REDES

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Os assassinos de Marielle obstruíram covardemente seus passos.



ELTON L L SOUZA Arquivo do autor

Marielle Franco Geledés

Diante do estopim lançado pela mídia  ontem nada como reler o que diz
 Elton.l.L de Souza em seu Face:

A PORTA DE MARIELLE
No Museu da Maré há um espaço dedicado a Marielle Franco. Na exposição que leva seu nome, foi escolhido um objeto singular para nos fazer lembrar a vereadora: nada mais nada menos do que a porta do seu gabinete .Enquanto era parte de seu gabinete, a referida porta era muito diferente de uma porta habitual, pois Marielle costumava colar mensagens nela, além de sempre mantê-la aberta àqueles que vinham procurar por sua ajuda.

Pela ação de Marielle , aquela porta continha uma potencialidade de sentidos. E “potencialidade de sentidos” é o outro nome pelo qual atende a poesia enquanto prática de ressignificar as coisas e o mundo. Pois poesia não é só versos: poesia também é produção de sentidos que podem transformar uma simples porta em um agente coletivo de enunciação . Quando um objeto é parte da produção de sentidos, ele deixa de ser coisa inerte e se torna expressão de um mundo, ao mesmo tempo objetivo e subjetivo, tangível e intangível. Transportada então para o interior do Museu da Maré, aquela porta se tornou um símbolo-mensagem do próprio ser de Marielle: porta aberta, receptiva, como seu sorriso.

Não por acaso, na mitologia era sob uma porta aberta, espaço de travessias, que se manifestava Hermes, a divindade associada à comunicação das mensagens que requerem a prática da interpretação. Em grego, “interpretação” se escreve “hermenêutica”: “atividade relativa a Hermes”. Mensagem não é a mesma coisa que informação. “A capital do Brasil é Brasília”, “dois mais dois é igual a quatro”, tais coisas não são mensagens. Mensagem é tudo aquilo cujo sentido requer a atividade de interpretação: “A palavra abriu o roupão para mim: ela quer que eu a seja”, este verso de Manoel de Barros não é informação, é mensagem. “O homem é um animal político”, outra mensagem. Mensagem não é para se decorar ou reproduzir, mensagem é para despertar nosso pensar e nosso sentir para aprendermos a ler mais do que frases ou palavras, e assim lermos também o mundo. Nem sempre mensagens se vestem com palavras, às vezes as mensagens vêm inscritas nas coisas ou são as próprias coisas portando sentidos a serem interpretados. Enquanto objeto exposto , a porta de Marielle é mensagem que simboliza o sentido da travessia e da abertura ao outro, sobretudo ao outro que é marginalizado, injustiçado, explorado, perseguido.

Os Museus Casa são espaços que já foram residência, quase sempre palácios e mansões, em geral de gente oriunda da elite. O museu Casa de Rui Barbosa, por exemplo, foi a casa de verdade de Rui Barbosa. Mas pessoas do povo como Cartola, Nelson Sargento, Lima Barreto, Maria Carolina de Jesus, e tantos outros, não tiveram casa para ser patrimônio musealizado. A casa deles é a favela, a cultura popular, a resistência, a criatividade e a inventividade do povo que luta. A porta de Marielle é parte de uma casa assim: uma casa plural, aberta, heterogênea.
Os assassinos de Marielle obstruíram covardemente seus passos. Mas a porta que ela simboliza , enquanto abertura à justiça, à educação e à cultura, esta porta nós não podemos deixar fechar.
( artigo publicado originalmente no site Ateliê de Humanidades:
https://ateliedehumanidades.com/)

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O QUE PENSA OS ARGENTINOS DE BOLSONARO

URGENTE: STF vai investigar envolvimento de Jair Bolsonaro na morte de Marielle Franco




Chile: nueva jornada de protestas y fuerte represión policial

.


POR TELESUR

Una nueva jornada de represión policial se vive en Chile por parte de los carabineros contra los diversos sectores sociales que desde hace varios días toman las calles en exigencia de un cambio de modelo de desarrollo para el país suramericano. teleSUR

El Frasco, medios sin cura: Ey, neoliberalismo… Chile em destaque



Sensacional....sempre.
CHILE É O FOCO DENTRO DO NEOLIBERALISMO.
Contudo entra como sempre os EEUUxVENEZUELA
Além disto: Equador
Do chile fala neto de Allende

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Sophia de Mello Breyner Andresen


Sophia de Mello Breyner Andresen por Prosa e Verso


...Exata é a recusa/E puro  é o nojo


Em tempos difíceis,como atravessamos agora, nada melhor que poetar, viajar sobre águas de uma das mais séria e amada poeta portuguesa -Sophia de Mello Breyner Andresen-1919-2004. Apreendi-a nos famosos Gabinetes de português e Leitura, na época em Recife. Sua obra é fascinante e de uma paisagem seca ,mas de demasiado humanismo.A revista Prosa e Verso- http://bit.ly/344b2cP, nos relembra a poeta inesquecível, o verso acima curto, que era uma das suas características, entre tantas, sempre assombrou-me e disse para mim o que não posso traduzir, só e apenas sentir- Exata é a recusa/E puro  é o nojo


Arte Poética II
A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta.
Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala de uma vida ideal mas sim de uma vida concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas, respiração da noite, perfume da tília e do orégão.
É esta relação com o universo que define o poema como poema, como obra de criação poética. Quando há apenas relação com uma matéria há apenas artesanato.
É o artesanato que pede especialização, ciência, trabalho, tempo e uma estética. Todo o poeta, todo o artista é artesão de uma linguagem. Mas o artesanato das artes poéticas não nasce de si mesmo, isto é, da relação com uma matéria, como nas artes artesanais. O artesanato das artes poéticas nasce da própria poesia a qual está consubstancialmente unido. Se um poeta diz «obscuro», «amplo», «barco», «pedra» é porque estas palavras nomeiam a sua visão do mundo, a sua ligação com as coisas. Não foram palavras escolhidas esteticamente pela sua beleza, foram escolhidas pela sua realidade, pela sua necessidade, pelo seu poder poético de estabelecer uma aliança. E é da obstinação sem tréguas que a poesia exige que nasce o «obstinado rigor» do poema. O verso é denso, tenso como um arco, exactamente dito, porque os dias foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos. O equilíbrio das palavras entre si é o equilíbrio dos momentos entre si.
E no quadro sensível do poema vejo para onde vou, reconheço o meu caminho, o meu reino, a minha vida.
– Sophia de Mello Breyner Andresen. Arte Poética II foi publicado pela primeira vez em 21 de Janeiro de 1963. © 2011 Biblioteca Nacional de Portugal.
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
– Sophia de Mello Breyner Andresen, do livro “Coral e Outros Poemas” [seleção e apresentação de Eucanaã Ferraz]. São Paulo: Companhia das Letras, 2018

DCM-Na Argentina, nosso correspondente -DCM-conta como repercutiram as ofensas de...