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segunda-feira, 30 de março de 2020

A Pior Crise Da Humanidade É Não Conseguir Se Tornar Humanidade

E.Morin -FOTO POR PORTAL RAÍZES -https://bit.ly/3blMiR6
Portal Raízes nos apresenta matéria- diante da crise que se arrasta por décadas e agora tem seu ápice uma boa ou excelente matéria, leiam abaixo:



“A Pior Crise Da Humanidade É Não Conseguir Se Tornar Humanidade”- Por Edgar Morin

https://bit.ly/3blMiR6




“A crise geral da humanidade é a crise da humanidade que não consegue se tornar humanidade. Por quê? Porque todos os processos que conduziram essa humanidade a se reunir em um mesmo destino comum são, ao mesmo tempo, processos que nos conduzem a catástrofes futuras. E aqui indico dois aspectos contraditórios ou aparentemente contraditórios da globalização. Ela é a pior das coisas e a melhor das coisas que podem acontecer à humanidade.
Por que a pior das coisas? Porque é um processo no qual a ciência permitiu à técnica desenvolver armas de destruição em massa que se multiplicam com uma possibilidade crescente de serem utilizadas, pois os fanatismos, os isolamentos étnicos, os fundamentalismos religiosos criam condições propícias não apenas para múltiplos conflitos, mas talvez para um grande conflito. Sabemos que o processo da nossa civilização técnica e da nossa economia conduziu à degradação da biosfera, à crise do meio ambiente que ainda somos capazes de deter e encontrar os meios de combatê-la.
Assim sendo, o mundo tem novas ameaças e, como esses processos se aceleram e se agravam, evidentemente a globalização é o pior, pois ela produz, nos conduz para catástrofes. Mas, ao mesmo tempo, ela é o melhor porque, pela primeira vez, todos os seres humanos, de todos os continentes, se encontram, sem que eles saibam, reunidos em uma mesma comunidade de destino. Sofrem os mesmo riscos, os mesmos problemas fundamentais, os mesmos problemas ecológicos, os mesmo problemas econômicos, os mesmo perigos vindos da possibilidade de guerras, e isso cria as condições para que nasça um novo mundo.
Essa é a missão, que Zygmunt Bauman conferia às gerações mais jovens, dizendo: ‘Vocês devem inventar novas formas de democracia’. Mas o problema é que se trata agora de inventar uma sociedade, em escala mundial, que não seja feita sobre o modelo de Estados nacionais, que não seja uma espécie de super, de mega Estado mundial a partir do modelo dos Estados nacionais.
Uma nova forma de organização política, assim como a democracia ateniense era uma democracia de cidades pequenas, de alguns cidadãos se transformou em democracia das nações. Hoje há sociedade a ser criada na qual talvez a Internet possa desempenhar um papel nessa democracia.  Assim sendo, temos um problema absolutamente vital e fundamental que a comunidade de destino mundial nos revela a possibilidade, talvez, de criar um mundo novo.
E a ideia de humanidade não nos deve fazer esquecer de que fazemos parte de uma nação, de um povo, de uma civilização, mas que o mundo da humanidade é um mundo que tem sua unidade na própria diversidade e a sua diversidade em sua unidade. Acredito que o caminho, repito, não é um caminho traçado. Isso quer dizer que podemos tentar uma direção. E, toda decisão, toda escolha humana contém uma aposta. A ideia de aposta é muito importante. Devemos apostar sem parar. Mas apostar também significa ser capaz de uma estratégia para retificar o caminho que tomamos se percebermos que nos equivocamos.
Nada está assegurado, nada está determinado, nada está garantido, mas, ao mesmo tempo, uma nova humanidade é possível, um mundo melhor é possível. Não o melhor dos mundos, não há um mundo perfeito. É um mundo que sempre terá suas carências, suas lacunas, que carregará a tragédia ou a morte, mas sabemos hoje que um mundo melhor é possível. Improvável, mas possível. Esse é o caminho: a esperança”. Edgar Morin
Este texto é um excerto transcrito pela equipe do Portal Raízes da palestra  com Edgar Morin, sociólogo francês, sobre “crise geral da humanidade” em sua conferência ao Fronteiras do Pensamento 2011. Segundo Morin, a base para compreender a série de crises que estamos vivendo é a ambiguidade da globalização: por um lado, se os problema contemporâneos agora são globais, por outro, as nações nunca antes foram tão interligadas em uma mesma “comunidade de destino”. De acordo com o sociólogo, para encontrar respostas aos problemas atuais, é preciso abraçar o que ele considera o maior desafio atual: globalizar e desglobalizar ao mesmo tempo.




sexta-feira, 27 de março de 2020

BOLSONARO NEOFASCISTA - Conversamos con Gisele Ricobom-EnClave Política:

O povo se cala perante o pânico, enquanto Bolsonaro e a mídia escondem o verdadeiro culpado

Jair Bolsonaro - Foto: Isac Nóbrega/PR

A REVISTA FORUM NOS FAZ PENSAR,PENSAR MENOS TORTO E FRÁGIL, EM QUE APRESENTA ESSE ARTIGO DE R.S.DE FAGUNDES


Leia na coluna de Raphael Fagundes: "Precisamos nos libertar do medo oficial criado pela mídia, tanto o que sustenta o governo Bolsonaro quanto da manipulação que ela faz do medo desencadeado pelo coronavírus"  https://bit.ly/2QNU66m



O filósofo Jean-Paul Sartre escreveu: “Aquele que não tem medo não é normal, isso nada tem a ver com a coragem”. Mas, por longos anos, a Igreja tinha o monopólio do medo oficial e afirmava que “os lobos, o mar e as estrelas, as pestes, as penúrias e as guerras são menos temíveis do que o demônio e o pecado, e a morte do corpo menos do que a da alma”.[1] Ou seja, todos estes males tinham um causador, o Satã.

Zygmunt Bauman acredita que este medo oficial, o qual digladiava com o riso subversivo observado por Bakhtin, perdeu-se, desmanchou-se no ar. “O indivíduo foi liberado para construir os seus próprios medos”.[2] “É como se o poder tivesse escolhido o riso como seu abrigo mais seguro”. Trata-se de um poder que gera gozo constante.
Mas o medo ainda gera prazer – e poder, consequentemente. Vivemos, inclusive, como destaca o sociólogo Barry Glassner, em uma “cultura do medo”, na qual um tipo de medo é fabricado para esconder os problemas sérios, os causadores reais das mazelas sociais. Qualifica-se a criminalidade, o consumo de drogas, o “politicamente correto” como razões para a pobreza e para a degeneração moral para ocultarem a desigualdade social. Como diz Glassner, “tememos as coisas erradas”.[3]
Como dizia Nixon, “as pessoas reagem ao medo, não ao amor”. Foi isso que elegeu Bush, Trump e recentemente, no Brasil, Jair Bolsonaro. O medo fabricado pela mídia o qual culpabilizava o petismo, a esquerda, a corrupção etc., como as raízes dos nossos problemas, serviu para esconder atrás de um véu alienante a verdadeira causa, a concentração de renda.
Esse medo pariu Bolsonaro (embora não fosse o ideal para a mídia psdebista) e é este mesmo medo que sustenta seu governo. Mas o que aconteceria se este medo oficial, fabricado, exaurisse-se? O que iria nutrir Bolsonaro e sua corja da extrema direita?

É por isso que, em tempos de coronavírus, um medo muito mais real que o fabricado pelo governo, o presidente brasileiro menospreza tanto a dimensão epidêmica da doença. Contesta-se os fatos para se ter o controle do medo. Diz que o povo está sendo enganado, que o Covid-19 não passa de uma “gripezinha”. Na verdade, Bolsonaro teme que o medo que sustenta o seu poder, o medo falso, seja suplantado pelo medo real.

Este medo real pode trazer à tona a desigualdade social, o desprezo pela saúde pública, provocado, principalmente, pela política neoliberal de sucateamento do Estado. Este medo real pode colocar em risco o corte de gastos, medida que expõe, sem engodos ideológicos, a verdadeira face do capitalismo.
A mídia, contudo, que não tem nada de santa, vem se dedicando ao máximo para evitar a irrupção de tal visão política, manipulando – como é de praxe – o medo em relação ao coronavírus e despeja a culpa sobre o indivíduo que não lava a mão, que não respeita as recomendações etc., ocultando a responsabilidade do mercado, o grande agente destruidor das políticas públicas e promovedor da ampliação dos lucros.

O presidente, por seu turno, não quer evitar o pânico ao dar suas declarações de alguém que finge estar em um reino encantado, mas manter o monopólio do medo, o medo que o sustenta. Só pode haver um medo, o da esquerda (e das outras terminologias que o presidente associa a esse setor do espectro político).
Este tipo de pânico gera prazer e gozo, diferente do medo real. Por isso é fácil de ser manipulado. Existe o prazer de ver o corrupto preso; o bandido sendo violentado na cadeia; o gay sendo reprimido etc.. Aquele que compartilha do pensamento conservador e reacionário goza com esse tipo de demonstração de ódio. O pânico se transforma em prazer. É fato que a própria palavra “pânico” tem uma origem lasciva. Decorre do fato de as virgens/ninfas/mênades eram acometidas quando o “excitado” e lascivo Pan, com seus desejos animais, queria arrebatá-las. A palavra pânico é derivada de Pan.[4]

Precisamos nos libertar do medo oficial criado pela mídia, tanto o que sustenta o governo Bolsonaro quanto da manipulação que ela faz do medo desencadeado pelo coronavírus. Os dois medos visam esconder as mazelas provocadas pelo mercado que, por sua vez, promoveu o corte de gastos e o sucateamento do Estado para salvar as grandes fortunas.

Como disse Karl Marx “O medo cala a boca dos inocentes e faz prevalecer a verdade dos
culpados”. Mas enquanto o povo se cala em meio ao pânico, a mídia e o governo fazem de tudo para esconder o verdadeiro culpado, o setor financeiro.

[1] DELEUMEAU, J. História do medo no Ocidente. São Paulo: Cia das Letras, 2009, p. 44.
[2] BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000, p. 69.


[3] GLASSNER, B. Cultura do medo. São Paulo: Francis, 2003, p. 27.

[4] HOYSTAD, O. M. Uma história do coração. Petrópolis: Vozes, 2015, p. 53.
 *Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum