferentes. Umas gostam mais de poesia, outras menos, outras nem gostam. Nós vamos mudar o mundo?
- Pretendemos – Zacarelli fala.
- É tudo que a gente quer. Vocês não? – Alberto pergunta.
- Sim Mas à nossa maneira – Iza fala.
- Gente, vamos beber – Tonhão fala em nome da boa vizinhança.
- À revolução – Zacarelli ergue o copo, com raiva.
- A todos nós – Narinha fala.
Naquela manhã, nos chegou o conhecimento de que não ficaríamos bêbados por mais que bebêssemos. Levantamos os braços, fizemos pose em uma jangada na praia com os punhos fechados. Quisemos até subir no coqueiro, o que não conseguimos por absoluta inabilidade. Mas lá no alto, se um de nós pudesse ver adiante, falaria: senhores, seremos postos à prova de toda nossa convicção poética. Barbárie à vista".Leia o 
*URARIANO MOTA
Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

segunda-feira, 30 de julho de 2018

80 ANOS SEM LAMPIÃO (LÁGRIMAS) Capturas do Face







Foto por METRO -https://bit.ly/2JtEthY-




A história move-se com o tempo, como o homem, mas como a morte nos degola, ela, a memória, se vai  e fica só o registro escrito; as mídias não têm uma agenda que contorne todos os fatos,a exemplo de Lampião.Mas, pode ser também   desinteresse por tal figura histórica, para  jogá-la ao esquecimento, como tão bem o faz o  jornalismo-PIG, sabe fazê-lo, e como sabe!
Prof. Dr. Florisvaldo Mattos,UFBA, já muitas vezes aqui presente, novamente vem por uma  captura do seu blog e face para contemplar esse homem, Virgulino Ferreira que se tornou um mito em todo o Brasil e especialmente no Nordeste.Marco das lutas da desigualdades do país, Lampião enfrentou o estado, o poder repressor e fez e desfez face os desmandos das oligarquias ajuntadas as manobras  do Estado, à época. Um estado com população Rural a época, as mudanças para o meio urbano, os centros cosmopolitas criaram outros bandos no meio da política e da elite, aliás a elite ja apoiava Lampião e o tinha muitas vezes como uma longa manus do seu poder. São Paulo teve seu cangaceiro também pouco se fala nele, Diogo da Rocha Fiqueira, Botucatu-1863-1897.
https://bit.ly/2LJGXtT

 FOTO  DO ACERVO DE  ANTONIO FERNANDO
PEREIRA PEREIRA NO FACEBOOK 


Frederico Pernambucano de Melo d Fundação Joaquim Nabuco, Pe, traduziu bem o cangaço com sua lupa de bom pesquisador, vasculhando, tudo ou quase tudo sobre o mesmo,mas vamos ao que nos fala o Florisvaldo:
Paulo Vasconcelos









Florisvaldo Mattos
19 h
80 ANOS SEM LAMPIÃO (LÁGRIMAS)

Numa época em que o jornalismo já não mais se interessa pelo registro de datas redondas de acontecimentos significativos para a história, a antropologia social e a cultura, o jornalista Moisés Suzart postou um texto sobre os 80 anos da morte do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira, 1898-1938) e o restante de seu bando na gruta de Angicos, que transcorrem precisamente hoje, permanecendo suas cabeças expostas por muitos anos como atração no Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, até serem sepultadas no Cemitério da Quinta dos Lázaros, ao fim de campanha encabeçada pelo hoje extinto Diário de Notícias, da qual fiz parte como repórter.
Anos depois escrevi um ensaio sobre Lampião e o banditismo do Nordeste como fenômeno social, publicado em meu livro "Estação de Prosa & Diversos" (1997).


Lampião recebeu a patente de Capitão da Guarda Nacional das mãos do Padre Cícero Romão, durante a visita que lhe fez em 1927 em Juazeiro do Norte, no Ceará, quando recebeu também armamento novo, inclusive fuzis modelo 1908, mais modernos e mais potentes que as tradicionais cruzetas, para serem usados contra a Coluna Prestes, o que não aconteceu. 


Segue abaixo cópia do texto de Suzart. (Ilustrações: o bando de Lampião, em 1928; Lampião, Maria Bonita e o fotógrafo Benjamin Abrahão e Lampião costurando numa máquina Sínger). E mais: o link de texto sobre Lampião e a "haute-couture" do cangaço, que escrevi e publiquei no extinto Caderno "Cultural", de A Tarde.
LAMPIÃO, 80

"No dia 28 de julho de 1938, há exatos 80 anos, um dos fatos históricos mais importantes do Nordeste, o cangaço, teve o primeiro capítulo do fim. Quando o sol que castiga o cangaço mal tinha despertado, Lampião, Maria Bonita e seu grupo foram pegos dormindo pelas volantes, beneficiadas pelo coiteiro traidor. Mal deu tempo de pegar na arma e lutar. Segundo relatos da época, tiros foram dados, mas fizeram questão de manter Maria Bonita viva, para que fizessem deus sabe o que com ela. Alguns dizem que foram degolados ainda vivos. As cabeças, exibidas como troféus, em pleno anos 30. 
O acréscimo do Banditismo ainda sobreviveu enquanto a cólera da vingança de Curisco, o Diabo Loiro, além de outra guerreira, Dadá, rondavam o Nordeste. O fenômeno do cangaço é algo fascinante, único e genuinamente brasileiro. Mostra uma história sem critério de valor, com o bem e o mal num eterno romance astral, parafraseando Raul. Lampião não foi santo. Foi herói, foi bandido. Teve sua patente de capitão patenteada pelo governo Vargas, que deu tal honraria para que Virgulino caçasse a Coluna Prestes pelo Nordeste. Por um tempo, Lampião andou na lei, sob o olhar de Padre Cícero. Porém, ou se morre herói, ou se vive o suficiente para se tornar vilão. Padim, quando Lampião não era mais necessário, deu de ombros e dobrou o ódio de Ferreira, coitado, que acreditou poder andar na lei. Lampião introduziu as mulheres no cangaço. Costurava roupas para seus companheiros. Amava, odiava. Foi político, benevolente e tirano. Tenho um Lampião tatuado. Não que ele seja o herói da minha vida, mas que melhor decifra o sangue nordestino. Um sangue sem critério de valor. Que é bom e mal, que sobrevive de todos os males com fé e esperança, castigado por todos, mas fortes como touros. 
Um dia, quem sabe, este fato histórico possa ser contado nos livros de história. Até o historiador Eric Hobsbawm dedicou um momento de sua vida para falar do cangaço. Ta lá, no livro Bandidos. Para ele, o fenômeno do cangaço era “uma reação dos excluídos”. O Banditismo social. Para Eric, os cangaceiros eram “Meio nobre, meio monstro”. Pensando profundamente, todos nós somos assim. Não? @ Angico, Sergipe, Brazil."
Fotos Florisvaldo Mattos


sábado, 28 de julho de 2018

LULA LIVRE -- Bordões ... Capturas do Face Luciana Hidalgo


https://bit.ly/2LtKNru


https://bit.ly/2LUtegx



Abrindo com motes da arte poética  para conectar o texto de Luciana Hidalgo:


O amor é um dos poemas de Vladimir Maiakovski. Foi adaptado e musicado por Caetano Veloso:


Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!

Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo,
a mãe,
pelo menos a Terra.
Vladimir Maiakovski (1893-1930)

ou

Marcha de Quarta-Feira de Cinzas
Vinicius de Moraes

......

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando
Cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida
Feliz a cantar

Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
.....


A mais alta performance da arte é quando ela se enquadra com os anseios, desejos do povo e assim enxerga a vida e a luta. Poetas assim o  fizeram :Maiakovski, ou Thiago de Melo, Joao Cabral, Daniel Lima , Vinicius, a exemplo aqui, Ademir Assunção etc. Aqui neste projeto e com participação dos artistas, ídolos do povo, a grande maioria, a arte levanta seu motor e arregaça o céu da praça , denuncia, aponta fogo e energiza. Precisamos de mais, por todas cidades e seus artistas locais,"mas que nunca é preciso cantar." Por todas as vilas, vilarejos, grandes pequenas cidades do Norte ao sul, leste oeste. É NECESSÁRIO DESCONCENTRAR....AVANTE BRASILEIROS. Luciana Hidalgo agora, aqui, abaixo.Paulo Vasconcelos


Luciana Hidalgo Facebok

“Lula Livre” é um bordão que ecoa diariamente nos mais variados rincões da resistência no Brasil. Agora alguns desses ecos se unem num livro. Os escritores Ademir Assunção e Marcelino Freire convidaram grandes nomes da arte brasileira para criarem contos, poemas, cartuns, tudo pela libertação de Lula, o preso político. Em “Lula livre Lula livro” há textos de Augusto de Campos, Chico Buarque, Raduan Nassar, Chico Cesar, Aldir Blanc, Chacal, Frei Betto etc. Dos amigos escritores aqui no Facebook tem Noemi Jaffe, Marcia Denser, Edimilson De Almeida PereiraSebastião NunesRaimundo CarreroSidney RochaTarso de MeloAdriane Garcia e muita gente incrível (minha "Carta ao Lula" também está entre os textos publicados). O livro será lançado no sábado na Casa Paratodxs, na Flip, em Parati, e no Festival Lula Livre, nos Arcos da Lapa, no Rio. Em breve vão disponibilizá-lo em e-book. Por enquanto, deixo aqui o belo poema que abre o livro, de Ademir Assunção, que diz muito sobre o Brasil pós-golpe, esse purgatório dos cínicos:




CHACAIS E HIENAS
Ademir Assunção
a história sempre termina assim
os chacais – e também as hienas
saltam sobre o leão ferido
os chacais – e também as hienas
saltam sobre o leão ferido
para devorar sua carne – até o osso
os chacais – e também as hienas
saciam a fome atávica de séculos
e mostram os dentes pontiagudos
mostram os dentes pontiagudos
fiapos de carne entre os caninos
e riem seu riso de escárnio e ganância
e o riso de escárnio e ganância
é ouvido em toda a pradaria
toda a savana toda a cidade
as ovelhas balem nos currais os lobos
uivam nos cerrados as águias
apuram a visão no alto das árvores
o cheiro de carniça persiste por dias
vermes fermentam os restos de carne
e o couro do leão ferido se degrada
o vento crepita nos galhos secos
um silêncio – que não é paz nem trégua
se espalha pela pradaria savana cidade
a chuva não vem o sol é inclemente
a fome o escárnio a ganância persistem
e a história recomeça de novo e de novo.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Empresariamento da Vida:A Função do Discurso Gerencialista nos Processos de Subjetivação Inerentes à Governamentalidade Neoliberal

Datas de Lançamento: 
23/08/2018 - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP). Convidado para apresentação e discussão Dr. Tony Hara. Horário: das 16 hs às 19hs. Entrada franca.

01/09/2018 - Livraria Tapera Taperá - Galeria Metrópole. Av São Luis 187, Praça da República, Centro. São Paulo – SP. Convidados para discussão: Profª Dra. Margareth Rago (IFCH/UNICAMP) e Prof. Dr. Edson Passetti (PUC/SP). Horário: das 17 hs às 20 hs. Entrada franca.

03/10/2018 - Auditório do Instituto Sedes Sapientiae - Rua Mistro Godoy, 1484, Perdizes. São Paulo-SP.
Breve novos locais de lançamento em São Paulo e em alguns estados do Brasil.



O livro Empresariamento da vida: a função do discurso gerencialista nos processos de subjetivação inerentes à governamentalidade neoliberal (Appris, 2018) busca realizar uma arqueologia do discurso gerencialista e uma cartografia dos dispositivos de poder que sustentaram sua implicação no campo social. O autor, já na epígrafe, deixa claro o que sente e compreende como sendo o processo da escritura movida no sentido de uma máquina de guerra, citando Deleuze e Guattarri no livro Kafka: por uma literatura menor, diz ele:
Escrever como um cão que faz um buraco, um rato que faz a toca. E, por isso, encontrar o seu próprio ponto de subdesenvolvimento, o seu patoá, o seu próprio terceiro mundo, o seu próprio deserto [...] e com isso (grifo nosso) agarrar o mundo para o fazer fugir, em vez de fugir dele, ou de o acarinhar.  


A busca, neste livro, do como é forjado o sujeito dentro do campo social, transversa vários campos, entre eles e, talvez, o mais apreciado neste livro, que Ambrózio nos entrega como refinamento de sua tese de doutoramento em Psicologia Clínica na PUC/SP sob orientação do Prof. Dr. Luiz Benedicto Lacerda Orlandi, trata-se dos restos que as inscrições das modalidades de governo, em uma certa época, deixam em cada um de nós como resquícios das modalidades de resistência no sentido da sobrevivência em um mundo cada vez mais engolfado nas tramas do funcionamento do Capital. Ambrózio é Psicanalista e com atuação no passado na área da Administração, com esta formação multidisciplinar, recolhe seu campo empírico transvasando-o, assim, no campo teórico, com isso, constroe uma obra de valor para um mundo acobertado pelo rentismo político do capital, na égide do Neoliberalismo dos últimos dois séculos e, em especial,  na contemporaneidade deste nosso século XXI.
Para tanto, seus recursos são amplos, do ponto de vista teórico, se alicerça em Foucault, Deleuze, Hardt & Negri, Freud e, bem timidamente, Lacan. Deste modo, ele tece uma malha extensa de argumentações que nos dão pistas para compreender o processo de subjetivação no qual se encontra imerso o sujeito contemporâneo, preso a esta malha que por vezes o sufoca, desampara, ou o torna, como diria Peter Pál Pelbart, quanto às tentativas de construção da subjetividade: um equilibrista!
A professora e historiadora Margareth Rago, ao apresentar a obra, nos fala de modo certeiro um dos focos do livro de modo claro e contundente ao afirmar:
"A leitura deste livro nos informa, com muita acuidade, sobre os processos assujeitadores que vivemos a cada dia, muitas vezes, de maneira imperceptível ou até mesmo valorizada, já que somos bombardeados, de ponta a ponta, por uma gama de informações ambivalentes que, no entanto, afinam no mesmo diapasão da sujeição e da obediência, produzindo o que o autor denuncia como “jaula subjetiva”. Seremos capazes de resistir?"

Ambrózio, com uma tessitura lexical clara, nos alumia, no seu trajeto textual, que embora com as devidas amarras do campo teórico, vislumbra uma clareira quanto ao assujeitamento do homem. Dada a sua clareza, utiliza-se também da poética de um Manoel de Barros, (um filósofo poeta) redimensionando, ainda, um campo de possiblidades de luta a este homem preso, atado e enjaulado.

Em suas palavras finais nos diz:
"É importante, no entanto, destacar a aposta no posicionamento de pensar que foi no sentido de responder a uma dinâmica primeira de liberdade e luta destes fluxos que se ergueram tanto os Estados em suas intervenções neoliberais organizados por meio de uma arquitetura imperial quanto se diluiu no corpo social uma lógica de competição acirrada orquestrada pelo discurso gerencialista num processo de empresariamento da vida que captura os fluxos no sentido de enjaulá-los na forma de acumulação do capital humano"

Recomendo a obra aos leitores, já afiados ou não, dentro das diversidades dos campos epistêmicos pelos quais o autor transversa, com destaque para a Filosofia, a Psicanálise e, quem sabe, a Administração. Quem dera um sopro de ar fresco poderia adentrar este ambiente mofado que a competição acirrada, mote da governamentalidade neoliberal, deixa com ares de pulsão de morte. Parafraseando o Freud na introdução da Interpretação dos Sonhos: Acheronta Movebo!

Paulo Vasconcelos.


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