REDES

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O colonialismo digital e o convite à impotência- OUTRAS PALAVRAS

 





OUTRAS PALAVRAS NOS BRINDA UM CAPÍTULO DO LIVRO ACIMA.COM UMA CHAMADA

ATIVA SOBRE O COLONIALISMO ALGORÍTIMICO,DESFRUTEM....P VASCONCELOS

https://bit.ly/3HYxIAm

Num mundo em que o controle e manipulação de dados serão cada vez mais decisivos, Brasil cede às ofertas da Big Data e compromete seu futuro tecnológico. Novo livro lança alerta e sugere, como alternativa, a soberania algorítmica


OUTRASPALAVRAS

Publicado 25/11/2021 às 20:10 - Atualizado 25/11/2021 às 20:17    

Este texto é um dos capítulos de Colonialismo de dados: como opera a trincheira algorítmica na guerra neoliberal, organizado por João Francisco Cassino, Joyce Souza e Sérgio Amadeu da Silveira, livro recém-lançado pela Editora Autonomia Literária, parceira editorial de Outras Palavras. Quem apoia o jornalismo de profundidade e sem catracas de Outras Palavras tem 25% de desconto. Saiba como

Um importante anúncio do Poder Judiciário paulista apareceu no noticiário especializado, em fevereiro de 2019. Indicava que os processos judiciais do estado de São Paulo, o mais populoso e mais rico do Brasil, seriam entregues à chamada nuvem da Microsoft. O objetivo seria hospedar na empresa estadunidense uma plataforma digital que agregaria serviços de inteligência artificial e permitiria o registro, o arquivamento e a tramitação de todos os processos do maior tribunal do país. A matéria de um relevante jornal econômico brasileiro destacava a importância dos aspectos positivos do armazenamento em nuvem. O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo afirmou ao jornal: “será o primeiro [Tribunal] do país a tomar esse caminho – e um dos poucos no mundo”. (18)

Sites e especialistas destacavam a ação inovadora do Judiciário paulista e o valor do projeto da chamada Plataforma de Justiça Digital, que seria de 1,32 bilhão de reais,(19) com dispensa de licitação. (20) A comunicação social do tribunal divulgou, no dia 20 de fevereiro de 2019, que “ao final de cinco anos, o custo fixo anual do TJ com o sistema judicial terá redução de 40%, além de eliminar a necessidade de alto investimento na renovação de Data Center”.(21) A dimensão do contrato e suas implicações eram gigantescas, o que levou o presidente mundial da Microsoft, Satya Nadella, a vir ao Brasil dias antes da assinatura do contrato para se reunir com o presidente do tribunal paulista. Segundo a assessoria de comunicação do Judiciário, o executivo da corporação fundada por Bill Gates afirmou que “a tecnologia é o meio, não é atividade fim. O fim é o que se faz com a tecnologia. E o sonho do TJSP de transformar essa plataforma de serviços aos cidadãos é revolucionário”. Nadella se comprometeu a colocar as melhores cabeças da Microsoft para atuar no projeto do tribunal.

Nenhum veículo, colunista, parlamentar questionou a entrega dos dados dos processos civis, criminais, empresariais, de crianças e adolescentes, de contenciosos judiciais de milhões de pessoas e milhares de empresas para a nuvem de uma das maiores plataformas estadunidenses, com interesses econômicos, financeiros, comerciais e geopolíticos no Brasil. Essa era uma não-questão. Também não foi perguntado se esses recursos, caso fossem empregados em empresas e centros de pesquisa brasileiros, não gerariam ganhos importantes não somente para a sociedade, para o desenvolvimento de inteligência local, como também para o próprio tribunal.

Apesar da inexistência de questionamentos na opinião pública, o Conselho Nacional de Justiça (22) proibiu a execução do contrato com o argumento principal de que o acordo com a Microsoft iria na “contramão de privilegiar um sistema único para tramitação processual”,(23) uma vez que os tribunais brasileiros estariam buscando um desenvolvimento integrado para a digitalização e tramitação de processos. Curiosamente, o destaque não foi a proteção de dados sensíveis da população, nem mesmo a necessidade de avançar a inteligência nacional na área de inteligência artificial.

Este capítulo começou pelo relato desse caso inconcluso por ser exemplar na caracterização de uma série de não-questões para boa parte dos pesquisadores acadêmicos, formadores de opinião, influencers, lideranças políticas e movimentos sociais que envolvem a colonialidade ampliada pelas tecnologias. Aqui pretendo trazer a hipótese de que essas não-questões ou críticas ofuscadas escondem um epistemicídio, tal qual Sueli Carneiro, inspirada em Boaventura de Sousa Santos, tratou dos mecanismos constituídos para negar a existência do racismo no país e as reflexões e saberes dos negros. O epistemicídio não recai somente à racialidade, também integra o regime de verdade da colonialidade que está justaposto com práticas acríticas e normalizadas pelas infraestruturas de submissão que se baseiam na alienação técnica e são fundamentais para o ordenamento neoliberal em uma sociedade fortemente dataficada.

Quais seriam as questões importantes encobertas e ofuscadas, tornadas não-questões, pela colonialidade em um cenário de capitalismo informacional, organizado em uma economia de dados neoliberal? Primeiro, a dúvida sobre a crença de que as empresas e plataformas digitais são neutras e que não interferem em nosso cotidiano, exceto para nos servir. Segundo, a interrogação sobre a inexistência de consequências negativas locais e nacionais na utilização das estruturas tecnológicas das plataformas, uma vez que elas respeitariam os contratos. Terceiro, a avaliação de que as implicações sobre a coleta massiva de dados nos países centrais da plataformização tecnológica possuem os mesmos efeitos econômicos, políticos e socialmente moduladores que nos países periféricos. Quarto, a indagação sobre se seria possível apostar no avanço de uma inteligência computacional local, na soberania algorítmica e no conhecimento tecnológico como um bem comum livre.

Colonialidade e neoliberalismo

Para muitos pensadores críticos, o colonialismo histórico acabou, mas a colonialidade se mantém e pode ser empiricamente mapeada e constatada. O sociólogo peruano Anibal Quijano definiu a colonialidade como um dos principais elementos do padrão mundial de poder capitalista. A colonialidade foi construída sobre classificações raciais e étnicas das populações e está associada à expansão da modernidade e de sua racionalidade, a partir da Europa. Ela se mantém por meios materiais, por mentalidades e por relações de subordinação, sujeição e de inferiorização de modos de vida, de saberes e de conhecimentos. (24)

A colonialidade se apresenta como a imposição de modelos de pensamento, de agenciamentos, de comportamentos que negam ou desvalorizam epistemes, modos de aprender e conhecer das comunidades e das sociedades não ricas, também expulsa do que deve ser considerado normal à ideia de autonomia, de busca por caminhos diferentes, de toda tentativa daqueles que fogem aos interesses da economia e das suas principais corporações. Como aponta Paola Ricaurte, (25) em uma sociedade baseada em dados, a colonialidade de poder é realizada e amplificada também por meio de dados e das suas tecnologias de tratamento.

A partir dessa perspectiva, é possível notar que o avanço do ordenamento neoliberal ampliou e aprofundou a colonialidade. Sem dúvida, existem diversas definições de neoliberalismo que extrapolam sua dimensão tão somente econômica ou sua categorização como mera atualização do velho liberalismo. O neoliberalismo é uma conduta e um modo de pensar que coloca o mercado acima de todas as demais dimensões da vida. Mais do que isso, a doutrina neoliberal se empenha em definir as empresas como elemento crucial da existência e a concorrência como o objetivo maior de qualquer agregado humano.

Michel Foucault, ao analisar a constituição do neoliberalismo, com base nas vertentes alemã (ordoliberal) e estadunidense, em O nascimento da biopolítica, percebeu sua implicação na disciplina das condutas e em uma visão de mundo, indo além da reformatação dos governos para atuar em função das empresas. Laval e Dardot, inspirados em Foucault, detectaram que o neoliberalismo é a forma atual de nossa existência e que se impõe como o ordenamento do capitalismo contemporâneo. Alicerçados no marxismo, David Harvey, Gérard Duménil e Dominique Lévy consideraram a neoliberalização como a dinâmica geral do capital que opera em benefício das camadas mais altas de renda, resultante do compromisso entre as classes capitalistas e a camada superior da classe gerencial, sob a hegemonia financeira. Wendy Brown observou que o neoliberalismo coloca a legitimidade do Estado subordinada à capacidade de servir a racionalidade econômica, solapando o vínculo entre capitalismo e democracia, subordinando tudo, principalmente a lógica do Estado, às empresas e à sua rentabilidade. Pesquisadores de inspirações tanto marxista quanto foucaultiana identificam que o neoliberal desloca a empresa para o centro de gravidade da existência e faz do Estado seu maior serviçal. Nesse sentido, as relações contratuais entre capital e trabalho se tornam relações entre empresas de variados tamanhos, inclusive, empresas de um único funcionário, que é o seu próprio dono.

A dinâmica neoliberal reforça a colonialidade. Primeiro, a boa cartilha neoliberal manda que as empresas privadas assumam todas as atividades econômicas. Assim, cabe ao Estado assegurar que essas empresas assumam a criação, execução e manutenção do máximo de ações possíveis. Segundo, o ethos da concorrência manda apostar no menor preço com a melhor qualidade – esta nem sempre exigida. Terceiro, o desenvolvimento virá da escolha e do consumo dos melhores produtos e serviços, independentemente de outros valores ou princípios, como local de produção e benefícios sociais. Assim, para o neoliberal não seria sustentável a opção de criar e manter serviços executados pelo Estado, nem gastar recursos que deveriam ser investidos em empresas privadas, muito menos tentar soluções custosas de desenvolver localmente o que pode ser obtido globalmente. O neoliberalismo utiliza com anabolizantes a teoria das vantagens comparativas de David Ricardo.

Assim, países periféricos devem se empenhar em comprar os melhores produtos e serviços pelo menor preço. O uso é subentendido como o passaporte para o avanço econômico. A invenção, o domínio da técnica, deve se concentrar nas grandes empresas que possuem capital para essa atividade. Seria demasiadamente irracional e custoso criar outros produtos e soluções próprias, pois isso iria se confrontar com a ideia de obter o melhor pelo mais econômico. Quase todo documento de uso de tecnologia digital, da nomeada transformação digital dos Estados, enaltece a redução de custos. Essa lógica reforça a colonialidade, uma vez que a margem de manobra e as opções para encontrar outras saídas longe da compra de produtos e serviços das grandes corporações dos países ricos seriam muito pequenas ou inexistentes.

No cenário das tecnologias da informação e no capitalismo digital, Dan Schiller, já no fim do século XX, havia detectado que, embaladas pelo neoliberalismo, as infraestruturas do ciberespaço, os sistemas de telecomunicações, foram completamente orientadas para o mercado e o fortalecimento de corporações transnacionais. Schiller via, entre outras consequências, que a expansão da internet nos levaria ao aprofundamento do consumismo em escala transnacional e ao domínio até das estruturas e processos educacionais dos países pobres. O que ocorreu no início de 2020 com o Sistema de Seleção Unificada, SiSU, do Ministério da Educação (MEC), é um exemplo cabal do reforço mútuo da relação entre o neoliberalismo e a colonialidade, bem como das tendências apontadas por Schiller.

O SiSU é um sistema informatizado, criado em 2010, pelo qual as instituições públicas de ensino superior ofertam suas vagas conforme as notas obtidas pelas pessoas que participaram do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A direção do MEC decidiu entregar os dados do SiSU para serem processados na nuvem da Microsoft, chamada Azure. Ou seja, hospedou os dados do desempenho escolar de milhões de estudantes brasileiros para serem tratados na plataforma estadunidense.(26) O principal argumento foi o do alto custo em manter esses dados em um data center do próprio. Além disso, segundo a Rede Nacional de Pesquisa, a solução da Microsoft atendeu 1,8 milhão de estudantes, que realizaram 3,5 milhões de inscrições, com 210 mil usuários conectados ao mesmo tempo, perfazendo 7 mil inscrições por minuto e a média de 1,5 milhão de acessos diários. Outro importante argumento é de que, além de aumentar a segurança do processo, espera-se uma economia de aproximadamente 22 milhões de reais em cinco anos de projeto.

Dados dos estudantes que cursaram o ensino médio, como a renda familiar bruta mensal de cada um, os valores recebidos em diversos programas sociais, a nota no Enem, as médias populacionais relacionadas à cor declarada e a deficiências, entre outras informações sensíveis, foram entregues à plataforma Microsoft Azure. Não consta dos debates públicos ou entre gestores do governo a constatação de que a corporação estadunidense de tecnologia possui interesses econômicos no país e na própria área educacional brasileira, nem que, provavelmente, hospedou os dados em servidores localizados nos Estados Unidos, em sua denominada nuvem pública. O acesso e a manipulação desses dados não aparecem como problema. As notas das autoridades não destacam nem mesmo a importância das normas contratuais específicas de proteção de dados de adolescentes.

No contexto da governamentalidade neoliberal, a construção de uma solução infraestrutural para a hospedagem de dados e a implementação de frameworks de inteligência artificial do próprio MEC e das universidades brasileiras não é considerada razoável. A economia imediata, a entrega de atividades antes executadas pelo Estado a empresas privadas, a crença em contratos e em um padrão moral isento de interesses geoestratégicos e negociais conformam um regime de verdade da gestão pública neoliberal. Assim, os primados da boa conduta neoliberal inundam as cartilhas de boas práticas da gestão pública e reforçam a dependência das práticas econômicas das grandes plataformas, das big techs. Os princípios neoliberais reforçam a colonialidade, esse padrão de poder mundial que surgiu há mais de quinhentos anos.

A colonialidade trabalha preferencialmente o tempo imediato. As soluções sempre devem estar prontas, a dromoaptidão (27), a velocidade acelerada das soluções ofertadas pelas plataformas é enaltecida. As corporações sempre estão prontas a nos servir, serão mais rápidas do que construir um caminho de aprendizado e de fortalecimento das inteligências locais. No contexto da colonialidade, o colonizado, a inteligência coletiva local, nunca está pronto, apto, capacitado para enfrentar um problema sem recorrer a uma corporação da matriz. O neoliberalismo se aconchega na colonialidade.

Continue lendo em: https://bit.ly/3HYxIAm

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Chile: Boric diz que 'esperança vencerá o medo', enquanto Kast inventa 'luta contra comunismo' por OPERA MUNDI

 

Reprodução/Facebook
Kast (esq.) e Boric passaram para o segundo turno

CHILE AINDA DIVIDIDO ENTRE REGIME DE HERANÇA PINOCHET E A ESQUERDA,ALUTA AINDA NÃO ESTÁ FIRMADA,DA ESQUERDA,HAVERÁ 2° TURNO.P.VASCONCELOS

https://bit.ly/3CBmu0x

Candidatos da extrema direita (Kast) e da Frente Ampla

 de Esquerda (Boric) se enfrentarão no segundo turno 

das eleições chilenas


Santiago (Chile)



















Após consolidado o resultado do primeiro turno das eleições no Chile, com a vitória de José Antonio Kast, candidato da extrema direita, e a o segundo lugar de Gabriel Boric, representante da Frente Ampla de esquerda, ambos fizeram seus respectivos discursos a fim de convocar seus eleitores para a próxima etapa destas presidenciais.Kast é representante do Partido Republicano, de direita, e foi o mais votado na jornada deste domingo, com 28,01%. Boric, que encabeça a coalizão de esquerda entre a sua Frente Ampla e o Partido Comunista, teve 25,69%, ficando em segundo lugar. As duas candidaturassuperaram as dos partidos tradicionais, que disputaram todos os segundos turnos realizados após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Boric: “A esperança vai vencer o medo”

Boric afirmou que ser ser "porta-voz da esperança, em uma cruzada em todo o Chile 

para que a esperança vença o medo”.

Sobre o desafio de virar o jogo no segundo turno contra Kast, o candidato da Frente Ampla

 disse que “é justamente nos momentos difíceis que se comprova a força das lideranças 

que o sustentam. Nós vamos ganhar este segundo turno e mostrar que este pode ser um 

Chile diferente. Temos que mostrar que a receita para fazer do Chile um país melhor não

 é a de endurecer as políticas que já fracassaram com Sebastián Piñera”

LEIA TODA MATÉRIA EM :https://bit.ly/3CBmu0x

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Inadimplência pode levar Brasil a perder voto na ONU- GGN

 Sede da ONU em Nova York, Estados Unidos (Foto: Manuel Elias/UN Photo)

Jornal GGN nos alerta, enquanto a grande imprensa, se é que elas existem aqui, nada fala,do mesmo modo como calaram quanto a viagem de LULA para EUROPA.Calam ao que lhes interessa.


https://bit.ly/3CgzYyJ- LEIA E PRESTIGIE GGN

Jornal GGN – A falta de pagamento de taxas pode fazer com que o Brasil perca seu direito a voto em pelo menos sete organismos internacionais, entre eles a ONU (Organização das Nações Unidas).

O país precisa depositar um valor mínimo de R$ 710,6 milhões até 31 de dezembro para evitar penalidades, o que fez o Itamaraty acionar o Ministério da Economia em busca de recursos.

A maior pendência é justamente com a ONU: o Brasil precisa enviar pelo menos R$ 423,5 milhões para evitar a perda de voto na Assembleia-Geral.

Ao todo, o país deve ao menos R$ 1,8 bilhão para o sistema ONU e, pelos cálculos do Itamaraty, essa dívida chega a R$ 8,8 bilhões quando outros organismos entram nas contas.

Entre outros órgãos que podem punir o Brasil por falta de pagamento estão a FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura), a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a OMC (Organização Mundial do Comércio), e a OIT (Organização Internacional do Trabalho), entre outras.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, diplomatas veem uma eventual punição do Brasil como algo delicado no momento, uma vez que o país irá ocupar um assento não permanente no Conselho de Segurança da ONU no biênio 2022-2023.

O país irá se unir a outros 14 membros, sendo cinco permanentes (China, Estados Unidos, Rússia, França e Reino Unido), no órgão responsável por decisões de caráter obrigatório para todos os países integrantes da ONU e pela manutenção da paz e segurança global.

A posse brasileira ocorre mais de dez anos após o último mandato, o que tem gerado muita expectativa por parte da diplomacia nacional.




sábado, 6 de novembro de 2021

Por que a morte de Marília Mendonça nos comove- Por 247

 

Cantora Marília Mendonça
foto rCantora Marília Mendonça (Foto: Divulgação)

Uma mulher tecendo com o povo a clareza  do feminino e sua realidade.Misturou de modo exato sua vida,percepções sobre o país na linguagem de uma música mais que sertaneja,a música popular do Brasil(brasileira).Talvez ,por isto Caetano chamou-a de MARAVILHA MENDONÇA.      PAULO VASCONCELOS


O 247 POR MOISÉS MENDES NOS FALA  https://bit.ly/304GOdp

"A memória de Marília Mendonça constrange os artistas que deixaram passar as chances de dizer o que acham de figuras como Bolsonaro e preferiram se acomodar entre os que se calam", escreve o jornalista Moisés Mendes


Por Moisés Mendes, para o 
Jornalistas pela Democracia 

É cansativo cobrar engajamento explícito e militante dos artistas às grandes e às pequenas questões da humanidade, em situações consideradas normais. Que cada um decida se deve ou não dizer o que pensa.

Mas o Brasil não vive uma situação de normalidade. Artistas quietos, recolhidos ao conforto de falsas neutralidades, são assumidamente omissos em momentos anormais.

E a situação que vivemos há muito tempo é de anormalidade. Em circunstâncias graves para a democracia, em que um candidato a déspota só não consegue ser um déspota completo por incompetência, não há como ficar distante sempre para se manter bem com todos os lados.

É frouxo o artista que fica à sombra dos distanciamentos, como se nada fosse com ele. Marília Mendonça desafiou a ira da extrema direita com apenas 23 anos, quando disse que não votaria no sujeito por uma questão de bom senso.

Não era e nunca foi uma artista engajada, nem uma militante, era apenas uma artista dizendo o que pensava ali naquela hora.

Ela disse em 2018 que era impensável votar naquele que todos sabiam (uns fingiam não saber) de quem se tratava. Participou da campanha do Ele, não, e foi o que bastou.

Posicionou-se sobre uma questão crucial, foi perseguida e ameaçada e teve de recuar, como muitos recuaram para sobreviver. Por isso mesmo, pela perseguição e pela urgência do recuo, a breve história de Marília nos comove.

Mesmo para os que que não têm nenhuma simpatia pelo nicho musical em que ela transitava, a perda está muito além das controvérsias, das preferências pessoais e das rejeições sumárias.

Morre uma artista no auge da carreira, uma mulher com um talento raro, que disse aos colegas e aos fãs, quando era uma menina: eu não voto nesse cara.

Podem dizer, como muitos já disseram, que depois ela se afastou das questões políticas, ao ser caçada pelas milícias das redes sociais, e mais ainda quando liderou um grupo de artistas mobilizados pelo socorro a Manaus com balões de oxigênio.

Não importa que Marília não tenha sido uma militante política, porque é improvável que conseguisse ir em frente. Importa que disse o que pensava, naquele momento.

Marília Mendonça fez, com 23 anos, num lampejo e na intuição, o que muito artista dito maduro não faz até hoje. Disse o que deveria ser dito, antecipou seu voto e seguiu adiante com sua voz poderosa.

A memória de Marília Mendonça constrange os artistas que deixaram passar as chances de dizer o que acham de figuras como Bolsonaro e preferiram se acomodar entre os que se calam.

É mais uma perda do nosso lado, enquanto do lado deles ninguém morre, ou morre e ninguém percebe.

Marília Mendonça era uma cidadã que cantava, e num meio ultrarreacionário. No caso dos sertanejos, num ambiente claramente engajado à extrema direita.

A arte de Marília não era e nem tinha como ser engajada. Mas ela disse o que importava, na hora que importava, enquanto olhava para os lados e via a maioria acovardada e em silêncio.

Importa que um dia ela afrontou Bolsonaro. E importa que nós sabemos o que Marília Mendonça, por questão de bom senso, pensava do fascismo e como os fascistas a odiavam, mesmo que larguem notinhas com o choro dos cínicos e dos farsantes. Estamos todos tristes.

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

domingo, 31 de outubro de 2021

Bolivia | Luis Arce pide la unidad del pueblo ante “nuevas aventuras golpistas” NODAL

 

                       FOTO POR https://bit.ly/3GCaTl9

VAMOS FALAR DA A.LATINA?  

POIS É ,JÁ QUE A GRANDE MÍDIA :OMITE,DETURPA,MENTE;

FALA-NOS NODAL



https://bit.ly/3GCaTl9


Luis Arce dice que hay “nuevas aventuras golpistas”

El presidente del Estado, Luis Arce, aseveró este viernes que en el país hay “nuevas aventuras golpistas” y pidió la “unidad del pueblo boliviano” para afrontar tales intenciones.

“Ante los intentos de dividirnos y de nuevas aventuras golpistas, la unidad del pueblo boliviano, la unidad de la patria es la respuesta por encima de colores y preferencias políticas. Ustedes son los convocados y las convocadas para seguir poniendo el hombro al país (y) así de esta manera estamos saliendo adelante”, manifestó en el acto de conmemoración por el XXIII aniversario de la Asociación de Municipios de Beni (Amdebeni).

Varios sectores, entre gremiales, transportistas y comités cívicos, convocaron a bloqueos desde el 8 de noviembre contra le Ley 1386 de Estrategia Nacional de lucha contra las ganancias ilícitas, que tildan de inconstitucional.

Arce sostuvo que la única manera de enfrentar con éxito la “crisis heredada” del gobierno de Jeanine Áñez y la pandemia del Covid-19 “es con la férrea unidad del pueblo boliviano”.

El mandatario enfatizó que, tras ganar las elecciones generales en octubre de 2020 con el 55% de la votación nacional, asumió el mandato con el desafío de reconstruir la patria en los ámbitos de la salud, la educación, la economía, principalmente.

Para la lucha contra la pandemia del COVID-19, afirmó, una de las primeras medidas fue garantizar la provisión de vacunas gratuitas para todos los bolivianos.

Respecto a la reactivación económica, dijo, se implementó una serie de medidas de oferta y de demanda como el Bono Contra el Hambre, el Régimen de Reintegro en Efectivo del Impuesto al Valor Agregado (Re-IVA), el crédito SIBOLIVIA para la sustitución de importaciones, entre otros.

Los Tiempos


Morales dice que el ‘pacto de impunidad’ prepara acciones de desestabilización

Después de que algunos sectores del país anunciaron un paro indefinido de actividades desde el próximo 8 de noviembre en rechazo a la Ley 1386, el expresidente Evo Morales afirmó este viernes que el “pacto de impunidad” prepara acciones de desestabilización.

“Después de fracasar con un ‘paro’ forzado, el ‘pacto de impunidad’ prepara acciones de desestabilización. La derecha golpista no pasará. Junto a nuestro pueblo y sectores sociales vamos a defender nuestra revolución y al gobierno democrático del hermano presidente (Luis Arce)”, escribió Morales en su cuenta en Twitter.

El jueves, en una reunión realizada en Santa Cruz, los gremiales liderados por el dirigente Francisco Figueroa resolvieron ir a un paro indefinido de actividades a partir del 8 de noviembre en caso de que hasta esa fecha el Gobierno no anule la Ley 1386, de Estrategia de Lucha Contra la Legitimación de Ganancias Ilícitas y Financiamiento del Terrorismo.

Figueroa dijo que en el encuentro también participaron representantes de transportistas e incluso de los médicos. Asimismo, adelantó que pedirán “apoyo de los comités cívicos” y de otros sectores para que la medida de presión tenga mayor fuerza.

Sin embargo, el Gobierno, en una serie de ocasiones, aseguró que la cuestionada normativa no afecta a los transportistas ni al sector gremial y que la ley solo es “preventiva” porque define las principales directrices de la lucha contra las ganancias ilícitas y el financiamiento al terrorismo.

La Razón


Justicia emite otra detención preventiva contra cuatro exjefes militares acusados de ‘golpe’

El Juez Segundo Anticorrupción de La Paz determinó este jueves detención preventiva para cuatro exjefes militares, integrantes del Alto Mando durante los conflictos de 2019, en el caso denominado “golpe de Estado II”.

Los cuatro exjefes militares ya están detenidos en diferentes centros penitenciarios por el caso “golpe de Estado I”, pero con esta decisión estarán privados de libertad por al menos seis meses más mientras se realizan las investigaciones.

Los sindicados son el exjefe de Estado Mayor, Flavio Gustavo Arce; el excomandante del Ejército, Pastor Mendieta; el excomandante de la Fuerza Aérea, Gonzalo Terceros; y el excomandante de la Armada, Palmiro Jarjury, todos que participaron, a la cabeza Williams Kaliman, en la conferencia de prensa donde el 10 de noviembre de 2019 se sugirió la renuncia de Evo Morales.

El juez determinó que el general Terceros cumpla los seis meses de detención preventiva en Palmasola, Jarjury en la cárcel de Patacamaya, mientras que Flavio Arce y Mendieta en San Pedro. Es decir, en los mismos penales que ya están encarcelados por el caso “golpe I”.

En el caso “golpe I” los militares fueron acusados de terrorismo, sedición y conspiración, mientras que en el caso “golpe II” se les imputa de incumplimiento de deberes y resoluciones contrarias a la Constitución.

La Fiscalía, en la imputación por el caso “golpe II”, acusó a los exjefes de tener una “participación dolosa” en lo que denominó como “el acto final de investidura presidencial irregular” de Jeanine Añez en noviembre de 2019 y de “haber apoyado y colaborado a la ex senadora Añez en su autoproclamación”.

Los abogados de la defensa de los exjefes militares objetaron la decisiòn del juez y apelaron la resolución. El caso pasará a un tribunal de alzada para su consideración.


O que ESPERAR de uma CONFERÊNCIA MUNDIAL sobre CLIMA?

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Viagem ao coração das trevas do capitalismo- por Outras Palavras

 


Entrevista a Romaric Godin, no Mediapart | Tradução: Pedero Henrique de Mendonça Resende | Imagem: Edward HooperEntrevista do autor sobre o livro

POR -https://bit.ly/3aIWzZl

A sociedade autofágica
Publicado pela Elefante, parceira editorial de Outras Palavras

Novo livro de Anselm Jappe trama marxismo heterodoxo com psicanálise e sugere: ao reduzir tudo a valor, sistema apaga as nuances do mundo e forma sujeitos hipernarcísicos – mas solitários e impotentes. Aí pode estar brecha para desafiá-lo



Anselm Jappe é representante, na França, da teoria crítica do valor, uma teoria crítica que relê Marx através da abstração induzida pela mercantilização do mundo. Esta crítica radical (no sentido de ir “à raiz”) do capitalismo, realizada no âmbito da revista alemã Krisis nos anos 1990 e 2000, distingue-se profundamente, entretanto, de outras escolas marxistas por sua rejeição de alguns elementos-chave como a centralidade absoluta da luta de classes. O autor havia apresentado essa teoria ao público por ocasião do lançamento de A sociedade autofágica: capitalismo, desmesura e autodestruição

Nela, Jappe descreve o lento desenvolvimento do capitalismo por meio do narcisismo crescente do sujeito. A indiferença e a crueldade do capitalismo, obcecado pelo valor quantitativo em relação ao mundo real, encontram-se espelhadas na indiferença e na crueldade do narcísico em relação aos outros. In fine, o indivíduo, submetido a essa pulsão de morte do capitalismo, acaba por entrar em um processo de ressentimento e de autodestruição. A sociedade capitalista parece fadada a se devorar a si mesma e a única saída parece ser a superação do capitalismo, pois as tentativas reformistas do marxismo tradicional não conseguiram se situar fora do sistema do valor de mercado. 

Nesta entrevista, o autor volta-se para alguns dos principais temas de sua teoria: para seu diálogo com a psicanálise ou com certos ensaístas críticos da sociedade neoliberal, para sua crítica do marxismo tradicional e para o futuro do capitalismo.

A sociedade autofágica explora em detalhe o tornar-se sujeito na sociedade capitalista. Você o concebe como continuação de As aventuras da mercadoria, que expôs para o público francês a teoria crítica do valor?

É evidentemente uma continuação, mas mais pessoal. A obra As aventuras da mercadoria apoiava-se principalmente em grandes teóricos da crítica do valor, notadamente naqueles que escreviam na revista alemã Krisis. Depois, uma parte destes últimos, notadamente Robert Kurz, fizeram esta teoria evoluir em direção a uma teoria da crítica do sujeito, que inclui uma crítica do Iluminismo. Eu desenvolvi paralelamente minhas próprias ideias, interessando-me igualmente pelo aporte da psicanálise. Neste sentido, eu fui particularmente marcado pela leitura de Christopher Lasch e de suas obras A cultura do narcisismo e O mínimo eu, mas também retomei as obras de Herbert Marcuse e Erich Fromm. A estas foram acrescentadas várias outras leituras importantes para a gênese do livro, como a do sociólogo Luc Boltanski, ou ainda de Dany-Robert Dufour, com quem eu não estou totalmente de acordo, mas cuja leitura me pareceu suficientemente estimulante para me dar vontade de lhe responder. É este percurso, que durou dez anos, que me permitiu construir A sociedade autofágica

A teoria crítica do valor sublinha a abstração que o capitalismo, por natureza, impõe ao mundo. Este é o ponto de partida da sua exposição?

O que é importante compreender é que a teoria crítica do valor não é uma teoria puramente econômica. Ela se inscreve na continuidade do pensamento de Karl Marx, que empreende uma crítica da economia política e não a elaboração de uma teoria econômica particular. Mercadoria, trabalho abstrato, valor e dinheiro não são, em Marx, categorias puramente econômicas, mas categorias sociais que formam todas as maneiras de agir e de pensar na sociedade. Isto não está sempre explícito em Marx, mas é o que se pode extrair de seus escritos. É por isso que eu considero o valor um “fato social total”, no sentido que o entende Marcel Mauss.

Essas categorias são, como diria Emmanuel Kant, formas a priori, formas vazias que são como moldes onde tudo deve entrar. Assim, na sociedade capitalista, tudo toma a forma de uma pura quantidade de dinheiro e, para além disso, de uma pura quantidade em geral. Isto vai, então, muito além do mero fato econômico. Essas categorias não são, entretanto, fatos antropológicos que existiriam em todos os lugares e sempre. São formas que progressivamente se impõem aos outros domínios da vida, notadamente às relações sociais. Vê-se isto com a emergência do “eu quantificado” no quadro da mensuração, por exemplo, das performances esportivas. A quantificação monetária é uma das formas mais visíveis da sociedade capitalista, mas não é a única.

A primeira parte do seu livro descreve a história do sujeito confrontada a essa abstração imposta pelo capitalismo.

Sim, mas é importante compreender a natureza desta abstração. A abstração, enquanto tal, é um fenômeno mental que é, evidentemente, um auxiliar para apreender o real. Como não se pode sempre falar de uma árvore particular, então se recorreu a um conceito geral de árvore. Mas trata-se, aqui, de outra coisa. Trata-se de uma abstração, o valor, que pode assumir não importa qual forma real pela quantificação. Toda realidade pode ser reduzida a uma quantidade de valor. Ela torna-se, então, uma “abstração real”, conceito que não está explicitamente presente em Marx, mas que foi desenvolvido no século XX. E isso tem impactos muito concretos. Um brinquedo ou uma bomba tornam-se assim apenas quantidades de valor abstrato, e a decisão de interromper ou de continuar sua produção depende da quantidade de mais-valor que esses objetos contêm.

Nós não estamos mais aqui na visão marxista clássica de uma dialética entre base e superestrutura, na qual a economia impunha-se e o resto se adaptava a ela. Aqui, trata-se de uma forma geral abstrata, o valor, que se expressa em todos os níveis. Eu gosto, dessa maneira, de citar o linguista alemão Eske Bockelmann que sublinha que no século XVII a música passou de uma medida qualitativa para uma medida quantitativa. E esta abstração se exprime, no mesmo momento, na nova física de Galileu ou na nova epistemologia de Descartes.

É aqui que toma forma um dos elementos-chave do seu pensamento, a noção de fetichismo. Fundado pelo homem, o valor dita sua lei ao homem. Um conceito que, segundo você, permite apreender a natureza do capitalismo para além das críticas habituais. 

No conceito marxiano de fetichismo, que resulta do que acabo de dizer, o que porta o valor não tem nenhuma importância. Um brinquedo ou uma bomba são apenas formas passageiras de outra forma de realidade invisível, a quantidade de trabalho abstrato, quer dizer, o valor. Uma vez compreendido isto, pode-se ir além da simples visão moralista da sociedade capitalista. O produtor de bombas produz bombas não porque ele é insensível moralmente, mas porque ele é submetido a essa lógica fetichista. A imoralidade pode ser acrescentada, mas ela não é o motor. E, de resto, na sociedade capitalista, esse fetichismo atinge também os operários. Aqueles que fabricam bombas não querem perder seus empregos. Todos participam dessa realidade, pois todos estão submetidos ao fetichismo da mercadoria e do valor. 

Não é necessário, entretanto, limitar-se a uma visão muito sistêmica da realidade. Existe também um nível de realidade feito de ideologia e de mentalidades. Os indivíduos não são marionetes. Para se impor, o capitalismo deve passar pelos sistemas de motivação e de gratificação. É a cenoura agitada diante do asno. Essas motivações são apenas secundárias, elas podem sempre ser substituídas por outras. O que é essencial para o sistema é a existência de uma estrutura psíquica específica. E é aqui que entra em cena a questão do narcisismo do sujeito.

A escola freudomarxista havia tentado identificar e combater esta estrutura psíquica, mas você afirma que suas análises não são mais pertinentes hoje. 

A primeira geração dos marxistas, aquela da II Internacional (1889-1914), desenvolveu um paradigma economicista. Todas as pessoas estariam supostamente agindo apenas por seus interesses econômicos. Mas esta visão não chegou a explicar porque milhões de operários massacraram-se com entusiasmo durante a Primeira Guerra Mundial, nem porque eles se voltaram, em seguida, para os movimentos fascistas e autoritários.    

Foi então que marxistas como Wilhelm Reich ou Erich Fromm salientaram a importância de estruturas psíquicas no interior do capitalismo, utilizando a teoria de Freud, até ali rejeitada pela esquerda como “burguesa”. Esse freudomarxismo explicou como as estruturas autoritárias podiam se reproduzir pelo complexo de Édipo. Em Freud, esse complexo é percebido como uma garantia de civilização, mas os freudomarxistas fizeram dele um fator de dominação das estruturas familiares. Nos anos 1950 e 1960, pensadores como Herbert Marcuse desenvolveram ainda a ideia de que a libertação não passava somente pela política, mas também pela libertação dos constrangimentos familiares e sexuais. Esse pensamento teve muito sucesso e conduziu a mudanças de costumes duradouras.

A questão que eu me propus no meu livro foi a de saber se essa mudança representou, no final das contas, um progresso. Sem partilhar as visões de autores como Lasch e Dufour, que podem conduzir a consequências reacionárias, deve-se levar seus diagnósticos críticos a sério. Pois, se, por um lado, essa evolução para a liberdade individual é evidentemente positiva, por outro lado, o diabo, tendo saído pela porta, entrou novamente pela janela. É preciso constatar que o indivíduo que resultou desta evolução é fundamentalmente ainda mais fraco, justamente por causa da fraqueza de seu superego. Ele é presa das pulsões do consumo de mercadorias. E, de fato, assiste-se a uma grande reversão. O “partido da desordem”, anteriormente aquele dos revolucionários, tornou-se o do sistema capitalista.

Esse sujeito “ideal” para a mercadoria corresponde a uma nova fase da história capitalista, a da emergência do neoliberalismo. Entretanto, neste livro como nos precedentes, você adverte contra uma crítica do capitalismo que seria reduzida unicamente à sua forma neoliberal. 

A forma neoliberal representa, efetivamente, a forma mais recente e uma das mais hedionda do capitalismo. Mas ela não constitui algo fundamentalmente diferente da fase precedente, aquela dos “trinta anos Gloriosos” e do capitalismo dos monopólios. No entanto, hoje, na esfera política, as críticas do capitalismo mais difundidas são somente críticas do capitalismo neoliberal e, quando lhe perguntamos a elas o que entendem por sociedade não capitalista, elas propõem geralmente uma visão idealista dos “trinta gloriosos”. Da minha parte, eu não sou nostálgico da sociedade que generalizou a linha de montagem, uma das piores abjeções da história humana, e na qual a mercantilização da natureza era objeto de um amplo consenso. Eu não acredito que seja necessário idealizar o fato de que o direito à escravidão fosse um pouco melhor repartido do que hoje, como faz, por exemplo, Bourdieu.

E você sublinha, aliás, que essa crítica reduzida do neoliberalismo pode conduzir a uma nostalgia de certa forma de autoritarismo.

Eu sou muito cético quanto à ideia desenvolvida por Dany-Robert Dufour segundo a qual o neoliberalismo seria uma “ruptura civilizacional”. Parece-me difícil opor, como ele faz, um sujeito fundamentalmente fraco atual a um sujeito supostamente forte que teria existido até os anos 1970. Alguns poderiam ter uma nostalgia desse suposto sujeito forte, paternalista. Para mim, o sujeito neoliberal é muito mais uma nova etapa de um processo de enfraquecimento que começou bem antes. Não se pode usar as misérias de ontem contra as misérias de hoje. A “ruptura civilizacional” situa-se bem antes do neoliberalismo.

Nesse caso, contudo, por que o sujeito neoliberal, como você mostra, está sujeito ao narcisismo, enquanto o sujeito da “antiga forma de capitalismo” estava mais submetido a uma neurose clássica, como havia identificado o freudomarxismo? Não existe aí uma forma de “ruptura”?

O que eu tento mostrar é que o capitalismo nasce efetivamente entre o fim da Idade Média e o século XVII. Ele nasce com essa tendência narcísica que faz parte da sua estrutura de base, pois existe no valor uma forma de renegar o mundo. É por isso que se pode destacar já no cogito de Descartes essa forte tendência narcísica. Mas eu penso que o capitalismo estava presente enquanto potência no sentido aristotélico e que ele coexistiu com formas sociais mais antigas contra as quais durante muito tempo lutou, como o feudalismo ou o paternalismo. Levou-se séculos para vencer o entulho de outras épocas e, para retomar um termo hegeliano, coincidir com seu próprio conceito.

Com as crises dos anos 1970 o capitalismo atingiu, então, essa forma mais próxima do seu conceito. E o conceito é precisamente o de uma indiferença em relação ao mundo, particularmente perigosa para a humanidade e o planeta. 

Marx sublinha que o valor é o produto do trabalho abstrato. Para ele, toda atividade produtiva no capitalismo tem, com efeito, duas faces. A primeira é que ela produz alguma coisa concreta que satisfaz necessidades. A segunda é que toda atividade necessita de um dispêndio de energia que se pode medir pelo tempo. Está aí a fonte do valor, e assim toda atividade se equivale, não tem diferença qualitativa, mas unicamente diferenças de quantidade de tempo dispendido, portanto, de trabalho abstrato. 

Ora, o capitalismo não se interessa senão pelo mais-valor, ou, dito de outro modo, pelo valor superior ao inicialmente investido. Ele se interessa, então, somente pela quantidade de valor criado por cada atividade. E, em face do valor, existe uma igualização do mundo. Todas as coisas se equivalem e são apenas porções mais ou menos grandes da mesma substância. Todos os objetos e serviços têm que justificar sua existência não pela satisfação de uma necessidade ou de um desejo humano, mas pela quantidade suficiente de mais-valor que eles representam.  

Antes mesmo da luta de classes, da injustiça ou das desigualdades, encontra-se o que eu chamo – para retomar as palavras de Joseph Conrad – “o coração das trevas” do capitalismo: esta indiferença total para com o conteúdo e para com o que é próprio do ser humano. É uma diferença fundamental com as sociedades pré-capitalistas, as quais, quaisquer que tenham sido seus aspectos desagradáveis, não tinham essa dinâmica cega que consiste em uma acumulação sem finalidade de alguma coisa que não tem conteúdo próprio.

Esta cegueira é precisamente aquela do sujeito narcísico, que é o sujeito próprio do capitalismo.

Segundo a leitura de Freud que faz Christopher Lasch, o narcisismo se forma durante a primeira infância, antes do complexo de Édipo. A criança quer, então, evitar a separação com o mundo circundante e não quer reconhecer que se é sempre dependente de alguma coisa mais forte do que nós. Ela compensa sua impotência real com uma onipotência imaginária e mágica que passa por um desejo de fusão com o mundo exterior. O narcisismo, tal como é comumente entendido, não é senão uma forma do narcisismo freudiano. Mas, em realidade, todo mundo tem um componente narcísico e o que eu estou expondo é que a forma atual do capitalismo conduz menos a uma extensão do número de narcisistas do que para um forte aumento da “taxa de narcisismo” na população inteira. 

O narcísico não interiorizou a existência do mundo exterior, ele passa ao largo, ele não o conhece. Ele conhece apenas seu eu, como pura função da existência, e é por isso que eu considero que o cogito de Descartes era já extraordinariamente similar ao narcisismo. O mundo exterior não é senão uma extensão de seu próprio eu, que ele pode manipular à vontade e dispor segundo suas próprias fantasias. O narcísico não pode estabelecer verdadeiras relações de amizade ou de amor, porque, para ele, todos os outros são intercambiáveis. E é aqui que é incorporada a noção de valor em Marx. Pois mesmo que para o valor todos os objetos e as pessoas sejam intercambiáveis e não sejam senão encarnações temporárias de uma “substância” única, embora imaginária, o mundo real não é para o narcísico senão uma vaga hipótese em que nada tem autonomia própria.

LEIA TODA MATÉRIA EM:   https://bit.ly/3aIWzZl

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Por que algoritmos das redes sociais estão cada vez mais perigosos, na visão de pioneiro da Inteligência Artificial- BBC BRASIL

 


AGES

Legenda da foto,

Pesquisador defende valores mais humanos para a Inteligência Artificial, particularmente aos algoritmos que regem as redes sociais


  • Paula Adamo Idoeta
  • Da BBC News Brasil em São Paulo